segunda-feira, 20 de julho de 2009

Missão da Pastoral Social


O que é a Pastoral Social?


Entendemos por Pastoral Social, no singular, a solicitude de toda a Igreja para com as questões sociais. Trata-se de uma sensibilidade que deve estar presente em cada diocese, paróquia comunidade; em cada dimensão, setor e pastoral; na catequese, na liturgia e nas iniciativas ecumênicas; enfim, deve estar presente nas comunidades eclesiais de base, nos movimentos... Em outras palavras, deve ser preocupação inerente a toda ação evangelizadora. Pastorais Sociais, no plural, são serviços específicos a categorias de pessoas e/ou situações também específicas da realidade social. Constituem ações voltadas concretamente para os diferentes grupos ou diferentes facetas da exclusão social, tais como, por exemplo, a realidade do campo, da rua, do mundo do trabalho, da mobilidade humana, e assim por diante.

“Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência” (Bento XVI, Papa. Deus Caritas Est, nº 25).
A pastoral social é expressão desta caridade e da solicitude da Igreja com as situações nas quais a vida está ameaçada.

“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angustias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles e aquelas que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angustias dos discípulos e discípulas de Cristo” (Gaudium Et Spes)
Sua finalidade

A Pastoral Social tem como finalidade concretizar em ações sociais e específicas a solicitude da Igreja diante de situações reais de marginalização. Alertar para a tarefa de identificar, entre os filhos e filhas de Deus, os rostos mais sofridos, com vistas a dedicar-lhes uma solicitude pastoral específica.

A Pastoral social procura integrar em suas atividades a fé e o compromisso social, a oração e a ação, a religião e a prática do dia a dia, a ética e a política. Aqui é preciso superar as dicotomias entre “os que só rezam” e “os que só lutam”, “os que louvam e celebram” e “os que fazem política”. Na verdade, a verdadeira fé desdobra-se naturalmente em compromisso diante dos pobres. A ação social é condição indispensável da vivência cristã. O compromisso sócio-políttico não é um apêndice da fé. Ao contrário, faz parte inerente de suas exigências. A fé cristã tem, necessariamente, uma dimensão social.

Seguindo Jesus
Os diferentes serviços das pastorais Sociais colocam-se na dinâmica do seguimento de Jesus, para que nele os marginalizados, os excluídos – pobres, mulheres, crianças e adolescentes, sem terra, sem casa, os considerados “insignificantes” para o sistema, camponeses, indígenas, afro-descendentes, povos tradicionais, migrantes, itinerantes... – tenham vida e a tenham num ambiente preservado.


No Brasil
A identidade da Pastoral Social da Igreja no Brasil é resultado de uma caminhada de longos anos, durante os quais foi criado um “rosto” próprio, fruto das muitas ações que aqui e ali se articulavam para firmar o compromisso social das comunidades cristãs. Para moldar este rosto, a Igreja do Brasil teve que conhecer o seu próprio Deserto.

O Deserto
“O Deserto” é o lugar para onde Jesus dirigia-se para estar com o Pai. É a etapa do silencio, do contato íntimo com Deus, do discernimento, do enfrentamento das tentações. A missão que levamos adiante não nos pertence, ela é de Deus. O deserto é o lugar da escuta amorosa e obediente, do diálogo com Deus.

Não é qualquer “deus” que nos envia. É o Deus de Jesus Cristo quem nos interpela e nos convoca para a missão. É o Deus da Vida o Emanuel.

Dom Hélder Câmara dizia que “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear pelos problemas do pequeno mundo a que pertencemos; a humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros. É abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então, missão é partir até os confins do mundo”

Incompreensões e conflitos
Cristãos e cristãs envolvidos com as Pastorais Sociais enfrentam, cotidianamente, a situação de miséria, opressão e violência nos âmbitos econômico, político, social, cultural e de gênero, ou seja, enfrentam uma realidade marcada pela injustiça institucionalizada.
Este enfrentamento supõe situações de conflito e embates políticos, pois em seu compromisso com o estabelecimento de uma sociedade justa e solidária, esses agentes de pastoral, associados a outros movimentos sociais, mexem em interesses de grupos privilegiados ou que não desejam que haja mudanças.

A luta das Pastorais Sociais é árdua. Muitas vezes o preço é a perseguição e a morte. Não raro surgem incompreensões por parte dos próprios irmãos das comunidades. Muitas vezes, ouvem-se acusações de que as Pastorais Sociais confundem-se com política, partidos ou movimentos sociais.


As pessoas envolvidas com a dimensão social da fé são, por vezes, acusadas de não cultivar a espiritualidade ou simplesmente de fecharem-se à dimensão transcendente e interessarem-se exclusivamente pela ação histórica.

Isto sem falar dos fracassos, das frustrações e da sensação de impotência frente aos poderes do mal e do sistema de morte. Outras vezes, é o cansaço e o desânimo que nos abate, devido sobretudo à sobrecarga de atividades. Na verdade, são poucos os que se aventuram por esse caminho, embora o trabalho seja imenso.

O campo de ação das Pastorais Sociais é, pois, conflitivo, porque elas movem-se em situações de fronteira e de deserto. Agindo nestes campos, os cristãos são chamados a manifestar a presença, posicionando-se segundo os critérios da ação de Jesus. E isto não é fácil, pois a realidade, em si mesma, muitas vezes, não é clara ou é difícil de ser percebida em sua totalidade. A conflitividade exige permanentemente a capacidade de discernir os espíritos, pois sempre estamos sujeitos às tentações e aos atropelos.

O encontro com o pobre
No encontro com o mundo dos pobres, os agentes das Pastorais Sociais recebem a força e a coragem para seu engajamento, pois no rosto dos excluídos e marginalizados encontra-se a razão da ação solidária. Os Bispos, em Aparecida, recordaram que “o encontro com Jesus Cristo através dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo. Da contemplação do rosto sofredor de Cristo neles e do encontro com ele nos aflitos e marginalizados, cuja imensa dignidade ele mesmo nos revela, surge nossa opção por eles. A mesma união a Jesus Cristo é a que nos faz amigos dos pobres e solidários com seu destino”. (DA, nº257).

Estar com os pobres é condição para reconhecer seus valores, suas lutas, seu modo próprio de expressar a fé e sua maneira de celebrá-la. Na religiosidade popular encontram-se também exemplos de resistência, criatividade, coragem, esperança.
A convivência e a amizade com as pessoas que vivem em situação de pobreza, marginalização e exclusão são capazes de estabelecer relações novas, que fazem dos excluídos sujeitos de sua libertação. O agente está junto, incentiva, colabora. Ao mesmo tempo, aprende, humaniza-se e experimenta a presença amorosa de Deus, que acompanha e sustenta o povo.

A Palavra de Deus dá os critérios e sustenta a ação dos cristãos, por isso, eles são convidados a ter grande intimidade com ela. A Palavra de Deus não é somente lida no livro. Ela é consultada no coração. É ali, guardada com afeto, tornada vida, que ela é capaz de orientar e ajudar na decisão. (DA, 249).

Se não mais existissem pessoas em situação de miséria, fome, abandono absoluto, não haveria mais necessidade de praticas de socorro. Porém existem tais pessoas e elas devem não apenas ser socorridas, mas o socorro deve ser realizado como reconhecimento de um direito social básico: o direito à vida.

Em todas as práticas das Pastorais Sociais, um elemento essencial é a implementação de ações que ajudem as pessoas a superarem limites que são fruto da marginalização e da exclusão que atingiram sua existência. Trata-se, por exemplo, de enfrentar o analfabetismo, a falta de capacitação profissional ou de organização de uma iniciativa. São práticas ligadas ao que se tem denominado “promoção humana”.

Identidade da Igreja
As Pastorais Sociais estão no coração da identidade e da missão da Igreja. Procuram continuar a missão de Cristo, expressa claramente no capítulo quatro do Evangelho de Lucas.(Lc 4,18-19. O Esp. Do Senhor está sobre mim...). Elas reagrupam discípulos de Cristo das classes populares que procuram traduzir sua mensagem de paz e justiça nas estruturas da sociedade. A vitalidade das Pastorais Sociais nas dioceses é sinal da fidelidade da Igreja à sua missão de amor aos pobres. Voz profética dos pobres, elas questionam a sociedade e a Igreja.

É bonita a fé profunda e madura de muitos membros das pastorais Sociais. Sentem-se próximos de Jesus de Nazaré: Sendo filho de Deus, se fez gente do povo, trabalhador, compassivo e solidário, que está ao lado dos pobres. Ele anuncia um Reino de justiça e paz, cura os doentes, confirma a fé de seus discípulos, é vítima do sistema político-religioso de seu tempo, enfrenta livremente a paixão e morte na cruz para libertar seu povo da escravidão. O povo das Pastorais Sociais ama a figura e a pessoa de Jesus que viveu pobre, lutou contra o poder opressor, foi condenado e entregue à morte violenta. O povo reconhece a semelhança entre a vida de Jesus e sua própria vida.

O agente de Pastoral Social
O agente de pastoral é o que dá vida ás Pastorais Sociais. É aquele que acolhe a pessoa em suas necessidades; sabe escutar a voz de Deus que se faz ouvir nas pessoas e nos acontecimentos da vida; sabe amar as outras pessoas sem preconceitos, acolhendo-as do modo como elas se apresentam; coloca-se a serviço da vida, assumindo efetivamente seu compromisso cristão, defendendo, promovendo, cultivando e celebrando os valores presentes na vida dos empobrecidos.

A crise
Frente ao dinamismo profético das décadas de 70 e 80, a Igreja de hoje passa por um sentimento generalizado. Este sentimento não é visível apenas nas CEB’s e nas Pastorais Sociais, mas também no Movimento Sindical e nos Movimentos Sociais.

Uma das causas está na impressionante penetração do atual modelo econômico neoliberal e a mentalidade pós-moderna em todas as esferas da vida humana que, acabou gerando:

A morte das utopias: parece não haver alternativa ao modelo existente. A descrença na tradição familiar, religiosa e política (e a idolatria do relativismo). Um consumismo desenfreado que o Planeta não suporta. A “privatização” da crença e das praticas religiosas, a idolatria do “eu” desprepara a pessoa para lutar por uma causa comum.

Como sair da crise
As Pastorais sociais estão por demais fragmentadas, desintegradas, desarticuladas e despolitizadas. Para enfrentar isso segue algumas sugestões:


· Diminuir o grande número das Pastorais Sociais.
A Igreja não precisa assumir tudo, e é preciso cobrar do poder público que cumpra seu papel. Não esquecer que a organização de cada Pastoral exige: destacar e formar novas lideranças, reservar tempo para reuniões e encontros, planejar e executar ações especificas, etc. na atual estrutura paroquial esta pratica fragmentada é insustentável.


· Criar em cada comunidade uma única coordenação das Pastorais Sociais.
Isto facilita a integração entre as diversas pastorais sociais existentes; cabe a ela fazer ligação também com as outras pastorais (integrar): liturgia, catequese, juventude, etc.


· Articular melhor os diversos níveis das Pastorais Sociais.
A coordenação da Comunidade se representa na Paróquia, da Paróquia na regional, da regional na Diocese, da Diocese nos níveis superiores. Esta articulação é viável apenas quando as ações concretas são decididas em comum, sem imposição.


· Cabe às Pastorais Sociais aprofundar o caráter político de sua intervenção.
O que a Igreja constrói em anos, a Política pode destruir em minutos. Exercer o controle sobre a política cabe a cada cidadão, mas a Igreja, em nome do Evangelho do Reino, tem aí seu objetivo máximo. Cabe às Pastorais Sociais priorizar a constituição de um grupo que dinamize a participação da Igreja neste importante campo da vida humana.


Compaixão
Nesse contexto social, o que significa a compaixão? Palavra composta de outras duas: com - paixão. Estar com na paixão do outro, na cruz do seu sofrimento. Sentir a dor do outro e, juntos, buscar soluções alternativas. Estar com, não significa dar coisas, mas dar-se. Dar o próprio tempo, colocar-se à disposição. Em síntese, significa caminhar junto com aquele que sofre. Assumir sua dor e tentar encontrar saídas para superar os momentos difíceis.
Diz um provérbio chinês que perguntaram a determinada mulher a qual dos filhos ela mais amava. Ela, como mãe, respondeu: ao mais triste até que sorria, ao mais doente até que sare, ao mais distante até que volte, ao mais pequeno até que cresça.

Aqui está o espírito de toda a ação social. Hoje, como no tempo de Jesus, as multidões dos pobres encontram-se “cansadas e abatidas”. Cansadas de tantas promessas não cumpridas, de tanta corrupção e de tanto lutar em vão; abatidas pelo peso da exclusão e da miséria, da fome e da doença, do abandono e do descaso. Hoje, como ontem, a injustiça e a desigualdade social gera milhares de empobrecidos que se tornam excluídos, quando não exterminados. Geram, ainda, desemprego, violência, dependência química, prostituição, racismo e destruição do meio ambiente. Esta situação atinge todo planeta, porém, de forma mais brutal os países subdesenvolvidos.


O Reino de Deus, como sabemos, ultrapassa as fronteiras da Igreja e exige fé e pé na caminhada. Que possamos também nós, nos fazer caminhantes.

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