segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O MITO E SUA RELEVÂNCIA NO ENSINO RELIGIOSO

LUCIANO JOSÉ DIAS


O MITO E SUA RELEVÂNCIA NO ENSINO RELIGIOSO


Monografia de conclusão do curso de Pós-Graduação Lato - Sensu, Especialização em Ensino Religioso, Práticas pedagógicas em Ensino das Religiões. Exigido pelo Centro Cristão de Estudos Judaicos como Requisito parcial para conclusão do curso de Especialização. Orientador: Professor Dr. Jarbas Vargas Nascimento.

CENTRO CRISTÃO DE ESTUDOS JUDAICOS
(CCEJ)
SÃO PAULO
2011
Sumário


INTRODUÇÃO

O presente estudo sobre mito e Ensino Religioso, vem contribuir para que o leitor tenha a oportunidade de erigir uma análise comparativa própria e coletiva a respeito do mito na vida humana, mais precisamente dentro da dimensão religiosa. Todo desenvolvimento integral de que o ser humano é protagonista ou não, passa por representações abstratas, as quais tornam possíveis a ele portar-se diante da vida de maneira a extrair da sua experiência terrena, uma centelha que o sustente para o sentido buscado como resultado das inquietações que estão encerradas desde antes de sua existência no mais profundo do seu ser. Toda pessoa mostra-se como que através de um véu. Traz em si parte de mistério e Do Mistério, da Transcendência. Sua dinamicidade se move de maneira excepcional, que às vezes foge de um instante de vislumbrarmento diante da maravilha que se é e que se pode vir a ser. Os mitos são expressões do espírito humano sobre sua concepção a respeito dos fenômenos físicos e espirituais de seu ambiente e dentro de sua sociedade.
 Observaremos que é preciso que o profissional de Ensino Religioso esteja atento à importância de estudar e compreender os mitos, assim como o seu processo, sua origem, sua estrutura, sua finalidade, pois estes estudos podem em muito contribuir nas aulas de Ensino Religioso assim como pra sua formação pessoal, docente e cultural.
Os mitos estão presentes em varias culturas e tradições Religiosas sendo necessária uma leitura histórica, antropológica, sociológica e filosófica, assim sendo só o senso comum não basta, é preciso analisar os mitos em sua conjuntura.
Em nosso trabalho, veremos que é o Ensino Religioso que “costura” o mito que cada um cria, expandindo e alargando horizontes, motivando para o respeito. Se cada um é formado para viver com propriedade sua crença, este acaba respeitando o diferente do outro, porque acaba compreendendo que todos buscam respostas iguais que supram sua necessidade de transcender.
Constataremos que o Ensino Religioso tem o desafio de contribuir para uma formação integral, integrada e integradora da pessoa em relação consigo mesma, com os outros, com a natureza e com a Transcendência, proporcionando uma aprendizagem intercultural e inter-religiosa, formando a identidade e educando para a alteridade.
O rabino Henry Sobel[1] expressa isto muito bem ao afirmar: “Temos que permanecer, todos nós, enraizados em nossas respectivas tradições, sem jamais violar aquilo que é sagrado para cada um de nós. Mas, ao mesmo tempo, temos que reconhecer a santidade do credo e das tradições alheias.”[2]
Neste sentido, o presente trabalho traz uma contribuição muito oportuna e importante para a nossa reflexão sobre culturas e religiões, seus desafios e suas implicações para o Ensino Religioso. Nosso trabalho esta organizado em dois capítulos, no primeiro, trataremos da possível contribuição do mito na Educação Humana, sua evolução; seu objeto e o sentido de estudar sobre mito; e as implicações do mito no Ensino Religioso. No segundo capitulo, veremos a relação entre Religião, Mito e Ensino Religioso; os principais conceitos, perspectivas e abordagens, tal como a ética no Ensino Religioso. Ao percorrermos as páginas que seguirão, seremos interpelados a encontrar um possível caminho para nos ajudar na pratica do Ensino Religioso nas Escolas.


[1] Henry Sobel (Lisboa, 9 de janeiro de 1944) é um rabino de cidadania norte-americana há 37 anos radicado no Brasil, onde foi presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista (CIP) até outubro de 2007, onde afastou-se formalmente.
[2] SOBEL, Henry I. A tolerância religiosa, os direitos humanos e o século XX. Disponível em: www.interacaovirtual.com/Espiritualidade/tolerancia. Acessado em 06/10/2011.

1.    O mito na evolução da humanidade


Desde os primórdios da humanidade estamos em meio e contribuímos com as evoluções. As descobertas, as criações e invenções sempre foram uma constante na vida das pessoas. O ser humano quer buscar algo que ao mesmo tempo parece estar ao seu alcance pela sua inteligência e em contrapartida através das suas buscas anseia pelo não desvendado como se fosse a resposta sobre as indagações a respeito do mistério de estar e permanecer vivo. O desconhecido interpela, incita, provoca a ação em favor de uma resposta que seja adequada às inspirações mais íntimas que cada ser traz em seu interior. Onde está a origem da vida, então? Qual o significado que ela tem para cada pessoa?
Daí a importância de que todos aqueles que são compromissados com a educação façam o esforço de trabalhar a partir da sua formação, para que as diversas matizes a respeito da significação do sentido da vida seja abarcado de maneira a valorizar o que todas a Tradições Religiosas dizem.
O mito, segundo a Enciclopédia Britânica do Brasil[1], “constitui uma realidade antropológica fundamental, pois ele não só representa uma explicação sobre as origens do homem e do mundo em que se vive como traduz por símbolos ricos de significado o modo como um povo ou civilização entende e interpreta a existência.”
O ser humano anseia desvendar o seu fim último, indaga-se de onde veio, o que faz aqui neste mundo e para onde vai, essas perguntas são pertinentes durante sua breve vida. Sua busca é em prol do seu desenvolvimento cultural, social, psicológico. E o interessante é que cada pessoa busca do seu jeito, segundo a crença na qual foi iniciado ou na qual fez a opção. O que importa é o sentido da vida, almejado, ansiado por todos independente da condição étnica, social ou cultural.
O mito é fantasia, porém é concretude. Mito é a extensão do anseio, do desejo do ser humano de explicar e ser explicado, de entender e de ser entendido.
De acordo com VIESSER[2], mito-mythos – advém do grego, que significa etimologicamente fábula. Significando fábula, torna-se algo que é transmitido oralmente por nossos antepassados, tendo como base a fidelidade do repasse na transmissão das narrativas; para que o ser humano possa compreender a realidade na qual vive e assim, para que construa seu conhecimento acerca do que acredita. A existência humana em sua essência é uma fábula, onde o que se é não está escrito. Pode-se prever alguma coisa, mas nunca delimitar em certezas estáticas, pois o ser humano é dinâmico, ativo. Com o passar do tempo faz parte da historicidade dos outros e vai construindo a sua de maneira criativa, única, peculiar.
Já temos nos deparado com inúmeras ferramentas que apontam experiências que vêm tentar ajudar o ser humano a construir-se como pessoa. O mito é, seguindo esta idéia, mais uma delas que, alargam de maneira extraordinária as opções para o fim buscado. Ele materializa o que não é concreto. Tem a função de explicar algo que não se vê, mas que se acredita. Com este intuito, busca-se aqui oferecer, através desta abordagem a quem lê, uma oportunidade de interpretar de maneira rica e criativa como o mito se aplica na vida humana, a partir é claro, da atuação nas entrelinhas feita por indução do Ensino Religioso. Ele está aí como uma ferramenta que auxilia a destrinchar, a clarificar, a trazer à tona, ao alcance das pessoas, com a precisão mais eficiente possível, o que está subentendido na cultura religiosa na qual está inserido e ou mesmo o que há em outras culturas. Não dá para fechar os olhos ou recusar-se a perceber que as crenças que envolvem o que é o campo de trabalho do Ensino Religioso, é exclusivamente matéria para que ele se desenvolva se aprimore e contribua para a harmonia entre as culturas e religiões.
O mito colabora, quando se trata também da religiosidade das pessoas, ele está incutido na mente humana, é fato indispensável na existência humana. O mito envolve o ser humano em sua teia e faz com que os fatos do passado sejam parte do seu presente, mostra que a ação e a vida humana estão interligadas. O mito “envolve acontecimentos supostos, relativos a épocas primordiais, ocorridos antes do surgimento dos homens, ou com os “primeiros” homens[3].
Segundo Eliade[4], a tentativa de definir mito é a seguinte, “o mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares....o mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos...o mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir...” [5]

1.1.        O Mito e seu objeto


O objeto do mito são as diversas situações em que se procura dar sentido ao mundo[6]. É mediação entre o sagrado e o profano. É verdade escatológica e tem o ser humano como o ponto de ligação entre a realidade e o seu sentido último, a sua transformação última. O mito transcende a experiência do senso comum, e a razão. O mito não precisa de demonstração. Por isso, é uma linguagem apropriada à religião. Abrange maior amplitude de mensagens, desde atitudes antropológicas muito imprecisas, até conteúdos religiosos, pré-científicos, tribais, folclóricos ou simplesmente anedóticos[7].
O ser humano na busca incessante em desvendar o mistério de sua existência tenta compreender esta realidade através dos mitos que lhe são apresentados desde seu nascimento; ou pelo menos, convencer-se de que o existir não é um acaso.
Sendo o ser humano repleto de questionamento a respeito de tudo que o cerca, cabe a ele se envolver na complexidade de sua vida, buscando as inúmeras alternativas que enobrecem e valorizam sua existência. Conhecendo a existência da diversidade de culturas, e que há uma infinidade de mitos através dos quais as pessoas se apóiam, Ele se direciona para um itinerário que remete a compreensão e o prepara para que se adapte ao mundo em que vive de maneira pessoal e coletiva.
O mito só fala daquilo que realmente aconteceu do que se manifestou, sendo as suas personagens principais seres sobrenaturais, conhecidos devido aquilo que fizeram no tempo dos primordios[8]. Os mitos revelam a sua atividade criadora e mostram a “sobrenaturalidade” ou a sacralidade das suas obras. Em suma os mitos revelam e descrevem as diversas e frequentemente dramáticas eclosões do sagrado ou sobrenatural no mundo. É está eclosão, ou melhor dizer, desabrochamento do sagrado (sobrenatural), que funda, que dá origem ao mundo tal como ele é hoje. Sendo também graças à intervenção de seres sobrenaturais que o homem é o que é hoje. Ainda segundo Eliade:
“O mito é considerado como uma história sagrada, e portanto uma história verdadeira, porque se refere sempre a realidades. O mito cosmogónico é verdadeiro porque a existência do mundo está aí para o provar, o mito da origem da morte é também verdadeiro porque a mortalidade do homem prova-o...e pelo fato de o mito relatar as gestas dos seres sobrenaturais e manifestações dos seus poderes sagrados, ele torna-se o modelo exemplar  de todas as actividades humanas significativas[9]”. 
Para Eliade o homem arcaico, “é resultado de um número de eventos míticos... que constituem uma história sagrada” [10], ou seja, é o que é, porque entes sobrenaturais permitiram que fosse assim; já para o homem moderno, ainda segundo Eliade, é como é hoje, porque houve contribuição de toda a sociedade; desde o descobrimento do fogo até os acontecimentos maléficos ou benéficos ocorridos com a humanidade o fazem ser um sujeito que está à mercê de tudo o que ocorre no passado e presente e que isso contribuirá para os que futuramente passarem por aqui, ou seja, a vida está repleta da rica característica da história.

1.2.        Por que estudar o Mito?


O ser humano dentro de sua perspectiva de ser em relação, busca o autoconhecimento, interage e interfere no meio em que vive. Portanto, busca um envolvimento com o Transcendente como forma de encontrar e assumir sua identidade; por isso a compreensão dos mitos presente na vida humana é relevante: de acordo com Eliade “conhecer os mitos é aprender o segredo da origem das coisas” [11], é identificar de maneira inteligível como o sentido existe e como encontrá-lo no cotidiano. Desse modo, o conhecimento torna-se claro, passa da mente para o coração, a partir do momento que realmente se vivencia e conhece o que é buscado, encontra-se o que se procura.
As ações humanas são reflexos dessa busca diante de todas as situações que surgem no seu cotidiano. Cada solução almejada perante o que é aparentemente inexplicável ou sem nexo, revela seu desejo de estar à procura do sentido para sua existência. Com isso, a transcendência, o querer ir além do natural torna-se companheiro na jornada terrena do ser humano: em suas ações e utopias, mesmo sem que ele próprio o saiba; daí as crenças, superstições, mitos incutidos e mesclados em sua existência.
De acordo com o PCNER[12] “... pelo espírito de reverência às crenças alheias (e não só pela tolerância) desencadeia-se o profundo respeito mútuo que pode conduzir a paz.” [13] Sob a perspectiva do ser em relação, abre-se campo para uma miscelânea de descobertas; faz-se necessário conhecer as mais diferentes crenças que surgem e conseqüentemente abrir-se para o novo que desponta em cada pessoa e aqui, em cada aluno oriundo das mais diversas realidades, sobretudo quando se fala em nível de Brasil. O Ensino Religioso, na escola, tende a unir as mais diferentes culturas, ou dimensões religiosas, a fim de que haja entendimento mútuo e a aquisição de novos conhecimentos a respeito das diversas religiões existentes.
A reverência e o respeito à maneira do outro acreditar e manifestar sua fé, é um paradigma a ser estudado com comprometimento, sem preconceitos, pois que este vem enfatizar não a visão sob determinado ângulo, mas sim, vem “desmistificar” o que foi se construindo no sentido negativo em relação às tradições religiosas, enquanto ponto de partida para um entendimento mais harmonioso entre as pessoas.

1.3.        Mito e Ensino Religioso


É o Ensino Religioso que “costura” o mito que cada um cria, expande e alarga horizontes, motiva para o respeito. Se cada um é formado para viver com propriedade sua crença, este acaba respeitando o diferente do outro, porque acaba compreendendo que todos buscam respostas iguais que supram sua necessidade de transcender, mas é claro, de maneira diferente e este é um direito que não pode ser negado a ninguém.
Para Eliade,“... a religião mantém a ‘abertura’ para o mundo sobre-humano[14], ou seja, a religião contém valores absolutos para todas as atividades humanas, nas quais o ser humano se confronta com o mistério compreendendo a linguagem que o mundo lhe oferece. Para tal explicação, é imprescindível que se identifique os modelos que os mitos lhe revelam, a fim de que se construa significação ao mundo, levando-se em conta que o que se busca é despontar para as idéias de “realidade, de valor e de transcendência”[15].
O mito que envolve o ser humano precisa ser realmente “desmistificado”; nada de complicação e sim buscar entender a complexidade impossível de se ignorar. Implantar a harmonia e o enriquecimento mútuo ao invés da hegemonia de uma tradição religiosa. É difícil tal caminho, mas o encontro com o Transcendente perpassa pela experiência com o outro, portanto é caminho necessário. Toda ação transcendental interpela e possibilita refletir e agir em prol do outro: a alteridade também tem a ver com respeito, com valorização do diferente. Essa é ou deveria ser uma das missões do Ensino Religioso na vida das pessoas.
O fenômeno religioso dentro da diversidade religiosa existente se fundamenta fazendo-se imprescindível ser reconhecido como a ação mítica entre as pessoas. Ao trabalhá-lo, dá-se oportunidade para que a construção da liberdade na prática da sua fé seja cada vez mais incentivada e valorizada. Todos têm direito de ter ou optar pela religião que quiserem, pois segundo CAMPBELL[16], “toda religião é verdadeira, de um modo ou de outro” [17], mas faz-se necessário compreendê-la em sua essência, não criando suas próprias metáforas. O Ensino Religioso, diz em sua prática que é muito bom que o conhecimento a respeito seja externado para outras pessoas: todo “conhecimento é patrimônio da humanidade”[18], logo, a socialização só trará benefícios para todos.
A função da escola, além do conhecimento sistematizado é contribuir para que o conhecimento religioso esteja ao alcance dos alunos. A escola é formadora, portanto sua participação no cotidiano das pessoas é um marco importante para a abertura às novas conquistas nesse campo. Quando a aprendizagem é desenvolvida de maneira integral, a criança conhece a si, reconhece-se e conhece o outro, nisto consiste a educação de qualidade que trabalha a partir do seu próprio mito. Cabe à escola conduzir o Ensino Religioso sob uma reflexão crítica, na qual se estabelece significados, fazem-se comparações, orienta-se para a compreensão da dimensão religiosa na qual o educando está inserido em sua concepção de mundo. A escola ajudará para que haja comprometimento com a construção do sentido da vida que terá como desfecho a experiência concreta com o Transcendente.
Cabe aos educadores trabalhar com variedades de metodologias que despertem e auxiliem a motivação interna do educando para o conhecimento. Despertando neles o interesse por saber o porquê dos diferentes mitos existentes na vida das pessoas e o porquê a eles devotam tanta importância.
É preciso cautela, cuidado, para não magoar ou insinuar qualquer postura que venha ferir a maneira que cada um tem de buscar e refletir sobre os mitos que envolvem a origem de sua vida, de sua morte e para além da morte; o encontro com o Ser Superior.[19]
O mito enquanto fato da vida diária da humanidade traz e sempre trará desafios a serem desvendados e trabalhados na educação das pessoas[20]. O Ensino Religioso é a área que vai conduzir, reger a ação a fim de conseguir harmonizar os anseios religiosos que estão guardados no âmago de cada ser; o conhecimento das diferentes tradições religiosas só tende a trazer benefícios. O mito que envolve o que parece ser inatingível sob o olhar humano é o segredo que motiva e apela para a busca da felicidade e conseqüentemente do sentido da vida humana[21].
Não há humanidade sem crença, sem uma fé. Não há humanidade sem o mito, sem ser ou estar inserida num mito. Pois a verdade se veste de muitas caras e assim a visão é mais ampla que a compreensão natural. O sonho pela paz será alcançado à medida que os passos são dados com consciência e clareza do que se procura apresentar e assimilar. O mito enquanto reflexo da “certeza” sobre o desconhecido abre portas para a descoberta de si e do outro como participante indispensável na grande jornada da vida rumo a realização plena[22].








[1] Enciclopédia Britânica do Brasil. Publicações. Rio de Janeiro, São Paulo, v. 10, 1997. p. 85.
[2] VIESSER, Lizete Carmem. Fundamentos Pedagógicos do Ensino Religioso. IESDE, Curitiba: 2005. p.85.
[3] Enciclopédia Britânica do Brasil. Publicações. Rio de Janeiro, São Paulo, v. 10, 1997. p. 86.
[4] Escritor e historiador romeno nascido em Bucareste, Romênia, considerado o mais importante e influente especialista em história e filosofia das religiões, ficou conhecido pelas pesquisas que empreendeu sobre a linguagem simbólica das diversas tradições religiosas.
[5] ELIADE, Mircea. Aspectos do mito. Edições 70, Lisboa, 1989. p. 12-13.
[6] ELIADE, Ibidem..
[7] ELIADE, Ibidem.
[8]ELIADE, Ibidem, p. 12-13
[9] ELIADE, Ibidem, p. 13.
[10]ELIADE, Ibidem, p. 16. 
[11] ELIADE, Ibidem, p. 18.
[12] Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso Edições AM São Paulo, 1997.
[13] Ibidem, pg. 20.
[14] Ibidem, p. 123.
[15] Ibidem, p. 128.
[16] Joseph Campbell nasceu em 26 de março de 1904 e cresceu em White Plains, Nova Iorque. Pesquisador de mitologia e religião comparada.
[17] CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: ed. Palas Athena.1990. P. 59.
[18] Ibidem.
[19] Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Religioso Edições AM São Paulo, 1997. P. 20.
[20] Ibidem.
[21] BRASIL, Elizandra dos Santos e DMENGEON, Ivone de Lourdes, Ensino Religioso: o mito como contribuição na educação humana. www.gper.com.br/documentos/00123_mito.pdf , acessado dia 07/07/2011.
[22] BRASIL, Ibidem.

Conceitos, perspectivas e abordagens


Para o historiador das religiões, toda manifestação do sagrado é importante; todo rito, mito, crença ou figura divina reflete a experiência do sagrado e, por conseguinte implica as noções de ser, de significação e de verdade.
É difícil imaginar de que modo o espírito humano poderia funcionar sem a convicção de que existe no mundo alguma coisa de irredutivelmente real; e é impossível imaginar como a consciência poderia aparecer sem conferir significado aos impulsos e às experiências do homem. A consciência de um mundo real e significativo está intimamente ligada à descoberta do sagrado. Por meio da experiência do sagrado, o espírito humano captou a diferença entre o que se revela como real, poderoso, rico e significativo e o que é desprovido dessas qualidades, isto é, o fluxo caótico e perigoso das coisas, seus aparecimentos e desaparecimentos fortuitos e vazios de sentido.[1]
Em suma, o sagrado é um elemento na estrutura da consciência, e não uma fase na historia dessa consciência. Nos mais arcaicos níveis de cultura, viver como ser humano é em si um ato religioso, pois a alimentação, a vida sexual e o trabalho têm um valor sacramental. Em outras palavras, ser – ou, antes, torna-se – um homem significa ser “religioso”[2]
A maioria das pessoas tem alguma idéia do que seja “religião”. Costuma-se pensar essa definição como crença em Deus, espíritos, seres sobrenaturais, ou na vida após a morte. É possível pensar, ainda, esse conceito como o nome de algumas das grandes religiões mundiais: Cristianismo, Hinduísmo, Budismo ou Islamismo. Embora parte do senso comum sobre o conceito de “religião” aplique-se aos estudos dos fenômenos e sistemas religiosos, eles são insuficientes para estudos científicos.[3]
O próprio termo “religião” originou-se da palavra latina religio, cujo sentido primeiro indicava um conjunto de regras, observâncias, advertências e interdições, sem fazer referência a divindades, rituais, mitos ou quaisquer outros tipos de manifestação que, contemporaneamente, entendemos como religiosas. Assim, o conceito “religião” foi construído histórica e culturalmente no Ocidente adquirindo um sentido ligado à tradição cristã. O vocábulo “religião” - nascido como produto histórico de nossa cultura ocidental e sujeito a alterações ao longo do tempo – não possui um significado original ou absoluto que poderíamos reencontrar. Ao contrário, somos nós, com finalidades científicas, que conferimos sentido ao conceito. Tal conceituação não é arbitrária: deve poder ser aplicada a conjuntos reais de fenômenos históricos suscetíveis de corresponder ao vocábulo “religião”, extraído da linguagem corrente e introduzido como termo técnico.
Por isso, uma definição para uso acadêmico e científico não pode atender a compromissos religiosos específicos, nem ter definições vagas ou ambíguas, como, por exemplo, definir “religião” como “visão de mundo”, o que pressuporia que todas as “visões de mundo” fossem religiosas. Do mesmo modo, se “religião” é definida como “sagrado”, a questão torna-se saber o que é “sagrado” e o seu oposto, o “profano”. Outras definições são muito restritivas: a definição “acreditar em Deus” deixa de fora todos os politeísmos e o Budismo, enquanto a crença numa realidade sobrenatural ou transcendental também não satisfaz, por não ser comum a todas as culturas religiosas.[4]
A definição mais aceita pelos estudiosos, para efeitos de organização e análise, tem sido a seguinte: religião é um sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e culturais específicos[5].
Aqui, é necessário fazer duas observações: de um lado, é importante ressaltar que, nas línguas de outras civilizações e culturas distintas do Ocidente pós-clássico, não existe um termo para designar “religião” (no caso da tradição hindu, por exemplo); de outro, que todas as culturas conhecidas possuem manifestações que costumamos chamar de “religião”. Isto significa pressupor que pode existir uma religião sem essa conceituação, ou que o nosso conceito de “religião” é válido para determinados conjuntos de fenômenos nas culturas onde aparecem, mas não se distinguem como “religiosos” no interior de outros universos histórico-culturais. Assim, o conceito de “religião” deve levar em conta a variedade dos fenômenos que costumamos chamar de “religiosos”.[6]
Segundo o dicionário Ilustrado das religiões de SCHWIKART,[7] Religião é difícil de ser definida, já que está presente em todos os tempos e em todas as culturas, sob as mais diversas formas. Religião tem a ver com as questões fundamentais do homem: Quem sou eu? De onde vim? Por que e para que eu vivo? O que devo fazer? O que vai acontecer comigo depois da morte? São questões a respeito do transcendente, do divino, do sagrado. - A origem do termo religião tem várias explicações.
Segundo alguns, vem de “religare” = reatar. Segundo outros, vem de “relegere” = reler, observar conscienciosamente; lembra o respeito devido às prescrições da religião romana.
JOHNSON[8], Em sua definição nos diz que tal como todas as Instituições sociais, religião é definida sociologicamente pelas funções que desempenha em sistemas sociais. De modo geral, é um arranjo social constituído para promover uma maneira compartilhada, coletiva, de lidar com aspectos desconhecidos e incognoscíveis  da vida humana, com os mistérios da vida, morte e existência, e com os dolorosos dilemas que surgem no processo de tomar decisões de natureza moral. Como tal, a religião fornece não só respostas a duradouros problemas e perguntas humanos, mas forma também uma das bases da coesão e da sociedade sociais.
ABBAGNANO,[9] Nos diz que Religião= (lat. Religio; in. Religion; fr. Religion; AL. Religion; it. Religione). Crença na garantia sobrenatural de salvação, e técnicas destinadas a obter e conservar essa garantia. A garantia religiosa é sobrenatural, no sentido de situar-se além dos limites abarcados pelos poderes do homem, de agir ou poder agir onde tais poderes do homem são impotentes e de ter um modo de ação misterioso e imperscrutável. 
Outra possíveis definições para religião é:
Uma estrutura de discursos e práticas comuns a um grupo social referentes a algumas forças (personificadas ou não, múltiplas ou unificadas) tidas pelos crentes como anteriores e superiores ao seu ambiente natural e social, frente às quais os crentes expressam certa dependência (criados, governados, protegidos, ameaçados etc.) e diante das quais se consideram obrigados a um certo comportamento em sociedade com os seus “semelhantes”[10].                                        
Fundamental para a realidade social da religião é a distinção estabelecida por DURKHEIM[11] entre o sagrado e o profano. O profano consistiria de tudo que podemos saber através dos sentidos. É o mundo natural da vida diária, que experimentamos como compreensível ou pelo menos, em última análise, como cognoscível. Em contraste, o sagrado abrange tudo que existe além do mundo da vida diária, natural, que vivenciamos com nossos sentidos. Como tal, o sagrado inspira sentimentos de respeito porque é considerado incognoscível e além das limitadas capacidades humanas de perceber e compreender. A religião é organizada principalmente em torno dos elementos sagrados da vida humana e cria condições para uma tentativa coletiva de construir uma ponte entre o sagrado e o profano.
Para Durkheim, o sobrenatural é uma noção tida geralmente como característica de tudo que é religioso. Entende-se por isso toda a ordem de coisas que ultrapassa o alcance de nosso entendimento; o sobrenatural é o mundo do mistério, do incognoscível, do incompreensível. A religião seria, portanto, uma espécie de especulação sobre tudo o que escapa à ciência e, de maneira mais geral, ao pensamento claro.[12]
Após tantas definições, percebemos que é preciso ficar atento aos usos e sentidos dos termos que, em determinada situação, geram crenças, ações, instituições, condutas, mitos, ritos, etc.
Estudar os fenômenos e sistemas religiosos como parte da cultura significa apreender um fator identificável da experiência humana, que se apresenta como imagens que passaram através de milhares de pessoas, ao longo de diferentes tradições, algumas modeladas nos santuários, outras nas universidades.
Religiões, religiosidades, experiências religiosas se expressam em linguagem e formas simbólicas. Saber o que foi experimentado, vivido e como isso pode ser compreendido exige a capacidade de identificar coisas, pessoas, acontecimentos, através da nomeação, descrição e interpretação, envolvendo conceitos apropriados e linguagem[13]. Atualmente, os estudos sobre religião e religiosidade valorizam os fenômenos religiosos de forma diversificada. Há o reconhecimento de que as questões religiosas permeiam a vida cotidiana como religiosidade popular, sob formas de espiritualidade que fornecem elementos para construção de identidades, de memórias coletivas, de experiências místicas e correntes culturais e intelectuais que não se restringem ao domínio das igrejas organizadas e institucionais.
Nenhuma tradição religiosa é “total”, nem existe um status de favoritismo de religiões[14].
Conhecer o lugar onde estamos e onde os outros estão em relação à fé e às crenças leva nos a desenvolver um sentido de proporção no amplo campo das religiões, religiosidades, experiências religiosas - onde todos devem ser ouvidos e respeitados. A diversidade se faz riqueza e deve conduzir à compreensão, respeito, admiração e atitudes pacificadoras.
Religião sempre foi um assunto de vida e morte, não somente em termos de suas próprias funções (batismos e funerais), mas também um assunto existencial decisivo para milhões de pessoas.
Em quase todas as religiões as experiências religiosas transcendentais ou divinas estão relacionadas diretamente ao sentido vida-morte, e sobre isso podem ser encontradas definições, tanto nos monoteísmos quanto nos politeísmos, procurando combater a desesperança e ocupando um grande espaço na realidade cotidiana de nosso tempo. Qual é o sentido da vida? De onde viemos? Para onde vamos depois da morte? Questões ainda e sempre fundamentais, para as quais livros foram escritos, esculturas e pinturas produzidas, poesias e músicas compostas que, nos últimos cinco mil anos, formaram um patrimônio cultural que pertence a todos e à história de cada um.

2.2. Religião e Ensino Religioso


A sociedade brasileira é caracterizada pelo pluralismo religioso e diversidade cultural, que se refletem nas escolas entre docentes e discentes. A nova LDB reconhece e considera esta realidade e este dinamismo escolar, e, no que diz respeito ao Ensino Religioso, prevê esta disciplina como parte integrante da formação básica do cidadão e garante o direito constitucional de liberdade de consciência e de crença[15].
A Lei número 9.475, de 22 de julho de 1997, assegura “o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo”. Se, por um lado, a lei assegura o direito à diversidade cultural religiosa, por outro lado, a prática dos educadores e das educadoras, em muitos casos, ainda está orientada pelo ensino confessional, no qual a atuação, em geral, ocorre a partir de um pressuposto cristão, desconsiderando as outras expressões religiosas[16].
Diante dessa realidade histórica, começam a surgir questionamentos e proposições para o ensino, com o objetivo de considerar e valorizar o pluralismo religioso e a diversidade cultural do nosso país, presentes na sala de aula. No que se refere ao Ensino Religioso, essa temática ainda não foi suficientemente abordada: a diversidade cultural e religiosa, em muitos casos, ainda não é considerada em sala de aula; não existem propostas concretas de como proceder o diálogo inter-religioso; o educador, a educadora ainda estão por demais atrelado e atrelada a sua confessionalidade, o que dificulta a abordagem, a sistematização e o diálogo com experiências diferentes; faltam conhecimentos dos elementos básicos que compõem o fenômeno religioso e o papel das tradições religiosas no contexto sociocultural; enfim, falta a compreensão das implicações da matriz cultural religiosa nesta disciplina[17].
A diversidade cultural e religiosa no contexto brasileiro é decorrente de um longo processo histórico influenciado principalmente, por aspectos políticos e econômicos, de ordem nacional e internacional. Remonta ao início da colonização em 1500, quando se dá o encontro desigual e problemático não só de três povos, mas de inúmeras identidades desenraizadas. Índios, negros e brancos não eram identidades uniformes, mas cada qual composta por inúmeros povos que apresentavam uma diversidade cultural e religiosa muito grande[18].
Além disso, não se pode desconsiderar que o quadro que hoje se apresenta sempre teve as influências das relações desiguais de poder que aconteceram no decorrer da história entre as diferentes etnias, obrigando essas diferentes culturas a viverem no mesmo espaço sob exploração, dominação e discriminação.
Esse processo, portanto, se apresenta como uma construção cultural e religiosa muito complexa, onde coexistem culturas singulares cujas origens estão ligadas a diferentes grupos étnicos, e apresentam características locais e regionais. Além disso, há uma permanente elaboração e redefinição da identidade nacional em sua complexidade devido ao entrelaçamento de influências recíprocas que ocorrem entre as culturas de todos estes povos.
Fazem parte dessa configuração social e cultural uma variedade de povos indígenas, cada um com suas peculiaridades e identidades; a imensa população de afro descendentes cujas origens se encontram em diversas etnias africanas; um numeroso grupo de imigrantes e descendentes de diversos continentes e uma variedade de grupos resultantes de “mestiçagens” como os caboclos e cafuzos.
Fazer a identificação de tipos de grupos existentes no Brasil atual é uma tarefa complexa devido à grande mobilidade que existe entre etnias, tradições e culturas. Além disso, um mesmo indivíduo pode identificar-se com diferentes grupos, com o mesmo sentimento de pertença devido à sua descendência múltipla.
No que se refere ao aspecto religioso, existe uma diversidade muito ativa de manifestações religiosas no contexto brasileiro, ligada essencialmente à multiplicidade de culturas e às variações e “cruzamentos” destas culturas.[19]
Vê-se, portanto, que a diversidade permeia a sociedade brasileira, onde ainda encontramos as características regionais; as diferentes formas de vida entre o campo e a cidade; diferentes modos de organização social nos diferentes grupos e regiões; diferentes processos migratórios; formas diversas de relação com a natureza, de vivência da religiosidade, de cosmo visões.
Tudo isso propicia à população brasileira vivências e respostas culturais e religiosas muito diferenciadas que implicam valores e propostas de vida distintas. Toda a complexa realidade se reflete na escola, onde a diversidade se faz presente diretamente nas pessoas que compõem a comunidade escolar.
Esse processo complexo presente na vida brasileira, geralmente é ignorado ou descaracterizado. Isto também acontece na escola, onde a diversidade é ignorada, silenciada ou minimizada.[20]
A escola também contribuiu para a disseminação de preconceitos através de conteúdos indevidos e errôneos, presentes em materiais didáticos e livros. Um exemplo encontramos nos dicionários, em que ainda hoje são reproduzidos conceitos e significados altamente discriminadores. Veja-se a palavra “selvagem”, que em geral tem o mesmo significado em todos os dicionários, como sendo: habitante das selvas, pessoa que não vive na sociedade civilizada mas que vive na selva, inculto, rude, grosseiro, não civilizado, que nasce sem cultura, não domesticado, pessoa sem convivência, facilmente se enfurece, etc.
Alguns ainda acrescentam a estes os termos: aborígine e tribo de índios. Nota-se, portanto, uma forte carga ideológica e discriminatória em relação aos povos indígenas, que são considerados sem civilização, sem cultura, rudes, grosseiros.
A escola, portanto, se encontra marcada por práticas, teorias e políticas educacionais que, além de desconsiderarem a diversidade cultural e religiosa, ajudaram a reproduzir preconceitos e discriminações no ambiente escolar.
Nos últimos anos, no entanto, existe uma verdadeira preocupação em reverter esse processo, para que currículo, formação de professores e professoras e pedagogias possam proceder ao “reconhecimento e valorização de características específicas e singulares de regiões, etnias, escolas, professores e alunos.” [21]
Nesse processo de superação da discriminação e exclusão, de valorização da diversidade e de construção de uma sociedade mais justa, livre e fraterna, o processo educacional se propõe a contribuir e “atuar para promover processos, conhecimentos e atitudes que cooperem na transformação da situação atual”,[22] visando novos comportamentos e novos vínculos em relação a todos os grupos que historicamente foram alvo de injustiças.
Nesse sentido, a escola tem um papel relevante a desempenhar, por um lado porque ela é um espaço onde acontece a convivência de crianças e adolescentes com distintas concepções, visões de mundo, valores, enfim, com diferentes culturas e religiões; por outro porque “é um dos lugares onde são ensinadas as regras do espaço público para o convívio democrático com a diferença[23] ; e ainda porque a escola apresenta conhecimentos sistematizados em que precisam estar necessariamente incluída a realidade da diversidade e pluralidade do Brasil.
Tendo em vista essa contribuição, a Pluralidade Cultural foi incluída nos Parâmetros Curriculares Nacionais como tema transversal a ser considerado no ensino. No Volume 10 esta temática é explicitada:
A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno e à aluna a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal[24]
Ao abordar o tema da Pluralidade Cultural em sala de aula, com vistas ao seu reconhecimento, valorização e superação de discriminações, se está atuando sobre um dos mecanismos de exclusão e, com isso, caminhando na direção de uma sociedade mais democrática - tarefa primordial do trabalho educativo voltado para a cidadania em sua plenitude.
Hoje, há o esforço de assegurar o Ensino Religioso como disciplina regular integrante do sistema escolar, onde não pode ser visto como o ensino de uma religião, ou das religiões, mas sim como disciplina centrada na antropologia religiosa.[25]
A escola deixa de ser um espaço unitário e coerente de um grupo, rompe com paradigmas e conceitos vigentes de educação, acolhendo novas possibilidades e manifestações.
Nesse contexto, o Ensino Religioso também busca a sua redefinição como disciplina regular do conjunto curricular.
O artigo 210, parágrafo 1º da Constituição garante: “O Ensino Religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”[26].
No dia 20 de dezembro de 1996 foi sancionada a nova LDB sob o nº 9.394/12/96 onde consta o texto sobre o Ensino Religioso, mas recebeu nova redação em 22 de julho de 1997, sob a lei nº 9.475, sendo esta a que está em vigor hoje: “O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo” [27].
1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.
2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.
Com a nova LDB, houve avanços significativos em termos de reconhecimento do Ensino Religioso como disciplina curricular normal do sistema de educação. Porém, a sociedade ainda está muito dividida em sua aceitação como tal, desencadeando os mais variados debates.
Em geral, encontramos duas concepções divergentes, uma a favor e outra contra a sua inclusão no currículo escolar, ambas, no entanto, com a mesma alegação de que estão salvaguardando o direito democrático da liberdade religiosa. Entre aqueles que defendem a inclusão, ainda se encontram compreensões diferentes nos termos em que este ensino dever ser concretizado. Alguns ainda o defendem como Ensino de uma Religião ou Catequese[28].
Da parte das Igrejas, também há posições contrárias. Algumas tendências  concebem o Ensino Religioso não mais como elemento eclesial na escola, mas como uma oportunidade de um diálogo entre os educandos e as educandas de diversas denominações religiosas, em respeito mútuo e evitando o proselitismo.
Dentro dessa visão, o conhecimento religioso começa a sair do âmbito das igrejas, para adquirir espaço e reconhecimento como conhecimento humano disponível para todos. Por isso, a escola, mais especificamente o Ensino Religioso, deve ser um espaço para a construção e sociabilização do conhecimento religioso[29].
Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso apresentam a seguinte fundamentação: “Entende-se também que a Escola é o espaço de construção de conhecimentos e principalmente de socialização dos conhecimentos historicamente produzidos e acumulados. Como todo o conhecimento humano é sempre patrimônio da humanidade, o conhecimento religioso deve também estar disponível a todos os que a ele queiram ter acesso”[30].
O Ensino Religioso, portanto, não está separado das demais áreas de conhecimento e por isso deve estar relacionado com os demais componentes curriculares do sistema de ensino numa proposta de interdisciplinaridade, onde contribui, de forma ativa e crítica, para o diálogo e construção conjunta da prática educativa[31].
Nesse sentido, ele pode contribuir para uma visão e uma prática mais integradas dos conhecimentos humanos, onde a religiosidade não é mais dissociada dos demais saberes e onde acontece uma íntima relação entre fé e vida.
Outro aspecto importante que os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso abordam é a integração do aspecto religioso à cultura: “Cada cultura tem, em sua estruturação e manutenção, o substrato religioso que a caracteriza. Este o unifica à vida coletiva diante de seus desafios e conflitos”[32]. Neste sentido, cada cultura vai responder e expressar a religiosidade a sua maneira e produzir conhecimentos diferentes.
O Ensino Religioso necessita cultivar o respeito por todas as manifestações religiosas, não privilegiar certas expressões, mas ressaltar a alteridade.
É importante ressaltar que o fenômeno religioso como elemento inerente a todas as culturas tem como pressuposto não só o transcendente, mas também a experiência do cotidiano onde acontece a vida em suas relações com o mundo, com a natureza, com a sociedade e consigo mesma.
A religiosidade perpassa a vida concreta das pessoas e das culturas, influenciando suas relações, concepções, valores, conceitos, atitudes, pensamentos e emoções.
No entanto, muitas vezes é acentuado o seu aspecto transcendente. Também os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso em muitos momentos colocam este acento, esquecendo que valores como transcendência e imanência fazem parte da visão dualista do mundo ocidental, inexistente em outras culturas[33].
Desta forma, precisa-se superar uma visão que acentua a transcendência do fenômeno religioso, para assumir uma postura em que a religiosidade se efetiva na construção da realidade vivencial, na vida concreta[34].

   2.3. Ética e o Ensino Religioso


A palavra Ética pode ser definida como:
Ética s.f. (gr. ethike) 1. Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É a ciência normativa que serve de base à filosofia prática. 2. Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão.[35]
Em Filosofia “A ética ou moral (...) é o estudo da atividade humana com relação a seu fim último, que é a realização plena da humanidade”. [36]
De um modo geral, a Ética caracteriza um conjunto de normas, regras a serem seguidas por qualquer profissional, de qualquer área, quando do exercício de suas funções.
Em se tratando do professor de Ensino Religioso, a Ética deve, além de evidenciar um conjunto de princípios que norteiam seu trabalho, ser um ponto de partida na busca do sucesso dos alunos, aqui considerados cidadãos de direitos e deveres comuns.
Para Aguiar, “a ética enxerga o trabalho como sendo algo que deve ser realizado com amor e consciência (...) Em nível individual, devemos enxergar no trabalho a maior fonte de autoridade moral[37].
Para Savater “o professor deve ser esse fomentador, mostrando ao grupo como participar de controvérsias e como buscar posições que não tenham dono. Ele pode ser um exemplo, tendo firmeza em suas posições, mas disposto a debatê-las”[38].
Ora, como contrabalançar prática pedagógica com vivência religiosa? Como inserir e reafirmar valores morais?
Meksenas, afirma: Entre professores, o que é certo ou errado; bem ou mal; justo ou injusto acaba determinado pela grande moral ou ideologia. Porém e contraditoriamente, a moralidade do professor pode adquirir formas de maior independência frente à ideologia, pois aquela pequena moral profissional, ao originar-se da prática cotidiana do experimentar a profissão, permite concordar ou discordar com os prepostos da grande moral ou ideologia [39].
Ideologias à parte, o Ensino Religioso, nas escolas, assumindo-se como laico e não proselítico, respeitando o direito que cada indivíduo deve primar pelo não privilégio de umas religiões em detrimento de outras e pelo despertar de consciências, reflexões e reconstruções que se mostram urgentes na atualidade.
Assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente visa defendê-los, também os professores, como todas as profissões, deveriam ter um código de ética, não para ser usado como escudo moral, mas para ser parâmetro ético de conduta na relação com alunos, escola, comunidade, pais[40].
Na ausência de um código que delimite a metodologia de trabalho do professor de Ensino Religioso, dentro de sala de aula, na escola, no convívio com seus colegas de profissão, é impossível compreender a complicada relação entre os valores a serem discutidos, transformados ou inseridos, entre a moral e as diversidades existentes nestes contextos e entre as possibilidades ou impedimentos que ocorrem durante o processo de ensino e aprendizagem.
E, aqui, quando falamos em código, pensamos tão somente na necessidade premente da instituição de leis que possam reger a complexa rede que cerca as determinações do ato de ensinar, formar pessoas, instruir, conduzir.
Estas leis devem considerar que o educador primeiro perceba-se como tal, aceite sua condição de formador de opiniões, novas concepções e releituras de mundo, permitam-se apresentar suas visões, questionando, provocando e alertando os indivíduos quanto aos seus papéis na construção diária de um mundo melhor e intervenha, a todo instante, no intuito de cumprir com os objetivos centrais desta disciplina, quais sejam redimensioná-la, estruturá-la sob o ponto de vista dos anseios e necessidades do educando enquanto participante e transformador da sociedade na qual está inserido, propor que se comunguem os mesmos pensamentos em prol do bem da coletividade.
Enquanto esta legislação não existe, e por causa disso, cabe ponderar que a prática pedagógica utilizada nas aulas de Ensino Religioso deve contemplar suas diretrizes, se pautando na consciência, capacidade e profissionalismo do professor.[41]
As aulas de Ensino Religioso devem abranger as experiências de cada aluno, a pluralidade existente dentro de sala de aula. Para isso acontecer, o profissional da educação poderia fazer um levantamento das crenças religiosas existentes em sala, para depois elaborar seu plano de aula de forma a impetrar este objetivo.
Esta prática deve ser baseada em uma Ética própria da profissão. Fundamentados em pressupostos que deveriam compor um código, professores de Ensino Religioso devem procurar se qualificar, se capacitar. A própria inserção desta disciplina na Constituição Federal já implicou na movimentação destes profissionais ou daqueles que pretendiam sê-lo. O professor, neste caso, deve ser um mediador, mais do que um interventor[42].
Os conteúdos a serem trabalhados devem ir além das dimensões básicas.
Sabendo que na escola convivem sujeitos totais e não apenas mentes sem história, sem corpo, sem identidade, também são equacionadas como conteúdos de docência formar a curiosidade, a paixão de aprender, a emoção e vontade de conhecer, de indagar a realidade que vivem, sua condição de classe, raça, gênero, sua idade, corporeidade, memória coletiva, sua diversidade cultural e social[43]
A Ética do profissional da educação, mais que uma legislação dentro de um código a ser criado, deve ser contextualizada sob um conjunto de normas que norteiem os seus trabalhos, com especificidades próprias da função.
O resgate do prazer de ensinar supõe algo que vá além da construção de parâmetros e programas. Estes contêm os princípios básicos para o exercício do magistério.
Professores de Ensino Religioso, à exceção de alguns corajosos que se arriscam em inovações pedagógico-didáticas, ainda estão impregnados de posicionamentos tradicionais, que se destacam pelo teor carregado de indiferença e desrespeito à pluralidade religiosa brasileira.
Ainda predomina a idéia de que somente as religiões que fazem parte do Ecumenismo podem sustentar o que deve ser ensinado na escola, desconsiderando a atual diversidade observada entre os alunos.
Em sala de aula estudam católicos, protestantes, espíritas, budistas, muçulmanos, ateus e outros seguimentos, incluindo as ramificações existentes em cada religião.
Todos os indivíduos, homens e mulheres, professores e alunos, recebem ao nascer uma sucessão de informações acerca de preceitos morais ou valores que vão carregar em suas vidas pessoais e em sociedade. São ensinamentos que indicarão a que grupos eles pertencem, qual a cultura que seguem, de que modo vivem e em que acreditam.
Dentre estas indicações estará a percepção do lhe é sagrado, daquilo que comanda seus atos, que rege suas intenções, que transcende, que não se pode explicar, em que se crê indiscriminadamente.
É a ética que deverá orientar o trabalho do professor. Ao aceitar que existem fenômenos que transcendem as práticas coletivas, ele estará admitindo que, embora seja necessário e fundamental considerar os valores importantes para o todo, existem aqueles nos quais não se deve interferir, os individuais, os familiares, culturais e religiosos.
O respeito pela vida religiosa dos outros, por suas opiniões e seus pontos de vista, e um pré-requisito para a coexistência humana. Isso não significa que devemos aceitar tudo como igualmente correto, mas que cada um tem o direito de ser respeitado em seus pontos de vista, desde que estes não violem os direitos humanos básicos” [44]
Enfim, Ética e profissionalismo devem, fundamentalmente, caminharem juntos, quando o objeto em questão estiver intimamente ligado ao aprendizado, à aquisição e reafirmação de valores morais e religiosos e à transformação interna e externa do homem, enquanto indivíduo social.

3.O Mito no Ensino Religioso


Todo desenvolvimento integral de que o ser humano é protagonista ou não, passa por representações abstratas, as quais tornam possíveis a ele portar-se diante da vida de maneira a extrair da sua experiência terrena, uma fagulha que o sustente para o sentido buscado como resultado das inquietações que estão encerradas desde antes de sua existência no mais profundo do seu ser. Toda pessoa mostra-se como que através de um véu. Traz em si parte de mistério e Do Mistério, da Transcendência. Sua dinamicidade se move de maneira excepcional, que às vezes foge de um instante de vislumbramento diante da maravilha que se é e que se pode vir a ser. E é com o objetivo de parar, entender-se, compreender os outros e o Outro que este momento de reflexão se faz propício.[45]
Tal como já dissemos no primeiro capítulo, a reverência e o respeito à maneira do outro acreditar e manifestar sua fé, é um paradigma a ser estudado com comprometimento, sem preconceitos, pois que este vem enfatizar não a visão sob determinado ângulo, mas sim, vem “desmistificar” o que foi se construindo no sentido negativo em relação às tradições religiosas, enquanto ponto de partida para um entendimento mais harmonioso entre as pessoas.
 As semelhanças com a religião mostram que o mito se refere; ao menos em seus níveis mais profundos, a temas e interesses que transcendem a experiência imediata, o senso comum e a razão: Deus, a origem, o bem e o mal, o comportamento ético e a escatologia (destino último do mundo e da humanidade). Crê-se no mito, sem necessidade ou possibilidade de demonstração[46].
O mito colabora quando se trata também da religiosidade das pessoas, ele está incutido na mente humana, é fato indispensável na existência humana.
Dentre as grandes interrogações que o homem permanece incapaz de responder, apesar de todo o conhecimento experimental e analítico, figura, em todas as mitologias, a da origem da humanidade e do mundo que habita. É como resposta a essa interrogação que surgem os diferentes tipos de mitos.
É comum encontrar nas várias mitologias a figura de um criador, um demiurgo que, por ato próprio e autónomo, estabeleceu ou fundou o mundo em sua forma atual. Os mitos desse tipo costumam mencionar uma matéria preexistente a toda a criação: “o oceano, o caos (segundo Hesíodo[47]) ou a terra” (nas mitologias africanas).
Ao lado da preocupação com o enigma da origem, figura para o homem, como grande mistério, a morte individual, associada ao temor da extinção de todo o povo e mesmo do desaparecimento do universo inteiro. 
Analisemos o mito da criação de matriz afro, segundo a Cartilha diversidade religiosa e direitos humanos[48]:
“...no principio havia uma única verdade no mundo. Entre Orun (mundo invisível, espiritual) e o Aivê (mundo natural) existia um grande espelho, assim tudo que estava no Orun se materializava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no mundo espiritual se refletia exatamente no mundo material. Ninguém tinha menor dúvida em considerar todos os acontecimentos como verdades. E todo cuidado era pouco para não se quebrar o espelho da Verdade, que ficava perto do Orun e bem perto de Aiyê.
Neste tempo, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado que repetia sem parar, a mão do pilão tocou no espelho, que se espatifou pelo mundo, Mahura correu desesperada para se desculpar com Olorum (o Deus Supremo) Qual não foi a surpresa da jovem quando encontrou Olorum calmamente deitado à sombra de um iroko (planta sagrada, guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas de Mahura com toda atenção, e declarou que, devido à quebra do espelho, a partir daquele dia não existiria mais uma verdade única. “E concluiu Olorum: ‘De hoje em diante, quem encontrar um pedaço de espelho em qualquer parte do mundo já pode saber que está encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho espelha sempre a imagem do lugar onde ele se encontra.”[49]
Assim, como este, existem inúmeros outros mitos que trazem ao entendimento indagações a respeito do novo, da criação, da descoberta. É o ser humano querendo explicar-se e buscando explicação acerca do que não conhece, mas deseja conhecer e por que não tocar e ser tocado? O Ensino Religioso dará e será oportunidade ao educando (a) para que este se encontre e busque o que pode saciar sua sede infindável do sentido da vida, do sentido a si mesmo e a tudo que o rodeia, formando conceitos e tendo explicações para os seus questionamentos.




 



[1] MIRCEA, Eliade, La Nostalgie dês origines, p. 7s.
[2] MIRCEA, Eliade, Historia das crenças e das idéias religiosas, da idade da Pedra aos mistérios de Elêusis, Zahar, Rio de Janeiro, 2010.
[3]DA SILVA, Eliane Moura, Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania, rever, pcsp, n 2, 2004.
[4] DA SILVA, Eliane Moura, Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania, rever, pcsp, n 2, 2004.
[5] Ibidem.
[6]DA SILVA. Ibidem.
[7] SCHWIKART, Georg , dicionário Ilustrado das religiões . Aparecida, São Paulo : O Santuário, 2001.
[8] JOHNSON, Allan G. Dicionário de sociologia: Guia pratico da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.
[9] ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes ,2007.
[10] AZEVEDO, M. C. Modernidade e cristianismo. O desafio à inculturação. São Paulo: Loyola, 1981, p. 336.
[11] DURKHEIM, Émile, As formas elementares da vida religiosa, São Paulo, Abril cultural, 1973.
[12] DURKHEIM, Ibidem, p. 5
[13]DA SILVA, Eliane Moura, Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos teóricos e a educação para a Cidadania, rever, pcsp, n 2, 2004.
[14] DA SILVA. Ibiem.
[15] BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997.
[16] MARKUS, Cledes. Monografia de Culturas e Religiões: Implicações Para o Ensino Religioso, apresentada para a Pós-Graduação Lato Sensu, Especialização em Ensino Religioso, do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia, da Escola Superior de Teologia. São Leopoldo, RS, 2002. p. 9.
[17] MARKUS, Ibidem. p. 9.
[18] MARKUS, Ibidem. p. 28.
[19] MARKUS, Ibidem. p. 29.
[20] MARKUS, Ibidem. p. 29.
[21] BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília: MEC/SEF. 1997, p. 33.
[22] Ibidem. p. 24.
[23] Ibidem. p. 23.
[24] Ibidem. p. 19.
[25] MARKUS, Cledes. Monografia de Culturas e Religiões: Implicações Para o Ensino Religioso, apresentada para a Pós-Graduação Lato Sensu, Especialização em Ensino Religioso, do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação em Teologia, da Escola Superior de Teologia. São Leopoldo, RS, 2002. p. 33.
[26] BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, p. 85.
[27] CARON, Lurdes (org.) e Equipe do GRERE, O Ensino Religioso na nova LDB, p. 27.
[28] MARKUS, p. 36.
[29] Ibidem, p. 37.
[30] BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso, p. 21.
[31] MARKUS, p. 37.
[32] BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso, p. 19.
[33] MARKUS, p. 38.
[34] MARKUS, Ibidem.
[35] BARSA PLANETA INTERNACIONAL LTDA. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2001.
[36] MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia. São Paulo: Paulus, 1980.
[37] AGUIAR, Emerson Barros de. Professor vê a Ética na vida do profissional. Disponível em: . Acessado em 09 nov. 2007.
[38] SAVATER, Fernando. Da Ética como método de trabalho. Revista Nova Escola. São Paulo: Editora Abril Cultural, Julho/2002. p. 46.
[39] MEKSENAS, Paulo. O lugar na Ética no trabalho do (a) professor(a). www.espacoacademico.com.br. Disponível em 10/11/2007.
[40]LIMA, Raymundo de. Falta um código de ética ao professor. Disponivel em: . Acessado em: 10 nov. 2007. p 3.
[41] BARBOSA, Flávio Henrique; PORCÍNIO, Renilda Aparecida Lemes e PARREIRA, Tatiana Maria Vital. Revista da Católica, Uberlândia, a ética e o ensino religioso: reflexões sobre o trabalho do professor. Disponível em www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica Acessado em: 06 set. 2011.
[42] BARBOSA, Flávio Henrique; PORCÍNIO, Renilda Aparecida Lemes e PARREIRA, Tatiana Maria Vital. Revista da Católica, Uberlândia, a ética e o ensino religioso: reflexões sobre o trabalho do professor. Disponível em www.catolicaonline.com.br/revistadacatolica Acessado em: 06 set. 2011.
[43] ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre. Petrópolis: Vozes, 2000.p 120.
[44] GAARDER, Jostein, HELLERN, Victor, NOTAKER, Henry. O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.p 17.
[45] BRASIL, Elizandra dos Santos e DMENGEON, Ivone de Lourdes, Ensino Religioso: o mito como contribuição na educação humana. www.gper.com.br/documentos/00123_mito.pdf , acessado dia 07/07/2011.
[46] CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mi to. São Paulo: ed. Palas Athena.1990.
[47] Hesíodo foi um dos dois grandes poetas gregos da idade arcaica. Junto com a de Homero, sua obra constitui um dos pilares sobre os quais se edificou a identidade helênica.  Viveu por volta de 800 a.C. na Beócia, região situada no centro da Grécia.
[48] BRASIL. Cartilha Diversidade Religiosa e Direitos humanos, Nov. 2004.
[49] BRASIL, Elizandra dos Santos e DMENGEON, Ivone de Lourdes, Ensino Religioso: o mito como contribuição na educação humana. www.gper.com.br/documentos/00123_mito.pdf , acessado dia 07/07/2011.


As tradições religiosas fazem parte da existência dos homens por se constituírem na primeira ferramenta da nossa humanização. Desde sua origem, as religiões procuram humanizar os homens, é por meio da percepção do sagrado que a vida foi se estruturando, a religião foi a primeira a utilizar os mitos como ferramenta para a compreensão da vida, os mitos serviram de base para os textos sagrados que estruturaram a organização pessoal e social dos homens, as religiões propiciaram a estes homens um processo de descobertas, primeiro da finitude, fazendo-os perceber que a morte faz parte da vida, e que a vida propicia um processo contínuo de aprendizado, em que o ser religioso é aquele que sabe reconhecer seus potenciais e seus limites como meio de manter uma relação equilibrada com o seu semelhante, pois aquele que conhece seus potenciais não se sente ofuscado com o potencial do outro, aquele que reconhece seus limites, é mais compreensível com o limite do próximo, não significando entretanto que ele tenha que aceitar esses limites, pois aí está a beleza das tradições, que orienta na superação constante desses limites, tanto no plano individual como coletivo, objetivando a humanização dos indivíduos e, conseqüentemente, estruturando o grupo social para possibilitar uma vida digna e justa nos moldes do paraíso, que significa um lugar onde o mal não existe.[1]
Na sua função civilizadora, as tradições apontam as características do homem religioso. Ser religioso é vivenciar a regra de ouro, comum a todas as tradições religiosas, ‘Não faças aos outros, o que não queres que te façam’, o ser religioso é aquele que pratica o amor, a justiça, a caridade, a benevolência, a compaixão, a humildade, a alteridade... Ser religioso é reconhecer a beleza da vida, é admitir a nossa condição de aprendizes, sendo que aprendiz é aquele que descobre que a vida é extremamente dinâmica, que fazem parte dela a alegria e a tristeza, a saúde e a doença, perdas e ganhos, a felicidade e o sofrimento, e que, se soubermos aprender com esses princípios contraditórios, estaremos mais bem preparados para esta longa jornada que é viver.
É preciso que o profissional de Ensino Religioso esteja atento a importância de estudar e compreender os Mitos, assim como o seu processo, sua origem, sua estrutura, sua finalidade, pois estes estudos podem em muito contribuir nas aulas de Ensino Religioso assim como pra sua formação pessoal, docente e cultural Os mitos estão presentes em todas as culturas e tradições Religiosas, sendo necessária uma leitura histórica, antropológica, sociológica e filosófica, assim sendo só o senso comum não basta, é preciso analisar os mitos em sua conjuntura.
A partir desses elementos, provocaremos uma releitura do ser religioso no cotidiano da sociedade, favorecendo a professores e estudantes da educação básica uma compreensão mais ampla dos elementos que compõem a educação do profano e do sagrado nas ações individuais e coletivas.


[1] MIRCEA, Eliade. Tratado de história das religiões. Lisboa: Cosmos, 1977.p 69-71.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


AZEVEDO, M. C. Modernidade e cristianismo. O desafio à inculturação. São Paulo: Loyola, 1981, p. 336.
BARSA PLANETA INTERNACIONAL LTDA. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2001.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 12. ed. São Paulo: Ática, 1995.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Religioso. 3. ed. São Paulo: Ave-Maria, 1997.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual. Brasília: MEC/SEF. 1997
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