terça-feira, 14 de abril de 2009

Amor Sem Limites

INTRODUÇÃO


Revelar-se é tornar-se visível, e nosso Deus o tem feito a todo instante no decorrer da existência humana, e o faz de várias maneiras, mas muitas vezes o ser humano não entendendo esta revelação se vê perdido na imensidão de seus pensamentos, e por vezes de forma arbitrária acaba se posicionando de forma contrária a esta revelação, vindo a não aceita-la em sua vida. Em contra partida, Deus se torna cada vez mais perceptível ao olhar humano, enviando seu próprio filho e revelando-se por completo em suas obras.
Mas para muitos, este gesto revelador ainda não foi o bastante para aceitar a existência de Deus, e continuam incessantemente a procurar respostas que lhes convença da origem das coisas sem a presença viva de Deus em seu meio. E é na perspectiva de mostrar a revelação de Deus em todas as coisas, inclusive na criação que este nosso trabalho seguirá; mas não como critica aos não crentes na revelação, e sim como colírio que limpa, para vista cansada que já não consegue mais perceber que a perfeição do universo tem a marca registrada de um ser perfeito que denominamos DEUS.

1 O Pai

Nenhuma crença ou religião tem um Deus como o nosso. Se formos analisar cada uma delas, veremos que o Senhor, nosso Deus, é o que mais se comunica, o que mais se torna disponível ao toque, ao contato, à sintonia. Nas religiões politeístas, por exemplo, o sentido da revelação das divindades é puramente naturalista e, como tal, sujeito a diversos aspectos, que podem variar conforme suas peculiaridades religiosas.
Mesmo nas religiões monoteístas, como o judaísmo, o islamismo e outras, de cunho protestante ou pentecostal de bases fundamentalistas, constata-se um Deus restritivo, castigador, sujeito a humores, de comportamento instável, que tanto perdoa como castiga e impõe, por meio de seus prepostos, proibições como não beber (alguns proíbem até refrigerantes gasosos), não cortar o cabelo, não usar calças compridas (para mulheres) ou não comer determinada comida.
Nosso Deus não é assim! Conforme A.M.Galvão:
Nosso Deus é um Deus revelado, que colocou toda a natureza e toda a criação nas mãos do homem, para delas usufruir com liberdade e respeito, sem maiores proibições ou ameaças, excerto naquilo que fere o amor, a fraternidade, a convivência entre os homens e a natureza, casa original do ser humano.
O Pai, na pedagogia trinitária, é aquele que gera. É a primeira pessoa da trindade, citado em primeiro lugar no “sinal-da-cruz” e a quem a piedade popular chama mais especificamente de Deus, reservando os termos Filho ou Jesus Cristo para a Segunda Pessoa e o Espírito Santo para a terceira Pessoa – embora todas sejam igualmente Deus, com poder, glória e majestade análogos.
Deus existe desde o “princípio” (cf. Gn 1,1; Jô 1,1), e essa existência se impõe como um fato fundamental que dispensa qualquer explicação. Desse modo, não tem origem nem devir. O Antigo Testamento ignora as teogonias, que nas antigas religiões, especialmente palestinas, explicavam a construção do mundo por meio da gênese dos deuses.
Na patrística encontramos, segundo Taciano (+ 192), um discípulo de São Justino, que afirmou existir em Deus dois logos (ou formas de comunicação). O primeiro, o logos proforikós, retrata sua relação para fora, com a criação (Diatesseron, II, 3).
Por ser “primeiro e último” (cf. Is 41,4; 44,6; 48,12; Ap 1,17), Deus, e no caso de nossa análise presente, o Pai, não tem que se apresentar. Impõe-se ao espírito do homem pelo simples fato de ser Deus. Conhecer a Deus é ser conhecido por ele (cf. Am 3,2) e descobri-lo na origem da própria existência. Fugir dele é ainda sentir-se perseguido por seu olhar (cf. Gn 3,10; Sl 138,7).
Mesmo assim, no episódio da “sarça ardente”, durante o cativeiro do Egito, ele se apresenta a Moisés, no inicio de um grande projeto libertário:

Eu sou, ajuntou ele, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó. Moisés escondeu o rosto, e não ousava olhar para Deus (Ex 3,6).
Por ser o Pai quem é, revelando-se por meio de Jesus Cristo e agindo pelo Espírito, dá a conhecer nitidamente sua personalidade (se é correto usar essa expressão), seus projetos e seus desígnios. Por pouco ainda que se saiba sobre ele, desde o instante em que é descoberto, sabe-se que ele quer algo de precioso e que sabe exatamente aonde vai e o que faz.
A absoluta anterioridade do Pai (junto com o filho e o Espírito) está expressa nas tradições do Pentateuco e de suas versões específicas. A tradição J (javista) põe em cena Yahweh (latinizado Javé) que, desde o início do mundo (Gn 2,4b), bem antes da já mencionada ocasião da “sarça ardente” (Ex 3,15), mostra-se ocupado em perseguir seu projeto: “Meu Pai continua agindo até agora...” (Jô 5,17).
A tradição P (Priester kodex, sacerdotal), pelo contrário, sublinha a novidade trazida pela revelação do culto a Deus a partir da Aliança no Sinai. Ao aproximar-se à era Cristã, Israel começa a adquirir a consciência de que Deus é Pai de seu povo e de cada um de seus fiéis. A designação de Pai é mais freqüente nos escritos rabínicos tardios, nos quais se encontra a fórmula “Pai nosso que estais nos céus...” tal e qual foi ensinada por Jesus a seus discípulos (cf. Mt 6,9).
O pai é aquele que gera (cf. Gn 1,27; 2,7), doador da vida (cf. Lc 1,35), amor por excelência (cf. Jô 3,16; 1Jo 4,8-16), rico em misericórdia (cf. Ef 2,4), libertador de seu povo (cf. Ex 3,7s) e cumpridor de suas promessas (Lc 1,55; At 13,33). A oferta do amor de Deus é gratuita. Ele não nos ama por causa de nossos “méritos”, mas porque ele é essencialmente amor e rico em misericórdia. O que salva é o amor de Deus.
Deus Pai é pleno de amor, capaz de, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4) dar seu Filho para nos salvar e assim resgatar toda a criação decaída pelo pecado. Santo Agostinho afirma: “Ó feliz culpa de Adão, que com seu pecado ensejou a vinda de Cristo” (O Felix culpa!). Por mais que amemos a Deus ou se tenha amor por suas criaturas, é salutar recordar que ele nos ama muito mais, “e nos amou primeiro” (cf. 1Jo 4,19). O Pai se revelou assumindo nossa humanidade, na encarnação em Nazaré. Ali Deus se humanizou para que o homem se divinizasse.
Em Santa Tereza de Ávila encontramos uma séria advertência a respeito da obrigação de amarmos a Deus:
As almas dos justos sabem e crêem que Deus sempre dá provas de maior amor. Quem se recusa a crer jamais terá a experiência desse amor. Isso posso garantir. O Senhor gosta muito de quem não põe limites às suas obras.

No salmo 138, numa homenagem à presença de Deus junto ao ser humano, o rei-poeta Davi elaborou um hino de louvor e gratidão à ciência e à providência divina.

Senhor, vós me perscrutais e me conheceis,
Sabeis tudo de mim, quando de sento ou me levanto,
De longe penetrais meus pensamentos.
Quando ando e quando repouso, vós me vedes,
Observais todos os meus passos.
A palavra ainda me não chegou à língua,
E já, Senhor, a conheceis toda.
Vós me cercais por trás e pela frente,
E estendeis sobre mim a vossa mão.
Conhecimento assim maravilhoso me ultrapassa,
Ele é tão sublime que não posso atingi-lo.

Para onde irei, longe de vosso Espírito?
Para onde fugir, apartado de vosso olhar?
Se subir até os céus, ali estareis;
Se descer à região dos mortos, lá vos encontrareis também.
Se tomar as asas da aurora,
Se me fixar nos confins do mar,
É ainda vossa mão que lá me levará
E vossa destra que me sustentará.
Se eu dissesse: “Pelo menos as trevas me ocultarão”,
E a noite, como se fora luz, me há de envolver.”
As próprias trevas não são escuras para vós:
E a noite vos é transparente como dia,
E a escuridão, clara como a luz.
Foste vós que plasmastes as entranhas de meu corpo,
Vós me tecestes no seio de minha mãe.
Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso.
Pelas vossas obras tão extraordinárias,
Conheceis até o fundo a minha alma (Sl 138,1-14).

O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador (GS 19).

Deus chama pessoalmente, pelo nome, a cada homem, mas, desde o princípio, “aprouve a Deus santificar e salvar os homens não singularmente, sem nenhuma conexão uns com os outros, mas constituindo-os num povo que o conhece na verdade e santamente servisse”. Quis escolher entre as nações da terra o povo de Israel para manifestar-se a Si próprio e revelar os desígnios da sua vontade. Estabeleceu uma Aliança com ele, que foi renovada diversas vezes.
“Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra os seus opressores e conheço os seus sofrimentos”.

1.2. Deus continua a dialogar com os homens em Cristo

Depois de ter falado pelos Profetas, Deus quer falar ainda mais de perto. Quer revelar-se ainda melhor. Ele o faz através de seu Filho JESUS.
Jesus é o profeta por excelência, o grande enviado de Deus, o seu grande mensageiro, o Filho. Muito mais do que os profetas, ele pode falar de Deus, mostrar quem é Deus.
Jesus mostra o Deus da Aliança, o Deus de amor que se dá até o fim. A bondade de Jesus, a sua misericórdia, a sua exigência, a sua doação até a morte, mostra o amor do seu Pai. “Deus quis que Cristo tomasse “o corpo no qual suas palavras ressoassem autenticamente como palavras de vida.
Jesus, como não poderia deixar de ser, é o ponto central do cristianismo, quando Deus se encarna, tornando-se homem para livrar a humanidade da servidão do pecado. Em muitos lugares, nas leituras profanas e mesmo religiosas, há perguntas sobre a essência do cristianismo, aquilo em que, em última análise, pode ser resumida a religião cristã.
Nesse particular, e vamos nos amparar no teólogo Romano Guardini, todas as respostas formuladas se resumem em uma única palavra: Cristo. Á essência do cristianismo, afirma o teólogo, é Jesus Cristo, e ser cristão, segundo a mesma fonte, consiste em acolher de fato a Cristo como Deus, a palavra (o logos) que se fez homem, padeceu, morreu e ressuscitou. Acolhe-lo como nosso salvador faz parte de nossa inserção ao mistério divino.
No Filho, descobrimos o mistério da comunicação divina, rico em presença, entrega e libertação. Ele é a total revelação do Pai. Sob esse aspecto, vemos que o Filho e o Espírito Santo descobrem a inascibilidade do Pai, e a revelam aos homens. Só podemos entender o mistério de Jesus se o compreendermos como os evangelhos o apresentam, inserido na comunhão trinitária.

(...) porquanto é por ele que ambos temos acesso junto ao Pai num mesmo espírito (Ef 2,18).

O Filho, professamos no Credo, é gerado, não criado. Gerado amorosamente na interioridade trinitária e também por obra do Espírito, como homem no seio de Maria, na encarnação. É não criado visto que é co-eterno com o Pai e o Espírito. Ao gerar o Filho, o Pai lhe entrega tudo. “Tudo o que o Pai possui é meu (...)” (cf. Jô 16,15); Toda autoridade me foi dada no céu e na Terra. (...)” (Mt 28,18).Por isso o Pai lhe entrega a mesma natureza, e dessa natureza dos Dois Divinos (Pai e Filho) vai proceder o Espírito Santo. A relação do Espírito com o Pai e o Filho é de procedência. Segundo P. Evdokimov, “embora o modo próprio de cada uma das Pessoas, há uma condição de comunhão substancial entre os três”.

Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (Jô 3,16).

Hoje, a ciência moderna nos explica que a origem do universo se deu por meio do chamado “Big-Bem”, a Igreja Cristã espalhada pelo mundo não tem o porque questionar esta afirmação, mesmo porque não é competente para isso, no entanto, quem pode nos garantir que esta explosão não é o resultado do amor incondicional entre Pai, Filho e Espírito Santo, que já não se contendo de tanto amor, explode criando tudo que existe em nossa volta? Pois fica aqui este questionamento para que refletindo tentemos limpar nossos olhos que estão ofuscados pela mentalidade agnóstica de nossos tempos.



2. “CONCLUSÃO”



Concluímos que nosso Deus é um Deus que se revela, que se comunica, que procura o homem para dialogar, é um Deus que não age por interesse, mas sim, se coloca ao lado do homem, e coloca toda a natureza e toda a criação nas mãos do homem, é um Deus que só quer a amizade do homem e poder chamá-lo de Filho. Concluímos também que esse Deus existe desde o princípio e é Pai Filho e Espírito Santo, (um exemplo de Família para o homem) e nós só existimos porque Ele nos criou, nos ama e nos conhece no mais intimo de nosso ser. Esse amar e conhecer nos coloca diante de Jesus Cristo, que é a maior prova de amor de um Pai para com um filho, um Deus que sabendo das necessidades do homem, passa a ser um Pai que atende o clamor do povo, e se encarna fazendo-se homem, sofrendo como homem, amando mais do que qualquer homem já amou, e isso só para nos mostrar a sua face, dialogando com todos os homens, e mesmo depois de ter partido, envia-nos o Espírito Santo, para poder assim continuar sussurrando ao nosso ouvido por toda a eternidade, e jamais nos deixar sós.
Chegamos a conclusão de que esse Deus esta ao nosso lado quando sofremos, e mesmo nas desgraças continua se fazendo presente a nos consolar.
O ser humano, em contra partida, vive a procurar por esse Deus, e nessa procura incessante acaba desviando-se dele, e muitas vezes não consegue reconhecer a sua presença em todos os momentos de sua vida, nas coisas mais simples e belas do cotidiano, não são capazes de ver que Deus está na criação cultivada pelos homens e mulheres de boa vontade. Deus está no entusiasmo daqueles que acreditam que a “guerra” e a “violência” não são as ultimas palavras da existência. Deus está no sangue dos que lutam pela justiça, dos que combatem todo sistema que oprime o ser humano e a natureza. Deus está na esperança que move o coração, que o impulsiona na luta para que o Reino por Cristo anunciado se torne concreto em nosso meio. Deus está na defesa dos direitos de uma maioria desfavorecida, marcada pelo preconceito, pelo desprezo e pela indiferença de uma minoria acomodada em seu esbanjamento. Deus está nos pequenos e grandes gestos de solidariedade e compaixão. Deus está nos corações dos que amam de verdade, dos que não se contentam com o que está estabelecido. Deus está nos que lutam para que todos tenham terra, trabalho, saúde, educação, lazer, para que todos tenham vida em abundância. Deus está nos pobres, nos que são marginalizados por sua raça, cor ou condição moral. Deus está na Beleza da natureza, na luta pela paz e pela justiça, no sorriso das crianças e na bonita experiência dos idosos. Deus está mais perto de nós do que imaginamos, Ele está no irmão a nosso lado, que compartilha conosco todos os momentos de busca e de descoberta.
Mas no decorrer da história humana, vemos que homens quiseram ser Reis, Reis quiseram ser Deus, mas somente Deus quis ser homem e habitar entre nós.
O caminho percorrido para chegarmos ate a conclusão deste trabalho nos levou antes de tudo a refazermos a experiência de Deus, deixando que Ele mesmo falasse aos nossos ouvidos, dirigi-se a nossa mente e guia-se cada um de nossos passos, e o resultado desta experiência ficará eternamente guardado em nossos corações, porem um pouco desta gratificante experiência esta contida nestas linhas que se seguiram até aqui, sabemos no entanto, que todas os palavras contidas no universo são demasiadas pobres para descrevermos o quanto é grande o amor de Deus para conosco.
Pudemos averiguar que por meio da oração nós falamos diretamente a Deus, e por meio das Sagradas Escrituras, igualmente Ele nos fala.
Mas Deus não está preso nas Escrituras, pois mesmo quando não a lemos, Ele dá um jeitinho de se comunicar com seus filhos tão amados.
Ele se manifesta e se revela na criação do universo, na luz das estrelas, na relação intima entre a Terra e a Lua, nos enormes buracos negros existentes no universo, na expansão e na finitude do cosmos, no aparecimento no céu de uma supernova, na extinção de uma estrela, no constante movimento de todos os corpos celestes observáveis no céu.
E a nossa maior dificuldade na realização deste, foi exatamente entender essa manifestação de Deus em nosso meio, que muitas vezes acontece de maneira contrária à nossa vontade. Isto ocorre porque não sou Eu, mas sim Ele quem toma a aniciativa de dialogar comigo, tal como um amigo que mostra onde o outro está errando e como pode corrigir o erro.
Neste aspecto vimos que Deus nunca cessa a sua vontade de falar ao homem, e o homem nunca cansa de procurar a Deus. Desta forma nosso trabalho não acaba aqui, mas nos abre a perspectiva de continuarmos sempre procurando encontrar a Deus, e compreender sua revelação frente a nossos olhos.

Diácono Luciano José Dias








3. “BIBLIOGRAFIA”



MESQUITA, ANTÕNIO GALVÃO. A Santíssima Trindade: O mistério de três pessoas em um só Deus. São Paulo: Ave-Maria, 2000.

GARCIA, D. M. COLOMBÁS, MB. Diálogo com Deus: Introdução à “Lectio Divina”. 2a ed. São Paulo: Paulus, 1996.

MARTINS, EUCLIDES BALANCIN e STARNIOLO, IVO. Como ler o livro do êxodo: O caminho para a liberdade. 2a ed. São Paulo: Paulinas, 1990.

Pe.ANTONIAZZI, ALBERTO. BROSHUIS, INÊS e PULGA, ROSANA. ABC da Bíblia. 29a ed. São Paulo: Paulus, 1984.

1o encontro teológico. Deus onde estás? São Paulo: Loyola, 2000.

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