sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Distorção da mensagem do Cristo

Desprezar o judeu em nome do Evangelho

é uma distorção da mensagem do Cristo

Sobre os preconceitos                   

Mary Travers



Se bem que seja uma verdade dizer que a ignorância é a raiz dos  preconceitos, nós estamos muitas vezes afogados por tantas informações, experiências e idéias novas , que nossos espíritos limitados ( que não gostam de ser sobrecarregados ) captam-nos e os põem de lado , classificando-os cuidadosamente sob a etiqueta: "para ver mais tarde". E é exatamente assim. É uma tendência natural do espírito humano querer estabelecer categorias , e as "preconcepções" que resultam disso não seriam perigosas se elas pudessem ser discutidas  e retificadas à luz de novos conhecimentos, sem que a emoção venha a  oferecer resistência. Elas vêm a ser perigosas se houver recusa de se levar em conta a evidência objetiva que se apresenta: uma  tal recusa provoca uma disposição emocional  que falseia a percepção, o juízo e, inevitavelmente , a conduta de um indivíduo ou de um grupo. A História não apresenta senão numerosos exemplos de "preconcepções" que assim  se transformaram  em preconceitos, causas de sofrimento e de angústia oculta, tanto para indivíduos como para grupos.



Os preconceitos



O anti-semirismo é provavelmente a forma mais antiga de preconceito que conhecemos : ela remonta ao período pre-exílico. Jean Paul Sartre mostrou muito bem que o anti-semitismo nasce do medo...não do medo do judeu, mas do medo de si mesmo, de suas responsabilidades, das mudanças à sua volta, na sociedade e no mundo.

    "É normal que se classifiquem as informações em categorias, para defesa própria, mas não é normal permitir a tais "preconcepções " chegar a  efeitos maléficos para o espírito e segregar o veneno dos preconceitos. A questão crucial é, portanto: "como é que as crianças chegam a ter preconceitos?" Nós

 encontramos para isto uma resposta em um show musical intitulado: "Pacífico Sul". Ainda que aí se trate de preconceitos ligados à cor da pele , pode-se aplicá-los  também a outros casos:



            Ensinaram a vocês a odiar e a temer,

            ensinaram-lhes de ano em ano,

            sussurraram isso à sua querida orelhinha ,

            ensinaram-lhes isto cuidadosamente...

            ensinaram-lhes antes que fosse tarde,

            antes de vocês terem seis, sete ou oito anos,

            a odiar a todos aqueles que seus parentes odiavam,

            ensinaram-lhes isto cuidadosamente".



Papel primordial da educação



    Se as crianças têm preconceitos, é porque lhes foram ensinados. E o foram  não somente explícita mas implicitamente, de mil maneiras, algumas vezes sem que os próprios educadores tomassem consciência disso (educadores no sentido amplo da palavra: pais, família, professores, pregadores, etc...) .

Eva Lewis diz que "a capacidade de influência do inconsciente dos pais sobre a criança é maior do que suas palavras ou seus atos conscientes";  que "o inconsciente  da criança capta  mais do que seus pais são em realidade"; que "por este intenso sentido de identificação, ela partilha com eles suas emoções".

    Se uma destas emoções  é o anti-semitismo latente que se transmite, infelizmente! de geração em geração, em muitas de nossas "boas" famílias cristãs, eis-nos diante de  um grave problema!   Os pais, mestres e pregadores cristãos  de boa vontade, conhecendo melhor as NOTAS graças a este número da revista SIDIC poderiam experimentar um choque mais bem desagradável... Mas se eles forem capazes de suportá-lo e tirar dele  uma lição , poderíamos  enfim  remontar  lentamente  a corrente e preparar as novas gerações para as relações entre judeus e cristãos.

    Em seu desejo de se queridas  e aprovadas, as crianças adotam atitudes feitas da imitação de seus pais e de outras pessoas adultas ; isto por um processo de identifica/cão que pode levar à rejeição total de um grupo  (por exemplo, os judeus) , porque a atitude de seus pais para com um  membro, que seja,  deste grupo,  marcou-os com um estereotipo ( aspecto intelectual do preconceito) . Depois de um tempo de rejeição total, vem um período de diferenciação: "Eu não gosto dos judeus ( estereotipo herdado dos pais), mas Davi  e Raquel são meus melhores amigos". A idade de 10 a 13 anos pode ser crucial, porque nesse momento os estereótipos passivos são substituídos por um comportamento ativo. Bandos de crianças de uma dezena de anos se formam, com uma grande necessidade de regras e a tendência ao conformismo; em razão disto, os preconceitos penetram mais, se organizam e conduzem, num caso extremo, a uma agressividade brutal. Dito isto, é importante saber que, segundo os psicólogos, pode-se lutar mais facilmente contra os estereótipos e fazê-los evoluir  até a idade de 16 anos  Seria bom conhecer um pouco do processo de sua evolução.



Alguns aspectos psicológicos




    Se sabemos que a ignorância é a base dos preconceitos, devemos também levar em consideração os efeitos de uma informação falsificada ou errônea, conscientemente ou não. Isto significa que o preconceito não vem de um grupo exterior que se tenha freqüentado  mas talvez mais de uma atitude geral que prevalece no interior de um grupo. Foi também demonstrado que, num indivíduo, a insegurança e a ansiedade engendram  habitualmente os preconceitos, o que é , para ele, uma forma de se livrar de ameaças imaginárias. Se um preconceito é visto claramente como em desacordo com outros valores, ele vai gerar ( salvo em casos extremos) um sentimento de culpa que a pessoa tentará atenuar de alguma maneira: seja pela projeção, reprovando ao grupo exterior suas próprias faltas ; seja pela negação da falta ( por ex.: "Os judeus preferem viver em gueto! ) ; seja pela negação parcial , proclamando por suas palavras ou seus atos que ele não tem nenhum preconceito ; seja por um verdadeiro reconhecimento do seu erro e pelo arrependimento  que conduzirá a uma mudança radical de conduta.

É esta última atitude que, certamente, nós queremos promover nas relações entre judeus e cristãos; o caminho a seguir para isto está indicado nas Notas e esclarecido pelos diversos artigos desta revista.

    Para aqueles dos nossos amigos judeus que pensam, com razão, que uma mudança de atitude está bem longe de se manifestar, pode ser uma ajuda concluir com três citações : a primeira de um Bispo famoso dos primeiros séculos da Igreja, os outros de pontífices romanos do século XX. João Crisóstomo dizia sobre os judeus: "Nós não deveríamos nem mesmo cumprimentá-los , nem ter a mínima conversação com eles...". Muitos séculos mais tarde, Pio XI dizia: "O anti-semitismo  é um movimento ao qual nós, cristãos, não podemos de nenhuma forma associar-nos. Somos todos espiritualmente semitas". Alguns anos mais tarde, João XXIII acolhia uma delegação judaica com estas palavras: "Eu sou José, vosso irmão".

Como não esperar ver este movimento  que levou tantos séculos para se consolidar , tomar em nossos dias um tal impulso que nós pudéssemos constatar resultados positivos, colher frutos na vida dos cristãos adultos de amanhã, que são as crianças de hoje.

    Os cristãos de nossa geração têm, ao mesmo tempo, a terrível responsabilidade e a extraordinária ocasião de ser construtores de pontes... Possa o Mestre de obras estar conosco!            

Nenhum comentário:

Postar um comentário