sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pastoral Catequética

"Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste dos meus olhos a cegueira. Exalaste o teu Espírito e aspirei o teu perfume, e desejei-te. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e abrasei-me na tua paz” (Santo Agostinho, Confissões X,27,38).


Introdução

1. Processo evangelizador

1.1. Ação Missionária

1.2. Ação Catequitizadora

1.3. Ação Pastoral

2. Delimitando a catequética

2.1. Identidade e divisões da catequética

2.2. O Novo Diretório Nacional de Catequese

2.3. A finalidade do diretório

2.4. O Novo diretório nos aponta para alguns desafios

2.5. O esquema geral do Novo diretório

3. Catequese Permanente e Iniciação a Vida Cristã

4. Itinerário alternativo de um projeto de inspiração catecumenal para paróquias

5. BIBLIOGRAFIA


Introdução:

A palavra "PASTORAL" deriva de PASTOR. Seu significado está estreitamente ligado à alegoria do "Bom Pastor". Jesus intitulou-se pastor das ovelhas. A pastoral, portanto está diretamente ligada a ação do pastor no cuidado das ovelhas.

Trabalho pastoral, portanto, é toda a tarefa vocacional específica de serviço desenvolvida pela comunidade local, a fim de contribuir no processo de evangelização, transformando os reinos deste mundo, no reino de nosso Senhor Jesus Cristo.


CATEQUÉTICA= “é a Ciência (enquanto estudo organizado dos conteúdos do Creio) e Arte (inclui a simpatia e a criatividade entre educando e educador) do ensinamento e da aprendizagem da catequese”.

Significado Pastoral Catequética: Ação fundamental de todo processo de Evangelização. Evangelizar constitui um processo amplo e complexo, em cujo corpo se encontra a catequese, como um dos seus momentos característicos.

Evangelizar é fazer chegar a Boa Nova a todos e a Boa Nova que Jesus anuncia é o Reino de Deus e a salvação para toda a humanidade.

Viver como Jesus é também um projeto de todos os cristãos evangelizador.

Para ser verdadeiro evangelizador, é necessário deixar-se evangelizar, sendo ouvinte atento ao que Deus fala. Acolher a palavra é aceita-la como Palavra de Deus que está produzindo efeito em nós e entre nós.

O evangelizador deve anunciar o Evangelho com vibração, entusiasmo e alegria, adaptar as diferentes ferramentas de hoje e de amanhã e de sempre para que a Palavra de Deus se torne fonte de inspiração para a vida das pessoas e para construção da sociedade.

Evangelizar é também anunciar a Boa Nova como fonte de esperança no meio de tantos conflitos que surgem no coração do homem e na sociedade desigual que impede a realização do Projeto de Deus. Evangelizar é suscitar a esperança de novos tempos de Justiça e Paz.

Não basta falar de Deus é necessário testemunhá-lo e dar exemplo através de uma vida de santidade encarnada em nossos dias. O testemunho da vida é a primeira e insubstituível forma de missão.
A evangelização exige a inculturação da fé e o respeito pelos valores próprios de cada grupo humano. Neste sentido a religiosidade popular é um caminho privilegiado de evangelização e nela os pobres manifestam seu potencial evangelizador.

A Igreja existe para evangelizar, isto é, para levar a Boa Nova a todas as parcelas da humanidade, em qualquer meio e latitude, pelo seu influxo transformá-las a partir de dentro e tornar nova a própria humanidade.

Proclamai (MC 16, 15), fazei discípulos e ensinai, sereis minhas testemunhas, batizai, fazei isto em minha memória. (LC 22, 19), amai-vos uns aos outros (JO 15, 12). Anuncio, testemunho, ensinamento, sacramentos, amor ao próximo, fazer discípulos: todos estes aspectos são vias e meios para a transmissão do único Evangelho, e constituem os elementos da evangelização.

Os agentes evangelizadores devem saber agir com a visão global da realidade humana e identifica-la com o conjunto da missão da Igreja.



1. Processo evangelizador
O processo evangelizador, conseqüentemente, é estruturado em etapas ou momentos essenciais
• Ação missionária para os não-fiéis e para aqueles que vivem na indiferença religiosa;

• Ação catequética de iniciação para aqueles que optam pelo Evangelho e para aqueles que necessitam completar ou reestruturar a sua iniciação.

• Ação pastoral para os fiéis, já maduros, no meio da comunidade cristã.

Esses momentos, no entanto, não são etapas concluídas: reiteram-se, se necessário, uma vez que darão o alimento evangélico mais adequado ao crescimento espiritual de cada pessoa ou da própria comunidade.

Por tanto podemos dizer que a ação evangelizadora da Igreja compreende três ações intimamente ligadas entre elas e que comportam uma multiplicidade de ações e atividades no seio da Igreja: ação missionária,

catequizadora e pastoral.
1.1. Ação Missionária

É a primeira e principal missão da Igreja. E toda ação da Igreja precisa ter uma dimensão evangelizadora, isto é, de anuncio de Jesus, provocando nossa liberdade e nosso coração a uma adesão cada vez mais coerente a ele.

Primeiro anuncio: No início do Caminho na fé é necessário levar as pessoas o Evangelho, isso é, o anuncio do amor de Deus revelado em Jesus Cristo, Senhor morto e ressuscitado por nós todos. O desígnio específico deste primeiro anúncio é:

1. Suscitar a fé no único e verdadeiro Deus, criador do céu e da terra.

2. Suscitar a fé em Jesus Cristo e a decisão de segui-lo como único Senhor.

3. O primeiro anúncio não deve ser levado apenas as pessoas que não acreditam; deve ser novamente proposto para àqueles que já acreditam.



1.2. Ação Catequitizadora

2. Educa para a fé em Jesus Cristo os que optaram pelo Evangelho e necessitam de uma iniciação para uma aprofundada vida cristã e eclesial.

3. A Catequese de fato é uma forma de serviço da Palavra que tem o desígnio de ajudar àqueles em um primeiro momento acolheram o primeiro anúncio para continuar aprofundado e amadurecendo a mentalidade da fé.

4. É uma ação eclesial direcionada as pessoas que acreditam; procurando que nelas aconteça um aprofundamento sistemático da mensagem cristã, tendo em vista a educação da mentalidade de fé e de uma coerente vida cristã.

5. Não deve ser vista como ensino teológico. Porque freqüentemente identifica-se a Catequese como ensino da religião católica com o ensino da teologia. Na realidade o ensino teológico tem como finalidade oferecer o conhecimento objetivo e crítico aos conteúdos da fé na fundamentação, sistematização e aprofundamento científico da mensagem.



1.3. Ação Pastoral

São as ações da Igreja, das quais os cristãos participam; através das atividades e propostas de ação pastoral que continuam alimentando sua fé e crescendo na ação transformadora, na reflexão, no estudo, na oração, na liturgia, no serviço aos necessitados de todo tipo, no dialogo e no anúncio missionário. A ação pastoral conduz os cristãos já iniciados no aprofundamento contínuo da fé, para que ela possa ser cada vez mais esclarecida, operante e atualizada.

Enfim, a evangelização é abrir a mente, o coração e a vida para Cristo. É Ele o Evangelho, a Boa Nova para a humanidade, porque a liberta do pecado, do mal e da morte e a introduz no mistério da comunhão Trinitária.

Cristo realiza na história da humanidade a maior revolução social, impensável nas outras culturas, justamente por que Jesus é Deus conosco; por isso:

1. Revela a natureza de cada ser humano como filho de Deus;

2. Proclama igual dignidade de todas as mulheres colocando-as ao lado do homem;

3. Indica que o matrimonio deve ser uma escolha de amor;

4. Aponta toda forma de escravidão;

5. Prega a fraternidade universal, porque todos formam a família de Deus;

6. Procura sempre à paz, o perdão, a misericórdia, contra qualquer tipo de violência ou submissão;

7. Proclama abençoados pelo Pai aqueles que assistem os pobres, os deficientes... de qualquer idade e condição;



A evangelização é nova pela renovação de alguns aspectos, adequando todas as estruturas pastorais aos novos tempos, de acordo com as circunstancias de cada realidade, do povo e de cada cultura.



2. Delimitando a catequética
Toda ação catequética envolve um conjunto de ações, projetos e objetivos que fazem com que ela seja estruturada num planejamento de Pastoral Catequética no âmbito concreto da práxis catequética da Igreja, em nível diocesano, paroquial e comunitário.

Em um sentido estrito: é a ação dos Pastores na coordenação, animação, defesa e alimentação dos fiéis no que se refere à busca do amadurecimento na fé, na esperança e na caridade, como membros na Igreja e como fermento e agentes na transformação evangélica da sociedade. Os bispos e presbíteros assumem, pela vocação e missão, o cuidado dos discípulos e discípulas do Senhor Jesus, já que se situam na linha de sucessão ao mandato do pastoreio dado por Jesus aos Apóstolos, tendo à frente deles Pedro.

A Pastoral é um desdobramento da missão evangelizadora da Igreja, que existe em função da construção do Reino de Deus no coração das pessoas, nas relações humanas e na sociedade.

Em um sentido amplo: é o agir da Igreja como um todo, ministérios ordenados, não ordenados, religioso e leigos num esforço continuo, consciente, articulado e organizado para proclamar e construir o Reino de Deus na história, através da comunhão, do anúncio, do serviço libertador e do diálogo. Cada fiel exerce, portanto, e cada um segundo sua vocação e missão dentro da Igreja, as três funções bíblicas constitutivas do Povo de Deus. (sacerdotes, reis e profetas).

A catequética ou ciência catequética é a disciplina que se ocupa da reflexão sistemática sobre toda Catequese, em quanto ato no contexto da práxis pastoral da Igreja. Sua existência e legitimidade são hoje um fato firmemente aceito no âmbito da reflexão e da práxis pastoral da Igreja.

É também Ciência e Arte:
Ciência: porque é o estudo organizado do conteúdo de nossa fé cristã, segundo o projeto de Jesus Cristo na vivência da Igreja, procurando resolver e esclarecer cada vez melhor os métodos a serem utilizados por meio da observação experimental dos dados, elaboração de hipótese e formulação de leis, através da adaptação à realidade.

Arte: inclui a “simpatia” entre educando e educador, catequizando e catequista através da criatividade e da motivação, por isso necessita estar sempre atualizada, Gevaert disse que: a Catequética “é o estudo científico (metódico e sistemático) da Catequese, conforme todos os seus fatores e em todas as suas dimensões”.

Por estas definições podemos perceber a vastidão do campo da Catequética. A Catequética faz parte da teologia, em quanto é uma dimensão da missão evangelizadora da Igreja, e portanto se insere no contexto das suas atividades pastorais, mas é também disciplina que faz parte das ciências da educação, por ser organização do ensino, aprendizagem e da educação religiosa-eclesial. Como processo educativo, a catequética levanta problemas que encontram resposta na sociologia e na psicologia, porque faz parte do dinamismo global do crescimento e do amadurecimento da pessoa.

2.1. Identidade e divisões da catequética

A identidade da catequética resulta do objeto do qual ela se ocupa, da catequese na variedade de suas manifestações, mas se desenvolve num terreno semeado de muitas tensões. Tensão entre fidelidade a Deus e fidelidade ao homem, entre pedagogia divina e pedagogia humana, maturidade cristã e maturidade humana; conteúdo e método, dimensão teológica e pedagógica da catequese, caráter científico e sapiencial da catequese, ciência e arte da catequese, teoria e práxis, reflexão e ação; entre nível empírico e científico do planejamento e da realização da catequese.

Na verdade, preocupando-se a catequética com o ser humano em sua integralidade não pode fugir das tensões dialéticas porque essas são inerentes à mesma realidade. A catequética, de fato, tem como princípio uma antinomia fundamental: fidelidade a Deus e fidelidade ao homem. E é, sem dúvida, essa dupla fidelidade que se traduz muitas vezes em fonte de exigências contrapostas, mas não inconciliáveis.

Também em razão da complexidade e amplitude do objeto estudado pela catequética, ela admite em seu seio divisões e modalidades que podem levar a distinção entre catequética fundamental, material e formal.

Por Catequética Fundamental entende-se o estudo das condições e dos pressupostos de base da ação catequética, sua identidade e dimensões fundamentais. A Catequética material, por sua vez, tem como objeto os conteúdos da comunicação catequética como estrutura e articulação da mensagem, temas, critérios de escolha e fontes do conteúdo. Enquanto que a Catequética formal trata dos aspectos propriamente metodológicos e pedagógicos da transmissão ou mediação catequética, seus métodos, estruturas, agentes, linguagens e programação.

Outro elemento distintivo da catequética relaciona-se com a pluralidade de métodos utilizados no seu desenvolvimento que vão desde técnicas de conhecimento e análise da realidade, a instrumentos hermenêuticos de interpretação; de métodos de planejamento e organização, a técnicas de expressão e sistemas de avaliação. E isso ocorre porque a catequética configura-se com um saber multidisciplinar ao orientar a catequese para uma interdisciplinaridade que leve a uma interação e diálogo entre os diversos processos disciplinares envolvidos na reflexão catequética.

Esse diálogo interdisciplinar se realiza, sobretudo, com a teologia que fornece os conteúdos fundamentais da catequese, mas também com a filosofia que fornece os instrumentos hermenêuticos de interpretação. Mas, uma vez que a catequética focaliza-se sobre o sujeito, a pessoa humana na sua situação, sua dimensão histórica e cultural, interessa-lhe toda e qualquer contribuição capaz de iluminar sua ação efetiva: antropologia cultural, sociologia, psicologia, ciências da religião e ciências da comunicação entre outras.

2.2. O Novo Diretório Nacional de Catequese

Este diretório é destinado aos catequistas, Bispos, padres religiosos e deverá ser de ajuda para uma nova dimensão e qualificar o processo de evangelização, educação e amadurecimento da fé.

Dedica grande espaço para tratar dos eixos centrais da catequese: A Bíblia como texto base e principal da catequese; os momentos celebrativos; a unidade que deve haver entre liturgia e catequese; o princípio de interação, fé e vida; a importância da caminhada de fé da comunidade, como lugar e ambiente da catequese e o conteúdo da educação da fé. Ressalta ainda o grande desafio de uma catequese adulta com adultos, resgatando o catecumenato da Igreja primitiva.

O diretório Nacional de Catequese tem como objetivo apresentar a natureza e a finalidade da catequese, traçar os critérios de ação catequética, orientar, coordenar e estimular a atividade catequética nas diferentes regiões.


2.3. A finalidade do diretório

 Estabelecer os grandes princípios bíblicos teológicos pastorais que ajudam a promover e a renovar a mentalidade catequética;

 Coordenar as diversas iniciativas catequéticas;

 Orientar o planejamento e a realização da atividade catequética nos diferentes âmbitos: paróquia, diocese, regional;

 Articular a ação catequética com a liturgia e com outras pastorais afins;

 Estimular a ação catequética e promover a educação da fé.



2.4. O Novo diretório nos aponta para alguns desafios

 A unidade na pastoral catequética;

 A formação do catequista como comunicado de experiência de fé;

 Fortalecer a unidade do princípio entre fé e vida na ação catequética;

 O desafio da catequese com adultos;

 O desafio de uma linguagem da fé mais compreensível às pessoas;

 Instituir o ministério da catequese na Igreja;

 Suscitar o gosto pela celebração litúrgica e pela dimensão orante e celebrativa da catequese;

 O desafio de buscar uma catequese que ajude os catequizando a pensa, recriar, interiorizar valores;


2.5. O esquema geral do Novo diretório

Primeira parte: fundamentos teológicos-pastorais da catequese.

Segunda parte: Orientações para a catequese na Igreja particular: destinatários do processo catequético, lugares da catequese e sua organização; o ministério da catequese e seus protagonistas.

Capítulo primeiro: As conquistas do recente movimento catequético à luz do concílio vaticano II;

Capítulo segundo: A catequese na missão evangelizadora da Igreja;

Capítulo terceiro: A catequese no contexto da história e da realidade;

Capítulo Quarto: fala da mensagem e do conteúdo da catequese;

Capítulo quinto: A catequese como educação da fé; o modo de proceder de Deus e a pedagogia catequética;

Capítulo sexto: A catequese conforme as idades: com adultos, com idosos, na primeira infância, com jovens e adolescentes...

Capítulo sétimo: A catequese na Igreja particular e a formação e perfil dos catequistas

Capítulo oitavo: Este capítulo trata dos lugares da catequese, família, comunidade eclesial; e da missão do ministério da coordenação de catequese nos diferentes níveis.


3. Catequese Permanente e Iniciação a Vida Cristã

A iniciação a vida cristã é um dos temas que vem sendo retomado gradativamente na caminhada da Igreja como tarefa central e como cumprimento do mandato missionário deixado por Jesus Cristo.

“Ide pois fazer discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20)

Na verdade, o mandato missionário é o envio e missão, é chamado de vocação cristã. Podemos dizer que nele está o fundamento da Iniciação à vida cristã, como o agir missionário, como resposta ao dinamismo do Espírito, que impulsiona e nos convida a acolher a Revelação, enviando-nos a anunciar a Boa Nova em todo mundo.

Mas a experiência nos ensina que o anuncio do Evangelho exige fidelidade, pelo menos a dois aspectos:

• Ao conteúdo que é anunciado

• Ao caminho pelo qual se faz este mesmo anuncio.

O conteúdo, nós sabemos que é Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação (cf. At 2,36)

O caminho é uma conseqüência do conteúdo. Se Jesus Cristo é o Verbo que se fez carne, feito humano em tudo, menos no pecado, o caminho para o anuncio deste mesmo Jesus Cristo só pode ser a encarnação, o mergulho, na vida de pessoas, grupos e povos.

Para isso, necessário se faz que cada pessoa faça a experiência do encontro com Jesus Cristo, morto e ressuscitado para nossa salvação, é necessário propiciar o encontro com Cristo que da origem à iniciação cristã.

Deseja-se realizar uma formação que ajude as pessoas a anunciar com a vida e comunicar com eficácia a boa notícia do Evangelho, favorecendo a implantação de uma nova mentalidade. Para a partir daí, tornar-se missionárias e evangelizadoras.

É preciso convergir para a meta que é o reino de Deus. Os bispos, presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e leigas, são chamados a assumir atitude de permanente conversão pastoral, que implica escutar com atenção e discernir “o que o Espírito está dizendo às Igrejas”.

Se não acontecer uma mudança real na ação pastoral serão inúteis nossos esforços de uma renovação catequética e conseqüentemente na formação de catequistas.

Mas como formar catequistas se muitos de nossos formadores não estão em condições de acompanhar os catequistas.

Nossa atenção hoje deve ser voltada também com a formação permanente e continuada dos educadores ou orientadores de cursos espalhados pelo país.

É necessário o acompanhamento na formação do catequista para a catequese iniciática. Não queremos mais pensar em uma formação como simples repasse de conceitos, alguém que repete o que ouviu nos cursos e congressos.

Queremos formar catequistas competentes, capazes de responder aos inúmeros desafios da nossa realidade atual. Temos que capacitar o catequista para ser uma pessoa de relações com alegria e otimismo.

Constatamos que muitos encontram dificuldades na transmissão da mensagem cristã e também de contar experiências.

Como levar as pessoas a um contato vivo e pessoal com Jesus Cristo, como fazê-los mergulhar nas riquezas do Evangelho, como iniciá-los verdadeiramente e eficazmente na vida da comunidade cristã e fazê-los participar da vida divina, cuja expressão maior são os sacramentos da iniciação?

Dada a necessidade de uma aprendizagem gradual e sistemática no conhecimento, no amor e no seguimento a Jesus Cristo, propõe-se:

a) Assumir, na comunidade eclesial, a iniciação cristã, buscando renovar a vida comunitária, despertando para a ação, compromisso missionário e sócio transformador.

É necessário esclarecer, em primeiro lugar, que por Iniciação cristã se entende todo o processo pelo qual alguém é incorporado ao mistério de Cristo Jesus. Iniciação é sempre iniciação ao mistério, é mergulho pessoal no mistério; ele está presente também no centro da fé.

Para ter acesso aos divinos mistérios a pessoa precisa, de uma maneira ou de outra, ser iniciada a essas realidades maravilhosas através de experiências que marcam profundamente. São os ritos iniciaticos. No decorrer dos séculos, porém, a iniciação foi se limitando à preparação aos sacramentos da iniciação Cristã (Batismo, Eucaristia, Confirmação). Às vezes tal preparação foi reduzida a uma síntese doutrinal, enfeixada no tradicional estilo de catecismo, pressupondo a vivencia cristã na família e na sociedade, marcadas, então, pelo cristianismo.

b) Motivar as comunidades para que o processo catequético de formação, adotado pela Igreja para a iniciação cristã, seja assumido por todos.

c) Investir na implementação da catequese de inspiração catecumenal, apresentando um itinerário catequético permanente (cf. DA 298).

d) Motivar os adultos para a vivencia da fé em comunidade, para que ela seja lugar de acolhida e de ajuda (cf. DGC 182c).

“O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar” (CIC 27)

Quem chega a idade adulta com essas indagações precisa de mais do que uma síntese doutrinal. Traz toda uma vida, cheia de experiências, perplexidades, alegrias e decepções.

O adulto cheio de perguntas quer descobrir sentido na vida, nos seus relacionamentos, no mistério de Deus já percebido através da criação, como primeiro livro da Revelação divina.

e) Criar condições na ação evangelizadora para que possa desenvolver uma catequese que fale ao coração dos adultos.

É necessário um verdadeiro mergulho no mistério, com uma experiência cada vez mais profunda das diversas dimensões da vida cristã. Isso não se faz num cursinho rápido e nem mesmo numa catequese isolada de outros aspectos da vida eclesial. Não se trata de aprender coisas, trata-se de adesão consciente a um projeto de vida.

f) Organizar meios e serviços, sobretudo paroquiais, para oferecer formação diferenciada aos adultos praticantes, aos batizados não praticantes ou afastados e aos convertidos que pedem o Batismo. Nisto está a riqueza do processo catecumenal, proposto pelo Rito de Iniciação Cristã de Adultos (RICA).

Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste dos meus olhos a cegueira. Exalaste o teu Espírito e aspirei o teu perfume, e desejei-te. Saboreei-te, e agora tenho fome e sede de ti. Tocaste-me, e abrasei-me na tua paz” (Santo Agostinho, Confissões X,27,38).

O catecumenato se define como “processo educativo-cristão, demarcado por tempos e etapas, dirigido a convertidos, no seio de uma comunidade eclesial, por meio de uma regeneração sacramental”.

O catecumenato foi um caminho antigo e eficiente, desenvolvido pelas comunidades cristãs, aprofundado pelos Santos Padres.

A restauração do catecumenato, solicitada pela Igreja, quer retomar a dimensão mística, celebrativa, da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educação da fé é levar as pessoas a uma autentica experiência cristã, na integridade de suas várias dimensões.

Teologicamente falando a iniciação Cristã possui quatro características que definem sua natureza:

1- Ela é obra do amor de Deus.

A iniciação cristã é graça benevolente e transformadora, que nos precede e nos cumula com os dons divinos em Cristo.

2- Esta obra divina se realiza na Igreja e pela mediação da Igreja.

Como corpo de Cristo, coloca os fundamentos da vida cristã e principalmente incorpora a Cristo os que estão sendo iniciados pelos sacramentos da iniciação.

3- Este dom de Deus realizado na e pela Igreja tem um terceiro elemento: requer a decisão livre da pessoa.

No processo ou itinerário de iniciação a pessoa é envolvida inteiramente em todas as esferas e dimensões do ser. O fracasso ou falta de perseverança no caminho da fé se deve, muitas vezes, à falta deste envolvimento total dos iniciados.

4- Por fim, a iniciação cristã é a participação humana no diálogo da salvação.

É na iniciação cristã que a pessoa começa a fazer parte da historia da Salvação.

O itinerário da iniciação cristã inclui sempre “o anuncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho, que implica a conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à comunhão eucarística.”

Jesus evangelizou os adultos e abençoou as crianças. Nós muitas vezes fazemos o contrario. Mas adultos que vão descobrindo o que, sem saber, seu coração sempre buscou, precisam de um processo bem vivido de iniciação. (cf. DNC 180-184)

Para sentir-se parte de uma tradição, um povo, uma comunidade religiosa (ou até mesmo de uma família) a pessoa precisa estar imersa no sentido de vida que caracteriza essa pertença.

Ficamos espantados quando ouvimos alguém que passou anos na Igreja de repente dizer que mudou de Igreja: “Encontrei Jesus!” “Como pode ser isso? Jesus estava aqui o tempo todo, na Palavra, na Eucaristia, na Missão...” Mas fica meio evidente que, mesmo que não tenha faltado a presença de Jesus, algo importante ficou ausente. Quem não encontrou Jesus de fato não foi iniciado na fé, mesmo que tenha estado junto de nós por muitos anos.

• Se vamos criar estruturas pastorais que possibilitem um real processo de iniciação, tanto para não batizados como para batizados insuficientemente catequizados, teremos que ter uma Igreja muito consciente da necessidade permanente de um testemunho qualificado. Os que vão acompanhar os que se iniciam, sem exceção, terão que crescer também.

A iniciação à vida cristã supõe uma comunidade que passe no teste do “vinde e vede”.

Uma comunidade comprometida com um processo de iniciação é aquela Igreja onde quem chega se sente em casa, acolhido num ambiente de fraterna cooperação, estimulado a servir com alegria e com a esperança de poder fazer diferença em meio aos sofrimentos e injustiças deste nosso mundo. Afinal, “A comunhão é missionária e a missão é para a comunhão.” (Chl,32; cf Dap 163).

A iniciação cristã é uma exigência da missão da Igreja nos dias de hoje: formar cristãos firmes e conscientes, nos tempos em que a opção religiosa é uma escolha e não tradição e imersão cultural.

A missão visa proclamar e fazer experimentar o mistério, não escondê-lo. mas ao mesmo tempo não podemos banalizar o acesso ao sagrado como se estivéssemos distribuindo algo sem conseqüências mais sérias.

Catecumenato: um caminho antigo e eficiente

Desde o século II, a iniciação cristã se fazia através do catecumenato. Foi uma feliz criação da Igreja, num tempo em que ela não podia contar com o apoio de uma cultura cristã na sociedade e ainda havia muito clima de segredo na prática cristã.

O núcleo do próprio desenvolvimento do ano litúrgico foi gerado nesse processo.

O catecúmeno, que corresponderia ao nosso catequizando de hoje, era visto como “aquele que deve ser iniciado na fé.”

O vocabulário da iniciação cristã foi elaborado pelos Santos Padres: refere-se às etapas consideradas indispensáveis para mergulhar (batismo significa mergulho) no mistério de Cristo e começar a fazer parte da comunidade eclesial em espírito e verdade.

O valor desse mistério de Cristo e da Igreja era experimentado e depois explicado numa vivencia marcada pelo Ito através de uma catequese chamada “mistagógica” (que inicia ao mistério).

Essa catequese fazia a pessoa recém batizada perceber o significado, valor e alcance dos ritos realizados. O rito, ao envolver a pessoa por inteiro, marca mais profundamente do que uma simples instrução e interioriza o que foi aprendido e proclamado, realçando a dimensão de compromisso.

Ao longo do tempo, fomos perdendo a ligação com o real processo de iniciação. Principalmente com a cristandade.

Etimologicamente “iniciação” provem do latim “in-re”, ou seja, ir bem para dentro. No Dicionário Aurélio, sua definição é assim: “Processo ou série de processos de natureza ritual, que efetivam e marcam a promoção de indivíduos a novas posições sociais (como, por exemplo, sua passagem à diferentes fases do ciclo de vida e, em particular, sua incorporação à comunidade dos adultos) ou acesso a determinadas funções religiosas ou políticas”, OU AINDA “preparação pela qual se inicia alguém nos mistérios de alguma religião ou doutrina e a cerimônia dela decorrente”.

Em outras palavras, é um tempo de aproximação e imersão em novo jeito de ser, sinaliza uma mudança de vida, de comportamento, com a inserção num novo grupo.

O Documento de Aparecida é enfático ao falar da necessidade urgente de assumir o processo iniciático na evangelização: “Ou educamos na fé, colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as para seu seguimento, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora.

A restauração do catecumenato, solicitada pela Igreja (cf. CD 14, SC 64-68 e AG 14), com a devida inculturação, quer retomar a dimensão mística, celebrativa, da catequese, considerando que um dos aspectos essenciais da educação da fé é levar as pessoas a uma autentica experiência cristã, na integridade de suas várias dimensões.

A iniciação é graça benevolente e transformadora, que pelo Batismo nos torna filhos do Pai, na Eucaristia nos alimenta com o Corpo de Cristo e na Confirmação nos unge com a unção do Espírito.


4. Itinerário alternativo de um projeto de inspiração catecumenal para paróquias

1º Tempo: Tempo de iniciação ou Pré-Catecumenato
1. Realizam-se os primeiros encontros com as crianças e pais para explicar o roteiro. Escolha do “introdutor/leitor”: podem ser os pais, padrinhos, uma pessoa de alguma pastoral da comunidade. O introdutor tem a missão de ler e comentar o Evangelho do ano litúrgico, com calma para que a pessoa (criança, jovem ou adulto) possa penetrar com simplicidade nos valores e a espiritualidade do Evangelho de Jesus (Tempo aproximado: DOIS MESES). Durante esse tempo, o/a catequista, chamará semanalmente as crianças com os pais e introdutores/leitores para avaliar a adesão ao Evangelho, propondo tarefas e propósitos para cumprirem. O/a Catequista “convida” os introdutores para participar dos encontros onde serão desenvolvidos temas sobre a Igreja/comunidade de irmãos e discípulos de Jesus e uma detalhada explicação sobre o Ritual e espiritualidade Batismal (o/a Catequista pode convidar os introdutores (ou outra pessoa) para que eles mesmos preparem os encontros). Em todos os encontros se lerá o Evangelho do dia, nos casos em que os encontros se realizarem aos sábados, o Evangelho será o de Domingo.



2. Ao final deste tempo, o/a catequista chamará os pais, parentes e introdutores que participaram dos encontros para fazer uma avaliação dos objetivos fixados pelas crianças. Se foram atingidos, então marcarão a data de CELEBRAÇÃO e UNÇÃO DE ENTRADA no CATECUMENATO.



2º Tempo: tempo do catecumenato
1. Primeira fase: (Tempo aproximado: TRES MESES) neste tempo o/a catequista aproveitará para preparar os encontros explicando o SIMBOLO DOS APOSTOLOS ou CREIO (também o lugar que a profissão tem na celebração eucarística). Utilizando os recursos didáticos que dispõe, inclusive o Catecismo da Igreja Católica. Ao final, fazendo uma avaliação pessoal com cada criança (vendo a necessidade ou não de alargar o prazo), prepara com eles a data para a CELEBRAÇÃO com ENTREGA DO SIMBOLO (sempre no Domingo).



2. Segunda fase: (Tempo aproximado: TRES MESES) Agora o/a catequista se dedicará a introduzir as pessoas no OFICIO DIVINO e principalmente na ORAÇÃO do PAI – NOSSO que o SENHOR JESUS nos ensinou. O/a catequista observará como os catequizandos vão ganhando intimidade com o espírito desta oração e o que ela significa para a vida do cristão. Prepara com eles a data da CELEBRAÇÃO com ENTREGA da ORAÇÃO DO SENHOR (nesta celebração rezaremos o Ofício Divino...).



3. Terceira fase: ( Tempo: O QUE FOR NECESSÁRIO) Agora o/a catequista acompanhará com as crianças o tempo de advento e nele a Campanha para a Evangelização, preparando-se para CELEBRAR o NATAL DO SENHOR JESUS, O percurso continua com a explicação da Lei do Amor (os mandamentos), terminando na quarta feira de Cinzas com a imposição da Cinzas e uma primeira experiência do amor misericordioso de Deus que cura e perdoa.



3º Tempo: tempo da purificação (quaresma) e a iluminação (tríduo pascal)
1. PRIMEIRO DOMINGO: CELEBRAÇÃO da INSCRIÇÃO DO NOME E APRESENTAÇÃO DOS PADRINHOS (dos que serão batizados) e AGRADECIMENTO aos INTRODUTORES/LEITORES. O nosso compromisso de participar da Campanha da Fraternidade. No encontro de Catequese explicar os grandes acontecimentos do AT (Abraão, Moises e os Profetas).



2. SEGUNDO DOMINGO: continuamos refletindo sobre os compromissos sociais da Campanha da fraternidade e com a explicação dos grandes acontecimentos do AT (Abraão, Moises e os Profetas).



3. TERCEIRO DOMINGO: BENÇÃO de Cristo, MISERICORDIOSO. Lembramos a misericórdia de Cristo para com a Samaritana. No encontro de Catequese explicar o Evangelho (João 4,5-42) e manifestar as maravilhas do Sacramento do Batismo e a nossa exigência para a missão.



4. QUARTO DOMINGO: BENÇÃO de CRISTO, LUZ DO MUNDO. No encontro de Catequese explicar o Evangelho do cego de nascença (João 9,1-41), e a nossa responsabilidade para “abrir” os olhos das pessoas para fazermos um mundo mais justo e solidário.



5. QUINTO DOMINGO: BENÇÃO DO PECADO E DA MORTE. No encontro de Catequese explicar o Evangelho da revitalização de Lázaro (João 11,1-45) onde se manifesta que Cristo veio curar a humanidade r anunciar a promessa de uma vida imortal.



6. SEXTO DOMINGO: DOMINGO DE RAMOS e da PAIXÃO. No encontro de Catequese explicar a entrega e doação de Jesus. Explicar as leituras e especialmente o Evangelho que proclamado neste Domingo, preparando-nos para entrar na Semana Maior. Comunicar as atividades e horários das celebrações.



ENTRAMOS NA SEMANA SANTA

(Continua o Tempo de Iluminação)

SEGUNDA FEIRA SANTA: Reúnem-se catequizandos com a família e aproveitem para meditar sobre a realidade do mistério redentor de Cristo e a sua misericórdia para conosco. Preparara-se para os que já foram batizados, uma liturgia da Palavra bem bonita com a CELEBRAÇÃO de RECONCILIAÇÃO.



TERÇA FEIRA SANTA: Repetimos o itinerário catequético de ontem, preparado para outra turma, por exemplo, especialmente para adultos.



QUARTA FEIRA SANTA: Os catecúmenos preparam-se para meditar sobre o Tríduo Santo e nosso compromisso para trabalhar na divulgação e conscientização da Campanha da Fraternidade.



QUINTA FEIRA SANTA: Os catecúmenos preparam-se para meditar sobre os textos e a celebração da SANTA CEIA DO SENHOR; especialmente mostrando que não é possível celebrar a Eucaristia sem compromisso social. A Eucaristia é o sacramento social por excelência e Ela é quem norteia toda a nossa espiritualidade cristã.



SEXTA FEIRA SANTA: Participamos da celebração da ORAÇÃO UNIVERSAL PARA SALVAÇÃO DE TODOS, PAIXÃO E MORTE DE JESUS, ADORAÇÃO DA CRUZ E COMUNHÃO EUCARISTICA. Incentivarmos a nossa capacidade de pedir perdão e confiar na misericórdia do Senhor. Perdão pelas nossas omissões comunitárias e sociais, especialmente para com os mais pobres e vulneráveis.



SABADO SANTO – VIGÍLIA PASCAL: A Igreja desde cedo, segundo uma antiga tradição, se reúne para rezar junto do túmulo do Senhor. Em local a parte, os catecúmenos se reúnem para fazer uma avaliação da caminhada e dos propósitos atingidos ou não. Qual é a visão da Igreja que eles foram amadurecendo (colocação entre todos). Exame de consciência para reconhecer que somos pecadores necessitados da misericórdia do Pai e amor de Jesus que nos perdoa no Espírito. Os não batizados são ungidos com a unção pré-batismal e todos renovam a profissão de fé.



DOMINGO DE RESSURREIÇÃO: É o novo dia dos cristãos ressuscitados; possuem vida nova em Jesus. Preparam e celebram a Palavra e a Eucaristia. Após a celebração, preparar uma festa simples para festejar com todos.





4º Tempo: tempo da mistagogia (até Pentecostes)
É o tempo que nós devemos aproveitar para retomar a explicação e aprofundamento feito com calma e qualidade dos SACRAMENTOS do Batismo, Crisma e Eucaristia, celebrados no Sábado Santo. Levando os catequizandos a assumirem os compromissos que deles decorrem para a vida pessoal, comunitária e social. É isto o que significa “mistagogia”, “aprofundamento” “conduzir para” uma melhor compreensão do mistério; que se esconde, por assim dizer, detrás da celebração feita com sinais visíveis que são utilizados na liturgia: luz, água, pão, vinho.

Mesmo assim, é necessário fazer um aprofundamento dos princípios da DOUTRINA SOCIAL CRISTÃ que deve completar e integrar nosso conhecimento do que significa hoje, ser leigo cristão que tem a missão de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Continuamos aprofundando nossa vida de oração com a leitura orante dos Salmos, que é muito importante.



DOMINGO DE PENTECOSTES: (sejam ou não celebradas as Crismas paroquiais). Preparar com os catecúmenos uma solene Vigília de Pentecostes. No dia, antes da celebração principal, que bem pode ser organizado por eles, fazer um encontro para meditar a Palavra com os textos da celebração, estudo dos símbolos e a força espiritual que disso decorre. Se as crismas forem celebradas neste dia, fazer um Tríduo em preparação, com algum esquema pertinente.


5. BIBLIOGRAFIA
• A BÍBLIA DE JERUSALÉM

• CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

• CNBB, 47a Assembléia Geral, Iniciação à vida cristã, Itaici, Indaiatuba, SP, 22 abril 2009.

• CNBB, Comissão Episcopal para a Animação Bíblico-Catequética, 3ª Semana Brasileira de Catequese, Itaici, SP, 6 a 11 de outubro de 2009.

• CNBB. Catequese Renovada: orientações e conteúdos. Documentos da CNBB, 53. SP: Paulinas

• CNBB. Catequese, caminho para o discipulado. Texto-Base- Ano Catequético Nacional. CNBB. 2009

• CNBB. Com adultos catequese adulta, Estudos da CNBB 80. SP: Paulus. 2001

• CNBB. Crescer na Leitura da Bíblia. Estudos da CNBB. SP: Paulinas

• CNBB. Diretório Nacional de Catequese. SP: CNBB. 2006

• CNBB. Documento de Aparecida, Brasília: Paulinas. 2007.

• CNBB. Iniciação à Vida Cristã, um Processo de Inspiração Catecumenal, Estudo 97, Brasília. 2009.

• RICA, Ritual da Iniciação Cristã de Adultos, SP: Paulinas. 2003.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Historia das Religiões Orientais

Introdução geral:


1- A religião, por que falar?

2- A religião, o que é sociologia da religião?

3- A religião, como?

1º a) secularização b) secularismo c) fundamentalismo d) cristianismo



a) Legitima autonomia das realidades temporais que estão neste mundo, separa o domínio da fé das realidades temporais.

b) É a visão autonomista do homem e do mundo que faz abstração da dimensão do mistério não o considerando e negando-o.

c) Contrario ao secularismo, faz entrar todas as dimensões da vida na religião, leis religiosas que medem tudo, não separando as leis civis das religiosas.

d) Fé e não religião, “religare” (Latim), estar ligado; religião conjunto de crenças, dogmas e praticas rituais que regem o homem com a potência divina. Segundo o dicionário, a fé é, encontro com Deus, confiança nele.



O cristianismo é fé praticada, se vive interior e exteriormente gerando um discurso social. Fé que se concretiza na vida e sua totalidade.



2º Religião o que?



Não há uma religião e sim religiões.

Na historia, não há ninguém sem religião, e, nos domínios da religião esta a alimentação, sexualidade, ciências, visão do mundo, questões de vida e de morte, tempo passado, presente e futuro, mitos, crenças religiosas e comportamento moral.

As religiões panteístas, tudo é deus, não há relação pessoal com deus.

Pelo cristianismo, estas religiões estão classificadas como correntes filosóficas.

Os sociólogos R. Otto e Emil Durkeim, dizem que religião é o fato de ligar com o domínio do sagrado, o sagrado e o profano, relações imanentes e transcendente.

A religião supõe a universidade da crença e o dualismo da personalidade humana, corpo – alma.

Augusto Comte – 1738 – 1857, sociólogo, após a morte da 2ª esposa funda a religião chamada positiva, que direcionava a divindade para a humanidade. O objetivo da divindade seria sempre a humanidade. Comte se apresentava como o papa desta religião. Ele diz: a filosofia é o verdadeiro estado definitivo da inteligência humana a qual ela sempre tende.

Karl Marxs: Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo, de agora em diante, é importante transformá-lo, ele diz que é preciso destruir a religião para que o homem viva.

O discurso religioso no politeísmo, é que o mais importante é a ordem cósmica. Na pratica, o “Eu” pode se apropriar das forças do mundo.



3º A religião como?

a) Panteístas

b) Dualistas

c) Monoteístas


a) Hinduísmo – Budismo

O hinduísmo, o homem tem um ãtmam, um ser impessoal, permanente que existe metafisicamente, ultrapassa a física, muda em formas físicas que renascem em diversas formas, “transmigração” identificando-se com BRAHMAN = ser impessoal, os ãtmans são faíscas do Brahman, que é absoluto e superior a qualquer coisa.

Budismo = Buda morreu em 480 antes de Cristo, era hinduísta e se tornou budista, diz que no fundo de qualquer coisa há o absoluto. Não podemos dizer se é imanente ou transcendente, é alem de qualquer expressão. Somente o absoluto é realidade.

O budismo da 1ª escola: o absoluto é uma ilusão que flutua acima.

b) Dualismo – Nasce 1º século depois de Cristo e no 2º século se estende na zona Ciro palestina- Grécia e Roma.

A gnose é uma forma de conhecimento religioso que tem por objetivo a realidade verdadeira do homem espiritual, as divindades infernais não se encontram no subterrâneo, elas invadiram o mundo, o mundo é o lugar deles.

O gnóstico é aquele que recusa, condena este mundo; a prática dele é o mundo da plenitude divina. Não há necessidade de celebrar o mistério da potencia, por ser invisível, a redenção é o fato de conhecer a grandeza que não se pode ver.

c) Monoteísmo – Judaísmo – Cristianismo – Islamismo

L. Gentium: Não Cristãos, os que não receberam o Evangelho podem obter a salvação, basta viver uma vida santa.

Sumário
I- Religiões antigas: a religião egípcia

II- Religiões antigas: Zoroastrismo – masdeismo

III- Hinduísmo

IV- Budismo

V- Confucionismo

VI- Sikhismo

VII- Judaísmo

VIII- Islamismo

IX- Cristianismo
I- Religiões antigas: A religião egípcia

1- Nomes a conhecer:

ANKH = símbolo da vida levado pelos reis e rainhas e pelos deuses, por aqueles que tem poder de dar e de remover a vida.

Deuses: Osiris (bom) – Seth (mau) – Isis (esposa de Osiris) – Horus (filho de Osiris e Isis).

Osíris era o deus da fertilidade, podia criar a vida a partir do solo inerte, o culto de Isis é a origem independente de Osiris e localizado no deuta do Nilo, e, se uniu mais tarde com Osiris para construir um mito e um culto do sol morrendo e renascendo todos os dias.

Bastet = deusa gata, filha do deus sol, simbolizava o poder de fazer madurar o trigo, divindade mais popular, pelas estatuas espalhadas pelo Egito, eram venerados os gatos como animais Bastet.


2- Um pouco de historia:

No Egito antigo é o protótipo de como uma religião pode viver por um longo período. O Egito tem 1500 Km de comprimento, o Nilo fertilizava o território do baixo Egito ao norte, o alto Egito ao sul era isolado pelo deserto e pelas cataratas, o deuta se abria ao comercio e pelo poder forte e centralizado o território ficava junto, unido.

Os faraós preenchem este papel de unificar o território. O reino faraônico dura de 3100 antes de Cristo até 323 antes de Cristo, e este faraós são tidos como deuses. O deus solar Rã, de Heliópolis = cidade do sol, este deus é associado aos faraós para serem chamados de filhos de Rã. Os sacerdotes se encarregavam de colocar ordem na acumulação de divindades entre os faraós. O mais audacioso dos faraós é Amenophis IV – 1379 – 1362 – Este declara que um certo Aton – deus disco solar, abrindo os braços, era o único deus, os outros são seus servos, quando Amenophis morre, esta teoria acaba.


3- Vida e morte

Como reis de deus, os faraós não podiam ser destruídos mesmo pela morte. A sua pretensão a imortalidade recebeu apoio quando os egípcios descobriram a técnica do embalsamento aos cadáveres, colocados dentro dos caixões.

A vida eterna deles se abriga dentro das pirâmides. Desde 1567, aqueles que podiam pagar funerais asseguravam a imortalidade. Alguns livros são escritos para guiar estes mortos, são eles: os textos dos sarcófagos e o livro egípcio dos mortos.



II- Religião do Zoroastrismo, localizada no Irã – oriente médio

1- Nomes a conhecer:

Zaratustra/Zoroastre = fundador sacerdote profeta, + ou – 1200 a.C., acreditava num certo deus: AHURA MAZDA = criador da vida e do bem, este, pessoalmente deu a Zaratustra a missão por uma série de visões. Este deus é ajudado por anjos bom e espíritos chamados AHURA.

Angra Mainyu = deus destruidor, ajudado por demônios chamados de EVA.

Cinvat = ponte de julgamento, para o qual a alma é conduzida para ser julgada.

Daxima = torre do silencio, feita especialmente para os cadáveres.

Parsis = os que seguem esta religião e que imigraram para a Índia no17 de nossa era.



2- Ensino

A sorte de cada um depois da morte depende da escolha da sua vida, da sua responsabilidade pessoal. Atos bons, paraíso; atos maus, inferno chamado casa de mentira.

O ensino desta religião é otimista, pois não é difícil escolher o bem. O fundador seria aquele que foi o único bebe do mundo que no nascimento sorriu ao invés de chorar. Rejeitam sacrifícios de sangue, o que conta é a pureza da alma que agrada a deus.

Os cadáveres são considerados como lugares onde ANGRA MAINYU esta presente com poder, por isso, não podemos enterrá-los nem jogar no mar, e, nem queimá-los. O único jeito, é, entregá-los aos abutres, colocando-os na torre Daxima, feita para eles.

Os seguidores são tolerantes a outras religiões, porque o julgamento é feito sobre as obras de cada um e não por sua fé.

O ensino influenciou outras religiões como o judaísmo na Babilônia. Com o reinado de Ciro, alguns ensinamentos e crenças do zoroastrismo influencia o judaísmo, como: a crença no julgamento final, anjos, ressurreição, céu-inferno.


Historia:

Como se espalhou no mundo? Como começou?

Começou 7 séc. a.C., e se espalhou no território do Irã e no reinado de Ciro se torna a religião do Estado, se espalhando pela Grécia – Egito – Irã e Índia do Norte.

No séc. 3 d.C., no Irã, algumas etnias como Sassânidas ajudados por sacerdotes, fizeram guerra contra parte dos povos do Norte, fundando uma dinastia grandiosa e o império se fundi à religião,mas com a conquista islâmica sete séculos depois de Cristo, este império terminou. Neste século, os Zoroastristas são obrigados a deixar as aldeias e irem para a índia, e são lá chamados de Persas, este nome recebem no séc. dez.

De 1796 – 1925, uma dinastia chamada Qajares perseguiu muito o zoroastrismo, mas um grupo de fieis resistiu, e em 1925 um responsável político, REZA SHAH PALLAVI conquistou e matou o ultimo dos Qajares e deu um alto valor ao Zoroastrismo, considerando esta religião como patrimônio do Irã. Na Índia, os Persas tiveram grande papel na igreja regional e até hoje garantem a existência desta religião no mundo.


3- Hinduísmo:

No hinduísmo o símbolo é (OM), ou 3e 0. O 3 representa a tríade dos deuses, criador – protetor – destruidor. A letra 0 é o símbolo do silencio, para ter acesso a deus.


1- Historia:

Nome dado no séc. XIX, ao conjunto das religiões que existe na índia. Com uma população de um bilhão de pessoas, onde oitenta por cento se considera hindu, tendo passado por várias fases de formação.

1ª fase: Védica, 1200 a.C., fase dos primeiros escritos sagrados, chamados VEDA, o sagrado conhecimento. Fase de criação dos hinos e textos sacrificiais que dão os princípios do conhecimento sobre deus e os homens. De 700 a 300 a.C., a especulação religiosa deu inicio a criação dos livros da floresta, ARANYAKA, e a livros filosóficos e de reflexão sobre o sentido do ritual, VPANISHAD, que ensinam os segredos da floresta, e também PURANA, que trata de vários assuntos, como mitos de deuses.



2ª fase: BRAHMANICA – 500 a.C., constituição da classe sacerdotal esperta na relação com os deuses, com a natureza e com a vida humana. Os Brahmanes bebem uma SOMA – remédio da imortalidade durante o ritual.



3ª fase: Hinduísmo, fase do inicio de movimentos ligados a algumas divindades abandonando outras dentro do próprio hinduísmo, e, o desenvolvimento das duas fase precedente.



2- Deuses do hinduísmo:

Fase histórica: Indra = deus da tempestade, era rei de todos os deuses, mas perde sua importância ao passar para a outra fase. Ele se torna enfurecido quando seus adoradores o abandonaram por KRISHNA, outro deus, jovem herói AVATAR, encarnação de VISHINU que tem 10 modos de apresentação – formas.

Deus AGNI, deus do fogo, mediador entre terra e céu, ele intervem dentro do sacrifício, pois levanta as oferendas.

2ª fase: deuses hinduísmo. TRIMURTI: 1- Brahama, 2- VISHNU, 3- SHIVA.

Brahma cria o universo no inicio de cada ciclo cósmico. No momento, como tudo já foi criado, ele esta descansando. É adorado em menor gral que os outros dois, pois já cumpriu sua função e, só na próxima criação ele voltara a estar à frente dos outros. Ele tem oito mãos, e nelas, ele tem quatro livros, VETRA, colar de pérolas, cetro, água e flor de lótus, símbolo da criação, ele é o deus dos sábios. Ele tinha quatro cabeças, mas criou a quinta cabeça quando namorou com SARASVATÊ, para poder ficar de olho nela, mas a quinta cabeça foi destruída por SHIVA, porque foi ofendido por BRAHMA.

VISHINU protege o universo, na fase anterior não tinha importância. Ele vem de um antigo deus solar, e, tem 10 avatares (encarnações), tem poderes de conservação e proteção e restauração manifestados em encarnações terrenas que se reproduzem para fazer as desgraças ou o bem na terra. Citemos dois destes avatares:

KRISHNA, deus que dá proteção, é deus amor entre pastores e filhos de pastores.

BUDA, despertador, iluminador, ele aparece no fim da 3ª fase do mundo, que apresenta o ponto culminante da degradação cósmica.

VISHINU é chamado onipresente, toma todas as formas para assegurar a sustentabilidade do universo.

Ele tem uma companheira, LAKSHMI, deusa da sorte.



3-SHIVA, destruidor do universo, mas também criador e protetor, deus da morte e da vida; seu primeiro nome era RUDRA, divindade menor, citado só três vezes nos livros, se torna importante quando ganha características do deus da fertilidade. Uma vez enraivecido, pode mandar tempestades destruição e morte. Mas também pode proteger e reproduzir.

Shiva é o criador dos sete rios sagrados da Índia, entre eles, o Grage. As companheiras de Shiva são: DURGÂ = poder, KALI = terrível, PARVATI = modesta.

Os seguidores de Shiva são reconhecidos pela marca vermelha na fronte e pelas linhas cinzas na testa. Uma deusa do Hinduismo é MAHADEVI, ela inclui dentro de si todas as outras divindades, deusas do hinduísmo.


Vias / caminhos de libertação, MOKSHA.

O hindu procura objetivos que pode ser realizado na vida; proteção de doenças, inimigos, conseguir boa vida e a libertação do ciclo de renascimentos, libertando-se dos desejos e das ligações terrenas, seguindo o conhecimento a devoção e a ação.

São-nos apresentadas cinco vias: 1ª Oferecer sacrifícios nos templos pelos sacerdotes, oferecer PUJÂ.

2ª via moral, respeitar as classes sociais (castas), sacerdotes, comerciantes, manobristas, guerreiros. Seguir as virtudes, humildade, etc.

3ª Ascetismo, caminho do conhecimento místico, freando os desejos afetivos, (sexuais)

4ª Yoga, união; disciplina o corpo para que este ajude o Espírito no objetivo de atingir um estado de consciência superior; meu “EU” se une com o “EU” Alma universal.

5ª Tantrinismo hinduísta, caminho eterodóxico, diversificado do hinduísmo; não seguimento dos caminhos normais, procuram poderes sobrenaturais; magia. Se privam do vinho, carne, peixe, grão e relação sexual.



4 – festas: misturam o culto com o prazer e servem para desviar as influencias malignas, e, para unir o tecido social e estimular a vida. As festas mais importantes são: HOLI – DUSSERAH – DIUVALI.

Holi é a festa da primavera, acontece no mês de março, também conhecida como festa da fertilidade, renascimento.

Dusserah é a festa da vitória do bem sobre o mal, acontece no mês de setembro.

Diuvali é a festa que marca o inicio do ano financeiro, festa da prosperidade, durante ela as pessoas trocam presentes, é a festa da luz, e dura cinco dias, acontece no mês de outubro, e, sempre o papa manda uma carta para os Hindus desejando uma ótima festa.



BUDISMO: seu símbolo é à roda da lei, chamada de Dharma, colocada em movimento por Buda.

A vida de Buda: + ou – 560 a 480 a.C.

Seu nome originário: Siddaharta Gautama, nasceu em família real da tribo de Shakeja no Nepal. Sua mãe morre sete dias depois do seu nascimento, pois Buda tem que ser filho único.

Introdução: O budismo não é só uma religião, mas também um sistema ético e filosófico. Os ensinamentos do budismo têm como estrutura a idéia de que o ser humano está condenado a reencarnar infinitamente após a morte e passar sempre pelos sofrimentos do mundo material. O que a pessoa fez durante a vida será considerado na próxima vida e assim sucessivamente. Esta idéia é conhecida como carma. Ao enfrentar os sofrimentos da vida, o espírito pode atingir o estado de nirvana (pureza espiritual) e chegar ao fim das reencarnações.

Para os seguidores, ocorre também a reencarnação em animais. Desta forma, muitos seguidores adotam uma dieta vegetariana.

A filosofia é baseada em verdades: a existência está relacionada a dor, a origem da dor é a falta de conhecimentos e os desejos materiais. Portanto, para superar a dor deve-se antes livrar-se da dor e da ignorância. Para livrar-se da dor, o homem tem oito caminhos a percorrer: compreensão correta, pensamento correto, palavra, ação, modo de vida, esforço, atenção e meditação. De todos os caminhos apresentados, a meditação é considerado o mais importante para atingir o estado de nirvana.

A filosofia budista também define cinco comportamentos morais a seguir: não maltratar os seres vivos, pois eles são reencarnações do espírito, não roubar, ter uma conduta sexual respeitosa, não mentir, não caluniar ou difamar, evitar qualquer tipo de drogas ou estimulantes. Seguindo estes preceitos básicos, o ser humano conseguirá evoluir e melhorará o carma de uma vida seguinte.



As 4 nobres verdades:

1- Dukha = mal estar e sofrimento

2- Tanhar = desejo

3- Bodhi = eliminação do desejo

4- Nirvana = perfeita iluminação

As 4 são divididos em dois grupos:

1- Sofrimento e causas dele (desejo)

2- Cessação do sofrimento e os caminhos para deixar o sofrimento.



5- O nobre caminho, Octuplo (oito caminhos)

a) Prajna = sabedoria que purifica a mente

1. Engloba, ver a realidade como ela é não apenas como parece ser.

2. Intenção de renuncia.



b) Sila = ética

3. Falar de uma maneira verdadeira e não ofensiva

4. Agir de uma maneira não prejudicial

5. Os meios de viver a vida devem seguir o que foi anteriormente citado acima



c) Samadhi = procura por uma melhora

6. Esforço para melhorar

7. Consciência de ver a realidade presente sem aversão de fora

8. Meditação correta, concentração



• O caminho do meio

Descoberto por Buda antes de sua iluminação

Apresentaremos três definições de várias existentes:

1. Pratica de não extremismo

2. Visões metafísicas, escolher o caminho do meio

3. Dualidades aparentes (bem – mal) são ilusórias, muitos fieis acreditam que um fiel pode acordar para uma iluminação de repente, sem passar por várias reencarnações.



• Cosmologia Budista



O cosmos não é permanente nem criado, o universo é composto por vários sistemas mundiais, com seus ciclos de nascimento – desenvolvimento e declínio, que dura, bilhões de anos. No sistema mundial existem seis reinos no total de 31 níveis:



1- Reino dos infernos

2- Reino animal

3- Reino espiritual

4- Reino anti-deuses

5- Reino humano

6- Reino dos deuses



• Budismo e Hinduísmo

Buda aceitava o contesto geral das idéias índias, mas alterou várias idéias radicalmente. Admitia uma serie de renascimento, chamada Samsâra, dependente da lei do Karma, lei da causalidade moral. Para Buda não tinha uma alma encarnada, ATMAN, pois para ele nada é permanente. A morte apresenta somente uma passagem a uma nova aparência, seja humana, infernal ou celestial. Mesmo os deuses, são aparências temporárias.

O budismo esta contrario aos sacrifícios, como os praticados no hinduísmo.



• Escrituras e Mosteiros

Buda não escreveu nada, ainda no ano de sua morte, em um concilio na cidade de Rajaghara (480 a.C), discípulos de Buda recitaram ensinamentos perante uma assembléia de monges que os transmitiram, de forma oral aos seus discípulos.

No primeiro século a.C. os seus ensinamentos começaram a ser escritos no Sirilanka, mais ou menos 52 a.C., esses escritos receberam o nome de cânone Pali, mas até hoje, não existe um livro sagrado no budismo.



• Festa principal

Vesak (aniversário de Buda), festa da existência e da iluminação do vigésimo quarto Buda, comemorada na lua cheia de maio.



• Difusão do budismo

Tezin Gyatso (1935), líder religioso; monge e doutor na filosofia budista, em 1959 deixou o Tibet. e passa a viver exilado na índia, de onde prega a paz.



• Budismo Japonês

1- 784 – Nara – primeiro período

2- 794 – 1185 – Heian – segundo período

3- 1185 – Pós Heian – terceiro período

• Escolas do segundo período

1º escola Terra Pura – maior no Japão e Ásia

2º escola Zen (Rimzai, Satô, Obaktu), enfatizava a libertação através da meditação.



Nos últimos dez anos, muitos templos budistas estão se fechando, cerca de 1000 por ano, apresentando um declínio no Japão.



• Budismo Tantrico / Vajrayana – veículo do diamante.

Tantrismo nasceu no VI século d.C. é fundado nos textos chamados Tantra, desenvolvimento dos primeiros textos, recorre à meditação, ao ritual, ao símbolo e à magia.



 O confucionismo



• Historia e fundador

O confucionismo é um sistema filosófico chinês criado por Kung-Fu-Tzu (Confúcio). Entre as preocupações do confucionismo estão a moral, a política, a pedagogia e a religião. Conhecida pelos chineses como Junchaio (ensinamentos dos sábios). Fundamentada nos ensinamentos de seu mestre, o confucionismo encontrou uma continuidade histórica única.



• Doutrina e seguidores

Dos seguidores de Confúcio, o século I A.C. encontrou em Meng zi (Mêncio, ou Mâncio) e Xun Zi um grande desenvolvimento e expansão na sociedade. Esses dois originais autores buscaram compreender o confucionismo dentro de uma perspectiva naturalista, recorrente nas forças que atuavam na sociedade em seus períodos de vida.

Meng acreditava na importância da educação para retificar a boa natureza humana, que teria sido depravada em função dos conflitos e das necessidades impostas pela vida. O ser humano possuiria a capacidade de desenvolver um espírito de ajuda mútua de modo a evitar os conflitos interpessoais inerentes à existência humana.



Já Xun Zi recorreu ao verso da moeda para compreender o papel de Confúcio. Ele acreditava numa natureza perversa do homem, derivado dos mesmos instintos de preservação dos animais. Talvez pensando nos rituais propostos para a sociedade, e pela necessidade de ordenação, tal como no fundamento das lendas de fundação chinesas e na influência jurista, Xun Zi via no interior do homem uma inteligência capaz de articular meios pelo qual poderia evitar sua condição natural de forma arbitrária, mas que para isso haveria de ter criado uma escala de valores delimitantes da ação humana.

Mêncio conseguiu uma boa repercussão popular por sua abordagem otimista da vida, mas as classes altas da sociedade viram em Xun Zi uma explicação razoável para suas dúvidas. Assim ao menos deixam transparecer algumas biografias de Sima Qian (II a. C.).



De qualquer modo, já na antiguidade o confucionismo atingiu um pleno sucesso, tornando-se uma filosofia moral de profundo impacto na estrutura social e cotidiana da sociedade. O valor ao estudo, à disciplina, à ordem, à consciência política e ao trabalho são lemas que o confucionismo introjetou de maneira definitiva na vida da civilização chinesa da antiguidade aos dias de hoje. Note-se que, ao contrário do que muitos afirmam, o confucionismo não se trata de uma religião. Não possui um credo estabelecido, mas apenas determinações rituais de caráter social, que permitem a um adepto do confucionismo a liberdade de crença em qualquer tipo de sistema metafísico ou religioso que não vá contra as regras de respeito mútuo e etiqueta pessoal.



O confucionismo é ainda praticado em vários países. Além da sua origem asiática, diversos países incorporam alguns conceitos do sistema em suas práticas notadamente urbanas. No Brasil, é sentido em grupos de indivíduos que estudam religiões não cristãs.



 O Sikhismo / siquismo



• Historia e fundador

O sikhismo ou siquismo é uma religião monoteísta fundada em fins do século XV no Punjab (região atualmente dividida entre o Paquistão e a Índia) pelo Guru Nanak (1469-1539).

Habitualmente retratado como o resultado de um sincretismo entre elementos do hinduísmo e do misticismo do islão (o sufismo), o sikhismo apresenta contudo elementos de originalidade que obrigam a um repensar desta visão redutora.



• Significado e Doutrina

termo sikh significa em língua punjabi "discípulo forte e tenaz". A doutrina básica do sikhismo consiste na crença em um único Deus e nos ensinamentos dos Dez Gurus do sikhismo, recolhidas no livro sagrado dos sikhs, o Guru Granth Sahib, considerado o décimo-primeiro e último Guru.

Para o sikhismo, Deus é eterno e sem forma, sendo impossível captá-lo em toda a sua essência. Ele foi o criador do mundo e dos seres humanos e deve ser alvo de devoção e de amor por parte dos humanos.

O sikhismo ensina que os seres humanos estão separados de Deus devido ao egocentrismo que os caracteriza. Esse egocentrismo (haumai) faz com que os seres humanos permaneçam presos no ciclo dos renascimentos (samsara) e não alcancem a libertação, que no sikhismo é entendida como a união com Deus. Os sikhs acreditam no karma, segundo o qual as acções positivas geram frutos positivos e permitem alcançar uma vida melhor e o progresso espiritual; a prática de acções negativas leva à infelicidade e ao renascer em formas consideradas inferiores, como em forma de planta ou de animal.

Deus revela-se aos homens através da sua graça (Nadar), permitindo a estes alcançar a salvação. O Divino dá-se a ouvir, revelando-se enquanto nome. Segundo os ensinamentos do Guru Nanak e dos outros gurus, apenas a recordação constante do nome (nam simaram) e a repetição murmurada do nome (nam japam) permitem os seres humanos libertar-se do haumai.



O sikhismo coloca ênfase em três deveres, descritos como os Três Pilares do sikhismo:

• Manter Deus presente na mente em todos os momentos (Nam Japam);

• Alcançar o sustento através da prática de trabalho honesto (Kirt Karni);

• Partilhar os frutos do trabalho com aqueles que necessitam (Vand Chhakna).

O rito principal é o da admissão entre os khalsa, fraternidade dos "puros", geralmente celebrado na puberdade.

O principal templo sikh, Harimandir Sahib (o Templo de Ouro, em Amritsar), é um lugar de peregrinação.

 O Judaismo



• Historia

De acordo com a tradição judaico-cristã a origem do judaísmo estaria associada ao chamado de Abraão à promessa do Senhor. Abraão, originário de Ur, teria sido um defensor do monoteísmo em um mundo de idolatria, e pela sua fidelidade ao Senhor teria sido recompensado com a promessa de que teria um filho, Isaque do qual levantaria um povo que herdaria a Terra da promessa. Abraão é chamado de primeiro hebreu, e passa à viver uma vida nômade entre os povos de Canaã.



Era bíblica



• Séculos XX -XVII a.C. - Primeira emigração dos hebreus para Canaã. Os Patriarcas bíblicos.

• Séculos XVII-XIII a.C.- Israelitas no Egito.

• Séculos XIII-XII a.C. - O Êxodo e a ocupação da Palestina .

• Séculos XII-XI a.C. - Época dos juízes.

• 1067 -1055 a.C. - Reinado de Saul.

• 1055 -1015 a.C. - Reinado de Davi.

• 1015-977 a.C. - Reinado de Salomão.

• 977-830 a.C. - Cisma entre Judá e Israel.

• 722 a.C. - Fim do reino de Israel.

• 586 a.C. - Destruição de Jerusalém.

• 537 a.C. - Ciro permite o retorno dos judeus à Judéia.

• 520-516 a.C. - Reconstrução do Templo em Jerusalém.



Era talmúdica

• 332 a.C. -Alexandre Magno conquista a Judéia.

• 320-198 a.C. - Domínio Ptolomeu.

• 198-167 a.C. - Domínio selêucida.

• 167 a.C. - Revolução dos macabeus.

• 140 a.C. - A Judéia conquista a independência.

• 63 a.C. - Pompeu conquista Jerusalém.

• Século I d.C. - Início e expansão do Cristianismo .

• 6-40 d.C. - Procuradores romanos na Judéia.

• 66-73 -Primeira revolta judaica .Destruição de Jerusalém.

• 70- Fundação da Academia de Iavne.

• 115-117 - Segunda revolta judaica. Guerra de Kitos

• 132-135 - Terceira revolta judaica. Revolta de Bar Kokhba

• 200 - Redação da Mishná.

• 500 - Término da redação do Talmud da Babilônia.



Era contemporânea

• 1948- Criação do Estado de Israel.Primeira guerra árabe-israelense.



Judaísmo na atualidade

Na maior parte das nações ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e a África do Sul, muitos judeus secularizados deixaram há muito de participar nos deveres religiosos. Muitos deles lembram-se de ter tido avôs religiosos, mas cresceram em lares onde a educação e observância judaicas já não eram uma prioridade. Desenvolveram sentimentos ambivalentes no que toca aos seus deveres religiosos. Por um lado, tendem a agarrar-se às suas tradições por razões de identidade, mas por outro lado, as influências da mentalidade ocidental, vida cotidiana e pressões sociais tendem a afastá-los do judaísmo.





 O Islamismo



A vida do profeta maomé



Nascido em Meca, Arabia saudita (570), Maomé foi durante a primeira parte da sua vida um mercador que realizou extensas viagens no contexto do seu trabalho. Tinha por hábito retirar-se para orar e meditar nos montes perto de Meca. Os muçulmanos acreditam que em 610, quando Maomé tinha quarenta anos, enquanto realizava um desses retiros espirituais numa das cavernas do Monte Hira, foi visitado pelo anjo Gabriel que lhe ordenou que recitasse uns versos enviados por Deus, e comunicou que Deus o havia escolhido como o último profeta enviado à humanidade. Maomé deu ouvidos à mensagem do anjo e, após sua morte, estes versos foram reunidos e integrados no Alcorão.

Maomé não rejeitou completamente o judaísmo e o cristianismo, duas religiões monoteístas já conhecidas pelos árabes. Em vez disso, informou que tinha sido enviado por Deus para restaurar os ensinamentos originais destas religiões, que tinham sido corrompidos e esquecidos.

Muitos habitantes de Meca rejeitaram a sua mensagem e começaram a persegui-lo, bem como aos seus seguidores. Em 622 Maomé foi obrigado a abandonar Meca, numa migração conhecida como a Hégira (Hijra), tendo se mudado para Yathrib (atual Medina). Nesta cidade, Maomé tornou-se o chefe da primeira comunidade muçulmana. Seguiram-se uns anos de batalhas entre os habitantes de Meca e Medina, que se saldaram em geral na vitória de Maomé e dos seguidores. A organização militar criada durante estas batalhas foi usada para derrotar as tribos da Arábia. Por altura da sua morte, Maomé tinha unificado praticamente o território sob o signo de uma nova religião, o islão.



• Sussessores:



Kalifas:

1- Abu Baki

2- Omar

3- Osman

4- Ali - primo de e guenrro de Maomé. Com a morte de Alí, o reino é transferido para Damasco, causando a divisão do Islã entre Sunitas e Xiitas.



• Os cinco pilares do Islã



Os cinco pilares são:

• Professar e aceitar o credo (Chahada ou Shahada);

• Orar cinco vezes ao longo do dia (Salá, Salat ou Salah);

• Pagar dádivas rituais (Zakat ou Zakah);

• Observar as obrigações do Ramadão (Saum ou Siyam);

• Fazer a peregrinação a Meca (Hajj ou Haj).







 O Cristianismo



O Cristianismo começou como uma seita judaica e é classificada como uma religião abraâmica. Originária do Leste do Mediterrâneo, cresceu rapidamente em tamanho e influência dentro de poucas décadas. Pelo século IV, havia se tornado a religião oficial do Império Romano. Durante a Idade Média, grande parte da Europa foi cristianizada. Entretanto, os cristãos ainda eram uma minoria religiosa no Oriente Médio, Norte da África e em partes da Índia. Após a Era dos Descobrimentos, através da obra missionária e das colonizações, o Cristianismo se espalhou para a América, Austrália e no resto do mundo. Por isso, o cristianismo é a filosofia de vida que mais fortemente caracteriza a sociedade ocidental.



• O Credo



O Credo de Niceia, formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado como credo universal da Cristandade no Concílio de Éfeso de 431. Os cristãos ortodoxos orientais não incluem no credo a cláusula filioque, que foi acrescentada pela Igreja Católica mais tarde.

As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são:

• A crença na Trindade;

• Jesus é simultaneamente divino e humano;

• A salvação é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus;

• Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo à Terra;

• A remissão dos pecados é possível através do baptismo (br-batismo);

• Os mortos ressuscitarão.

Na altura em que foi formulado, o Credo de Niceia procurou lidar directamente com crenças que seriam consideradas heréticas, como o arianismo, que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo.

A maior parte das igrejas protestantes partilham com a Igreja Católica a crença no Credo de Niceia.



Os principais concilios que determinaram o credo foram:

Nicéia 325 – Constantinopla 381 – Éfeso 431 – Calcedonia 451.



A religião cristã tem três vertentes principais: o Catolicismo, a Ortodoxia Oriental (separada do catolicismo em 1054) e o protestantismo (que surgiu durante a Reforma Protestante do século XIV). O protestantismo é dividido em grupos menores chamados de denominações.

• Organização

Até o primeiro século, a organização era democrática, mas depois da romanização se torna uma organização hieráquica, Bispos – Padres – Diáconos – Leigos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Espiritualidade crista

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ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

CURSO DE ESPIRITUALIDADE CRISTÃ





COLETÂNEA DE ESCRITOS DE:
Pe. Auricelio Ferreira Correia,SDN.
Pe. Frank Antonio de Almeida.
Pe. João Pereira Gomes, C. Ss. R.







A Teologia Espiritual ou Espiritualidade é uma ciência teológica muito rica, antiga no judaísmo e no cristianismo.

A Espiritualidade é um dos ramos da Teologia, como a Dogmática, a Exegese, a Moral, a Liturgia e a Pastoral. Chama-se também Teologia Espiritual, Ascética e Mística, Teologia da Perfeição Cristã, Perfeição, Contemplação.

A palavra ESPIRITUALIDADE vem de spiritus, em latim. É o ar, o vento, o sopro. É o Espírito Santo, sopro que empurra, Amor que impulsiona as pessoas. A própria palavra significa que não existe espiritualidade fora do Espírito Santo.

Na Bíblia, a figura mais usada para falar da espiritualidade é o sopro: RUAH em hebraico, PNEUMA em grego, ESPÍRITO em português. No AT aparece 378 vezes. Os livros onde é mais empregada: Ezequiel 52 vezes, Isaías 51, Salmos 39. A pomba como figura do Espírito Santo é usada na Bíblia, porém, sem a força do simbolismo do sopro.

O Espírito Santo, portanto, é a espiritualidade, é o Amor que santifica as pessoas, as comunidades, a Igreja. Se o Pai é tido como Criador, o Filho como Salvador, o Espírito Santo é o Santificador. Ser santo é viver sob o impulso do Espírito Santo; é viver na ótica do Amor. Pessoa ou comunidade que tem espiritualidade é a que tem, como referência absoluta de sua vida, o Amor; tem o Amor como critério para selecionar seus atos, escolhas e opções de vida.

Madre Paulina não ficou santa depois da morte; nem porque o papa a canonizou. Ela viveu de tal maneira que o papa declarou que essa pessoa pode ser apresentada como modelo de santidade.

Todo cristão por excelência é chamado a uma vida espiritual, a viver a sua própria santidade. A santidade é a vontade de Deus para todos os seus filhos.

O Concilio Vaticano II, reafirma que todo o ser humano é chamado a viver a santidade.



• ESPIRITUALIDADE:



• No sentido cristão, é uma forma concreta – movida pelo Espírito Santo – de viver o Evangelho de Jesus. Brota de uma experiência espiritual vivida intensamente.

• É sempre trinitária, relacionando-se com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ela diz respeito a uma motivação evangélica profunda e duradoura, marcando a existência pela presença do Espírito, que nos ilumina e move por dentro.

• É um caminho de fidelidade às inspirações mais essenciais do Evangelho, como Boa Nova de salvação e vida.

• É a vida de intimidade com Deus; é a sede do sobrenatural. Esta vida de intimidade com o Absoluto gera, conseqüentemente, o desapego das coisas materiais, o cultivo da vida interior pela oração e meditação da Palavra de Deus, e leva também a aspirar às coisas do alto, segundo a expressão paulina: “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto”(Col 3,1).

• conjunto de princípios e praticas que caracterizam a vida de um grupo de pessoas referido ao divino, ao transcendente; à vida no Espírito – o que se faz com aquilo em que se acredita; as diferentes maneiras pelas quais se experimenta a transcendência, o modo segundo o qual a vida cristã é concebida e vivida.



* A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ consiste na maneira de se ler, entender e viver o Evangelho, e inclui o SEGUIMENTO DE JESUS; as diferentes maneiras de experimentar e fomentar a vida em Cristo; realidade vital que se edifica sobre o dom da graça; uma crescente comunhão com Deus, na qual a força do espírito Santo conduz a uma progressiva espiritualização (compenetração do espírito de Cristo), tornando o cristão capaz de acolher e conhecer os segredos de Deus (1 Cor 2,9-14; 6,17: o Espírito que sonda as profundidades de Deus; Rm 8,14-16; Gl 4,6: espírito de filiação); é uma realidade teologal. Cada fase da vida, cada proposta, cada atitude, cada momento, cada ensinamento, cada gesto de Jesus pode gerar um tipo de espiritualidade.



• Vejamos:

a) Jesus menino (Lc 2,51-52)

b) Jesus na sua vida oculta em Nazaré (a Sagrada Família)

c) Jesus pobre e operário (Mt 13,55)

d) Jesus nas suas andanças missionárias anunciando o Reino (Lc 4,18-19; 4,43-44)

e ) Jesus retirando-se para lugares desertos, indo para os montes e procurando o silêncio das noites e das madrugadas para estar a sós com o Pai (o Jesus contemplativo):

* Lc 4,42 (de madrugada)

* Lc 5,16 (costume de Jesus)

* Lc 6,12 (noite inteira)

* Lc 9,28 (monte Tabor)

* Jo 6,15 (retirou-se para o monte – rezar)

f) Jesus misericordioso (Mt 9,13)

g) Jesus e Maria.

Lendo os evangelhos, descobriremos tanta coisa maravilhosa da vida de Jesus que, por si, pode tornar-se fonte de inspiração para novos modelos de espiritualidade.

Espiritualidade é Amor. Amor de Deus, porque é nosso Pai; Amor ao próximo, porque é nosso irmão. No caso dos irmãos, o Amor é preferencialmente aos pobres e excluídos. A espiritualidade integra dois outros à nossa vida: o Pai e o irmão, pelo Amor. As diversas espiritualidades têm essa base comum. O que as diferencia é a maneira de viverem a prática de Amor. Porque a espiritualidade não é alienada. A espiritualidade é tão criativa que não só renova, mas transforma as pessoas e as comunidades.

O modelo acabado da espiritualidade é Jesus Cristo na cena magistral do lava-pés. Em Jesus Cristo, o Amor é serviço ao Pai em favor dos irmãos.



A ESPIRITUALIDADE DE JESUS é o modelo. Está codificada nos Evangelhos. Os apóstolos a viveram ao seu lado. Os pilares da espiritualidade de Jesus são:

1. Sua intimidade com o Pai

2. Sua fidelidade absoluta ao Projeto do Pai

3. Seu amor extremado aos homens, ao ponto de doar a sua vida e o seu próprio sangue para remi-los (Jo 15,13).

Ninguém consegue viver todos os valores do Evangelho, ou todas as propostas de Jesus. Mas, de acordo com o “sopro do Espírito Santo”, podemos radicalizar alguns valores evangélicos e propostas de Jesus. É o que constitui a ESPIRITUALIDADE. Daí, surgiram na Igreja, desde os primeiros séculos, as chamadas ESCOLAS DE ESPIRITUALIDADE.



Ascese: askesis = exercício, treino; esforços graças aos quais se procura progredir na vida moral e religiosa; em geral comporta exercícios de oração mental e uma disciplina corporal.

Mística: mystikós = que foi iniciado nos mistérios (realidade secreta, escondida ao conhecimento ordinário); realidade escondida que se propõe a um tipo de experiência que conduz à união com o absoluto. Alguns autores sugerem que os termos espiritualidade e mística são apenas maneiras diversas de se referir à relação pessoal com Deus, enquanto outros admitem que a mística seja um tipo de espiritualidade que enfatiza a experiência pessoal direta de Deus.

Experiência mística: iniciativa de Deus que se faz com a pessoa participe de seu próprio mistério, embora na obscuridade de um conhecimento inadequado à sua transcendência; estado da vida em que Deus se manifesta à pessoa de modo sensível – a intensidade do sentimento da presença de Deus é tão clara, que o místico tem totalmente a certeza de que Deus está nele.



MÁRTIRES E MONGES



Entre os anos 64 e 313 a Igreja cristã no Império Romano sofre vários períodos de PERSEGUIÇÃO. É a época dos MÁRTIRES, isto é, das grandes testemunhas da fé, que deram sua vida por amor a Jesus Cristo e sua causa, imitando-o na sua Paixão e Morte.

Pelo martírio o fiel atinge a perfeição da vida cristã, exatamente porque dá prova de suprema caridade. É um “segundo batismo”, pelo fato de ser uma plena incorporação no mistério salvífico do Senhor.

As primeiras comunidade cristãs tinham um grande respeito pelos mártires, venerando-os como exemplos de vida evangélica, como mostram vários documentos da época.

Os mártires são os primeiros santos com culto público. A Igreja festejava seu “dia natalício” = seu passamento ao céu! A eucaristia é diretamente relacionada com o martírio: celebrava-se a Missa sobre as relíquias dos mártires!

O martírio sempre constituiu uma fonte de grande fecundidade espiritual e apostólica e nunca perde sua atualidade na Igreja.

Quando a Igreja adquiriu sua liberdade, em 313, alguns cristãos começam a questionar a subseqüente acomodação do cristianismo, religião agora beneficiada com muitos favores por parte da autoridade pública. Eles contestam essa evolução, considerando-a como uma traição da autenticidade evangélica. Retiram-se desta sociedade (“fuga mundi”), indo em direção ao deserto (Egito). Nasce assim a VIDA RELIGIOSA na sua forma anacorética (eremítica ou solitária).

A figura de maior destaque entre os antigos anacoretas é Santo Antão (+356, com 105 anos de idade).

Esses monges (solitários), no entanto, tornaram-se focos de irradiação de vida cristã, transmitindo a outros (discípulos) sua experiência espiritual (aconselhamentos).

No decorrer dos anos surgirão verdadeiras comunidades de monges (mosteiros), sob a direção de um “pai espiritual” (Abade), sendo São Pacômio (+346) um dos mais conhecidos no início do monaquismo (cenobítico = em comunidade)

Com São Basílio (+379), o monaquismo do Oriente recebe maior estruturação e organização. São Bento de Núrsia (+547) adapta o monaquismo à realidade Ocidental, iniciando importantes experiências monásticas no centro da atual Itália, que terão um grandioso futuro. Famosa é a Regra que escreveu para seus seguidores (Beneditinos)



I – A IDADE PATRÍSTICA



PATRÍSTICA é o período que vai do findar do primeiro século até aos inícios da Idade Média (450-600). É a idade em que se elaboraram os conteúdos (as contribuições) que constituiram a “Ciência da Espritualidade”. Esta “Ciência” teve os “Mestres” do Oriente, representados por São João Clímaco, e os do Ocidente, representados por Cassiano. Foram os dois eminentes sintetizadores.

Os “teólogos”, homens ilustres, sábios e santos desse período, passaram à História da Igreja com o nome de SANTOS PADRES. Eram profundos conhecedores da Sagrada Escritura, da vida espiritual e do que era conhecido, ensinado e vivido pela Igreja de então



CARACTERÍSTICA DOS SANTOS PADRES:



* ortodoxia da doutrina

* santidade de vida

* reconhecimento por parte da Igreja

* antigüidade (450 – 600)



- PATROLOGIA é o estudo da PATRÍSTICA

- Principais expoentes dos três primeiros séculos:

- São Clemente de Roma escreveu uma célebre Carta à Igreja de Corinto recomendando a concórdia, a humildade e a obediência.

- Hermas (cognominado de “Pastor de Hermas”), expõe por extenso as condições da volta a Deus pela penitência.

- São Clemente de Alexandria descreve como pela ascese o verdadeiro gnóstico chega à contemplação.

- São Cipriano (África) – seus escritos são mais de ordem pastoral.



DO SÉCULO IV AO VII



NA IGREJA DO OCIDENTE



– Santo Ambrósio(333-397) – Bispo de Milão – Instruiu Santo Agostinho na fé;

– Santo Agostinho(354-430) – foi bispo de Hipona(África) – herdou do pai o temperamento sensual e impetuoso, e da mãe a ternura e a tendência para a contemplação mística.

– Cassiano(360-435) – deixou uma rica contribuição sobre a espiritualidade monacal, aproveitada pelos grandes mestres.

– São Bento(480-543 Subiaco
Itália) – É muito lido, valorizado e apreciado o seu livro: Regula, escrito para a formação de seus monges.

– São Gregório Magno(540-604) – Foi Papa de 590 a 604. Deve-se-lhe a liturgia da missa e o rito gregoriano. Valorizou grandemente o canto na Igreja, estabelecendo critérios para a sua “beleza e espiritualidade”.



NA IGREJA DO ORIENTE



– Santo Atanásio (297-373) – Patriarca de Alexandria (Egito). Lutou com firmeza contra os Arianos.

– São Cirilo de Jerusalém (315 - 386) – Em suas “CATEQUESES” traça o perfil do verdadeiro cristão. Ele foi, antes de tudo, um pastor – mestre – catequista.

– São Basílio (330-379) – um dos fundadores do monaquismo.

– São João Crisóstomo(344-407) – Natural de Constantinopla. Foi um ardoroso pastor de alma e um grande orador. Suas célebres HOMILIAS formam um repertório completo de moral e ascética.

– São Cirilo de Alexandria (+444) – Deixou uma valiosa obra: THESAURUS DE SANCTA ET CONSUBSTANTIALI TRINITATE, onde ele versa sobre a intimidade da alma com a Santíssima Trindade.

– São João Clímaco (+649) – É de sua autoria: SCALA PARADISI (A Escada que conduz ao Céu – “A Escada do Paraíso”. É um resumo de ascética e mística para os monges do Oriente, análogo ao de Cassiano para os do Ocidente.



II – IDADE MÉDIA



Os Mestres da Idade Média elaboraram e sintetizaram os elementos da ESPIRITUALIDADE DOS SANTOS PADRES. Respigaram, comentaram e apresentaram.





Escola beneditina



1. ESCOLA BENEDITINA



a) Santo Anselmo (1033-1109): na Abadia de Bec (Normandia – França), cujas MEDITAÇÕES e ORAÇÕES estão cheias de piedade juntamente dogmática e afetiva. No seu livro CUR DEUS HOMO, encontram-se sólidas considerações sobre a ofensa infinita feita a Deus pelo pecado e sobre a virtude das satisfações de Cristo.

b) São Bernardo (1090-1153): Na Abadia de Cister(França), cuja piedade afetiva e prática exerceu imensa influência sobre toda a Idade Média. São Bernardo foi um grande devoto, estudioso e arauto de Maria. Seu amor à Vida Religiosa foi tamanho que levou centenas de jovens a abraçarem a Vida Monástica cisterciense.Deixou um grande número de obras.



1.1. ESCOLA DE SÃO VITOR



 Hugo(+ 1141) – Abade de Cluny – França Escreveu: De Sacramentis Christiane Fidei; De Vanitate; De Modo Orandi; De Meditando e outros.

 Ricardo(+ 1173) – Entre os seus escritos estão: Beniamin Minor (preparação para a contemplação); Expositio in Cantica Canticorum, etc.



AS ORDENS MENDICANTES



OS MENDICANTES: São Francisco de Assis(+1226) e São Domingos de Gusmão(+1220)



A passagem do século XII para XIII é marcada por uma profunda mudança no campo econômico e social. Com o crescimento do comércio (após as Cruzadas) surgem, por toda parte, cidades (“burgos”) cuja população (“os burgueses”) contesta o antigo regime feudal com sua semi-escravidão. Também a Igreja enfrenta grandes desafios. “Liberdade” é a profunda aspiração dos habitantes desses novos centros urbanos. Neste contexto vemos aparecer grupos de cristãos que querem viver o Evangelho de modo mais radical, imitando a vida de Jesus e dos apóstolos (“vida apostólica”. Pobreza e simplicidade são suas notas características.



2. ESCOLA FRANCISCANA



O que a caracteriza é ser especulativa e afetiva. Parte do amor a Jesus crucificado, para fazer amar e praticar alegremente as “virtudes crucificantes” e sobretudo a pobreza. É por isso que se tornou comum chamar de “pobreza franciscana” a vida vivida na extrema simplicidade e privação dos bens materiais

a) São Francisco de Assis(1181-1226 Itália). Ele é, pela sua vida e ensinamentos, o criador dessa escola. Não resta dúvida, a designação veio depois de sua morte.

b) São Boaventura,OFM(1221-1274 Itália). Além de suas obras teológicas, compôs muitos tratados ascéticos e místicos.

c) Santa Catarina de Bolonha(1413-1463). Ensina, as SETE ARMAS ESPIRITUAIS CONTRA OS INIMIGOS DA ALMA, meios muito práticos para vencer as tentações.



3. ESCOLA DOMINICANA



A Espiritualidade dessa Escola é baseada na Teologia Dogmática e Moral, que faz corpo com ela e concilia a oração litúrgica e contemplação com a ação e o apostolado.



• São Domingos de Gusmão (1170-1221 Espanha). Fundador da Ordem dos Pregadores, ou seja, Dominicanos. Elaborou suas CONSTITUIÇÕES segundo as dos Premonstratenses, com o intuito de formar pregadores sábios e santos capazes de defender a religião contra os mais doutos adversários.

• Santo Alberto Magno (1206-1280 Alemanha). Era Dominicano e foi professor de Santo Tomás de Aquino.

• Santo Tomás de Aquino (viveu entre 1225 e 1274): “Doctor Angelicus” (o Doutor Angélico). É considerado, ao lado de Aristóteles, Cícero e Santo Agostinho uma das maiores inteligências de mundo. Versou excelentemente sobre todas as questões importantes da Ascética e Mística nas suas diversas obras, mormente na SUMMA THEOLÓGICA. É um dos teólogos e filósofos cristãos que legou à humanidade um grande número de obras.



4. ESCOLA FLAMENGA



Sua maior característica é sua orientação mística.



a) B. João Ruysbroeck(1293-1381) – Foi o iniciador dessa escola. Sua terra são chamados Países Baixos. Deixou várias obras escritas.

b) Tomás a Kempis ou de Kempis (1380-1471). Nasceu em Colônia\Alemanha e morreu no Mosteiro de Sant’Ana, perto de Zwolle (Países Baixos\Holanda). Era da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho. É o representante mais conhecido, lido e apreciado da Escola Flamenga. É o autor de diversos opúsculos de cunho ascético e místico, entre outros está o DE IMITATIONE CHRISTI, sua obra prima por excelência. A IMITAÇÃO DE CRISTO, como se diz “é o livro mais belo que saiu da mão de um homem, pois o Evangelho não é obra humana”. No Concílio de Trento, esse livro maravilhoso foi entronizado na Aula Conciliar ao lado do Livro dos Evangelhos. A IMITAÇÃO DE CRISTO revela que seu autor percorreu as vias da mais alta espiritualidade e mística em profundas e longas meditações, por longos anos, antes de passar para o papel as suas experiências místicas.



5. ESCOLA CARTUSIANA



Cartusiano(a) – vem de “CARTUXA”, através do latim “CARTUSIA”. É a Ordem Religiosa mais rigorosa da Igreja. Foi fundada por São Bruno (1033 – 1101), na França. A espiritualidade dessa Escola baseia-se no “Solus cum Solo” – solidão, silêncio, oração, contemplação, ascética e penitência.

a) Hugo de Balma (ou de Palma). Viveu na segunda metade do século XIII. É atribuída a ele a obra Theologia Mystica. Um considerável tratado de espiritualidade ascética e mística.

b) Ludolfo da Saxônia (ou Ludolfo o Cartusiano). Viveu entre 1300 e 1370. Legou à posteridade VIDA DE NOSSO SENHOR, que teve extraordinária influência sobre a piedade cristã. É mais de meditação do que livro histórico, enriquecido de piedosas reflexões tiradas dos Santos Padres.

c) Dionísio Cartusiano (1402-1471). Produziu várias obras.

d) Molina Cartusiano (1560-1612 Espanha). Compôs Ejercicios Espirituales, em que trata da excelência e da necessidade da oração mental (a meditação).



III - IDADE MODERNA (RENASCENÇA)



CONCÍLIO DE TRENTO



Antes de entrar nas novas Escolas de Espiritualidade, vem a propósito conhecer um pouco desse Concílio. Ele mudou a direção da caminhada da Igreja, levando-a a uma ampla revisão e afervoramento na vida eclesial. Deu um impulso forte à vida cristã, forneceu novo elementos para a reflexão e a espiritualidade, afervorou todos os segmentos eclesiásticos (bispos, padres, religiosos e leigos), definiu muita coisa indefinida e imprecisa, sobretudo no campo da Teologia Dogmática e Moral e reformou a disciplina eclesiástica que estava uma calamidade

O nome deste Concílio vem da cidade de Trento\Itália, onde foi realizado. Muita gente, mal informada, refere-se a esse Concílio, com ares de deboche, como retrógrado e uma simples reação contra a onda protestante que quebrava a unidade da Igreja. Uns historiadores chamam-no de “Contra-Reforma”. Não é um termo feliz e adequado, porque o Concílio de Trento, bem antes do movimento liderado por Lutero e seus companheiros, já tinha sido pensado por alguns papas e bispos para extirpar certos abusos na vida da Igreja e revitalizá-la. Não foi, portanto, convocado apenas para fazer frente às idéias de Lutero. Não resta dúvida de que o surgimento da denominada Reforma tenha agilizado a sua convocação.

Loão X (1513-1521) andava muito angustiado com a situação de relaxamento generalizado na Igreja e com o movimento protestante que estava dilacerando a sua “túnica inconsútil”(Jo 19,23). Lançou, então, sua clamorosa encíclica “Exsurge, Domine et salvam fac vineam tuam” (Levanta-te, Senhor, e salva a tua vinha – Igreja).

O seu clamor diante da decadência da Igreja, “santa e pecadora”, retrata bem as lamentações de Jeremias. Era mesmo preciso reformar a Igreja, baseado no princípio: “deformata reformare; reformata consolidare; consolidata confirmare” (Reformar o que está deformado; consolidar o que foi reformado; confirmar o que foi consolidado).

A crise chegou ao auge no pontificado de Paulo III (1534-1549). Não era mais possível ir adiando a convocação de um Concílio. Os seus três últimos predecessores (Leão X, Adriano VI e Clemente VII) passaram também num Concílio, mas não conseguiram convocá-lo. Porém, Paulo III, ouvindo os anseios de toda a Igreja, decidiu convocá-lo. Foi aberto aos 13 de março de 1545 e encerrado aos 03 de dezembro de 1563. Teve portanto a duração de 18 anos.

O Concílio de Trento foi, primordialmente, Doutrinário, Disciplinário e Litúrgico. Mas a reforma da Igreja teria que começar pela cabeça: Papa, Cardeais e Bispos para atingir os membros. Era o pensamento de todos.

O Arcebispo de Braga(Portugal), Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, numa atitude corajosa e profética, ergueu a voz em uma solene sessão conciliar inicial e disse com destemor: “Os eminentíssimos e reverendíssimos cardeais é que precisam de uma eminentíssima e reverendíssima reforma”.

A máquina da Igreja tinha desencarrilhado. E como colocá-la nos trilhos sem uma reforma drástica na vida dos dignitários da Igreja!



Não se discute que os Padres Conciliares tridentinos tomaram uma posição definida e clara diante do Protestantismo que se alastrava, e propuseram, também de maneira clara e definida a doutrina católica sobre três pontos básicos e essenciais:

a) A ESCRITURA, condenando o “livre exame protestante;

b) O papel da fé e das obras;

c) Os Sacramentos.



Na parte disciplinar:



a) Foram estabelecidas exigências para a ordenação de padres e bispos;

b) Acabou com os “Padres e Monges vagos” e com os Bispos não residenciais;

c) Simplificação dos palácios episcopais e a vida dos Bispos (que deviam ser pastores e não príncipes da Igreja);

d) Obrigação da “Visita ad limina” de 5 em 5 anos para os Bispos com uma programação especial prescrita;

e) Criação dos Seminários;

f) Normas para a fundação de novas famílias religiosas. Não seria mais permitido a fundação de novas Ordens. As novas fundações seriam de Congregações ou Institutos Religiosos. Fazendo a transição, apenas os Jesuítas é que foram fundados como “Companhia”.



Na parte litúrgica:



Rito e modo de celebrar a missa (Missa Tridentina) e administrar os sacramentos.

Segundo os historiadores de maior respeito, o Concílio de Trento foi um dos mais importantes e marcantes da Igreja. O afervoramento eclesial perpassou por toda parte, atingindo a vida dos eclesiásticos, dos mosteiros (da Vida Religiosa) e do povo cristão.

Depois desse Concílio, começaram a surgir novas Escolas de Espiritualidade na Igreja.

Mas, principalmente, as três Escolas antigas continuam a influenciar: a Beneditina, a Dominicana e a Franciscana.



a) a Escola Beneditina conserva suas tradições de piedade afetiva e litúrgica;

b) a Escola Dominicana muito ligada à doutrina de Sto. Tomás de Aquino, explica e sintetiza com clareza e método o seu ensino sobre a ascese e a contemplação;

c) a Escola Franciscana conserva o seu caráter de simplicidade evangélica, de pobreza alegremente vivida, de afetuosa devoção a Jesus Menino e a Jesus Crucificado.



Escola inaciana



6. ESCOLA INACIANA



As Escolas antigas continuam a dar maior precisão à sua doutrina. Surgiram outras novas com um grande dinamismo espiritual, sob o influxo do Concílio de Trento e da Reforma Católica.

A Escola Inaciana é de Espiritualidade ativa, enérgica e prática, que tende a formar a vontade em ordem à santificação pessoal e ao apostolado.

O iniciador dessa Escola é Santo Inácio de Loyola(*1491 e + 1556). Foi o fundador da Companhia de Jesus (os Jesuítas). Entre o que ele deixou escrito, merecem um destaque especial: “os Exercícios Espirituais”, em que o santo expõe o método de trabalho para reformar e transformar uma alma, conformando-a com o divino modelo, Jesus Cristo, “o obediente do Pai”.

Entre outros expoentes da Escola Inaciana, estão:

1) Suarez (1548-1617 Espanha): o seu livro DE RELIGIONE é um tratado completo de espiritualidade, acentuando o valor e a necessidade da oração para a santificação, os votos religiosos e à obediência às regras.

2) S. Roberto Belarmino(1542-1621 Itália): deixou várias obras de grande contribuição para a espiritualidade.

3) Afonso Rodriguez(+ 1616 Espanha): a sua obra em três volumes: Exercícios de perfeição e virtudes cristãs é de um valor extraordinário.



Escola carmelitana



7. ESCOLA TERESIANA ou CARMELITANA



A característica dessa Escola é: “o tudo de Deus e o nada da criatura”, ensinando o desprendimento das coisas terrenas para chegar à contemplação e à prática do apostolado pela oração, o exemplo (o testemunho de vida) e o sacrifício.

Os representantes máximos dessa Escola são:

1) Sta. Teresa de Ávila(1515-1582 Espanha). Modelo e Doutora da Igreja. Atingiu as raias da mais alta vida espiritual. Suas obras nos convidam a ser inteiramente de Deus, e nos falam de suas experiências místicas, como: LIVRO DA VIDA, AS FUNDAÇÕES, CASTELO INTERIOR OU MORADAS e outros. Respaldada pelo Concílio de Trento e ao lado de S. João da Cruz, reformou os Carmelos de sua época. Exerceu uma grande influência sobre a espiritualidade carmelitana.

2) São João da Cruz(1543-1591): Discípulo de Sta. Teresa de Ávila. Doutor da Igreja e Príncipe dos poetas espanhóis. Suas obras formam um tratado completo de ascética e mística

3) Santa Teresinha do Menino Jesus(1873-1897 Alençon
França). Dentro da Escola Teresiana, Sta. Teresinha criou a “Infância Espiritual”. O Menino Jesus motivou toda a sua espiritualidade. A sua autobiografia “Histoire d’une âme” tem feito um bem imenso a todos que a lerem.

4) Elizabeth da Trindade(1880-1906 França). Uma grande contemplativa. Seu livro mais conhecido e lido é Souvenirs.



8. ESCOLA SALESIANA



Essa Escola mostra que a santidade não é privilégio de quem abraça a Vida Religiosa ou Sacerdotal, consagrando-se a Deus pelos votos. Em todo e qualquer estado de vida no mundo, pode-se atingir a santidade. Os simples leigos, casados ou solteiros, podem ser santos e merecer as honras dos altares. Quando Jesus disse: “Portanto, sede perfeitos (santos) assim como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48), Ele se referia a todos sem exceção e discriminação. O convite universal à santidade foi muito bem focalizado pelo Concílio Vaticano II (LG Cap. V).

1) São Francisco de Sales (1567-1622) Era suíço e Bispo de Genebra. Foi o iniciador dessa nova Escola que produziu muitos santos e levou muita gente para o céu. Teve o grande mérito de mostrar que a santidade é para todo cristão e não existe, no nosso linguajar de hoje, supercristão. Todos nós somos filhos do mesmo Pai que não privilegia a nenhuma classe de pessoas.

2) Santa Joana de Chantal Foi co-Fundadora (com S. Francisco de Sales) da Congregação Filhas da Visitação. Sua vida e suas obras retratam bem a espiritualidade da Escola Salesiana. São João Bosco, ao fundar os Salesianos, bem mais tarde, adotou a espiritualidade “Salesiana”, daí o seu nome.



ESCOLA FRANCESA DO SÉCULO XVII



A sua espiritualidade dimana dos dogmas da fé e do dogma da Encarnação do Verbo. Incorporados em Cristo pelo Batismo, e recebendo por conseguinte o Espírito Santo, que vem habitar em nós, devemos em união com o Verbo Encarnado, glorificar a Deus, que vive em nós, e reproduzir as virtudes de Jesus, combatendo vigorosamente as tendências contrárias da carne ou do homem velho.

Maria ocupa um lugar importante nessa Escola, cujo fundador foi o Cardeal De Bérulle. Há uma plêiade de homens santos que se santificaram consoante os moldes espirituais dessa Escola. Entre esses “santos ilustres”, estão S. Vicente de Paulo, Olier, São Sulpício, S. João Eudes, S. Luiz Grignion de Montfort, S. João Batista de la Salle, e outros.

a) Card. De Bérulle (1575-1629). Fundador do Oratório de França. Não é canonizado, mas foi um homem de peregrinas virtudes.

b) São Vicente de Paulo (1576-1660 Paris). Foi realmente o “pai dos pobres e abandonados”. Discípulo fiel do Card. De Bérulle. Foi o Fundador dos Padres da Missão e das Filhas da Caridade (as Irmãs Vicentinas).

c) J.J.Olier (1608-1657). Fundador da Companhia de S. Sulpício. Ele apresenta-nos a doutrina comum de toda a Escola Francesa. Quem lê Olier, tem uma visão clara e global de toda essa Escola. Além de numerosos manuscritos, deixou-nos Catéchisme Chrétien pour la vie intérieure, em que mostra como, pela prática das virtudes cruciantes, se chega à união íntima e habitual em Jesus Cristo; Introduction à la vie et aux vertues chrétiennes; journée chrétienne; traité des saints ordres para preparar o clérigo para ser o “religioso de Deus” pela sua transformação em Jesus, Sumo Sacerdote e Vítima; as suas Cartas completam o que ele expõe em seus livros.

Obs.: O Seminário de “São Sulpício”, em Paris, tornou-se um centro de espiritualidade, uma verdadeira escola de oração. Formou um grande número de sacerdotes santos e zelosos: S. João Eudes (1601-1680), S. Luiz-Maria Grignion de Montfort (1673-1716), S. João Batista de la Salle (1651-1719).



A Escola Francesa se notabilizou pelas suas orientações e ensinamentos. Teve ampla aceitação em toda a Igreja, máxime nos Seminários e Conventos.

Em conseqüência da Encarnação do Verbo, Maria ocupa um lugar privilegiado ao lado de Jesus. Todos os Mestres dessa Escola e seus seguidores aprofundaram muito o estudo da Teologia Mariana, tornaram-se grandes devotos de Nossa Senhora e difusores de seu culto.

Montfort, entre eles, foi um apaixonado da Mãe de Jesus. Enriqueceu grandemente a Mariologia com suas obras. A devoção a Maria, por ele proposta, é baseada na mais sólida Teologia católica, na Patrística e na Bíblia. Propõe, como prática da lídima devoção mariana, a Santa Escravidão à Santíssima Virgem. Um sem número de eclesiásticos, religiosos e leigos se fizeram escravos de Nossa Senhora segundo a doutrina montfortiana. No seu livrinho de ouro “tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem”, expõe toda esta sua doutrina.

O Pe. Júlio Maria de Lombaerde, fundador dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, foi um discípulo fiel, fervoroso e entusiasta da Escola Francesa e seguiu as pegadas de Montfort, que marcou profundamente a sua espiritualidade. Ele uniu a sua devoção à Sma. Virgem à Eucaristia, dentro dos princípios dessa Escola.



9. ESCOLA LIGORIANA



Esta Escola distingue-se pela sua piedade simples, afetiva e prática. Basei-se no amor de Deus e do Redentor, e recomenda, como meios para alcançar esse fim, a ORAÇÃO e a MORTIFICAÇÃO.

Sto. Afonso de Liguori (1696-1787), que dá o nome a esta Escola, é um dos escritores mais fecundos. Além de suas obras de Dogma e Moral, escreveu tratados ascéticos sobre quase todos os assuntos. Por exemplo: As Máximas Eternas; A Via da Salvação; Prática do Amor a Jesus Cristo; Reflexões Sobre a Paixão; Glórias de Maria; Visitas ao Smo. Sacramento; Maneira de Conversar Familiarmente com Deus e O Grande Meio da Oração. Para a Vida Religiosa: A Verdadeira Esposa de Cristo ou o Religioso Santificado.



10. ESCOLA JANSENISTA



O nome dessa Escola vem de Cornélio Jansênio (1585-1638), teólogo holandês e bispo de Ypres(Bélgica). Escreveu o livro AUGUSTINUS, em que expõe, de seu ponto de vista, a doutrina de Sto. Agostinho sobre a graça, livre arbítrio e predestinação. Suas doutrinas foram condenadas por Urbano III (1623-1644). Atualmente, o Jansenismo perdura e tem sua sede em Utrecht (Holanda).

É a espiritualidade que leva ao rigorismo moral, provocando um arrependimento doentio do pecado e uma piedade sentimentalista. Focaliza a gravidade e enormidade do pecado. As passagens bíblicas da preferência dos mestres do Jansenismo eram, por exemplo: Jesus com o chicote na mão (Mt 21,12-13).



NOSSA ESPIRITUALIDADE É CRISTÃ



À luz da fé cristã nós descobrimos a presença de Deus no cosmo, na vida humana e na história com amor gratuito e salvação precisamente porque Jesus, Filho de Deus e filho de Maria de Nazaré, com sua palavra, atividade, morte e ressurreição, nos faz entrar vitalmente nessa descoberta. A partir desse encontro de fé, nossa espiritualidade só pode ser “religiosa” (como voltada para o Deus vivo, revelado por Jesus) e “cristã” mesmo (como seguimento de próprio Jesus).

O Deus de Jesus é o nosso Deus. Ele é a profundidade máxima de nossa vida.

A causa de Jesus é a nossa causa.

Nosso viver é o Cristo (Fl 1,21). Ele é nossa paixão e seu Espírito é nossa espiritualidade.

Nossa espiritualidade é nossa em dois sentidos:

1. Porque é uma espiritualidade personalizada, que nós vivemos consciente e livremente, na condição de pessoas adultas também na fé.

2. Abrange todas as dimensões de meu ser (alma e corpo, pensamento e vontade, sexo e fantasia, palavra e ação, interioridade e comunicação, contemplação e luta, gratuidade e compromisso).

é tão clara, que o místico tem totalmente a certeza de que Deusestá nele.



Espiritualidade cristã indica Fé e Vida:

“A fé é a garantia dos bens que se esperam,a provadas realidades que não se vêem.”Hb11,1

Nosso estudo da teologia tem mostrado o processo de elaboração teológico e sua importância para a vida dos crentes, sempre tendo em vista que fazer teologia não é um mero ato especulativo, onde o cientista da teologia se coloca diante do seu objeto com o objetivo de esmiuçá-lo, sem relação nenhuma com ele.

A teologia tem, com efeito,uma projeção sobre a vida do teólogo,enquanto contribui para uma aproximação ao Mistério Divino e uma configuração a Cristo Senhor e Salvador, desembocando numa pratica de vida coerente com aquilo que se crê e se celebra. Contudo, a teologia é possível por causa da fé.

A fé é ato humano, realizado dentro da liberdade humana, porém não se pode dizer “eu creio” sem que o objeto crido se manifeste ao crente, ou seja, nós temos fé porque Deus mesmo se revelou e mostrou a nós sua vontade. Não se tem fé somente baseado no desejo humano de crer de num ser superior a quem se dá o nome de Deus, mas a fé é Graça de Deus. Isso não significa que a fé contraria a razão e a liberdade humanas, porém “na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam com a Graça divina.” Portanto, “crer é um ato da inteligência que assente à verdade divina a mando da vontade movida por Deus através da Graça.”

O teólogo protestante Karl Barth define assim a fé cristã:

“A fé cristã é o dom do encontro que torna os homens livres para escutar a Palavra da graça, pronunciada por Deus em Jesus Cristo, de maneira tal que eles se atêm às promessas a aos mandamentos dessa Palavra, apesar de tudo de uma vez por todas, exclusiva e totalmente.”

A fé é “Dom” “Graça”, ou seja, é a capacidade dada por Deus para que os homens creiam nele. Podemos ver isso no episódio em que Pedro professa sua fé em Jesus, afirmando que ele é “o Cristo,o Filho do Deus vivo”.Jesus diz a Pedro que ele é “Bem-aventurado”,pois não foi a carne nem o sangue que o revelou esta verdade, ou seja, não foi pelo esforço de Pedro que ele chegou a essa conclusão, nem porque recebeu de outrem esse ensinamento, mas foi o Pai que revelou a ele.

Ao se tratar de fé, não podemos nivelá-la às outras formas de conhecimento, pois ela não parte de nenhuma constatação empírica,ou seja,não se prova a fé como se prova que a Terra gira em torno do sol, nem tampouco se pode afirmar que se chegou a fé a partir de um esforço intelectual. A sabedoria da fé consiste em abandonar-se confiantemente a Deus, apoiando-se em sua Palavra, como palavra para mim. “Não se crê ‘por causa de’ ou ‘baseado em’, mas se é despertado para a fé a despeito de tudo.”

Sabemos que a fé é um ato pessoal e que ninguém poderá professá-la por mim, pois é uma resposta livre do homem à Revelação de Deus. Cada um professa pessoalmente sua fé, porém, não se pode entender a fé como um ato isolado, solitário. Assim, ninguém crê sozinho, até porque, a fé não brota do nada, mas da escuta da Palavra proclamada, ou seja, alguém anunciou para mim a Palavra e eu então livremente professo a fé nesta Palavra. Nesse sentido, ninguém da a fé a si mesmo, mas depende de alguém que creu e que anunciou.



Elementos fundamentais da espiritualidade



a) Jesus Cristo morto e ressuscitado: A fonte original e fundamental da espiritualidade é Jesus cristo. Dele nascem outras fontes: a vida, a Palavra, a Eucaristia e a missão. Jesus Cristo é a plenitude da revelação de Deus (Hb 1, 1-3). O discipulado e o seguimento de Jesus são as dimensões mais importantes da espiritualidade cristã.

O ponto de partida da espiritualidade cristã é o encontro com a pessoa de Jesus cristo. Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). Por isso, toda espiritualidade fundamenta-se na opção e na pratica de Jesus. Assim alicerçada no Cristo ressuscitado, a vida do cristão faz dele uma nova criatura de ser sinal visível do amor de Deus no mundo. Somos transformados de tal maneira que, apesar das dificuldades e dos problemas que possamos carregar em nossa historia de vida, passamos a ver o mundo e as pessoas com olhos de Deus, isto é, com ternura, bondade, gratidão, compaixão e misericórdia.



b) A Palavra de Deus: O cristão deve amar a Palavra de Deus. A Bíblia é o espelho no qual vemos nossa vida e a vida de todas as pessoas confiadas a nós por meio do batismo. A Bíblia tem de fazer parte da espiritualidade do cristão. É a principal fonte de espiritualidade. É com o recurso á Palavra de Deus que o cristão vai orientar sua vida e a vida dos irmãos.

c) A Eucaristia: A Eucaristia é a fonte e o cume de toda a vida cristã. Do mistério pascal de Cristo nasce a Igreja. Por isso mesmo ela é o sacramento por excelência do mistério pascal. Está colocada no centro da vida da Igreja. Comer e beber da ceia eucarística em memória de Jesus sempre foi um ato de compromisso com a pessoa e a proposta dEle. Na Eucaristia, assumimos Deus em nossa vida, assim como o projeto de Deus como Igreja-comunidade. Comendo e bebendo o corpo e o sangue do Senhor tornamo-nos hóstias vivas na construção de um mundo mais humano, solidário e fraterno.



d) A oração: A oração é indispensável na vida do cristão. Ela é como a respiração de nossa fé: sem a oração somos como um motor sem combustível ou uma planta sem água. De acordo com o catecismo da Igreja Católica, a oração é a vida do coração novo, e ela deve nos animar a cada momento.

O Senhor conduz cada pessoa pelos caminhos e das maneiras que a Ele agradam. Cada fiel responde ao Senhor segundo a determinação de seu coração e as expressões pessoais de sua oração.

A tradição conservou três expressões principais da vida de oração: a vocal, a meditação e a contemplação. A oração vocal é aquela em que são pronunciadas verbalmente algumas fórmulas já estabelecidas pelas Igreja, por exemplo a oração que o próprio Jesus nos ensinou, o Pai nosso, ou ainda outras rezadas espontaneamente. A meditação consiste na busca orante em que se põe em ação o pensamento, a imaginação, a emoção e o desejo. Meditar é dialogar, falar com Deus e deixar que Ele fale também. Deus fala no silêncio, e no silêncio escutamos a sua voz. A contemplação se realiza pela escuta sincera e fiel à palavra de Deus e ao próprio Deus. Contemplar é olhar à Palavra de Deus e ao próprio Deus. Contemplar é olhar fixamente para Jesus. “Eu olho para Ele e Ele olha para mim”, disse certa vez a São João Maria Vianney um camponês em oração diante do Santíssimo. A contemplação não é fruto do esforço humano, mas um dom de Deus a cada um de nós. A contemplação nos envolve por inteiro e leva a transformação de nossas vidas. na contemplação percebemos a presença de Deus dentro de nós.

e) A cruz: A cruz é o sinal de nossa pertença a Cristo. É o selo por nós recebido no dia do batismo. Instrumento de vergonha, desespero e loucura para os judeus (1 Cor 1,18-23), de estupidez para os gregos, a cruz tornou-se para nós cristãos gloriosa e triunfante. A cruz é o sinal do Cristão.



Compreendemos também a cruz como as dificuldades, os conflitos e os sofrimentos de todo ser humano. “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24).

f) A conversão: O pecado está presente na vida dos seres humanos desde o início da humanidade. Os profetas foram os instrumentos de deus para seu povo se corrigisse e mudasse de vida. Jesus se apresenta como aquele que liberta a humanidade da escravidão do pecado (Mc 2,1-12; Lc 19,1-10; Jo 8,3-11).

A conversão e a mudança de vida são realidades que fazem parte da vida espiritual do cristão. São Paulo exorta: “reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5,20). O sacramento da Reconciliação é a expressão do amor misericordioso de Deus que nos reconcilia com Ele e nos faz reconciliar-nos com os irmãos. Chama-se também sacramento da Conversão, pelo fato de realizar sacramentalmente o convite de Jesus à conversão, o caminho de volta ao Pai, do qual a pessoa se afastou pelo pecado.

g) O testemunho: O testemunho é uma questão de compromisso, fidelidade e responsabilidade. “A fé sem obras é morta” (tg 2,17). O testemunho é a melhor maneira de evangelizar.

O cristão verdadeiramente afeiçoado ao Mestre e Senhor e com Ele parecido testemunha sua vida assumindo o mandamento do amor: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo !5,12). Este amor vivido concretamente no dia a dia nas diferentes realidades da vida configura o cristão na característica mais autêntica de Jesus cristo e de sua Igreja, cujo testemunho de caridade fraterna será o primeiro e principal anúncio: “Todos saberão que sois meus discípulos” (Jo 13, 35). Portanto, o cristão é chamado a identificação que tem com seu Mestre e Senhor.



h) Alegria e otimismo: A alegria e o otimismo são características do cristão. O cristão é sempre esperançoso. Vive sempre alegre com a vida. É feliz! Traz sempre consigo a marca do Cristo ressuscitado. A alegria e o bom humor atraem as pessoas: “Servi ao Senhor na alegria” (Fl 4,4). A autêntica vida alegre e otimista é fruto de uma comprometida relação íntima com o Senhor ressuscitado. A raiz mais profunda da alegria messiânica esta no dom do Espírito ( at 2,46).

i) A missão: A cristão um dia ouviu o chamado de Jesus e quis segui-lo mais de perto. Resolveu ficar com Ele, andar a seu lado, ligar-se a Ele definitivamente. Como discípulo-missionário, o cristão vive a experiência do encontro com Deus de maneira livre e espontânea. É alguém que encontrou Deus em sua vida e, por isso, vive a plenitude desse encontro.

A igreja é, por natureza, essencialmente missionária. Sua missão evangelizadora, iniciada no dia de Pentecostes, foi sempre marcada por um profundo ardor missionário. A exemplo de Jesus e sua Igreja, somos chamados a nos tornar corajosos e esperançosos missionários na construção de um mundo mais humano, fraterno e solidário.



Lectio divina (leitura orante da Bíblia)

A Igreja tem recomendado a seus fiéis a “leitura orante” da Bíblia. Como uma forma que propicie ao conhecimento e uma vivência de uma espiritualidade pessoal de encontro com Deus.

A LOBB não é estudo bíblico, discussão de idéias, aquisição de conhecimentos bíblicos. Bem como não é uma leitura para depois fazer palestras, sermões para os outros. É rezar com a Bíblia para sermos discípulos de Jesus.

A LOBB é uma experiência, um exercício, uma prática, uma relação pessoal, viva, empolgante com Deus e com a realidade. Não é apenas uma técnica, um método teórico: é um caminho de transformação.

A LOBB é para dilatar o coração, abrir os olhos, estender as mãos, impulsionar os pés para a evangelização. É para mudar o coração, a vida, a sociedade. É oração que leva à ação, ao irmão, à missão, à compaixão.

É escola da Palavra de deus para o reencantamento dos discípulos, dos profetas, dos evangelizadores. É fonte de ardor apostólico.





Quatro exigências da Leitura Orante da Bíblia.



1. Ler o texto na unidade da Bíblia.

É preciso respeitar o princípio da unidade da Escritura e não tirar o texto fora do contexto, isto é, isolar o texto fora da Bíblia. Cada texto é um tijolo dentro de uma grande construção. Não se pode também ficar ao pé da letra, mas é preciso ler e interpretar o texto na vida hoje. De fato, não se trata de estudar o livro sagrado, mas sob a luz da palavra, compreender e transformar a realidade, converter-se ao Deus vivo e verdadeiro e aos irmãos.



2. Ligar o texto com a realidade

Ao ler o texto bíblico é preciso ter os olhos na vida, nos acontecimentos, nas situações concretas. A LOBB não faz de nós professores de escritura, mas transformadores da realidade. Não se pode separar a LOBB dos acontecimentos e sinais dos tempos, mas iluminar a vida com a Palavra de Deus: este é o objetivo!



3. Ler a partir da fé em Jesus Cristo

Tudo na Bíblia converge para Jesus Cristo. Ele é chave de compreensão e interpretação das Escrituras. Jesus é a última e definitiva revelação de Deus. Dizia São Jerônimo: “Ignorar as Escrituras é Ignorar Jesus Cristo”. A LOBB é uma escola bíblica para sermos discípulos de Jesus.



4. Ler o texto em comunhão com a Igreja

É preciso ler a Sagrada escritura com o coração da Igreja, em comunhão com a comunidade de fé. O leitor não é dono do texto. A Palavra de Deus foi confiada à Igreja que, por sua vez, é serva da Palavra. Assim, a LOBB deve ser feita em comunhão com a tradição, o ensino e a fé de toda a Igreja. Podemos usar os resultados dos estudos bíblicos, mas sempre em obediência à Igreja.





Preparação para prática da leitura orante



“O Senhor deu-me um ouvido de discípulo” (Is 50,4). O bom êxito de uma LOBB exige cuidados que devem ser sempre levados em consideração. Alguns são de ordem espiritual; outros de ordem psicológica ou mesmo se constituem em pormenores que podem ajudar a oração. São estes cuidados que previamente é preciso tomar:



• Escolher um texto com antecedência. Pode ser a palavra da liturgia do dia.

• Estar na graça de Deus e viver em comunhão fraterna para poder silenciar e escutar. Ter paz interior.

• Ter hora e lugar marcados. Ser fiel ao propósito.

• Tomar posição tranqüila e agradável. Cuidar da boa posição do corpo.

• Fazer um pequeno relax e acalmar-se. Fazer o ninho para oração.

• Colocar-se na presença de Deus com fé. Desejar com certeza rezar.

• Invocar as luzes do Espírito Santo.

• Ter paciência, não desistir e perseverar.

• Abrir o texto e realizar os cinco passos: Leitura; meditação; oração; contemplação e orientação para ação.





Os passos da Leitura Orante

Já é tradição entre nós, dividir a leitura orante neste passos; Ler; meditar, agradecer, contemplar, orientar para ação.

Primeiro passo: A leitura

Inicialmente é preciso ler, ler, ler... Nesta leitura precisamos:

• Conhecer, respeitar, situar o texto: leitura lenta e atenta.

• Reler, repetir, recordar de memória, relembrar em voz alta.

• Ver o que o texto diz em profundidade.

• Perceber os verbos, as palavras chaves, as idéias centrais.

• Averiguar a geografia, o contexto, as circunstancias, as passagens do texto, os personagens com suas atitudes, seus gestos, suas reações.



É preciso ler com atenção, respeito, amizade, interesse e dedicação, como se faz num encontro de amigos. Neste sentido, ler não é estudar discutir pesquisar nem aumentar conhecimentos e teorias. É, antes de tudo, acolher, escutar interiorizar a palavra.

Segundo passo: A meditação

O segundo passo é constituído pela meditação: é o momento de ruminar, mastigar, revolver na memória. Meditar é guardar no coração e deixar-se amar. É aplicar o texto em nossa vida e realidade. Isso supõe:

• Ver o que a palavra diz para mim. Procurar atualizar a palavra hoje.

• Perceber as inspirações, os apelos, os afetos, as revelações, as iluminações do texto lido.

• Relacionar com outros textos parecidos.

• Interiorizar, internalizar, ingerir a mensagem.

• Acolher outros significados do texto.

• Aplicar a palavra à realidade pessoal, comunitária, social.

• Deixar-se sensibilizar pela palavra.

• Acolher o toque da graça.



Terceiro passo: A oração

O terceiro passo consiste na oração de louvor, de agradecimento, de pedido. É o momento da resposta, do diálogo, do encontro mais pessoal do entretenimento co Deus. Isso supõe:

• Expressar os sentimentos de louvor, agradecimento, intercessão, súplicas. Abrir o coração e envolver-se na presença de Deus, acolhendo a realidade e os apelos dos irmãos.

• Fazer atos de perdão e de reconciliação.

• Rezar salmos e hinos em relação com o texto meditado.



Quarto passo: A contemplação

A contemplação, como quarto passo, nos leva a degustar a Palavra de Deus e deixar-nos envolver por ela, pela presença amorosa do pai. Isso supõe:

• Silenciar, estar quieto, descanso sob o olhar amoroso de Deus.

• Sentir-se tocado, envolvido, amado, aceito, acolhido, perdoado, pacificado.

• Permanecer na presença divina, em receptividade e atenção amorosa nos braços do Pai.

• Dar espaço para Deus, para o irmão e para a realidade da vida afetivamente.



Toda contemplação é para ser comunicada e vivida, em vista da transformação pessoal, comunitária e social. Por isso, a contemplação nos lança para o quinto e último passo: a ação.

Quinto passo: Leitura orante e vida apostólica

• A LOBB deve incendiar o coração do orante e motivá-lo para ação apostólica, para missão, para a evangelização. A Palavra de Deus nos impele à caridade e ação social, como: atenção aos pobres, acolhimento das pessoas, perdão às ofensas, partilha do pão, solidariedade.

• Pela prática da leitura orante, os cristãos se colocam à disposição para trabalhar nos projetos pastorais na comunidade em seus múltiplos ministérios: catequese, grupos de reflexão, visitação das casas, dízimo, pastoral da saúde, da criança e etc.

• Quem medita as escrituras, encontra Cristo, sua Igreja e seu Reino. Cresce na dimensão profética e social da fé, assumindo responsabilidades e trabalhos na comunidade e na sociedade.



Podemos concluir dizendo que a leitura orante move o coração e abre os olhos para o irmão, para os necessitados, para a comunidade, para implantação do Reino de Deus.



Bibliografia

CARVALHO, Humberto Robson. Espiritualidade do Catequista. São Paulo. Editora: Salesiano, 2010.

MONDINI, Danilo. Teologia da espiritualidade cristã. São Paulo. 2ª Ed. Edições: Loyola, 2002.

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