segunda-feira, 21 de março de 2011

ESCATOLOGIA

  • Por que vivemos?
  • Qual o sentido da vida?
  • Será que existe sentido?
SEGUNDO A FILOSOFIA

“O ser humano não tem sentido, mas deve criar através de sua vida” (Albert Camus)
“A existência humana não tem sentido nenhum” é absurda. (Sartre)

Será isto mesmo ou será que o ser humano tem um sentido a mais.


A partir da fé qual a resposta?

Sim! A existência humana não só tem sentido, mas ela tem sentido em Deus.

Em que consiste este sentido?
Será que estamos simplesmente existindo ou será que temos uma tarefa a cumprir?

Deus estabeleceu um diálogo conosco que culmina num convite e numa vocação

Introdução:




ESCHATON = singular grego – futuro absoluto

Escatologia = estudo do futuro absoluto; estudo sobre as realidades posteriores à vida terrena do homem e a historia da humanidade = doutrina cristã sobre o futuro e a consumação.



A escatologia compreende dois aspectos principais: a escatologia cósmica e a escatologia individual .

Pretende-se em primeira instância tratar algumas das questões de referência comunal e cósmica. Por outro lado, pretende-se dar mais ênfase aos aspectos individuais da temática. Neste estudo são os aspectos individuais que serão enfocados, pois são nestes elementos da temática que o indivíduo se vê em necessidade pessoal de estar relacionado devidamente com Deus. A escatologia reúne um apanhado de conceitos que sofreu muita transformação ao longo do trajeto revelacional do povo de Israel. As expectativas escatológicas foram em muito modificadas através do tempo, incluindo o caso de muitas correntes que nem mantinham conceitos propriamente escatológicos .



Não existe um só conceito unificado e sistemático na Bíblia referente a questões de escatologia, mas vários conceitos com enfoques diferenciados. Estas diferenças se devem ao caráter progressivo da revelação em termos da escatologia. Ao mesmo tempo, pode-se delinear que há em várias passagens do Antigo Testamento, da literatura judaica até o primeiro século e do Novo Testamento uma consciência “de que Deus agirá de forma decisiva no futuro,” fazendo surgir um contexto diferente e novo . Em muitos casos essas conceitualizações são expressas em termos de uma volta a um tempo primordial ou ideal, como no Éden .





No estudo da escatologia, muito se tem dito e publicado sobre o livro de Apocalipse.

Grande parte dos posicionamentos referidos é simplesmente feitas em ignorância.

Pode ser um tanto mais difícil determinar com precisão o que se pode dizer com certeza, mas deve ser um alerta para todo intérprete a vasta literatura que tem sido escrita e descartada, especialmente entre aqueles que querem definir com base nesta carta a predição da época e as condições do fim do mundo. Vários “intérpretes” já pronunciaram erroneamente a data certa do fim do mundo. As palavras de Jesus deveriam ser o suficiente para o cristão: “Vigiai, pois ninguém sabe quando será aquele dia, a não ser o Pai”. Certos assuntos não cabem ao ser humano definir. Afinal, foi para um relacionamento de fé que fomos convocados.





A escatologia clama por uma integração com:



Cristologia, Eclesiologia, Liturgia, Historia da Igreja, teologia Eucarística, teologia do Espírito Santo, teologia da Trindade.



Antes de começar este estudo sobre as ultimas realidades do homem e do cosmos é importante um retorno a textos fundantes de nossa fé; como a reflexão sobre a criação que esta presente no livro do Gênesis. O tema abrange as realidades ultimas do homem e do cosmos: ressurreição, céu – inferno, vida – morte e Reino de Deus. Estas categorias estão presentes em toda a historia do povo de Deus, chegando a sua máxima revelação em Jesus Cristo, centro no qual toda vida humana e cósmica recebe a sua explicação.

Gên. 1,4ss = Criação – Homem – Mulher – Cosmo.


Jardim = vida plena; sonho de todo ser humano


Pecado = serpente = ser igual a Deus; ruptura com a vida

Fratricídio = desarmonia homem/natureza

Aqui começa o projeto de salvação para resgatar o homem desta situação de ruptura com a vida.

Nosso estudo vai tentar responder qual é o sentido da vida para este homem que rompe com Deus.

Ef. 1,3-14 => Jesus ressuscitado no centro da historia dando sentido para o que acreditamos hoje.

Escatologia Individual = a morte de cada ser humano, juízo – inferno – paraíso (os novíssimos) do homem.

Na doutrina católica, os últimos acontecimentos que afetarão cada indivíduo no fim de sua jornada terrestre são chamados de "Novíssimos".

São eles: morte, juízo particular, purgatório, inferno e paraíso.

O estudo dos Novíssimos também é conhecido como Escatologia individual, pois trata exclusivamente do estudo individual do destino das almas após a morte, diferenciando-se assim da Escatologia coletiva, que visa estudar os últimos acontecimentos relativos a toda a humanidade, segundo a mesma óptica cristã.

O termo "Novíssimos" é de origem bíblica, e pode ser encontrado no livro do Eclesiástico (também conhecido como Sirac), presente nos dias de hoje apenas nas edições católicas da Bíblia: "Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás". (Eclo 7,40). Desde os primeiros séculos de tradição cristã, é de costume nos mosteiros e abadias o exercício mental da lembrança da morte e suas conseqüências, como forma de disciplinar o coração e cultivar suas virtudes.

Definição:

Escatologia: Estudo do futuro absoluto, estudo sobre as realidades posteriores a vida do homem e a historia da humanidade.

Escatologia é Esperança =/= desespero.

A ressurreição de cristo vem para libertar não só o homem, mas sim todo o cosmos.

Reino de Deus definitivo só se dá no momento Escatológico.

O estudo escatológico não esta tanto preocupado em responder a pergunta sobre o modo como acontecerão as ultimas realidades.

Ela quer provocar as pessoas a tomarem uma atitude diante de sua realidade.



Não são informações históricas descritivas, nem são visões proféticas antecipadas para o futuro, mas é teologia no sentido mas estrito do termo; fala do absoluto de Deus em relação ao homem e do homem em relação a este absoluto. (como perdão, esperança, mas também como justiça). Esse núcleo é vestido de imagens, reflexos de experiências, traduzidas dentro do espaço hermenêutico em que vive.



1- Uma correta concepção da historia.

A Escatologia refere-se ao que já aconteceu e aquilo que esta por vir, (a presença de Cristo no mundo) = fim já apareceu



• ESCATON (Jesus é entendido como o grande ESCATON)

A historia deve ser entendida não como o movimento de um relógio celestial, mas como o reino de atividade significante de Deus. O tempo na Bíblia nunca é entendido como o Kronos filosófico, abstrato, mera sucessão de instantes, mas é o Kairós de Deus. A doutrina bíblica de Deus é do Deus que se revela na historia. A historia é o período Kairós de Deus.



Kronos = impessoal e vazio de propósito.

Kairós = possui um propósito definido, (a realização humana). Tempo forte de Deus.

Transformação do kronos em kairós para fazer com que o kronos seja um tempo forte de Deus, reino de Deus na historia.

• Pressupostos para se tratar a escatologia.



a) A atenção às utopias históricas: o ser humano é marcado por utopias que se caracterizam como impulsos que nos levam para frente. Essas utopias mudam de acordo com o contexto vital de cada pessoa.



Utopia no Aurélio: sistema ou plano que parece irrealizável. Reino de Deus = utopia.

São as utopias que nos trazem vida, devemos alimentar as utopias.



b) A centralidade da mediação absoluta e do mediador absoluto.

Mediação = intervenção – ato de mediar

Mediador = diz-se do que intervém – medianeiro

Necessidade de um mediador => ruptura do pecado

Humano, separação entre criador e criatura (Gn 3,4)

Desarmonia entre criação e criação (Gn 3,18-19)

Rompimento entre os seres humanos (Gn 4,1-6)

A redenção do humano é elaborada por Deus dentro de uma economia da salvação.

Através dos profetas, Deus forma seu povo na esperança da salvação, na expectativa de uma aliança nova e eterna destinada a todos os homens, e que será impressa nos corações (Jer 31,31). Os profetas anunciam uma redenção radical do povo de Deus, a purificação de todas as suas infidelidades (Ez 36).


Uma salvação que incluirá todas as nações (Is 49,5-6). Serão sobretudo, os pobres e humildes do Senhor os portadores desta esperança.

Para realizar o resgate da criação, o Verbo eterno se faz carne e se faz mediador desta restauração e habita entre nós. (Fundamentação Bíblica, Jo 14,6; Tm2,5; Hb8,6)

A possibilidade da mediação tem suas raízes na doutrina das duas naturezas:

(Concílio de Calcedônia 451 d.C) => um e mesmo Cristo filho do Senhor unigênito, em duas naturezas, reconhecível sem mistura, sem mudanças, sem separação.

Jesus de Nazaré é o paradigma do novo Homem, a função soteriológica e escatológica da morte de Cristo.

Paulo insiste que Cristo viveu as condições terrestres e morreu por todos (2Cor5,14).

Na fraqueza da cruz, Deus agiu de forma definitiva e total para a salvação do homem/mulher; na sua impotência nos foi comunicado a força de Deus.

Salvação acontece sempre que o modo de existir e de viver de Jesus for imitado pelos homens.

A cruz de Cristo aponta para a ressurreição; as cruzes da historia, quando assumida a exemplo de Jesus, aponta para a ressurreição, para a plenificação desta historia.

O projeto reino de Deus acontece dentro da historia humana, este projeto, portanto, não é somente de avanços, mas, compreende retrocessos, visto que o agir humano é determinante neste processo. O projeto é dialético, há tensões que o faz hora ampliar-se, hora regredir. Valores do reino de Deus se ampliam e diminuem. Neste momento vemos que valores do anti-reino crescem, esta é a tensão que podemos chamar de já e ainda não, vivemos entre o reino de Deus que já chegou, mas, que ainda não chegou. Como compreender isso? Isso acontece porque o ser humano esta dentro do processo de fazer crescer o reino de Deus, esta é a nossa vocação. Mas corremos um perigo que é importante conhecer, é o perigo de impedirmos o reino de acontecer. A mesma pessoa que pode fazer crescer os valores do reino, também pode barrar este processo de crescimento do reino de Deus.

Um exemplo típico do que digo é quando vem alguém com uma boa idéia dentro de determinado grupo ou dentro da Igreja, e, por alguma razão, muitas vezes pelo simples fato de não ser minha a idéia, ou de não gostar da pessoa eu barro aquela idéia de se concretizar. Estas ações cortam a proposta de fazer crescer o reino, quando agimos assim, estamos sendo anti-reino. O seguimento de Jesus é que nos torna construtores do reino.

Cristo morto e ressuscitado se torna sacramento daquilo que acontecerá com todos os sofredores da historia presente.

Nós somos chamados a ser construtores do reino, este é o sentido de nossa vocação, mas este sentido não para aqui, não somos apenas trabalhadores do reino, somos chamados por Deus a participarmos da vida plena da existência humana, e esta vida plena só se alcança a partir da experiência da morte e ressurreição. Nossa vida plena começa na morte.

A Morte:

A morte é apresentada hoje como algo acidental e não algo natural. Isso nos torna despreparado para a morte.

O luto é algo terapêutico e saudável, pois nele nós vamos saber o que nós perdemos e não quem perdeu.

No luto nós revivemos, relembramos a pessoa perdida.

Sem morte não tem herança. A vida plena é nossa herança.

As crianças tem que ser levadas ao velório, para entender a morte, o ritual da morte é importante porque nos faz vivenciar o momento da despedida e da partida.

No momento da perda, o silencio dos amigos ajuda muito, só estando presente, não é necessário dizer nada.

Não é fácil preparar a criança para a morte, mas é necessário; na morte todo ser humano vai ser transformado. É como uma semente que se transforma em arvore.


As pessoas estão fugindo da morte

‘Das colunas das revistas aos outsoors que vemos nas ruas, rostos jovens riem e sorriem para nós. Quase não se apresenta reportagens sobre asilos de velhos. O Brasil é nação jovem. O que sabemos sobre a morte se reduz a um conhecimento geral que, é muitas vezes reprimido. Não se fala da morte.

Não existe morte

O que lemos sobre pessoas acidentadas e vítimas fatais só se referem aos outros, nunca a nós mesmos. A morte está confinada ao outro lado dos muros dos hospitais e das UTIs, ou, então, presta-se ao sensacionalismo de alguns telejornais.

As pessoas não gostam de falar da morte, mesmo em caso de falecimento de familiares mais ou menos chegados. E apesar disso, encontramos na morte o grande mistério do ser humano. Se questionarmos o que vem a ser o homem, então a resposta a essa pergunta dependerá sempre, de algum modo, da maneira como nos posicionamos ante a morte de determinado homem. Não ante a morte do homem como indivíduo, mas, sim, ante a própria morte como fato.

Fugir da reflexão sobre a morte significa fugir da reflexão sobre o homem.

O ser humano com toda a sua grandeza e a sua fraqueza, com a sua procura do infinito e a lembrança constante das limitações que lhe são impostas pela sua condição humana. Talvez seja isso que nos impede de tratarmos, frente a frente, da questão da morte.

Se a morte significa o fim propriamente dito, então é certo dedicar-se à vida e esquecer a morte: assim, não há morte porque eu a reprimo, e com razão. Assim, a morte não existe porque é apagada do meu consciente para que eu possa viver. O que conta então é a vida e nada mais. E à medida que a vida se mostra sem sentido, a morte também se torna fato absurdo que, de repente, surpreende o ser humano.

Ocupar-se da morte torna-se um ocupar-se com a vida

Quem se esquivar da discussão sobre a morte se esquivará da discussão sobre o que chamamos vida.

“morrer é parte integrante da vida, tão natural e previsível quanto nascer”. “mas, enquanto o nascimento é motivo de comemoração, a morte transforma-se em terrível e inexprimível assunto, a ser evitado de todas as maneiras na sociedade moderna. Talvez porque nos lembra a nossa vulnerabilidade humana, apesar de todos os avanços tecnológicos”. Portanto, para esquivar-se dessa aniquilação, é simplesmente lógico aspirar ao prolongamento da vida. Mas o sentido da vida humana não pode ser deduzido a partir da própria duração da vida. Muito pelo contrario, o prolongamento da vida, por sua vez, nos leva de volta à pergunta sobre o sentido deste prolongamento.

A esperança na vida após a morte elimina o medo ou não?

O homem se vê diante de uma contradição fundamental a este respeito.

De um lado, ele deve aceitar a própria morte; de outro, tem uma vontade imanente de viver.

Percebe-se claramente, que esta contradição só pode ser eliminada mediante uma atitude que proporcione a esperança num “depois da vida”.

Contudo, nem mesmo aceitando uma vida após a morte desaparece a indagação, afinal, “Que divindade é esta, que, tendo criado o ser humano, deixa-o, depois, tronar-se comida para vermes?” Assim formulou o problema o famoso filosofo Kierkegaard.

A fé transmite uma imagem de Deus aos fiéis, e estes serão sustentados por ela no momento do morrer. Esta mesma imagem, contudo, poderá tornar-se mais um motivo de medo e angustia. Não dá para negar que, em geral, as pessoas tem medo da morte, e, em muitos casos, este medo não está sendo diminuído pela sua crença religiosa em Deus, mas aumentando.

Nos deparamos assim com o grave fato de que a fé, em muitos casos, não tira a angústia das pessoas diante da morte nem diante do que vem depois.

Ao analisarmos o caso mais de perto, podemos verificar que, ainda hoje, estamos colhendo os frutos de uma catequese que, durante séculos, trabalhou demais com uma pedagogia centrada na ameaça religiosa, ao invés de acentuar o amor.

A conseqüência deste fato é um medo muitas fezes reprimido e inconsciente, diante de tudo aquilo que vem depois da morte.

Esse medo encontra as suas razões nos seguintes conteúdos religiosos:

• Uma falsa imagem de Deus (Deus vingador)

• Ameaças metafísicas indiretas

• Ameaças apocalípticas de um Deus punidor

• Ameaças de ser seduzido pelo diabo

• Ameaças de acabar no inferno

A atitude psicossocial diante da morte

Uma pessoa que morre quebra a rotina daqueles que a rodeiam. Pelo menos isso acontecia até o começo deste século, quando o morrer se dava junto à família. Como se dizia antigamente, depois de ter posto em ordem seus assuntos terrenos, o moribundo se deitava para morrer, rodeado de amigos, familiares e empregados da casa.

O falecimento era um ato público que, com toda a sua dignidade e solenidade, expressava a seriedade do que acontecia ali.

Philippe Ariès, em seu livro O homem diante da morte, relata que “os médicos higienistas do fim do século XVIII começaram a se queixar da multidão que invadia o quarto dos moribundos. Até desconhecidos da família podiam entrar na casa e no quarto do moribundo.

A morte é vivida e vivenciada como acontecimento de caráter totalmente público e, justamente por não ser oculta, torna-se ainda mais comovente.

“Ainda no inicio do século XX, digamos até a guerra de 1914, em todo o Ocidente de cultura católica ou protestante, a morte de um homem modificava solenemente o espaço e o tempo de um grupo social, podendo estender-se a uma comunidade inteira, como, por exemplo, a aldeia. Fechavam-se as venezianas do quarto do agonizante, acendiam-se as velas, punha-se água benta: a casa enchia-se de vizinhos, de parentes, de amigos murmurantes e sérios. O sino dobrava a finados na igreja de onde saía a pequena procissão que levava o Corpus Chisti...”

Com a instituição da assistência médico-hospitalar, com a transformação das condições habitacionais, do ambiente social e das convenções da sociedade, sobretudo no contexto das cidades grandes e das aglomerações industriais, tudo mudou. A morte perdeu o seu caráter de cerimônia publica e tornou-se ato de caráter cada vez mais privado.

O hospital também se tornou o lugar normal para se morrer. Isso não significa só a privatização do morrer, mas, na maioria dos casos, a alienação do morrer.

Desta maneira, o morrer fica desprovido de seu sentido e assim não estamos mais conscientes do fato de a morte ser parte integrante da vida.

O morrer perdeu sua dimensão humana, ou esta dimensão foi reprimida. O falecimento de um ser humano se transforma, deste modo, em caso clínico, e a morte em falência da arte da medicina.

Morrer perdeu a dimensão humana

Mais e mais vozes tem-se manifestado, nos últimos anos, contra a coisificação do ser humano nas Utis de clinicas especializadas em atendimento de casos fatais.

Devemos perguntar-nos porem, onde há lugar para a religião em tudo isso. Que resposta dar às perguntas sobre o sentido da morte?

Parece que para muitos, a morte alcança o significado de humilhação para todos aqueles que se esforçam por salva vidas.
A experiência da morte é uma das mais generalizadas e múltiplas em nosso continente: morte física e moral, individual e coletiva, como acontecimento inevitável e fruto da limitação humana... Cerca de 110.000 pessoas morrem de fome por dia no mundo, totalizando 50.000,000,00 milhões por ano, das quais 17 milhões são crianças menores de 5 anos.

É tarefa urgente de uma teologia libertadora despertar a consciência para o significado humano e sacramental daquele acontecimento que chamamos “o fim da vida”

Devemos redescobrir o Deus da vida, para que assim a morte se transforme em vida; em vida real que se realiza na historia concreta, transformando esta historia naquele reino da vida que Jesus Cristo denominou o Reino de Deus.




Comportamento do moribundo em face do morrer



Em tempos normais, agimos sem realmente jamais acreditar em nossa própria morte; como se acreditássemos piamente em nossa imortalidade física. Tencionamos dominar a morte.

Quando estamos para morrer, isto não é mais possível.

E assim o ser humano se encontra perante o conflito fundamental entre aceitar este fato e a sua vontade imanente de autoconservação. “Saber que o homem é comida para vermes. Este é o terror: ter emergido do nada, ter um nome, consciência do próprio eu, sentimentos íntimos profundos, um cruciante anelo interior pela vida e pela auto-expressão e, apesar de tudo isso, morrer. Parece uma burla, pela qual um tipo de homem cultural se rebela ostensivamente contra a idéia de Deus. Que espécie de divindade criaria tão complexa e extravagante comida para vermes?”

O morrer do homem tem ou não tem um sentido?

A morte humana nada mais é que o inexplicável escândalo de uma vida que termina?

Ou será que esta morte deve ser encarada como novo começo?

No morrer de Jesus, assim como no de qualquer outro ser humano, surge o paradoxo insolúvel de que ali se finda algo que nuca mais e de modo nenhum podemos reencontrar nesta nossa vida aqui.



O comportamento genérico do moribundo diante da sua morte (cf. ELISABETH KUBLER-TOSS, pesquisadora em tanatologia)



5 fases



1. CHOQUE, INCREDULIDADE

Ele não quer aceitar o fato como verdadeiro

Isola-se.

Apesar disso, pode ser que ele gostasse de falar com alguém sobre sua morte iminente:

Regas:

1. A conversa deve realizar-se quando o moribundo a quer. (não quando o interlocutor a quer)

2. Ela deve ser interrompida quando o moribundo não mais a pode agüentar. (nesta fase, a flutuação entre aceitação e rejeição é normal.)

3. Não fugir, quando o doente quer falar; mas não forçar, quando ele não quer.



2. IRA, RANCOR, RAIVA, INVEJA

Por que logo eu?

Brigas com Deus e com o mundo

Uma fase difícil também para enfermeiras, médicos, amigos.

O moribundo se compara com outros:

Regras:

1. A ira do doente não é contra mim pessoalmente

2. Ser tolerante

3. Estar consciente de que as provocações do doente são manifestações de seu desespero



3. NEGOCIAÇÃO

Tentativa de prorrogar o inevitável (através de “promessas”).

Detrás deste comportamento se esconde muitas vezes o sentimento de culpa (importante para o sacerdote).



4. DEPRESSÃO

Sentimento de perda irreparável

Perda em direção ao passado: saúde, amigos, profissão, finanças... (significa grande ajuda quando acalmamos o paciente, mostrando que os problemas causados por sua doença estão resolvidos.)

Perda em direção ao futuro: O paciente se prepara para a perda de todas as coisas e de todos os homens que ele amou.

Regras:

1. O paciente tem o direito de ficar triste. (seria falso querer impedi-lo de formular sua tristeza.)

2. Deixá-lo exprimir sua tristeza. Ficar com ele, escutar sem dizer que ele não deve ficar triste.

3. Esta fase é necessária para o doente poder aceitar depois sua morte.



5. ACEITAÇÃO, APROVAÇÃO

O homem consente a morte

O moribundo nesta fase está calmo, ele aceitou.

Regras:

1. O moribundo precisa de nossa presença. (sem falar, gestos são importantes.)

2. Nesta fase, é muitas vezes a família que precisa de mais ajuda do que o moribundo.



Regra geral:

Ficar aberto às necessidades do moribundo

Nunca lhe destruir as esperanças

Aceitar quando ele quer falar sobre a morte

As fases podem ficar paralelas, não devem se seguir necessariamente uma após a outra

Na aproximação da morte, o moribundo reage como se tivesse um sistema interno que lhe sinaliza esta aproximação.



Diante deste fato inegável, chega ao fim tudo aquilo que as pesquisas da Psicologia e da Tanatologia ou da Medicina tem para oferecer.

O único discurso que ainda pode agir, agora, é o da fé.



O que deveria fazer uma pessoa que acompanha o moribundo?



a. ESTAR COM O PACIENTE

Só isso!

Hoje, sentimos constrangimento com uma pessoa que não está fazendo nada.

Mas aquilo de que o moribundo precisa é exatamente isso: UMA PESSOA QUE ESTEJA COM ELE.

b. A presença do sacerdote pode reduzir também a insegurança do pessoal hospitalar, que “nada mais pode fazer”.

c. A presença do sacerdote pode melhorar a vida interpessoal do moribundo.

d. A presença do sacerdote demonstra ao pessoal hospitalar e aos visitantes: ESTE MORIBUNDO É AINDA UMA PESSOA QUE MERECE ATENÇÃO.



Numa situação destas, uma teologia baseada na boa nova de Jesus Cristo é chamada a dar novo testemunho. Deve essa teologia testemunhar que o nosso Deus é o Deus da vida, denunciando as situações de morte. E, ao mesmo tempo, deve dar testemunho de que o sentido do morrer se relaciona inevitavelmente com o sentido da vida. Baseada nesta convicção, a fé em Jesus Cristo pode libertar do terror, em face da morte.



Vejamos o texto da 1Cor 15,12-18.20-22, ele tem todo o mistério da esperança humana e da lealdade de Deus.



Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns de entre vós que não há ressurreição de mortos?

E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou;

E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé;

E assim somos, também, considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.

Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou;

E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados;

E, também, os que dormiram em Cristo estão perdidos. Mas, agora, Cristo ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem.

Porque, assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.

Porque, assim como todos morrem em Adão, assim, também, todos serão vivificados em Cristo.



Nestas frases está fundamentado o que, como novo constitutivo, deve determinar a vida e a morte das pessoas: a fé em que aquele Deus da vida também é leal e conserva esta lealdade para com o homem para além da morte.



Deus ressuscita dos mortos!



Se ele assim procede, podemos então deduzir que isso não acontece apenas para tornar a impelir o homem ressuscitado para o nada, condenando-o. para tanto, não seria preciso que Deus primeiro o salvasse da morte.

Assim sendo, conclui-se ser possível vencer a angustia ante a condenação e o julgamento com ousada confiança básica naquele que faz reviver para a vida, e não para a morte;com ousada atitude de fé naquele Deus que só tem boas intenções para com o homem.

O Deus anunciado por Jesus é o Deus amoroso, “o qual faz viver os mortos e chama à existência as coisas que não existem” (Rm 4,17).

O homem é salvo, porque Deus o adotou como filho em Jesus Cristo.



Deus nos ama à maneira de Deus: SEM LIMITES.

E tudo isso porque Deus amou o ser humano como somente ele poderia amar, ou seja, infinitamente.



O homem é aceito e amado, apesar DE SUA CULPA.

Essa convicção requer coragem, exige a coragem de se confiar totalmente em Deus, de deixar “Deus estar aí para mim”. Isto foi o que Jesus fez, e sem se decepcionar.



Com isso, podemos dizer que: Não há nem haverá fim com a morte! Tampouco haverá na morte tirano vingativo, e sim o Deus que ama e perdoa. Não haverá choro apocalíptico nem ranger de dentes, e sim a feliz união com aquele que desde o inicio me amou.

Nesta verdade consiste a verdadeira boa nova que Jesus nos trouxe.



Uma fé confiante na salvação deve se transformar em pratica de vida

A primeira tarefa do Cristão não é cuidar de sua própria salvação. A primeira tarefa do cristão é trabalhar para que o reino de Deus se realize.



O medo da morte e do inferno, ainda hoje tão freqüente entre os cristão, manifesta que, neste contexto, o discurso teológico não atingiu mudança significativa de consciência em vastas camadas da população. Mas convém notar que já passou o tempo em que “as supostas mensagens cristãs puderam usar a morte como instrumento para a manipulação do ser humano, pintando a morte dos ateus com cores horripilantes”.



A superação da força opressiva do inferno liberta para a supressão dos infernos do mundo

Se a partir da visão do Cristo ressuscitado, o inferno e sua força opressiva perdem seu significado, é este fato então que libertará o homem, que poderá assim dedicar-se à superação dos infernos deste mundo.



• CONCEPÇÃO DUALISTA DO SER HUMANO

Alma é um termo que deriva do latim anima, (grego: psy•khé) este se refere ao princípio que dá movimento ao que é vivo o que é animado ou o que faz mover.

Religiosamente definida como um ser independente da matéria e que sobrevive à morte do corpo, que se julga continuar viva após a morte do corpo, podendo o seu destino ser a beatitude celestial ou o tormento eterno.

Segundo este ponto de vista, a morte é considerada como a passagem da alma para a vida eterna, no domínio espiritual.

As conotações que o termo "alma" geralmente transmite à mente da maioria das pessoas provêm primariamente, não do uso dos escritores bíblicos, mas da antiga filosofia grega.



HOMEM = CORPO + ALMA



• CONCEPÇÃO ATUAL

O termo hebraico para alma é né.fesh. Num sentido literal, exprime a idéia de um "ser que respira" e cuja vida é sustentada pelo sangue.

Os termos das línguas originais (hebraico: né•fesh; grego: psy•khé), segundo usados nas Escrituras, mostram que a “alma” é a pessoa, o animal ou a vida que a pessoa ou o animal usufrui.

As conotações que a palavra portuguesa “alma” geralmente transmite à mente da maioria das pessoas não estão de acordo com o significado das palavras hebraicas e gregas usadas pelos inspirados escritores bíblicos.

A Bíblia não diz que temos uma alma. ‘“Nefesh’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser.” — The New York Times, 12 de outubro de 1962.



HOMEM = EMOCIONAL + PSIQUICA + MATERIAL + COSMICA + HISTORICA + DIMENSÃO PESSOAL (EU)



• RESGATE DE IDÉIAS CHAVES

ESCATOLOGIA: pé no chão – realidade nova, preparada por Deus.

Escatologia é esperança de que a MORTE não é aniquilação, mas transformação.

Vencemos o dualismo da pessoa. Caminhamos para uma visão conjunta da pessoa humana.

Jesus ressuscitado – paradigma

SEMENTE = TEOLOGIA PAULINA

A semente lançada a terra, morre, seca, e neste momento gera vida nova.

Ressurreição no momento da morte.

Na morte, a alma não se separa do corpo, o ser humano é uma unidade que jamais poderia ser dividida em dois princípios, chamados corpo e alma. Conseqüentemente também não é possível que, na morte, uma alma se separe do corpo. A ressurreição da pessoa inteira acontece na morte.

Esta pessoa, na morte, entra em nova dimensão sem tempo, chamada eternidade. Neste momento, o tempo deixa de existir como dimensão existencial desta pessoa. Para ela, a morte significa “o fim dos tempos”.

Como não há tempo, não pode haver passagem de nenhum tempo entre um acontecimento e o outro. Por causa disso, é impossível uma alma ficar separada do corpo na eternidade, aguardando ali a ressurreição do corpo.

A ressurreição da pessoa humana em corpo e alma acontece no momento de sua morte, quando esta pessoa inteira e integralmente sai de sua ligação ao tempo e entra em nova dimensão, chamada eternidade.

A morte não é uma aniquilação do ser humano, mas uma transformação de todo o seu ser

Na morte, o homem inteiro está sendo transformado, o nome para esta transformação é RESSURREIÇÃO.

Na morte morre tudo aquilo que constitui o ser humano. A morte não é só a aniquilação do corpo, ela é, ao mesmo tempo, também uma aniquilação da alma espiritual.

Nosso Deus não quer a morte, ele dá nova vida àquele que está morto. Ele é um Deus da vida que ressuscita os mortos, e isso ele provou ressuscitando Jesus!

A morte não é um fim, mas uma profunda e completa transformação do ser humano em todas as suas dimensões. Mas apesar desta transformação, mantém sua identidade.
No final do processo do morrer, a vida vivida até então torna-se propriamente definitiva e inalterável daquele que a viveu. Durante a vida, nunca era assim. Sempre era possível recomeçar. Sempre era possível corrigir e refazer. Nada, de certa maneira, era definitivo, porque a vida sempre oferecia nova oportunidade, novo começo.

Com o fim da vida, esta possibilidade de recomeçar terminou.

Não se pode mais mudar nenhum dos atos nem as conseqüências destes atos realizados durante a vida.

Não é mais possível mudar a própria personalidade.

No momento da minha morte, eu sou exatamente aquilo que fiz de mim no decorrer da vida!

Neste sentido, podemos dizer que a morte põe o ser humano face a face com o que fez de si durante a vida.

Não há mais possibilidade de fugir de si mesmo ou de suas culpas.

Na morte o homem se torna definitivo e também tudo aquilo que ele fez se torna definitivo.

Na morte o homem conhece a si mesmo.

Na sua morte, a pessoa humana não se encontra com um soberano aterrador

Na sua morte, o homem reconhece pela primeira vez todo o seu ser.

Este conhecimento de si mesmo em todas as suas dimensões, no entanto, não é um conhecer isolado, individual e dirigido unicamente em si mesmo. Ele bem pelo contrario, é uma tomada de consciência dinâmica não só perante a pessoa em si mesma, mas também, e muito mais, perante Deus.

Na sua morte, o homem se encontra com Deus.

Com tudo o que fez de si no decorrer de sua vida, o homem se defronta com Deus. Ele se encontra com o amor de Deus como pessoa feita e definitivamente formada.

Defrontando-se com este amor, o homem reconhece tudo àquilo que fez de sua vida, e também tudo o que está devendo ainda.

Por ocasião deste acontecimento, o homem talvez reconheça pela primeira vez, com toda a clareza e perante o amor de Deus, o que “ele fez de si na sua própria liberdade: e o que, possivelmente, está muito distante do Deus criador é afirmativo.

É nesta situação, em que o homem não pode acrescentar mais nada à sua vida, porque já está morto, que entra de novo a boa nova de um Deus de amor.


É também nesta situação que vem a tona aquilo que na doutrina cristã se conhece pelo nome de “PURGATÒRIO”.

A convicção básica que se encontra nesta noção, tantas vezes mal compreendida ou rejeitada.

Deus quer a salvação do homem, e não sua perdição.



“não nos destinou Deus à ira, mas sim a alcançarmos a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo”. (1 Ts 5,9)



No primeiro e ilimitado encontro com Deus na morte acontece o seguinte: o ser humano, com suas centenas de possibilidades desperdiçadas durante a vida, com seus atos sempre limitados por seu egoísmo, com suas culpas e seus pecados, em poucas palavras, com as ruínas de seu plano de vida, malogrado em tantos pontos cruciais, justamente este homem se encontra diante de Deus. E reconhece o que, na realidade, Deus pretendia com ele e com sua vida e vê quão pouco realizou como ser humano. Contudo, não há mais possibilidade de se alterar coisa nenhuma.

Numa situação destas, resta somente uma coisa: entregar-se sem reservas a este Deus, admitindo que somente ele tenha a ultima palavra. Ele pode repudiar ou não, condenar ou não, como aquele momento no qual o ser humano descobre, de modo radical, a sua dependência inevitável de Deus.



Este Deus está disposto a oferecer ao homem “de graça”, também na morte, tudo aquilo que este ficou devendo.

Este oferecer, no entanto, não significa que Deus impõe algo de maneira determinista. Deus nunca se impõe! Deus sempre faz propostas.

Fica dentro da liberdade humana aceitar ou não, estas propostas.



Aceitar a proposta e os parâmetros de Deus, na morte, pode exigir uma profunda conversão. Tal conversão pode doer “como fogo”, (Purgatório).

Purgatório não tem duração temporal nem é lugar. Com isto, a pergunta sobre a duração do purgatório se torna irrelevante e provoca tantos equívocos, como supor que ele seja estado temporal e intermediário entre a morte e o juízo final.

O processo de conversão-evolução na morte, tradicionalmente chamado de purgatório, com certeza é um processo complexo, cujos elementos e dificuldades específicas dependerão, em grande parte, das características da personalidade construída na vida vivida. Neste sentido, o purgatório de fato é individual e particular, dependendo da vida que cada pessoa viveu antes de sua morte.



Mas o que acontecerá se o homem não quiser transformar-se?



• O que acontecerá se o ser humano não desejar ou não puder realizar esse ato de conversão e de fé?

• O que acontecerá se ele não estiver disposto ou, então, não for capaz de renunciar a si mesmo, de se converter e deixar tudo nas mãos de Deus?

• O que acontecerá se ele não quiser crer ou não puder mais crer que Deus o salvará?



A conseqüência seria sempre uma só:



O ser humano permaneceria fixado na sua situação de morte por causa da sua própria recusa de crer em Deus, ou então por ser incapaz de crer nele.



Também na morte, o homem tem a possibilidade de recusar o amor de Deus.

Não é Deus quem condena, mas o ser humano é quem se condena, rejeitando Deus.



O ser humano que não quer, ou então, que já não pode realizar o ato de fé exigido, dada a sua estrutura de personalidade demasiadamente fixada em si mesma, é a própria causa da sua condenação.



O fato de alguém livre e consciente não querer ser salvo, não diminui absolutamente a discrepância existente entre um Deus que ama e o fato de este Deus que ama deixar que sua criatura permaneça em tormento extremo como o do inferno. E justamente diante do amor de Deus parece-nos legítima a indagação se realmente não existe mais nenhum caminho que nos conduza para fora do inferno, ou melhor ainda, que, de antemão, já não passe por aí.







Haverá alguém na situação de inferno?



Quando o ser humano, com todas as suas decisões fundamentais, se torna definitivo, então podemos supor que a recusa diante de Deus tornar-se-á também definitiva.

Assim é obvio que, através da ação do homem e não pela condenação de Deus, é que se dá o distanciamento eterno de Deus.

Este distanciamento é exatamente a experiência essencial daquilo a que se dá o nome de inferno.



As raízes da noção de inferno encontram-se, sem dúvida, na idéia judaica de morada dos mortos, o xeol.

Os Padres da Igreja descreveram o fogo do inferno de maneira bem naturalística. Santo Agostinho e São Gregório seguiram o mesmo caminho: o fogo seria o fogo real com que Deus puniria os pecadores. Evidentemente esse fogo foi declarado como de natureza eterna.

O Catecismo Romano editado depois do Concílio de Trento e divulgado em 1566 menciona diferentes tipos de torturas infernais e acentua a tortura do fogo.

O Catecismo Romano editado em Roma no ano de 1930 afirma: “É teologicamente certo, apesar de não ser dogma, que o fogo com que os condenados do inferno são torturados seja fogo real ou corporal, não apenas fogo no sentido figurado”.

Somente nestes últimos tempos é que o tom das declarações a respeito do inferno começou a modificar-se, acentuando mais a seriedade da decisão de vida pela qual o homem é julgado. Assim é que podemos ler no sínodo das Dioceses da Alemanha Federal, formulado na 8ª Reunião Geral de 22 de novembro de 1975:

“Não ocultamos que a mensagem do juízo de Deus também fale do risco de perdição eterna. Essa mensagem proíbe que de antemão contemos com uma reconciliação e expiação para todos e para tudo o que fazemos ou omitimos. Assim, essa mensagem intervém sempre de novo e de maneira transformadora em nossa vida, trazendo a seriedade dramática em nossa responsabilidade histórica”.



A redenção é aquele ato no qual Deus, por inimaginável ato gratuito de amor, transforma o ser humano em justo.



No inferno, alguém acreditou que Deus o salvaria, e ele se entregou, sem reservas, a este Deus. Mas, se realmente assim for, então o inferno não está mais fechado. Se assim for, então é talvez por aqui que se encontra um caminho e uma possibilidade de salvação também daqueles que se condenaram a si mesmos.



A solidariedade do Deus crucificado abrange todos os homens, estabelecendo para todos comunhão definitiva além da morte. Esta comunhão, porém, se realiza de maneira totalmente diferente para os que aceitam o amor de Deus e para os outros, os mortos em sentido total e absoluto, para os que se negam a aceitar Deus.

Também para eles e com eles, Cristo permanece solidário, ficando com eles sem os forças. O amor de Deus nunca subjuga, ele acompanha. DEUS ESTÁ PRESENTE TAMBÉM NO INFERNO.

Ele está presente também com os que se autocondenam, solidário com eles até na sua última solidão (cf. Sl 139,8).



Céu: o destino final do ser humano

Deus quer a salvação de todos. O nosso ultimo destino, conforme a vontade de Deus é a salvação para uma vida plenamente evoluída em todos os sentidos. Uma vida em plenitude! A esta vida, tradicionalmente, dá-se o nome de “Céu”.

O que é então este céu, do qual tantos sabem tão pouco e que Paulo descreve com palavras entusiasmadas e enigmáticas, ao mesmo tempo, como “coisas que nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem” (1Cor2,9)?



• Salvação significa céu, isto é, ter vida em plenitude

O projeto final de Deus para o ser humano é este: “Que eles tenham a vida e que tenham esta vida em plenitude”.



• A vida só é vida plena quando vivida em comunhão com outras pessoas

A vida nunca fica estática, a vida sempre acontece dentro de uma dinâmica profunda que envolve necessariamente não só um indivíduo isolado, mas pessoas que se comunicam, num estado de comunhão e de participação daquilo que é a vida.



• Céu é vida e, onde há vida, há a dinâmica da vida

Para muitos cristãos, o céu fica associado a uma imagem que, em ultima análise, só aborrece. Uma situação sem dinâmica nenhuma, onde as pessoas gozam de uma paz eterna, tranqüila e abstrata. Mas o céu não é assim. Céu e vida plena, e onde há vida, ali há dinâmica da vida, que é vitalidade, felicidade e amor.



• Céu significa novo relacionamento com o cosmo e sua historia

O projeto salvífico de Deus não abrange só os indivíduos. Deus quer a salvação do cosmo inteiro. Por causa disto, também a vida plena da pessoa, numa situação que chamamos céu, Não pode ser uma vida fora de toda relação com o cosmo.



• Céu significa uma dinâmica de amor, marcada pela união intima com Deus

A comunhão universal de todos os seres humanos entre si, a realização plena de todas as relações humanas numa terra renovada e transformada, tudo isso é céu.

Não há texto melhor para descrever esta vida do que aquilo que o autor do apocalipse de João formulou:

“Eis a tenda de Deus entre os homens. Ele levantará sua morada entre eles, e eles serão seu povo, e o próprio Deus com eles será o seu Deus. Enxugará as lágrimas de seus olhos, e a morte já não existirá, nem haverá luto, nem pranto, nem fadiga, porque tudo isso já passou” (Ap 21,3-5).



Céu, de fato, não é uma paz isolada e tranqüila, fora de todo contato com outros seres.

Céu deve ser uma dinâmica profunda, dentro da qual o individuo se envolve com outras pessoas e, junto com elas, vive uma comunhão intima de amor com Deus. Essa comunhão é a intensificação máxima de tudo aquilo que é vida, à maneira como formula G. Lohfink: “O encontro com Deus não significa uma paz eterna, mas uma vida grandiosa e empolgante, uma tempestade de felicidade que arrebata... de maneira cada vez mais profunda por dentro do amor e da felicidade de Deus”.



“O reino de Deus se realizará sob o prisma do amor, e não da ameaça”




Canção à Morte



Eu espero a Morte como se espera o Bem-Amado.
Não sei quando virá,
Nem como virá.
Mas eu espero.
E não há medo nesta expectativa.
Há somente ânsia e curiosidade
porque a Morte é bela.
Porque a Morte é uma porta que se abre para lugares
desconhecidos,
mas imaginados.
Como o amor,
nos leva para um outro mundo.
Como o amor,
começa para nós outra vida
diferente da nossa.
Eu espero a Morte como se espera o Bem-Amado.
Porque eu sei que um dia ela virá
e me receberá
em seus braços amigos.
Seus lábios frios tocarão a minha fronte,
e sob a sua caricia
eu adormecerei o sono da eternidade.
Como nos braços do Bem-Amado.
E esse sono será
um ressurgimento.
Porque a Morte é a Ressurreição,
a Libertação,
a Comunicação total
com o Amor total.

Maria Helena da Silveira (1922-1970)
Poesia inédita escrita em 1944,
aos 22 anos de idade.








Bibliografia:

BLANK, Renold J. Escatologia da pessoa. São Paulo, paulus, 2000.
LIBÃNIO, João Batista. Escatologia Cristã, Petrópolis, vozes, 1985, pg. 57.
Sugestão de leitura e debate em aula: catecismo da Igreja católica, artigo 5, Jesus Cristo desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos no terceiro dia.

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