sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

História da exegese cristã

Centro Cristão de Estudos Judaicos
Curso de pós-graduação Latu Sensu


Prof. Dr. Cônego Celso Pedro

Disciplina: História da exegese cristã, descoberta de Israel e do Judaísmo

Aluno: Luciano José Dias




Resenha


O judaísmo em sua historia, viveu muitas amargura com os cristãos. O cristianismo tem uma visão diferente hoje, do que tinha do judaísmo antigamente. Muitos preconceitos estão enraizados nesta relação judaico-cristã, levando-os a uma separação. Cristãos sempre acusaram judeus de terem matado Jesus, e, por isso deveriam ser condenados.

Hoje, no Oriente, a perseguição é maior contra os Cristãos do que contra judeus. 

Todas estas perseguições acontecem por causa de um livro chamado Palavra de Deus, um livro que é mudo, não diz nada, mas uma vez lido, o leitor dá vida ao texto, esta vida é sua interpretação diferenciada por cada grupo religioso que o interpreta. O problema não esta no texto, sim no leitor, sua maneira de interpretar o texto, criando desta forma, escolas que acompanham estas interpretações e se contradizem por terem enfoques diferentes; a partir daí, a mesma escritura passa a ser lida de outra forma, pois estas escolas vão avançando no estudo da interpretação (hermenêutica). Interpretar o texto, é esclarecê-lo; já a exegese de um texto consiste em dissecá-lo, contá-lo, interpretá-lo.

O exegeta tem que conhecer a linguagem em que o texto foi escrito, fazendo estudo da historia, da arqueologia, da lingüística e arte usada na escrita. Deve conhecer geografia dos lugares diferentes em que o texto foi escrito. A exegese supõe muitas obrigações e conhecimentos diversos; assim o exegeta pode dizer se o texto foi escrito por uma determinada pessoa ou por outra pessoa que usou o nome em questão.

Os primeiros grandes nomes da exegese foram protestantes das igrejas históricas da Alemanha e Dinamarca, só depois é que católicos seguiram este caminho.

Os judeus, por outro lado, são os grandes mestres neste sentido, o bom estudioso judeu se dedica à Bíblia pelo menos 14 horas por dia para poder interpretá-la, mas também isto pode ser feito em maior profundidade dependendo do interprete. Cabe lembrar que, os textos originais das escrituras se perderam com o tempo, tudo o que temos hoje são cópias que foram traduzidas para outras línguas e depois re - copiadas muitos anos depois, gerando textos diferentes entre si que nos levam a interpretações mais diferentes ainda. Como resolver este problema? A forma é juntar todas as cópias existentes no mundo e compará-las para ver qual seria a mais antiga se aproximando do original. Um exemplo do que temos dito segue abaixo:

Na 1Cor. 13,3 lemos em um manuscrito no grego “Kauthesomai” (ser queimado) em outro “Kaukhesomai”,(Se gloriar) a diferença de uma só letra do grego, ao ser traduzido para outra língua dará uma diferença enorme; para resolver a questão ficamos com o texto mais antigo, mas as vezes não é possível, pois não se tem mais o texto; sendo assim, é preciso pegar o contexto histórico. No caso do texto em questão, os cristãos estavam enfrentando perseguições e sendo queimados; provavelmente o correto seria então “Kauthesomai”, ser queimado e não “Kaukhesomai”, se gloriar. (cf. Bíblia de Jerusalém com a Bíblia da CNBB).

Um outro exemplo pode ser observado em Ezequiel 7,23, o texto grego diz “A terra esta cheia de povos” (MISHPAT AMIM – Terra povos) no texto em Hebraico diz “A Terra esta cheia de sangue” (MISHPAT DAMIM – Terra Sangue).

Para ter uma boa interpretação, tem que se ter conhecimento de tudo isso; o exegeta se debruça sobre o texto para saber o que estava escrito, já a teologia vem depois e interpreta o que se queria dizer com o texto escrito, qual o significado dele.

Interpretações que saem da linha de pensamento desandam para a heresia. Como podemos ver a interpretação não é tão simples.

Quem escreveu sabia o que estava fazendo, mas quem traduziu ou copiou nem sempre sabia; o tradutor é sempre um traidor do texto.

A interpretação de vários textos pode ser feita de forma ALEGÓRICA, saindo do que o texto diz (em João vemos falar de cinco pães e dois peixes – cinco maridos), peixe em grego se escreve: ICHTHUS.

I – esus = Jesus

Ch – isto = Cristo

Th – eos = Deus

U – ios = filho

S – oter = Salvador



Há um momento na historia de Israel que surge o targum, a tradução simultânea dos textos bíblicos do hebraico para o aramaico.



Muitos textos traduzidos foram anotados e depois agrupados, gerando o TARGUMIN .

O termo targum vem da raiz hebraica n d r , que significa tradução. Targum num primeiro momento se refere à tradução aramaica das Escrituras, feita oralmente, segundo a tradição judaica, a partir da volta do exílio, por volta de 537/39 a.C. O Targum nasceu da necessidade concreta de levar ao conhecimento do povo a Torá numa linguagem que fosse compreensível, pois a maioria dos judeus não falava mais o hebraico que havia sido substituído pela língua do dominador, o aramaico.

Não sabemos exatamente qual foi o momento em que o aramaico tornou-se a língua popular de todo o império persa, incluindo a Terra de Israel. Por isso também é difícil dar uma data precisa para a generalização desta prática e situar a partir de quando o targum se tornou a primeira etapa de uma educação que tinha como fundamento único a Escritura, ficando mais unido à liturgia do que à beit-midrash - casa de estudo. Ele testemunha a cultura popular da massa do povo judeu que forneceu os primeiros discípulos de Jesus[1].

Hoje quando falamos de Targum parece que é algo de intelectuais ou de academias. Na realidade estamos diante de uma catequese popular, para as pessoas simples, pastores, ferreiros e outros tipos de tarefas e que vem à sinagoga para escutar as Escrituras.  O texto por si só fala a estas pessoas e por isso mesmo levanta questões a partir desta escuta. O meturgeman devia encontrar as respostas e explicações para as questões levantadas pelo texto, a partir da realidade da vida das pessoas que escutam as  Escrituras.

Um exemplo: Gn 9, 20-21 fala que Noé plantou a vinha, fez vinho e ficou embriagado. Quando relemos o texto do dilúvio vamos perceber que em nenhum lugar do texto diz que Deus mandou Noé guardar uma muda de vinha na arca. Como explicar de onde veio a vinha que Noé plantou? O Targum dará uma explicação no momento de fazer a tradução dizendo que uma raiz de vinha foi levada pelas águas do dilúvio e quando Noé a plantou ela cresceu imediatamente dando frutos. Assim é possível explicar a passagem rápida dos versículos 20 e 21 com esta paráfrase.

Outra característica é a necessidade de se fazer entender através de imagens o que diz as Escrituras como no caso de Dt 30,12-13 - o mandamento que não está fora do alcance. Os exemplos serão tirados da vida da própria vida do povo. A Escritura é ao mesmo tempo história, enciclopédia, geografia, etc. Todos os exemplos para clarificar uma situação serão tiradas das Escrituras. Assim ao falar acima dos céus, acrescenta-se para que não digas é preciso que Moisés nos explique (lembrar que no Sinai Moisés se aproximou do céu) e também nas profundezas do grande mar (grande mar é o Mediterrâneo) para esperar por Jonas que foi até as profundezas do mar para nos explicar. E assim por diante.

Existe uma amplificação do maravilhoso. É preciso ter a arte de manter o auditório ligado. Sempre que existe algo de maravilhoso a chance de comentar e acrescentar se torna mais intensa. O maravilhoso está muito presente, principalmente na história dos patriarcas.

Mesmo se hoje sabemos que havia versões aramaicas das Escrituras que circulavam antes da era cristã, na sinagoga o targum era recitado de memória e havia uma maneira apropriada de fazê-lo. Para a leitura do texto hebraico da Torá a tradução era feita após cada versículo e para a leitura hebraica dos profetas após cada três versículos. A leitura do targum era proibida nas sinagogas o que não impedia a preparação feita a partir de textos escritos em vista do ofício sinagogal. Os textos escritos de targum que chegaram até nós atestam o caráter de transmissão oral durante séculos no uso vivo das sinagogas.

Os targumins são as primeiras traduções e interpretações dos textos bíblicos.



Outra forma é o MIDRASH (Darash = escavar, ver o que esta dentro).

O midrash é uma interpretação do texto bíblico, ele sai da visão histórica e se encaminha ao alegórico, sendo uma pesquisa bem aprofundada de outros textos, uma re-leitura dos textos mais antigos.

Na literatura dos sábios o verbo darash assumirá o significado de explicar ou interpretar a Torá em geral ou um texto em particular. É a exegese da busca de sentido do texto que caminha ao lado da hermenêutica com técnicas e procedimentos determinados. O uso do termo midrash como busca do sentido bíblico remonta a Neemias[2]. Como vimos, é possível constatar que o primeiro desenvolvimento do midrash se encontra na própria Escritura.

O termo midrash é abrangente e extensivo, não pode ser limitado a um gênero literário. Ele designa ao mesmo tempo um tipo de literatura e uma atividade. Podemos então falar do midrash de duas maneiras que estão relacionadas, a primeira, como uma atividade e processo de interpretação e a segunda como corpo literário que nasceu da compilação dos comentários e diversas interpretações dos sábios de Israel.

A partir de seu conteúdo, podemos agrupar a literatura midráshica de três modos:

a) Comentários de um grupo de livros, como acontece com o Midrash Rabba que compila o comentário do Pentateuco;

b) Comentário sobre um livro bíblico, como por exemplo Midrash Threni sobre Lamentações;

c) Agrupamento de comentários por temas ou ocasiões especiais, Pesiqta Rabbati que faz a compilação de homilias para as festas e certos shabbats.



Formas de leitura do texto:

PSHAT = O texto como esta escrito

RIMEZ = Insinuação de algo a mais

DARASH = Aprofunda os sentidos que estão por dentro

SOD = Mistério oculto, a parte mística do texto, onde eu chego após fazer o processo anterior.

PaRDeS = Paraíso, o paraíso entra em mim, esfera superior de compreensão do texto.



Paulo em 1Tes. 2,13-16 afirma serem os judeus responsáveis pela morte de Jesus e dos profetas; em Atos 2,22 Pedro esta também atribui esta culpa aos judeus. Estas afirmações trariam conseqüências catastróficas na historia (cf. também Atos 3,12-18). Pedro faz uma interpretação diferente dizendo que os judeus não tinham consciência do que estavam fazendo, mataram o Messias sem saber quem ele era, e isto aconteceu porque foram instrumento da ação de Deus na historia.



Em Marcos 3,28-29 – Lucas 12,10 Jesus acaba de curar alguém e esta cura é atribuída ao poder do demônio, Jesus vai dizer que não precisam festejar ou aceitar que ele é filho de Deus, mas que festejem pelo homem curado, esta é a ação do Espírito Santo, alegrem-se por ele. Em Mateus 23 Jesus se dirige às multidões dizendo que os escribas e fariseus estão na cadeira de Moisés, eles ensinam o que é verdadeiro, mas eles não praticam o que dizem. Dirige-se aos apóstolos dizendo para não serem como escribas e fariseus, esta afirmação ainda hoje traz problemas de consciência para cristãos e judeus. É necessário estabelecer um diálogo entre judeus e cristãos, pois somos filhos da mesma raiz.



O profeta Oseías também ataca os seus (judeus) pelo fato de não estarem unidos ao Senhor na causa dos pobres (Os 5).

Na interpretação dos textos, tivemos um longo período onde os judeus sofreram por uma leitura fundamentalista dos textos. Tudo isso vai desencadeando o chamado anti-semitismo quee desemboca no “Holocausto” .

Após o holocausto começa-se em todo o mundo uma reflexão contrária sobre o universo judaico e sobre o sofrimento de todo este povo e da responsabilidade cristã nestes acontecimentos.

O documento Nostra Aetatis do Concilio Vaticano II é que marca o novo relacionamento entre cristãos e judeus.

A solução definitiva para o problema esta numa releitura inteligente de todos os textos bíblicos de forma critica, mas sem alterar os textos.

O diálogo se estabelece no conhecimento do outro, no seu contexto, seu meio de vida, contexto que o fez se tronar o que é.



Em Atos 15 vemos a discussão pela necessidade da circuncisão ou não para se tornar cristão. Paulo diz que não precisa, pois já temos Cristo, não precisamos da Lei; só que após ficar decidido não precisar, ele mesmo sai de lá e circuncida Timóteo, que era filho de judia. Paulo não suspende uma lei para impor outra, ele dá a liberdade para seguir ou não. No caso de Timóteo que iria trabalhar entre os judeus, seria um escândalo não ser circuncidado, sendo ele judeu. Já para os advindos do paganismo não seria necessário um fardo a mais para ser carregado.



As discussões do Novo Testamento apresentam uma luta entre dois grupos para provar quem era o verdadeiro judeu (Judeus Fariseus e judeus cristãos).

Em João 5,31-37 o verbo dar testemunho aparece sete vezes, ou seja, é perfeito; no versículo 38 vemos que os judeus cristãos dizem aos judeus fariseus que estes não estudam a Bíblia e que Moisés é o acusador deles; usa-se seis vezes o verbo crer para dizer que a forma com a qual o judeu fariseu crê é imperfeito, temos nesta passagem os judeus cristãos dizendo que os verdadeiros seguidores de Moisés são os cristãos, pois se os judeus entendessem Moisés, veriam que Ele fala de Jesus nas escrituras. O verdadeiro judeu então é o que aceita Jesus.



No período dos Padres da Igreja – Patrologia – os ataques contra os judeus também foram acirrados. No Concilio de Nicéia em 325, por decreto de Constantino, desvinculou-se a data da páscoa dos judeus celebrada em 14 de Nissan da páscoa cristã, que passou a ser celebrada no domingo subseqüente.

São João Crisóstomo (347-407) pregava em suas homilias contra os cristãos que celebravam com os judeus as suas festas, dizendo que eles estavam prestando culto a satanás.

Seus sermões sempre falava contra os judeus, pregando a separação total entre judeus e cristãos.



Santo Agostinho (354-430) é outro grande nome da Igreja, com escritos de estilo fino, vai dizer que não se podem matar os judeus, pois estes têm que existir e vagar por todo o mundo para que todos vejam a sua situação degradável por terem matado Jesus.



São Cirilo de Alexandria (444) ataca os judeus acusando-os de serem autores da morte de Jesus.



Militão de Sardes (190) é o primeiro a acusar os judeus de deicidio (morte de Deus). Neste tempo surge uma visão de que o Novo Testamento plenifica o Antigo Testamento.

O povo de Deus (Israel) não existiria mais, agora o existiria seria o novo Israel (cristãos).

Com tudo isso, o judaísmo se tornou ultrapassado, não existe mais a aliança de Deus com eles, o que existe é a nova aliança com os cristãos. (teologia da substituição).

Esta teologia dura até os dias de hoje, e sob o comando de Hitler a perseguição aos judeus chegou ao que ele chamou de solução final, o extermínio sistemático dos judeus; somente terminada a segunda grande guerra com a queda de Hitler, e após a criação do Estado de Israel em 1948, inicia-se o movimento de regresso do povo judeu a sua terra, da qual estavam afastados dês de 70 d.C.



A Igreja cristã presente em Israel num primeiro momento recusou-se a aceitar este retorno dos judeus, acreditando que estes não existiam mais, e que haviam sido substituídos na historia pelos cristãos, portanto vemos que o problema continua.

Os primeiros cristãos a aceitarem este retorno dos judeus a sua Terra foram os religiosos de Sion, tendo visto seu histórico de diálogo com Eles e seu carisma sionista.



A septuaginta (LXX) Bíblia dos setenta.

Existem duas versões para a criação desta tradução que são as que seguem abaixo:



1ª Bíblia grega, feita para uma comunidade judaica grande em Alexandria, pois já não tinham mais o domínio da língua hebraica.

Alexandria era uma cidade que tinha uma grande biblioteca, a maior de todo aquele tempo, nesta biblioteca não havia o código da Lei dos judeus, assim escreveram a Bíblia dos setenta para poder mantê-la na biblioteca. Esta tradução seria usada na liturgia e teria sido inspirada por Deus a sua tradução.

A carta de Aristen conta o que aconteceu para o surgimento desta bíblia da seguinte forma:

Para fazer a tradução do hebraico ao grego, chamaram setenta sábios de Israel, e, estes foram levados ao Egito e colocados em uma ilha, trabalhando isoladamente em cabanas, cada um deles se debruçou na tradução da Tora, quando terminaram, foram comparar as traduções de cada um, descobrindo que elas eram idênticas, por isso elas foram consideradas obra de Deus, isto aconteceu 300 anos antes de Cristo.

O texto usado para a tradução teria sido o hebraico, mas qual? O original se perdeu. O texto dos setenta foi usado pelos judeus da diáspora que falavam o grego e pelos helenistas. Os cristãos quando começam a surgir usam esta tradução, pois também falavam o grego. Os que escreveram o Novo Testamento olhavam o texto do Antigo Testamento grego e não o hebraico em situações que fazem nos Evangelhos.

Em YAVINE (90) é definido que o judeu não usaria mais a tradução grega e sim a hebraica, definindo qual seria os livros que estariam fixados na Bíblia, mas os textos hebraicos que tinham não continham alguns livros da tradução grega. São eles:

1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiastico, Baruc, Judite e Tobias, totalizando sete livros.

Então será que o texto hebraico que eles tinham no ano noventa era o mesmo que foi usado na tradução dos setenta? Com certeza não.

Estes textos citados ficaram fora da Bíblia hebraica, e foram lidos como não canônicos, os cristãos continuaram usando estes textos da bíblia grega.

São Jeronimo faz a tradução das línguas hebraica e grega para o Latim, a Vulgata.

No séc. XVI Lutero faz uma outra tradução usando os textos hebraicos e abandonando os textos gregos, dando origem a problemática que temos hoje, entre bíblias católicas e protestantes.

Na época de Constantino ele mandou fazer cinqüenta cópias da bíblia e distribuir nas principais cidades do império, estas também se perderam, acredita-se que apenas uma delas sobreviveu e seria a que esta no vaticano.

O mais antigo pergaminho que temos da bíblia é do séc. IV d.C.

Já fragmento, o mais antigo data do séc. II.

Em Quran o único livro encontrado inteiro é do profeta Isaias e, dadta do séc I a.C. e o texto é igual ao que temos em nossa bíblia.



Hoje encontramos Três códices:

Sinaítico – Vaticano – Bezae



Códice sinaítico foi descoberto pelo estudioso das Escrituras Konstantin Tischendorf (1815-1874), no Mosteiro de Santa Catarina, que fica ao pé do monte Sinai. Ele encontrou 129 tiras de pergaminho que continham uma cópia manuscrita da Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento. O incrível é que os pergaminhos, que datam por volta do ano 350, estavam no lixo, a ponto de serem queimados! Como os monges de repente passaram a demonstrar interesse pelos documentos, Tischendorf pôde levar apenas uma amostra. Uma batalha científica e política arrastou-se por quinze anos e rendeu mais duas visitas ao mosteiro. Ele finalmente conseguiu o restante dos pergaminhos (que estavam outra vez perdidos no mosteiro!), mas não foi só isso. A pessoa que os guardava apresentou também a Tischendorf o restante do códice: o Novo Testamento completo em grego coiné! O Códice sinaítico é a maior prova material da fidelidade dos textos bíblicos.



O Códice Vaticano é considerado o mais antigo manuscrito existente. Ele e o Codex Sinaítico são os dois mais da mesma época. Eles foram provavelmente escrito no século IV. O Vaticano foi colocado na Biblioteca do Vaticano em Roma, pelo Papa Nicolau V., em 1448, sendo desconhecida a sua história anterior.

O Códice Vaticano, vulgarmente designado por CODEX B, é um manuscrito grego, o mais importante de todos os manuscritos da Sagrada Escritura. É assim chamado porque pertence à Biblioteca do Vaticano (Códice Vaticano, 1209).

O Códice Vaticano originalmente contém uma cópia completa da Septuaginta, com exceção de 1-4 Macabeus e a Prece de Manassés.

A ordem dos livros do Antigo Testamento é como segue: de Gênesis a 2 Crônicas está na ordem normal, depois aparecem 1 e 2 Esdras, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares, Jó, Sabedoria, Eclesiástico, Ester, Judite, Tobias, os profetas menores de Oséias a Malaquias, e os profetas maiores Isaías, Jeremias, Baruc, Lamentações, Jeremias, Ezequiel e Daniel.

O Novo Testamento do Codex Vaticanus contém os Evangelhos, Atos, as Epístolas Gerais, as Epístolas de Paulo e Hebreus (até Heb 9:14, καθα [ριει); assim falta I e II Timóteo, Tito, Filemon e o Apocalipse. Estas páginas faltantes foram substituídas por um manuscrito cursivo do século XV (No. 1957).



O Codex Bezae (ou Códice de Beza), também conhecido como Manuscrito 'D', pertence, provavelmente, ao século VI. Recebeu este nome por ter sido descoberto pelo teólogo francês Theodore Beza. É um manuscrito bilíngüe: grego à esquerda e latim à direita, com pouca relação entre os conteúdos grafados em grego e em latim. A versão latina é ocidental e sofreu influências siríacas. Possui somente os quatro evangelhos e o livro de Atos dos Apóstolos. Notam-se várias lacunas textuais, principalmente no evangelho de Lucas; além de algumas adições, no livro de Atos. Atualmente encontra-se na Biblioteca de Cambridge.



Existe também o códice de Alexandria do séc. V.

O Códice Alexandrinus, também conhecido como manuscrito 'A', pertence à primeira metade do século V. Este códice contém a Septuaginta e grande parte do Novo Testamento. Juntamente com o Códice Sinaiticos e com o Códice Vaticano, este é um dos mais completos manuscritos gregos antigos da Bíblia. Este manuscrito recebe o nome de Alexandria, lugar onde se acredita que ele foi originalmente escrito.



Os textos bíblicos não foram escritos imediatamente após os acontecimentos, e sim muitos séculos depois, como lembrar tudo aquilo que aconteceu? Se não lembramos nem o que aconteceu a uma semana atrás? Temos que ler as Escrituras de forma cientifica sem perder a teologia e a fé religiosa.



São Justino (100 d.C) filósofo de Origem pagã, convertido ao cristianismo nascente ainda quando as escrituras estavam sendo redigidas, foi um grande apologista do cristianismo, entre suas obras destaca-se “Diálogo com Trifon”.

Ele fazia uma apologia racional, intelectual em pró do cristianismo usando a linguagem filosófica e dirigindo seus escritos ao imperador e a toda classe dos pensadores de seu tempo, desta forma defendia o cristianismo de acusações que lhe era imputada tal como a de serem os cristãos ateus, por não prestarem culto aos deuses ou ao imperador.

Diálogo com Trifon é a defesa feita por Justino, iniciando um diálogo entre ele e uma figura possivelmente imaginária, um Judeu chamado Trifon, e neste diálogo Justino mostra que os cristãos não são ateus, pois existe uma crença definida em um Deus único que é cultuado através do sacrifício feito por Cristo e entre os cristãos existe uma hierarquia, onde temos as figuras dos supervisores que eram os Bispos, dos anciãos ou presbíteros e os serventes ou diáconos; portanto, o cristianismo é uma religião estruturada com crença e culto definido, não sendo ateus e nem mesmo judeus.

Como podemos perceber em nossas aulas, a relação entre judeus e cristãos foi ao longo da historia cheia de proximidades e separações, onde cada grupo tentou provar ser o verdadeiro seguidor de Moises e das Escrituras, sendo que por motivos históricos, o grupo dos judeus foi quase totalmente dizimado, chegando a sua máxima no conhecido Holocausto, que juntamente com o Concilio Vaticano II tornaram-se um marco na historia, uma mudança de paradigma em relação à perseguição ao povo judeu.

Mas ainda hoje as influencias de uma exegese mal formulada reflete-se no anti-semitismo presente na sociedade atual, embora menor que em períodos passados.



[1]  LE DÉAUT, 1978, p. 20
[2] cf. Ne 8, 1-9.

Distorção da mensagem do Cristo

Desprezar o judeu em nome do Evangelho

é uma distorção da mensagem do Cristo

Sobre os preconceitos                   

Mary Travers



Se bem que seja uma verdade dizer que a ignorância é a raiz dos  preconceitos, nós estamos muitas vezes afogados por tantas informações, experiências e idéias novas , que nossos espíritos limitados ( que não gostam de ser sobrecarregados ) captam-nos e os põem de lado , classificando-os cuidadosamente sob a etiqueta: "para ver mais tarde". E é exatamente assim. É uma tendência natural do espírito humano querer estabelecer categorias , e as "preconcepções" que resultam disso não seriam perigosas se elas pudessem ser discutidas  e retificadas à luz de novos conhecimentos, sem que a emoção venha a  oferecer resistência. Elas vêm a ser perigosas se houver recusa de se levar em conta a evidência objetiva que se apresenta: uma  tal recusa provoca uma disposição emocional  que falseia a percepção, o juízo e, inevitavelmente , a conduta de um indivíduo ou de um grupo. A História não apresenta senão numerosos exemplos de "preconcepções" que assim  se transformaram  em preconceitos, causas de sofrimento e de angústia oculta, tanto para indivíduos como para grupos.



Os preconceitos



O anti-semirismo é provavelmente a forma mais antiga de preconceito que conhecemos : ela remonta ao período pre-exílico. Jean Paul Sartre mostrou muito bem que o anti-semitismo nasce do medo...não do medo do judeu, mas do medo de si mesmo, de suas responsabilidades, das mudanças à sua volta, na sociedade e no mundo.

    "É normal que se classifiquem as informações em categorias, para defesa própria, mas não é normal permitir a tais "preconcepções " chegar a  efeitos maléficos para o espírito e segregar o veneno dos preconceitos. A questão crucial é, portanto: "como é que as crianças chegam a ter preconceitos?" Nós

 encontramos para isto uma resposta em um show musical intitulado: "Pacífico Sul". Ainda que aí se trate de preconceitos ligados à cor da pele , pode-se aplicá-los  também a outros casos:



            Ensinaram a vocês a odiar e a temer,

            ensinaram-lhes de ano em ano,

            sussurraram isso à sua querida orelhinha ,

            ensinaram-lhes isto cuidadosamente...

            ensinaram-lhes antes que fosse tarde,

            antes de vocês terem seis, sete ou oito anos,

            a odiar a todos aqueles que seus parentes odiavam,

            ensinaram-lhes isto cuidadosamente".



Papel primordial da educação



    Se as crianças têm preconceitos, é porque lhes foram ensinados. E o foram  não somente explícita mas implicitamente, de mil maneiras, algumas vezes sem que os próprios educadores tomassem consciência disso (educadores no sentido amplo da palavra: pais, família, professores, pregadores, etc...) .

Eva Lewis diz que "a capacidade de influência do inconsciente dos pais sobre a criança é maior do que suas palavras ou seus atos conscientes";  que "o inconsciente  da criança capta  mais do que seus pais são em realidade"; que "por este intenso sentido de identificação, ela partilha com eles suas emoções".

    Se uma destas emoções  é o anti-semitismo latente que se transmite, infelizmente! de geração em geração, em muitas de nossas "boas" famílias cristãs, eis-nos diante de  um grave problema!   Os pais, mestres e pregadores cristãos  de boa vontade, conhecendo melhor as NOTAS graças a este número da revista SIDIC poderiam experimentar um choque mais bem desagradável... Mas se eles forem capazes de suportá-lo e tirar dele  uma lição , poderíamos  enfim  remontar  lentamente  a corrente e preparar as novas gerações para as relações entre judeus e cristãos.

    Em seu desejo de se queridas  e aprovadas, as crianças adotam atitudes feitas da imitação de seus pais e de outras pessoas adultas ; isto por um processo de identifica/cão que pode levar à rejeição total de um grupo  (por exemplo, os judeus) , porque a atitude de seus pais para com um  membro, que seja,  deste grupo,  marcou-os com um estereotipo ( aspecto intelectual do preconceito) . Depois de um tempo de rejeição total, vem um período de diferenciação: "Eu não gosto dos judeus ( estereotipo herdado dos pais), mas Davi  e Raquel são meus melhores amigos". A idade de 10 a 13 anos pode ser crucial, porque nesse momento os estereótipos passivos são substituídos por um comportamento ativo. Bandos de crianças de uma dezena de anos se formam, com uma grande necessidade de regras e a tendência ao conformismo; em razão disto, os preconceitos penetram mais, se organizam e conduzem, num caso extremo, a uma agressividade brutal. Dito isto, é importante saber que, segundo os psicólogos, pode-se lutar mais facilmente contra os estereótipos e fazê-los evoluir  até a idade de 16 anos  Seria bom conhecer um pouco do processo de sua evolução.



Alguns aspectos psicológicos




    Se sabemos que a ignorância é a base dos preconceitos, devemos também levar em consideração os efeitos de uma informação falsificada ou errônea, conscientemente ou não. Isto significa que o preconceito não vem de um grupo exterior que se tenha freqüentado  mas talvez mais de uma atitude geral que prevalece no interior de um grupo. Foi também demonstrado que, num indivíduo, a insegurança e a ansiedade engendram  habitualmente os preconceitos, o que é , para ele, uma forma de se livrar de ameaças imaginárias. Se um preconceito é visto claramente como em desacordo com outros valores, ele vai gerar ( salvo em casos extremos) um sentimento de culpa que a pessoa tentará atenuar de alguma maneira: seja pela projeção, reprovando ao grupo exterior suas próprias faltas ; seja pela negação da falta ( por ex.: "Os judeus preferem viver em gueto! ) ; seja pela negação parcial , proclamando por suas palavras ou seus atos que ele não tem nenhum preconceito ; seja por um verdadeiro reconhecimento do seu erro e pelo arrependimento  que conduzirá a uma mudança radical de conduta.

É esta última atitude que, certamente, nós queremos promover nas relações entre judeus e cristãos; o caminho a seguir para isto está indicado nas Notas e esclarecido pelos diversos artigos desta revista.

    Para aqueles dos nossos amigos judeus que pensam, com razão, que uma mudança de atitude está bem longe de se manifestar, pode ser uma ajuda concluir com três citações : a primeira de um Bispo famoso dos primeiros séculos da Igreja, os outros de pontífices romanos do século XX. João Crisóstomo dizia sobre os judeus: "Nós não deveríamos nem mesmo cumprimentá-los , nem ter a mínima conversação com eles...". Muitos séculos mais tarde, Pio XI dizia: "O anti-semitismo  é um movimento ao qual nós, cristãos, não podemos de nenhuma forma associar-nos. Somos todos espiritualmente semitas". Alguns anos mais tarde, João XXIII acolhia uma delegação judaica com estas palavras: "Eu sou José, vosso irmão".

Como não esperar ver este movimento  que levou tantos séculos para se consolidar , tomar em nossos dias um tal impulso que nós pudéssemos constatar resultados positivos, colher frutos na vida dos cristãos adultos de amanhã, que são as crianças de hoje.

    Os cristãos de nossa geração têm, ao mesmo tempo, a terrível responsabilidade e a extraordinária ocasião de ser construtores de pontes... Possa o Mestre de obras estar conosco!            

CATÓLICOS E JUDEUS - Um novo olhar



Comentário das Notas do Vaticano  de 1985.                         Michel Remaud





A Igreja e o povo judeu, uma relação original




"Jesus era judeu e assim permaneceu sempre" ( III, 12)

De todas as afirmações que o texto contém, esta é, talvez, a mais densa em conseqüências, por isso convém colocá-la à frente deste comentário. É que ela põe em evidência o fundamento da relação única e original que une a Igreja ao povo de Israel.

Dizer que Jesus é judeu, é, com efeito, expressar mais do que uma simples indicação sobre a sua origem étnica. Se bem que o povo judeu[1] seja, sob muitos aspectos, um povo como os outros, ele foi marcado, desde as suas origens, por um destino único: ele foi escolhido e constituído por Deus para ser o portador da Revelação e o parceiro da sua Aliança. Revelando-se a ele, Deus manifesta ao mesmo tempo o que  espera do homem, cuja vocação é tornar-se semelhante  à  imagem de Deus: " Sede santos , porque eu sou santo, eu, o Senhor vosso Deus" (Levítico, 19,2). Se o judeu escolhe responder ao apelo que Deus lhe dirige, dentro do seu povo, é, conseqüentemente,   alguém que se compromete a viver segundo a Palavra de Deus e a realizar, assim, o projeto de Deus para o homem. Neste sentido, Jesus não é, para nós, somente um judeu como outro qualquer: ele é aquele no qual se realiza o que Deus espera do seu povo. Dizer que Jesus é judeu nos leva, portanto, além de uma nota documentária sobre o seu lugar de origem e de sua língua materna, por importantes que sejam estas informações. É dizer que forma tomou, dentro do seu povo, sua personalidade e sua missão. A "judeidade" não é, para ele, algo acidental, mas um caráter fundamental do seu próprio ser.



      Eis porque o texto afirma que "Jesus permaneceu sempre" judeu.

Isto quer dizer, primeiro, que Jesus não é um "convertido". Ele nunca abjurou do seu judaismo, nem renegou, de nenhuma maneira, suas origens e seu passado. Mas isto significa também que Jesus ressuscitado permanece judeu. Longe de destruir o que ele foi, a ressurreição o glorifica e o torna eterno. Certamente a ressurreição é uma liberação que livra o homem de tudo o que o enferma. Ela o livra de todas as limitações  e de todas as estreitezas. Mas ela não suprime as características particulares (não confundir particularidade e particularismo) que formam uma personalidade. Na ressurreição a pessoa permanece com todas os seus componentes essenciais. Jesus ressuscitado permanece um homem  no qual a Igreja reconhece seu esposo. Ele continua como um ser corporal - mesmo que fique proibido à nossa imaginação  especular sobre as propriedades do "corpo espiritual" ( 1 Coríntios , 15,44).

 Isto é tanto mais verdadeiro sobre o seu "ser judeu" porquanto este termo expressa não somente seu enraizamento carnal, mas ao mesmo tempo seu lugar no plano de Deus. Louis Bouyer não hesita em escrever: "A igreja (...) é o Corpo do Cristo, mas este corpo onde o introduz mais profundamente cada celebração eucarística é o Corpo de um judeu...".[2]



Assim, a Igreja se acha ligada, por natureza e para a eternidade, ao judeu Jesus, e a todo o seu povo através dele. É de um judeu, em quem ela vê realizar-se o projeto de Deus, que ela recebe permanentemente sua própria vida. É, portanto na pessoa mesma do ressuscitado que ela reencontra o judaismo, e é por isso que o documento faz sua a afirmação de João Paulo II, segundo a qual  a Igreja e Israel estão "ligados ao nível mesmo de sua própria identidade"(1,2) . O Cardeal Echegaray , por sua vez, escreve: "A perenidade do povo judeu traz para a Igreja não somente um problema de ordem exterior a ser melhorado, senão um problema interior que diz respeito à sua própria definição."[3] Tais declarações se situam no centro do documento conciliar Nostra Aetate, Declaração sobre as relações da igreja com as religiões não cristãs, cujo parágrafo sobre os judeus começa por estas palavras: "Perscrutando o mistério da Igreja, o concílio recorda o vínculo pelo qual o povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à estirpe de Abraão".  É refletindo sobre ela mesma e não olhando aquilo que lhe é exterior, que a Igreja encontra o Judaísmo. Sua relação com o povo judeu contém assim um elemento único que não se encontra em sua relação com nenhuma outra religião. A herança comum, bíblica e litúrgica, sobre a qual o texto insiste, com justa razão, não pode prestar contas por ela mesma desta relação privilegiada, da qual ela não é  senão a conseqüência . A ligação com o povo de Israel se encontra inscrita na própria identidade cristã . Eis porque a comissão (romana) para as relações religiosas com o judaísmo escrevia, em 1974: "O problema das relações entre judeus e cristãos diz respeito à Igreja enquanto tal, porque é "perscrutando o seu próprio mistério" que ela se defronta com o mistério de Israel. Portanto, é um problema importante, mesmo nas regiões onde não existe uma comunidade judaica.[4] ". Esta mesma Comissão retoma hoje esta afirmação, tirando conseqüências dela: "Em razão dessa relação única que existe entre o cristianismo e o judaísmo "ligados ao nível de sua própria identidade", relação " fundada  nos desígnios do Deus da Aliança", os judeus e o judaísmo não deveriam ocupar um lugar ocasional e marginal na catequese e na pregação, mas sua presença indispensável deve ser integrada nesses setores de maneira orgânica"(1,2) . Trata-se de uma " preocupação  pastoral"(1,3), porque o conhecimento do judaísmo vivo "pode ajudar a compreender melhor certos aspectos da vida da Igreja"(Ibid.).

 


Antigo e Novo




Faz-se necessário fornecer esclarecimentos sobre os termos antigo e novo , que  são geralmente fonte de mal entendidos quando se trata das relações com o judaísmo.[5]



Nova Aliança



É no antigo Testamento que se encontra a expressão Nova Aliança.[6] Através do profeta Jeremias (31,31), Deus anuncia ao seu povo que experimentou a prova do exílio, que ele vai restaurá-lo, perdoando as suas infidelidades. A aliança nova que ele vai estabelecer "com a Casa de Israel e a Casa de Judá" não terá outro conteúdo senão aquele selado no Sinai.  Ela será nova no sentido de que a lei de Deus será escrita no coração do homem. Por sua vez, o profeta Ezequiel (36,26-27) anuncia  que Deus vai purificar o seu povo, retirar do corpo do homem o "coração de pedra" par a dar-lhe um "coração de carne", e dar-lhe o seu espírito para torná-lo capaz de observar a sua lei.

 Deus vai, portanto, renovar , desde o seu íntimo, o povo ao qual ele entregou irrevogavelmente a sua palavra, para torná-lo  capaz  de ser fiel.

   A igreja reconheceu na Páscoa  do Cristo o cumprimento dessas promessas. No sangue de Jesus foi selada a "nova aliança" (lc.22,20 ; 1Cor. 11,25), e foi em Pentecostes que o Espírito de Deus se derramou. Para os primeiros cristãos, que eram judeus, tratava-se de um acontecimento interno do povo de Israel, pelo qual Deus mantinha a palavra que ele havia dirigido ao seu povo. Não se tratava, de forma alguma, da fundação de uma nova religião.

   A história prosseguiu de maneira inesperada para eles: o povo judeu, em seu conjunto, não aderiu ao Evangelho, enquanto que a entrada dos pagãos convertidos superava, na Igreja, o núcleo judeu. Muito rapidamente se encontraram frente a frente o povo judeu e uma Igreja composta em sua totalidade, de não-judeus. Situação que bem depressa levou estes últimos a fazer, em seu proveito , uma leitura errônea dos textos que acabamos de citar. A uma primeira aliança com Israel - à qual ele teria sido infiel - Deus a teria substituído  por uma segunda, esta definitiva, com um outro povo, a Igreja, que teria suplantado Israel. Mas isto consiste em um contra sentido  total com relação ao sentido da Escritura, para quem a expressão "nova aliança" significa, ao contrário, que Deus é fiel, e que ele não pode retomar a palavra dada a seu povo uma vez por todas.

   Compreende-se, portanto, que tal leitura pode ter conseqüências desastrosas sobre a nossa percepção das relações com os judeus, pois se corre o risco de considerá-los como representantes de uma categoria ultrapassada. Essa leitura falseia, também, gravemente, a nossa concepção de Igreja, que aparece como um novo povo [7]substituindo-se ao antigo. Pois bem, se é verdade que a igreja e o povo judeu vieram a ser dois grupos socialmente diferentes, a Igreja entretanto  não teria nenhuma legitimidade se ela não fosse situada, pelo Cristo, na continuidade do único povo de Deus. Esta leitura, enfim, não pode senão empobrecer a nossa própria concepção da Revelação.



Novo Testamento



   A expressão Novo Testamento significa mais do que ela não traduz: o latim Novum Testamentum. Por ela mesmo, esta expressão não diz outra coisa senão Nova Aliança [8]. Entretanto é costume, em Francês, empregar as expressões Antigo testamento, Novo Testamento  para designar as duas partes da bíblia cristã. O Novo testamento designa, pois, mais do que  a ação mesma do Cristo, o texto escrito (Evangelhos, epístolas, etc....) que resulta da pregação apostólica e do seu desenvolvimento. É nesse sentido que ele será empregado aqui. É necessário, portanto, lembrar-se de que a aliança e o testamento  estão presentes um no outro.

   Muitos cristãos, hoje em dia, acham-se dispensados de ler o Antigo Testamento  sob pretexto de que a nova aliança teria substituído a antiga. Esta visão está longe do que diz a letra mesma do Novo testamento. Jesus cumpre as promessas feitas aos Pais ( Lc.. 1,54-55), e é Jesus ele mesmo que, depois de sua ressurreição, explica a seus discípulos Moisés, os Profetas e o conjunto das Escrituras (Lc. 24,27). O acontecimento Jesus se produz,  com efeito, no interior de um desígnio de Deus do qual a Escritura desvenda o sentido (At. 2) .

Para os primeiros cristãos que não tinham, obviamente, em mãos, o Novo Testamento, Jesus e as Escrituras se esclareciam mutuamente. O Novo Testamento é, em boa parte, o testemunho desta constante releitura da Escritura a partir da ressurreição.



Ele se apresenta muito menos como uma literatura autônoma do que como um guia para a leitura do Antigo Testamento, sem o qual ele seria bastante ininteligível. Pretender um Antigo Testamento ultrapassado  revela, portanto, um grave desconhecimento do Novo.

   O cristão que souber dedicar-se à leitura do antigo Testamento , dar-se-á conta, rapidamente, que é toda a Bíblia que está animada  por um dinamismo interno de perpétua renovação. Em uma história onde o fracasso e o pecado mesmo são uma ocasião de descoberta de Deus sempre mais profunda, o homem não cessa de se renovar e de encontrar - ou reencontrar - a vida numa Palavra cujo sentido e alcance não se esgotam por nenhuma interpretação, nenhuma situação. A  revelação bíblica não cessa de apoiar-se no passado para voltar-se para o futuro.[9] O Antigo Testamento não é unicamente promessa: ele contém também numerosas realizações ( se não, como teria podido o homem  do Antigo Testamento falar com tanta segurança da fidelidade de Deus? . E o Novo é também uma promessa. É trair, portanto,  o espírito da Escritura  quando se faz do antigo e do novo dois regimens sucessivos, em que o segundo aboliria o primeiro. O conjunnto da Revelação é uma passagem permenente do antigo ao novo.

   Este movimento caracteriza assim, à sua maneira, a leitura judaica da Escritura, que é uma procura ( midrash) permanente do sentido da Palavra de Deus. Seria uma descoberta para muitos cristãos que imaginam - errôneamente - que os judeus fazem uma leitura literal da Bíblia. Para começar, esta descoberta corre o risco de ser desanimadora para o cristão. Não familiarizado com uma leitura  à primeira vista muito estranha, ele terá a impressão de ver fugir o terreno comum no qual ele esperava encontrar o judeu.[10] Passado o primeiro espanto, e sem querer reduzir a distância que coloca entre nós a fé em Cristo, ele compreenderá que, no espírito que os anima, a leitura judaica e a leitura cristã da Escritura são mais  próximas do que parece numa primeira abordagem: judeus e cristãos temos em comum esta procura permanente do sentido de um Palavra que nunca termina de entregar a sua significação nem as suas energias, porque é a Palavra de Deus.



Povo escolhido



   O que foi dito sobre as relações do antigo e do novo pode ajudar a compreender melhor as reservas que o nosso documento formula sobre o uso da tipologia . O texto lembra que a tipologia "da qual nós recebemos o ensinamento e a prática da liturgia e dos Padres da Igreja"(II,4) "consiste em ler o Antigo Testamento como preparação, e, de certa forma, em esboço e preparação do Novo (II,5).

     Para os autores do Novo Testamento ( 1 Cor. 10,1-11,etc.) a leitura tipológica significava que, em Jesus, Deus desvendava o conteúdo de uma Palavra que, por ela mesma, está sempre aberta para um futuro .Por ser divina, a Palavra de Deus não pode nunca referir-se exclusivamente ao passado. Nenhum acontecimento pode dar-lhe cumprimento, no sentido de que se extinguiria a esperança da qual ela é portadora. Lembremo-nos de que a passagem do antigo ao novo é um dinamismo que já caracteriza  o Antigo  Testamento . Trai-se, portanto, o espírito dessa passagem se ela for considerada como uma ruptura. (II,4)

   Uma vez mais: haverá infidelidade ao espírito da Revelação se a tipologia se tornar uma transposição sistemática e quase mecânica de um Antigo Testamento - considerado como um simples repertório de imagens e prefigurações - para um Novo que seria o único portador de realidades. Se tal fosse o caso, o cristão deveria referir-se diretamente à realidade ela mesma, sem fazer a volta por uma prefiguração que lhe parece muitas vezes estranha, e que, longe de ajudá-lo a melhor captar o Novo Testamento, lhe parece, ao contrário, geralmente mais obscura.

   Articular nestes termos o antigo e o novo, é esquecer-se, como o texto lembra fortemente, que a revelação bíblica possui nela mesma sua própria significação. Ela não é uma alegoria, mas a história bem real das relações ativas entre o  homem e seu Deus. Pelo seu batismo, o cristão se encontra preso, ele próprio, a esta corrente. A Nova Aliança, por conseguinte, não significa que o crente não tenha nada mais a esperar. Ela o introduz , ao contrário, em um movimento crescente (Efésios,,,4, 11-16.Cf. Documento II,8) , e lhe permite entrar na esperança do Reino (Mateus 6,10) com todo o povo de Deus. (II,10-11)

    Se o abuso da tipologia suscita importantes reservas, pode-se, por outro lado, considerar o  povo de Israel como povo-tipo (ou, se se quiser, povo-referência ). A história do povo judeu é aquela, sempre atual, do encontro do com Deus, e nela se encontram todas as situações-tipo: combate espiritual, santidade, covardia, heroísmo, fuga diante de Deus, confiança, esperança, misericórdia... Povo-tipo, pois, e não  povo modelo. A Bíblia não é uma coletânea de histórias edificantes, mas o retrato do homem às voltas com ele mesmo e com Deus. E porque esta história é  iluminada  pela Palavra de Deus, ela dá a todo crente a possibilidade de reconhecer-se nela e de descobrir a sua própria história.

    Se o povo judeu foi posto a parte (Nm 23,9), foi para benefício da humanidade. A eleição não é um privilégio. Ela não confere direitos, mas acarreta deveres: manifestar o que Deus espera do homem, e guardar a esperança do que ele lhe promete. Como tal, um apelo exigente. A maneira como a Igreja e os cristãos responderam à sua vocação os dissuadirá de julgar a  maneira pela qual o povo judeu responde à sua. Mais do que a tais comparações, o documento nos convida a perguntar-nos como fazer frente, juntos, à nossa responsabilidade comum (II,11)....



Judaísmo e cristianismo na história



    Lembrar-se-á  quanto o balanço das relações entre judeus e cristãos durante dois milênios foi negativo"(Vi,25). Não é comum ver-se uma instituição romana recomendar que seja posta à luz, na pregação e na catequese, uma das responsabilidades coletivas que pesam muito fortemente na consciência do mundo cristão. O fato, em si mesmo, deve ser sublinhado. Não pelo gosto mórbido de uma auto-acusação, mas para por em relevo que a falta não é uma questão estritamente individual e que a comunidade cristã como tal pode fazer a experiência do arrependimento e da misericórdia.

    Com esta ressalva, não é possível fazer, em algumas páginas, o balanço de dois milênios de história. E se nos contentamos em justificar a conclusão mostrando que o saldo é negativo, deixamos em silêncio os períodos e as regiões que viram judeus e cristãos viver em bom entendimento. Arrisca-se, assim, de restar importância aos múltiplos casos individuais, detectados em todas as épocas, que mostram que a comunicação não foi jamais totalmente cortada. Comete-se , enfim, uma injustiça para com os cristãos que, nos momentos críticos, souberam colocar-se resolutamente do lado dos judeus. Não se faz uma obra de reconciliação quando se substitui à procura da verdade, a repetição de alguns simplismos , que não fazem outra coisa senão tranqüilizar o espírito . É necessário, pois, não ceder à tentação de fazer aqui um resumo desta história, e contentar-se de citar alguns pontos indicativos, enviando aos historiadores para um estudo mais aprofundado.[11]

    O primeiro destes pontos indicativos é a ruptura entre a Igreja e a Sinagoga e seu afastamento recíproco, na antigüidade. A expulsão dos cristãos da Sinagoga  e, paralelamente , o desaparecimento progressivo da presença dos judeus em uma Igreja onde muito depressa eles passaram a ser uma minoria. Depois, a polêmica entre a Igreja e a Sinagoga, envenenada pela competição missionária junto às massas pagãs. Uma sorte cada vez mais precária , reservada aos judeus, no Império que veio a ser cristão. No Ocidente, houve um deterioro brutal da sorte dos judeus , a partir do século XI, com os massacres dos judeus na ocasião em que partiram as Cruzadas. Acusações de crimes rituais, de profanações de hóstias, acompanhadas de violências populares. Perseguição, pela Inquisição espanhola, dos judeus convertidos  que voltavam, em segredo, às práticas do judaísmo. Expulsão dos judeus, com confiscação dos seus bens, pelos soberanos cristãos. Pogroms da Europa Central e da Rússia. e, sobretudo, o paroxismo que foi, no século XX, a tentativa de aniquilação pura e simples do povo judeu. Certamente este episódio não se inscreve exatamente na continuidade do que precede. O nazismo, em sua inspiração, não era menos anti-cristão do que anti-judaico. Mas a maior parte dos nazistas eram batizados.[12] A tentativa de genocídio foi cometida na Europa cristã. Ela tornou-se possível pela passividade dos cristãos, e muitas vezes com  sua cumplicidade ativa.

    Este passado antigo e recente não deve cair no esquecimento, por graves razões que tocam diretamente à fé cristã.

    Não é necessário demonstrar que esta história se opõe ao ideal de caridade que deveria caracterizar o cristão. Mas esta contradição deve ser examinada  mais de perto. Com efeito, dando provas de arrogância com relação aos judeus, os cristãos se tornam culpados , exatamente, do que eles lhes reprovam a partir do Novo Testamento: argumentar que recebemos de Deus sem nenhum merecimento  para nos orgulharmos diante dele, em detrimento de outros. Desprezar o judeu em nome do Evangelho é uma deturpação da mensagem de Cristo. O evangelho é um apelo à conversão interior. O anti- semitismo cristão consiste em apontar o outro como aquele que tem necessidade de se converter.

    O anti-semitismo cristão se nutriu de argumentos teológicos. Não foi o cristianismo que engendrou o anti-semitismo,[13] mas indiscutivelmente ele o entreteve e agravou. Muito rapidamente a teologia cristã resumiu a situação  do povo judeu em duas palavras: rejeição e substituição. Deus haveria rejeitado seu primeiro povo, para substituí-lo por um segundo, a Igreja. Tais conceitos não poderiam senão satisfazer a boa consciência anti-semita dos cristãos no meio dos quais os judeus sofreram.

    O anti-semitismo cristão é uma posta à prova, pelos cristãos, da obra da redenção realizada por Cristo. O Novo Testamento nos diz que Jesus destruiu o muro que separava Israel das outras nações (Efésios 2,14). Foram os cristãos que reconstruíram este muro, em nome de argumento supostamente do Evangelho. Fazendo isto, eles firmaram a imagem de um Cristo que separa, e fizeram da cruz um símbolo contrário ao do amor.

    O paroxismo que foi a tentativa de exterminação nazista deve ser  integrado no balanço a que o documento nos convida. Se ele não pode ser diretamente imputado ao cristianismo, ele é, pelo menos, o sinal de um fracasso: dezenove séculos de pregação do Evangelho não impediram que se produzisse no seio mesmo do mundo cristão, o maior desencadeamento de ódio que jamais foi abatido sobre o povo judeu.

    A questão das relações da Igreja e do judaísmo não é , portanto, uma questão menor ou marginal. Ela nos leva, ao contrário, ao centro do mistério da Igreja: a obra de reconciliação realizada no Cristo, e celebrada em cada Eucaristia. Se for preciso evocá-la, não será para encerrar-nos na culpa, mas para abrir-nos à graça. Além disso, o movimento de reconhecimento do judaísmo pelas Igrejas , que se supõe seja benéfico para o conjunto da comunidade cristã, foi, em grande parte, desencadeado pelos acontecimentos destas últimas décadas e suas conseqüências diretas. Não foi, sem dúvida, por acaso...



[1] As palavras marcadas com este nº 1 foram objeto de uma breve explicação no "Petit Lexique"p.34.
[2] Louis Bouyer: L' Église de Dieu. Cerf,1970,p.644.
[3] Intervenção no sínodo romano sobre reconciliação
[4] Orientações e sugestões para a aplicação da Declaração conciliar  Nostra Aetate no. 4,1 -12 - 1974.Em "As Igrejas diante do judaismo - documentos oficiais 1948-1978 ( Textos colecionados, traduzidos e anotados por Marie Thérèse HOCH e Bernard DUPUY, Cerf 1980,p.361) . Este livro será simplesmente designado em seguida, pela abreviatura "Hoch-Dupuy".
[5] O autor do presente comentário se expressou mais longamente sobre este ponto - como sobre um certo número de outros abordados aqui - em seu livro "Chrétiens devant Israel, serviteur de Dieu"(Cerf , 1983).
[6] Quanto à expressão "Antigo Testamento", não se encontra, no Novo, senão em 2 Cor., 3,14.
[7] A expressão 'Novo Israel" não se encontra em nenhuma parte no Novo Testamento.
[8] É nesse sentido que ela é empregada, hoje ainda, no texto oficial (latino) da liturgia romana. No latim como no grego, o mesmo termo designa "a aliança" em Lc.22,20 e 1Cor. 11,25 e "o Testamento" em 2cor. 3,14).
[9] Ver, por ex., os Salmos 78, 106, etc.
[10] Somente o costume - ou a ignorância - pode nos impedir de ver que a leitura cristã da Bíblia não é menos desorientadora para o profano do que a leitura judaica, da qual ela se inspira diretamente em seu espírito e em seus métodos. Comparar, por ex., Oséias  11,1 e Mateus 2,15; Êxodo 12,46 e João 19,37.
[11] Léon Poliakov: "Histoire de l'antisémitisme "( 4vol.) Calmann-Leviy, 1965, 1961, 1968,1977. Edição abreviada em 2 volumes (1981) . F. Lovsky: "L'antisémitisme  chrétien" (Editions du Cerf, 1970).
[12] Mais de um cristão é capaz de saltar quando ouvir que judeus colocam a Hitler  entre os cristãos.Em função do diálogo, é bom saber que o termo  "cristão" não tem  exatamente a mesma ressonância para o judeu do  que para  nós. Enquanto que ele evoca primeiro , para nós , uma opção religiosa e designa alguém que adere à fé cristã  (não faltam pessoas batizadas que se dizem com toda a boa fé,  não cristãos) , muitos judeus o entendem antes (não  exclusivamente)  como a designação de uma pertença social. (em nossas regiões, cristão é, então, "grosso modo", sinônimo de não-judeu ( e não muçulmano). Antes de se indignar com essa simplificação - e sem desistir , entretanto, de se explicar - o cristão poderá perguntar-se como a história chegou a  tornar isto possível.
[13] Na última edição (abreviada) de sua "Histoire de l'antisémitisme", Léon Poliakov  corrige sob este ponto de vista sua primeira edição ( Calmann-Levy, 1981, T.1, pag. 7)