quarta-feira, 2 de julho de 2014

Mestre e Discípulo

1Sam 3,1- É o momento em que Samuel vai fazer a distinção entre a voz que sempre ouviu no treinamento (Eli) para a voz que doravante passará a ouvir, a voz divina. Deus chama, mas Samuel ouve a voz do seu mestre Eli, voz humana. Samuel conhecia a Palavra de Deus através de Eli. 2Reis 2p Eliseu é o discípulo de Elias - Nessa relação, discípulo e mestre estão juntos. Onde está o mestre está o discípulo. Mestre não é professor e discípulo não é aluno. O discípulo traduz na sua existência a encarnação do mestre, ou seja, ser como o mestre - Mas ir além da mera repetição. Para produzir uma imagem verdadeira.ele deve imitar o seu mestre. Porque se ficar só no intelecto não é verdadeira essa relação. (Essa é a fidelidade do discípulo para com seu mestre). Eliseu é tão bom discípulo que sabe até onde... o conhece à fundo. Vs. 7 - Importante aqui é também o movimento geográfico. Indica que sem Elias a Terra de Israel não é melhor que o Egito. Ela não é diferente. O paganismo também lá existia. Elias usa seu manto para dividir o mar em dois e atravessar a pé enxuto. Se Moisés é incomparável, Elias é o que pode chegar mais perto. Isto significa que ele foi discípulo de Moisés, ou seja, aprendeu dos seus ensinamentos. A única coisa que pode dar-lhe legitimidade (é o espírito de Deus) é a escolha que faz: escolhe Eliseu como sucessor que pede a sabedoria divina. ESPÍRITO - significa que ele necessita do Espírito divino, Espírito profético. É o mesmo que lhe pedir o espírito de Elias, que em seguida diz: Pede uma coisa difícil. No entanto ele diz: “Se me vires ser arrebatado de sua vista....” Obs.: Se o arrebatamento fosse um movimento físico, bastaria uma boa visão e não o espírito. Nesse sentido, é evidente que o arrebatamento não tem nada de físico e sim teológico, espiritual. Um acontecimento de ordem espiritual e teológico. O fogo e a cavalaria simbolizam a divindade. Por ver o arrebatamento de Elias, ele (Eliseu) pode ter o Espírito Divino - Apanha o manto de Elias caído e toma a direção do oriente para o ocidente para levar o espírito divino. Só que ele não enrola o manto, mas também bate na água e atravessa. O autor não diz que ele atravessou a pé enxuto. Isto significa que ele não é Elias. Mas seus irmãos reconhecem neste o Espírito de Elias. Isso é só imaginação, não foi real, é apenas uma criação do autor para dizer que Eliseu tem Deus e será o sucessor de Elias. Cada etapa nos leva a pensar: Eliseu devia ter ficado mas não ficou. Porque o autor faz Eliseu desobedecer (não ficar) e ir com Elias na etapa seguinte? Qual é a força maior que faz Eliseu desobedecer aparentemente esta ordem? Devido à relação MESTRE – DISCÍPULO, função do seguimento, a instrução é teológica. Os evangelistas se servem do padrão ideal da sucessão das gerações. A nova geração é discípula da geração que está terminando e ela terá que ser mestra da nova geração que está começando. Os discípulos devem aprender tudo do mestre, até a maneira como ele gesticula, olha, bebe, anda, a sobriedade, pois o mestre é alguém que encarna o ideal de uma vida em sociedade: cultura, idioma, habilidade, costumes A força maior: um discípulo não conseguiria ficar longe do mestre, por isso tudo é que Eliseu não se afastou de Elias. O autor quer provar Eliseu: se tivesse ficado em Guilgal, Eliseu não seria um discípulo de Elias. “Tão certo como o Senhor e tu vives...” = é um juramento. É como se estivesse dizendo: Eu juro por Deus. Ele jura por Deus e por Elias. Eliseu é um discípulo. Ele sabe que ficar é errado e desobedecer é o certo, pois um discípulo não se afasta do seu mestre. Isso, na história de Israel foi fundamental e ainda o é até hoje. Eles dirão: Sou discípulo de Moisés; Moisés é o rabino, mestre. Então, todo Israel é seu discípulo. “Sabes que hoje o Senhor vai arrebatar teu amo...?” Isto não visa saber o conhecimento dos profetas, mas perguntar para ver se ele (Eliseu) sabe o que vai acontecer. Eliseu tem que saber (e isto é uma prova de que ele tem em si o Espírito Profético. v.6 conclui: “os dois partiram juntos”. Quando andamos a leste em direção ao oriente chegamos ao Jordão. O movimento que eles estão fazendo é contrário ao passado. Josué fora do Oeste para o Leste. Só restou Elias como fiel a Deus no Reino de Israel, o resto se rendeu a Baal. O autor está fazendo Elias sair do Egito (idolatria) e ir para o deserto. . Israel na opressão tinha se transformado no próprio Egito. O manto de Elias é profético, enrolou-o e bateu com ele nas águas do Jordão. Lembra a travessia do mar vermelho. Também a passagem para a terra prometida, Js 3, quando os sacerdotes pisaram na água com a arca da Aliança, a água se abriu e eles entraram na terra. Mas não há ninguém com descrição tão próxima de Elias quanto Moisés. O manto divino nas mãos de Elias “Peça o que quiseres antes de eu ser arrebatado”. Isso é o núcleo do texto. O Espírito de Elias é profético e não é a personalidade de Elias que está se reencarnando. Duas porções: significa testemunho, veracidade. Os discípulos dão testemunho da história que viram (é autêntico). Função do texto: Eliseu é o indivíduo que pode substituir Elias. Eliseu poderia ter pedido outra coisa? Não, em absoluto, pois tudo está sendo escrito em função de ter ou não ter o Espírito de Elias. O autor faz Elias fazer a proposta e Eliseu fazer o pedido do Espírito. O arrebatamento acontece no início da Bíblia (Henoc: Gn 5,24; Moisés, Míriam) O que é o arrebatamento? Não é físico (ver ou não ver) È algo de natureza espiritual. Se me vires nesse arrebatamento espiritual interior, então tens o espírito. E se não vires nesta ordem, então não tens o espírito. Significa, senão fé, vires Elias indo aos céus, pois um homem como ele tem que ir para o céu. Só pode ver quem tem fé, quem tem o espírito. Meu Pai – expressão típica na boca do discípulo na relação com o mestre. v. 12 daí, conclui-se que Eliseu o viu e portanto ele é o profeta, ele tem o Espirito. Eliseu ao rasgar suas vestes em duas partes mostra que até aqui houve um Eliseu a partir daqui ele é outro. Foi discípulo, e doravante é portador do mestre, profeta. v.15 “o espírito repousa sobre Eliseu”. V.16. Esses irmãos profetas querem procurar Elias: eles (50) estão presos no nível físico, pois não acreditaram e não viram teologicamente o arrebatamento. Elias morreu, acabou. Conclusão: quando o autor faz Eliseu ver o arrebatamento. O Espírito profético repousa sobre Eliseu, então ele é o legítimo sucessor de Elias no meio do povo. A propósito - O autor dos Atos dos Apóstolos pega a linguagem: arrebatar e ver = sua relação é que faz o autor em atos construir o seu texto. Os discípulos viram Jesus sendo arrebatado: 1o) Quer dizer que sobre os discípulos repousa o espírito do Senhor ressuscitado. 2o) Que eles são os sucessores do ressuscitado, pois viram o arrebatamento. 3o) Que não adianta procurar o Jesus histórico. O que é ascensão? - História do crente, do que viveu a experiência de fé no que diz respeito à subida. Ser testemunha do ressuscitado. Sucessor do seu mestre, do desaparecido na sua vida histórica. Obs.: Pentecostes - Construção literária construída no Sinai de modo calculado, progressivo, para que tenha continuidade a construção. Por isso a morte e ressurreição pode ser escrita na base desse passado. A relação mestre discípulo no judaísmo Nos evangelhos encontramos Jesus sempre rodeado de discípulos/as e ensinando através de parábolas. Os ensinamentos são passados de forma oral e por isso a assimilação requer a memorização do que foi ouvido. Para isso é preciso repetir sempre os ensinamentos do mestre. É pela força da repetição que suas palavras continuam a cantar no coração do discípulo, mesmo quando este se ocupa com outras coisas. O que mantém viva uma cultura é a capacidade de contar e recontar histórias. A memória é o que mantém vivas a fé, a esperança e, conseqüentemente, a resistência de um povo. Esta é a razão do esforço de tantos grupos, na maioria pequenos, que fazendo a leitura dos textos das Escrituras dentro de suas próprias culturas ressaltam os valores da pedagogia popular. A força do ensinamento oral reside no fato de que o que se escreve em material perecível pode desaparecer, mas o que se guarda na memória e se transmite jamais desaparecerá, enquanto existir o ser humano. O Senhor me deu uma língua de discípulo para que eu soubesse trazer ao cansado uma palavra de conforto. De manhã ele me desperta, sim, desperta o meu ouvido para que eu ouça como discípulo (Is 50,4). A figura do mestre na tradição judaica é estritamente ligada à Torá, á Palavra de Deus. Não existe mestre sem a Escritura, Palavra de Deus. Não pode haver tampouco um mestre sem discípulos e discípulos sem um mestre. É em relação aos seus discípulos que ele é considerado mestre. O mestre transmite os ensinamentos aos discípulos com a palavra e com a própria vida. Como deve ser um discípulo? Deve estar em tudo de acordo com o mestre. Deve observar o mestre como ele fala, anda, se veste, gesticula, se comporta. Um discípulo deve visitar o seu mestre em dia de festa, obedecer às suas ordens, mesmo quanto não está de acordo com elas, deve ganhar a simpatia de seu mestre pela boa conduta. Quem busca um mestre e se une a ele é como se buscasse e se unisse a Deus. Assim sendo o mestre, pela posição que adquire de transmitir a Torá, se torna, aos olhos da comunidade, um representante do próprio Deus. Ao mesmo tempo o mestre deve admoestar o seu discípulo e ser admoestado por ele. A relação que se estabelece entre mestre e discípulo não é somente ligada ao estudo dentro do tempo de preparação, mas a um contado pessoal e há uma verdadeira participação de um na vida do outro. Pode-se dizer que, embora mestre e discípulo se encontrem em uma atmosfera comum de reciprocidade, a postura do discípulo diante do mestre é de escuta e assimilação. Escuta de suas palavras, que são as da Escritura, e imitação de suas ações, que são um reflexo das ações de Deus. Neste sentido, é interessante lembrar as palavras de Isaías citadas no início: “o Senhor me deu uma língua de discípulo... e ouvido ...”, isto é, para falar, repetir as palavra ouvidas da boca do mestre (Deus). O mestre, pelos seus ensinamentos e exemplos, transmite a vida da Palavra de Deus a seus discípulos, que por sua vez vão transmiti-la a outros, como uma força vital. É o ensinamento que atravessa gerações, de boca em boca, de coração a coração. “Moisés recebeu a Torá no Sinai e a transmitiu a Josué”. Assim a função mestre-discípulo exige uma continuidade. E para que essa continuidade aconteça são necessárias duas exigências: fidelidade ao Mestre e fidelidade à comunidade. Daí se entende a relação de Jesus com seus discípulos. Seguiram o mestre em tudo e depois foram fiéis ao ensinamento do mestre. Somos catequistas, isto é, somos mestres. A pergunta a ser feita é, até que ponto nós fomos discípulos do mestre para que agora tenhamos autoridade para transmitirmos a sua mensagem.