Introdução:
Maria, a mãe de Jesus, está forte e afetuosamente presente na vida do povo cristão. Também tem, presença marcante na teologia cristã. Entretanto, ela não é cultuada somente nos templos católicos; está presente e atuante também nos terreiros de Umbanda, nas formas esotéricas, nas casas do povo, nos becos onde vivem mulheres e homens excluídos, nas prisões, nas múltiplas formas de sincretismo que permeiam o cotidiano dos pobres...
Neste estudo, o foco está na teologia que fundamenta o culto mariano na Igreja (e nas igrejas), mas com um olhar e a sensibilidade atentos à devoção popular. Buscaremos os fundamentos teológicos da devoção a Maria, juntamente com os ensaios e os fatos de inculturação da fé mariana, as concepções e práticas ecumênicas, as possibilidades de diálogo inter-religioso. No regaço da Mãe comum, são dignos de respeito também os resquícios do culto a Gaia, a Deusa e Grande Mãe Natureza.
A Maria são atribuídos muitos títulos, e representações em imagens tão diversas, que chegam a ser contraditórias. Há segmentos na Igreja Católica que pronunciam exaustivamente o nome de Maria, na preocupação de distinguir-se das Igrejas e agremiações evangélicas, estas receosas de que o exagero nas mediações desvie do culto ao único absoluto, que é Deus. É importante estudar os fundamentos teológicos para chegar a uma compreensão crítica da grande efusão devocional mariana que presenciamos nos dias de hoje.
Dentro de dicotomias dogmáticas, numa Igreja de Cristandade, ocorrem problemas. Há quem acuse a Igreja Católica de uma espécie de “hiperinflação mariana”, uma divinização idolátrica de Maria, numa fé deficitária. Há quem aponte o sincretismo como perigoso. Mas, por outro lado, durante 500 anos a devoção mariana trouxe frutos de vida e santidade na Igreja da América Latina, com numerosos mártires dos meios populares. Maria tem sido veículo para uma fé autenticamente cristã.[1]
Na teologia cristã, um aspecto fundamental é a relação entre Maria e a Igreja. Mas, para estudar Mariologia nessa vinculação eclesiológica, é preciso vencer as barreiras do tom apologético e anti-protestante que marcam a implantação da Cristandade aqui.
O testemunho de cristãos de várias partes do Terceiro Mundo diz que os evangelizadores-colonizadores pregam um Jesus muito pouco humano, que parecia flutuar por sobre a historia e por sobre todos os problemas e conflitos humanos, um Jesus sem importância para a vida. Era um Jesus apresentado como um soberano e poderoso rei ou imperador, governado das alturas, do seu trono majestoso. Só se aproximava dos pobres por condescendência, por graça e compaixão, mas sem participar do chão da vida de opressão e luta dos pobres. A morte desse Jesus não tinha a ver com os conflitos históricos, mas era vista como um sacrifício humano para aplacar a um Deus irritado. Os colonizados e oprimidos foram descobrindo que esse Deus e esse Jesus tinham sido formados à imagem e semelhança dos reis, imperadores e conquistadores[2].
A dogmática implantada aqui na América Latina foi eurocêntrica, ocidentalista e autoritária, impondo aos nativos e aos africanos escravizados aqui as obrigações de uma moral exigente e estrita, que os ameaçava com horrores do inferno. Mesmo quando pregavam um Deus bom, a prática violenta e destruidora anulava essa pregação. Diante de um Deus distante e terrível, que tinha a “cara” dos conquistadores violentos, barbudos, com elmo, arcabuzes e cavalos, o povo passou a buscar santos intercessores, “outros deuses”: sua ajuda, consolo, intercessão, refúgio, misericórdia. Os santos, a cruz de Cristo, os sacramentais, ás vezes é transposição dos seus antigos deuses. Mas, é sobretudo em Maria que encontram o rosto materno de Deus, o sacramento de sua misericórdia. Maria é a figura doce e materna, num mundo violento e machista e diante de uma religião de medo[3].
Maria ocupa um lugar central na dogmática popular da América Latina. Tonantzin, Guadalupe, é o símbolo luminoso de sua presença e proximidade com o povo empobrecido e humilhado, mas sua figura vai se concretizando em diversas invocações e santuários: Aparecida, Luján, Copacabana...[4]
O Magnificat, cântico de Maria, é iluminação fundamental para se manter o coração solidariamente voltado ao mundo dos empobrecidos e oprimidos da América Latina e do mundo. Como entender Casaldáliga no contexto da América Latina, Maria é comadre em Nazaré, índia em Guadalupe e negra em Aparecida.
Este estudo abordará as temáticas de Gonzalez Dorado[5]: a Maria da história, a Maria da fé pascal neotestamentária, a Maria da Igreja magistral e cientifica, e a Maria da devoção do povo.
Leonardo Boff aponta o feminino como principio mariológico fundamental[6]. De fato, será de suma importância desenvolvermos este estudo com abertura às questões de gêneros, na busca da igualdade fundamental das pessoas humanas, da justiça e da fraternidade universal. A mariologia deverá passar pela opção pelos pobres, abertos às maravilhas que Deus opera no coração e na práxis comunitária de mulheres e homens excluídos da sociedade, e até mesmo das Igrejas.
Amantíssima e só[7]
Nancy Cardoso Pereira
Tiro o manto, a manta. Minto.
Experimento a mentira que me manteve
Santa tanto quanto
Amantíssima e só.
Um vestido comum
De uma mulher qualquer.
Desço do altar,
Saio da igreja
Misturada às marias das ruas
Das dores das graças de Lurdes
Fátimas, penhas e conceição.
E, se ainda der,
Se o sagrado ainda me quiser,
Volto pra casa, abro a janela,
Deito no chão e espero esperar.
Sou eu sou Maria
E é quase noite em Nazaré.
I – A Maria Histórica
O principal objetivo do estudo de Maria, a Theotokos (Mãe de Deus), segundo a viva tradição da Igreja cristã, é adentrarmos no próprio mistério da salvação, que está contido em seu nome, como diz São João Damasceno[8].
Em Maria, o povo cristão encontra o itinerário da sua fé[9]. “Nela se resumem as conexões com a Trindade, a Redenção, a Igreja e a História...”[10]. ela está totalmente dentro da salvação de Deus na historia; como diz Clodovis Boff, ela é o mistério da salvação “concentrado”[11].
O regate do Jesus Histórico tem sido fundamental, na caminhada da Igreja da América Latina. Na Cristologia, ao mesmo tempo em que contemplamos o Cristo da fé pascal, retomamos Jesus na sua condição histórica, terrena, situada em Nazaré da Galiléia da Palestina e situada em sua época[12].
O mesmo apelo se faz para a Mariologia. É preciso tirar um pouco o manto que esconde a humanidade de Maria, sua realidade histórica, seu cotidiano, seu ser mulher. Os poemas da pastora Nancy Cardoso são bem oportunos para este exercício.
MARIA DE NAZARÉ SEGUNDO O NOVO TESTAMENTO
Da israelita MARIA, ou MIRIAM, que viveu em Nazaré, e que veneramos como a Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa mãe, não temos uma biografia. Assim como para o Jesus histórico, também para a Maria histórica nos faltam dados, pois os fragmentos dos textos que se referem a ela, no Novo Testamento, tem a preocupação da reflexão teológica pós-pascal. Trata-se de interpretação da fé feita pela comunidade cristã, e não de relato histórico.
MARIA, HISTORICAMENTE, É AQUELA QUE ACREDITOU NO PROJETO DE DEUS. A fé marial fala mais de Cristo e do seu Espírito, que de Maria. Foi em função de Cristo e por obra do Espírito que Deus operou maravilhas em Maria. Maria nunca aparece voltada para si mesma, mas sempre no serviço aos outros, e sua presença é mais de silêncios que de palavras[13].
É de dentro das reflexões teológicas, escritas na Bíblia, que tentamos extrair os contornos históricos de Maria. Os grandes do tempo dela a desconheciam, mas o olhar misericordioso de Deus a tocava de modo especial.
As figuras femininas destacadas no Antigo Testamento, como Miriam, Ana, Rute, Judite, Ester, e outras, representam um coletivo, são imagens de mulheres e, ao mesmo tempo, imagens do Povo de Deus. Através de suas ações se revela o povo que luta e a força de Deus libertador que salva o seu povo. Pois bem, Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus, está entre os dois Testamentos, o Antigo e o Novo. Ela, representante legítima de Israel, e portadora do novo Povo de Deus, é imagem do povo fiel, morada especial de Deus. Deus nasce de uma mulher. Com esta mulher, e com seu filho Jesus, começa um novo tempo na historia da humanidade. Deus, que já habitava na terra humana, é descoberto e amado na corporeidade humana[14].
São características históricas de Maria, segundo Boff[15]:
Ela é a virgem noiva – a virgindade, equiparada à viuvez, não constituía valor social. E Maria está comprometida com José conforme o costume judaico.
Ela é pobre – está clara nas cenas relatadas pelos evangelhos, nas quais ela aparece, a sua condição de pobreza, no sentido de indigência material causada pela exploração dos ricos. Lentamente, a pobreza foi ganhando também um sentido espiritual: Para Deus, os pobres e oprimidos estão em primeiro lugar na dimensão do Reino. Maria faz parte da multidão de pobres, e é totalmente aberta e disponível para a misericórdia e intervenção libertadora de Deus.
Ela é mãe - nos textos bíblicos, ela aparece mais como mãe de Jesus que como virgem Maria. Como mãe está presente nos momentos cruciais da trajetória de Jesus: a encarnação, o nascimento, a primeira visita ao templo, o começo da vida pública em Caná, no meio da multidão quando estava no auge da popularidade, no momento da morte, em Pentecostes. Mas, ela o deixa em liberdade para cumprir sua missão. Os novos laços que nascem da fé na missão de Jesus e na sua missão como seguidora de Jesus contam mais que os laços de sangue.
Ela é cheia de fé – Maria, que é Mãe de Deus e bendita entre todas as mulheres, é apresentada nos evangelhos como alguém que anda na obscuridade da fé. A vida vai tornando manifesto aquilo que era confuso. Ela passou pela perplexidade, mas nunca duvidou. A prima Izabel diz: “Feliz és tu que creste” (Lc 1,45). Nem tudo ela compreendia (Lc 1,50), mas assumia os caminhos misteriosos de Deus. Confiava (Lc 1,38), e sua fé crescia através da reflexão e meditação (Lc 1,26-38); sendo virgem descobre-se grávida, fica perturbada e tem medo. Mas, descobre a obra do Espírito Santo crescendo em seu ventre e não duvida; apenas pergunta como se fará isso, e aceita as realidades que não se vêem, pois, para Deus nada é impossível. Conforme a carta aos hebreus (Hb 11,1), esta é exatamente a dinâmica da fé: a antecipação das coisas que se esperam, a prova das realidades que não se vêem.
Ela é mulher forte – viveu uma vida de luta; era inocente e pura, mas viveu num mundo de pecado e de incompreensões. “Nazaré é a casa dos que crêem lutando. Dos que enfrentam corajosamente as dificuldades da vida em pleno abandono à Providencia”, diz Boff. Ela é uma personagem histórica que, nas profundezas do seu anonimato, concordou em ser tomada por Deus para a sua ação libertadora na historia da humanidade.
Só para reforçar os traços históricos de Maria, trazemos outros autores:
Maria é uma mulher pertencente aos setores populares da Galiléia, simples e pobre, em tudo participante da situação social, política e religiosa do seu povo. Como mulher, é duplamente pobre: no seu tempo e na sua terra, as mulheres sofriam uma espécie de condenação pelo simples fato de serem mulheres. Toda mulher estava destinada a ser serva de seu marido; era impedida de qualquer progresso cultural; não tinha voz na vida social, cultural e política[16].
Foi prometida a José, um humilde artesão, e o desposou (Lc 1,27). Deu à luz seu filho numa situação de sem-teto (Lc 2,7). Por ser pobre, no ritual de resgatar o filho primogênito, só pode apresentar no templo a oferta típica dos pobres (Lc 2,24). Seu esposo era um trabalhador comum. Ela viveu na Galiléia, uma província periférica da Palestina, no povoado de Nazaré, onde o povo ficava afastado dos grandes centros de decisão (Mt 4,15). Ela foi uma pessoa comum, que assumiu a vida simples do povo na luta pelo pão de cada dia[17].
Os relatos neotestamentários deixam claro que ela é uma mulher israelita, domiciliada em Nazaré e casada com um homem chamado José (Mc 6,1-4; Lc 4,16-22); fala-se de seus parentes. Ela é reconhecida como a mãe de Jesus, mas insiste-se em que José não era pai natural de Jesus, apesar das suspeitas sociais decorrentes desta afirmação. O ofício de Jesus, tékton (artesão, carpinteiro), comprova sua classe social pobre[18].
Pertence ao meio popular, na simplicidade e pobreza, ela está enquadrada no sistema político e sócio cultural dos tempos de Jesus: cumpre as leis do imperador (Lc 2,1-5); casa-se como uma boa israelita (Lc 1,27; Mt 1,18); leva o menino para circuncisão no oitavo dia (Lc 2,21); apresenta ao templo com a oblação dos pobres (Lc 2,22-24); faz peregrinação com sua família a Jerusalém por ocasião das festas da Páscoa (Lc 2,41)[19].
Os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), tirando-se os relatos da infância de Jesus, trazem um fundo mais histórico de Maria[20].
1º - A nova família de Jesus: Jesus irrompe como um carismático, em sua missão messiânica, e alguns dizem que ele é um perturbado mental. Ele tem uma nova família: a nova fraternidade começa onde a pessoa humana se dispõe a realizar o projeto de Deus. Maria fica perplexa, mas ela, mais do que ninguém, entra no projeto salvador de Deus e se abre à total colaboração. Ela é grande porque faz a vontade de Deus, mais do que por sua maternidade física. Há uma contraposição entre o pai, José, e o Pai, Deus. Para Jesus não contam os laços físicos, mas aqueles da fé. Maria e José são convidados a transcender os laços do sangue para entrar na caminhada da fé, na dimensão messiânica do Reino. (Ver Mc 3,31-35; Mt 12,46-50; Lc 2,48-51; Lc 8,19-21).
Lc 11,27 traz a voz de uma mulher que se levantou da multidão e proclamou a dignidade da Mãe de Jesus. Mas, Jesus enfatizou o que era exatamente a sua mãe: a mulher que creu, e na qual devem inspira-se os de sua nova família, os membros do Povo de Deus. Sua nova família é constituída pelas mulheres e homens que com ele assumem o projeto do Pai. E Maria é exemplo nisto. Jesus socializa sua própria família nuclear, numa comunhão muito mais ampla do que a do sangue, na missão universal. A mãe representa nova fecundidade, as irmãs a nova comunhão, que não se limita à raça, ao sangue, à cor, à cultura, a poucos privilegiados, mas está aberta a todos. O jeito de ser Igreja nas CEBs tem clara esta consciência: a família nuclear amplia-se na nova comunidade, numa dimensão tão vasta como o coração de Deus. Vive-se uma nova maternidade: a de gerar o Jesus místico e comunitário na realidade de cada pessoa que aceita a comunhão com Jesus e com os irmãos[21].
2º - Maria é uma mulher simples: vendo a sabedoria de Jesus e os milagres por ele operados, as pessoas perguntavam: Por acaso ele não é o carpinteiro, filho de Maria...? Algo não se encaixa, porque ele é mulher pertencente ao povo humilde. O dado histórico é que Maria participava do anonimato geral das mulheres do judaísmo. (Ver Mc 6,3; Mt 13,55; isto está também em Jo 6,42).
3º - Maria é protótipo da nova pessoa humana, que ouve a Palavra de Deus e a põe em prática. Participar da vida de Jesus não é privilégio do sangue ou da raça, mas um convite a todos no plano da fé. Ela está junto de Jesus porque vive a fé. (Ver Lc 11,27-28).
As narrativas da infância trazem mais interpretação teológica do que fundo histórico. Elas representam uma teologia bem elaborada, mais tarde, já entre os anos 60 e 80 dC, sobre a realização das promessas do AT; sobre a dignidade de Jesus, sua filiação divina e seu caráter messiânico. Os cristãos já reconheciam a presença de Maria no meio da comunidade, assim como se explicita em At 1
,14. Lucas fala das recordações que ela guardava em seu coração (Lc 2,19.51). João diz que, depois da morte de Jesus, ele próprio a recebeu em sua casa e em sua missão (Jo 19,27). Certamente ela comunicou aos apóstolos os mistérios de sua própria vida e o conteúdo de suas próprias reflexões. O que há de histórico são os seguintes dados: a virgindade de Maria e seu noivado com José; a concepção virginal por obra do Espírito Santo; o nome Jesus, dado por Deus; a infância em Nazaré[22].
No envangelho de João, por duas vezes aparece a figura da “mãe de Jesus”: nas bodas de Caná (Jo 2,1-11) e no Calvário (Jo 19,25-27). Deixando para depois a reflexão teológica feita pela comunidade joanina, extraímos os dados históricos. Nas bodas de Caná vemos Maria como as pessoas comuns, participando de uma festa de casamento e preocupando-se com os embaraços dos outros.
Paulo escreveu que “quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu filho. Ele nasceu de uma mulher...” (Gal 4,1-7). Aqui convergem escatologia e historia, antropologia e teologia. Tudo gira em torno da confissão de fé de que o Verbo se fez carne na corporeidade humana, corpo de homem e de mulher, na realidade da historia, e nos limites da historia. Deus enviou seu Filho nascido de uma mulher, e o Reino chegou, a nova criação já é realidade. À luz deste mistério, a nova comunidade de homens e mulheres, com seus sofrimentos e lutas, dores e alegrias, gera a cada dia o amor[23].
Mateus quer deixar claro que Maria deu à luz “sem que José a conhecesse”, isto é, por uma gravidez que não foi obra de José. Para Mateus, José é a síntese do antigo povo, chamado a novas núpcias para começar outra vez o amor, enquanto Maria é a mulher grávida de vida que simboliza a esperança virgem, o rosto do povo cheio de luz e o rosto de Deus que sempre renasce dos escombros da destruição[24].
Marcos toma a maternidade de Maria como referencia histórica para situar Jesus: ele é o carpinteiro que faz milagres, conhece a lei e os profetas, defende os pobres, e é acolhido por uns e rejeitado por outros, e chega a ser chamado de louco. Maria, sua mãe, participa deste ambiente de aceitação e rejeição, e na relação com Jesus supera o nível biológico, pois está entre os que fazem a vontade de Deus (Mc 3,35).
Lucas é o que escreve mais referencias a Maria. Na anunciação (Lc 1,26-38) ele mostra Maria entre as múltiplas manifestações da fidelidade de Deus para com o seu povo. Maria é o povo que se torna a nova arca da Aliança, nova morada onde Deus pode ser encontrado e amado. A visita de Maria a Isabel (Lc 1,40-45) é o encontro do velho com o novo, é o antigo povo judeu reconhecendo o novo Povo de Deus. O Magnificat, o cântico de Maria (Lc 1,46-55) é um canto de guerra: na historia humana, Deus combate pela instauração de um novo mundo de relações igualitárias e de profundo respeito a cada ser, um mundo onde Deus habita. A mulher grávida que dá à luz o novo é imagem de Deus que, pela força do seu Espírito, faz nascer homens e mulheres que vivem a justiça na amorosa relação com Deus e com os semelhantes. O cântico de Maria é o programa do Reino, o mesmo programa assumido por Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-21), o parto de Maria (Lc 2,7) significa o nascimento de Deus na humanidade. A profecia de Simeão (Lc ,34-45) dá a Maria um alcance para todos os tempos: uma espada, a contradição, continua atravessando o coração dos pobres e dos que lutam pela justiça de Deus[25].
O livro dos Atos mostra Maria presente nas raízes da primeira comunidade cristã, perseverante na oração e unida aos discípulos às discípulas do seu filho. Ela é mãe, irmã, companheira, discípula e mestra do movimento de Jesus, cuja base sólida é o anuncio da presença do Reino no meio dos pobres e excluídos[26].
O evangelho de João apresenta Maria em duas ocasiões: nas bodas de Cana (Jo 2,1-11), onde Jesus transforma a água em vinho, seu primeiro milagre. Maria gesta e dá à luz a fé da nova comunidade messiânica; ela inaugura o tempo do povo novo, a comunidade do Reino. A pobre e depreciada Caná da Galiléia torna-se lugar da manifestação da gloria de Deus. E, ao pé da cruz (Jo 19,25-27) Jesus lhe entrega o discípulo amado como filho. Maria, no marco das grandes figuras femininas e maternas do Antigo Testamento, como Débora, a Mãe dos Macabeus e outras, aparece como a mãe da nova comunidade dos seguidores de Jesus. Em João, Maria está no centro do acontecimento da salvação trazida por Jesus Cristo; ela é símbolo do povo que acolheu a mensagem do Reino e a plenitude dos tempos messiânicos[27].
No cap. 12 do Apocalipse, Maria é identificada como a mulher de fé humilde, batalhadora no meio do povo que sofre e acredita no salvador crucificado, sem perder a esperança: uma mulher vestida de sol e coroada de estrelas, com dores de parto. Lutando contra o dragão. Sua vocação é ser esposa do Cordeiro e alcançar a vitória, é ser a Nova Jerusalém onde finalmente se reunirão todos os que cumprem os mandamentos de Deus e guardam o testemunho de Jesus. Ela representa o Povo de Deus, perseguido e martirizado. Também é a figura de uma Igreja perseguida pelas forças do anti-Reino e pelos poderosos e opressores. O sinal que aparece no céu e na terra é o novo Povo de Deus, e Maria é o rosto desse povo. Os descendentes da mulher Eva receberam a graça de triunfar sobre a serpente através da descendência da mulher Maria[28].
Nos Atos dos Apóstolos ficou recolhida a última recordação de Maria histórica: sua vivencia com as discípulas e os discípulos imediatamente depois da morte de Jesus. “Todos eles rezavam constantemente na mais intima união, com algumas mulheres, com Maria, a mãe de Jesus, e com os irmãos dele” (At 1,14).
Uma antiga tradição cristã conta que Maria foi viver os últimos anos de sua vida em Éfeso, com o apóstolo João, a quem Jesus, na cruz, entregara sua mãe. Historicamente, ela esteve presente na Igreja que dava seus primeiros passos, e acompanhou o começo da evangelização. Depois da ascensão de Jesus, os discípulos e discípulas, enquanto esperavam a vinda do Espírito Santo, reuniram-se em oração no cenáculo com Maria, a mãe de Jesus. Nessa fase de interiorização e socialização da mensagem de Jesus, ela era a mais fiel referencia para o seguimento de Jesus. Sua presença na Igreja nascente era referencial e testemunhal, por ser ela a primeira discípula de Jesus, por ter ela os traços fundamentais do Jesus histórico e a força viva e encarnada de tudo o que ele ensinou. Maria é a expressão mais concreta e vivencial da Igreja[29].
Malcriação
Nancy Cardoso Pereira
Da primeira vez
Que o Filho respondeu atravessado
Ela engoliu seco e
Guardou tudo no coração.
Da outra vez
Ela mandou recado:
Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?
Ela disse bem alto
Num tom nada evangélico:
Filho da Mãe!
QUESTÕES PARA APROFUNDAR:
1º Qual é, em síntese, o perfil histórico de Maria?
2º De que maneira ela testemunha a ação salvífica de Deus na historia humana?
II – A MARIA DA IGREJA MAGISTERIAL E A TEOLOGIA
1.A Magnificação teológica de Maria
Falamos de Miriam de Nazaré, e Nazaré representa a periferia do mundo. Esta mesma Miriam, Maria, mulher do povo dos pobres que viveu na historia, passamos a olhar como alguém que “vive em Deus”.
No contexto do povo latino-americano empobrecido e crente, no qual ganhou enraizamento a Teologia da Libertação, tem emergido dos pobres um jeito novo de ler a bíblia, confrontando os textos com a vida de hoje e perguntando sobre o que não foi escrito, o que se perdeu ou, até, num contexto patriarcal, se quis omitir voluntariamente.nos textos no Novo Testamento, é importante considerar também o que não se diz sobre Maria, e que constitui realidade ou acontecimento[30].
Ave Maria
Frei Betto
Ave Maria!
Grávida das aspirações de nossos pobres,
O Senhor está contigo.
Bendita és entre os oprimidos.
Benditos são os frutos de libertação de teu ventre.
Santa Maria, mãe latino-americana,
Roga por nós, para que confiemos no Espírito de Deus.
Agora que nosso povo assume e luta pela justiça
E na hora de realizá-la com liberdade
Para um tempo de paz.
Amém.
Metodologicamente, o estudo da “Maria da fé pascal”, na perspectiva da libertação, tem que seguir o conceito de Reino de Deus, cujos sinais mostram a salvação na historia humana. Assim, o ser e o agir de Maria poderão ser vistos dentro das diferentes imagens que o Reino de Deus assume, na Bíblia, na tradição da Igreja, nas tradições do povo; também poderemos perceber a “paixão” de Maria pela justiça de Deus em favor dos pobres, e recuperar a força do Espírito nas mulheres de todas as épocas[31].
A Mariologia não se formula somente sobre os dados históricos, mas é, sobretudo, um estudo a partir da reflexão de fé da comunidade cristã à luz do Ressuscitado. Perplexa, a Igreja descobriu que aquela anônima mulher do Povo de Deus, que se sentiu serva do Senhor e reconheceu o olhar divino sobre a sua pequenez (Lc 1,38-48), é a cheia de graça, a bendita entre todas as mulheres (Lc 1,30.42). entretanto, nesta magníficação teológica é preciso também considerar a Maria histórica, que testemunha o caminho escolhido por Deus entre os pobres e excluídos, nas margens da sociedade, para ali operar maravilhas. No mistério da Encarnação, o engrandecimento está no humilde, no pequeno e sem aparências. Boff afirma:
A mariologia de exaltação que não retorna à historia de Maria, mas se atém aos seus próprios discursos grandiloqüentes, perde seu caráter histórico-salvífico; não fala da Maria da historia, daquela que foi a mãe de Deus, o sacrário real do Espírito Santo, mas fala de uma nova mitologia cristã elaborada fantasticamente a propósito de Maria. O critério de toda verdade teológica cristã – que se deixa transformar num puro discurso mitológico – é sua referencia aos acontecimentos realizados por Deus dentro da história[32]...
2. A EVOLUÇÃO DA MARIOLOGIA NA IGREJA PRIMITIVA
MARIA aparece poucas vezes nos escritos bíblicos do Novo Testamento. E na maior parte das vezes em silencio. Esses poucos fragmentos não se referem diretamente a ela, mas estão em função de seu filho Jesus e do Espírito Santo que vem a ela:
MT 1 e 2
Mc 3,20-21. 31-35; 6,1-4
Lc 1 e 2; At 1,14
Jo 2; 19,25-27; Ap 12,1
Entretanto, como as “sete jóias” que a adornam, essas referencias bíblicas exprimem a importância de Maria e justificam o imenso interesse da Igreja pela Mãe de Deus[33].
1º - a Kechanitoomenee, “cheia de graça” – Lc 1,28
2º - a “bendita entre todas as mulheres” – Lc 1,42
3º - a”Mãe do meu Senhor” – Lc 1,43
4º - “Aquela que acreditou” – Lc 1,45
5º - aquela que “todas as gerações proclamarão bem-aventurada” – Lc 1,48
6º - a mulher na qual o Onipotente fez “grandes coisas” – Lc 1,49
7° - a “Mulher”, a Nova Eva – Jo 2,4; 19,26; Ap 12,1.
As poucas e profundas afirmações sobre Maria, escritas no Novo Testamento, foram fruto da reflexão da Igreja nascente, na fé pascal. Aos poucos foram se ampliando e se aprofundando.
O evangelho de Marcos é o primeiro evangelho escrito. A comunidade de Marcos ainda ignorava a grandeza de Maria. Apenas a via no sentido privativo, reduzia à sua função biológica e social. Maria tem apenas um nome, ainda não tem um perfil definido e nem relevância teológica. Ela permanece escondida em seu clã, como mãe do Filho de Deus por seus laços de sangue. Ela só tem a função de gerar o Filho de Deus. Sua grandeza sobrenatural permanece oculta. “Quem é minha mãe?” (Mc 3,33). “Não é ele o filho de Maria?” (Mc 6,3). Para Marcos aparece como ignorante do mistério de Jesus.
O apóstolo começa a fazer uma referencia a Maria, mas ainda indireta (Gl 4,2). O grande objetivo é o Kerygma do Ressuscitado. A luz nova e forte de Cristo toma conta, de maneira que a figura de Maria fica na sombra. Ela continua só na função de gerar o Filho de Deus (Gl 4,4).
Como se vê, bem no inicio do Cristianismo, o “mistério de Maria” ainda estava invisível.
Mas, nas comunidades de Mateus e Lucas, Maria passa a ser vista plenamente dentro do plano da salvação.
No evangelho de Mateus, escrito mais ou menos no ano 70, Maria é a Mãe virginal do Messias, segundo as profecias. Ela está inteiramente na relação com o Messias. Fazendo parte da genealogia, ela emerge como uma “personagem” importante na historia da salvação; tem uma relação privilegiada a até exclusiva com Cristo. Pela sua virgindade, é testemunho e sacramento do Messias, de sua origem e de sua natureza divina. Entretanto, em Mateus, Maria ainda não possui um “rosto” próprio, uma personalidade autônoma. É mais “mãe funcional” do Messias que mãe pessoal.
Para Lucas, ela já é uma “personalidade” consciente e livre, com uma consciência e um rosto próprio, do ponto de vista psicológico e teológico. O evangelho de Lucas teve sua redação final por volta do ano 80. A comunidade de Lucas já a vê como mulher responsável, autônoma, determinada, com um rosto, um perfil, um caráter, uma identidade própria. Já de inicio, mostra-a a frente com Cristo, numa relação polarizada e tensa, mas totalmente acolhedora.
Maria, em Lucas, é um “ser para o outro”, que é Cristo, mas com pleno consentimento de sua liberdade. Ela é toda de Cristo, não por natureza ou destino, mas por decisão pessoal. Portanto, Maria é uma figura destacada e bem personalizada,bem individualizada. É pessoa que caminha, cresce e se determina.
O livro dos Atos faz uma única referencia a Maria, em At 1,14. Entretanto, esta referencia aparece num contexto e num modo muito significativos.
Na comunidade joanina, a Mariologia entra numa fase de aprofundamento. Para João, cujo evangelho foi escrito por volta do ano 90, a Mãe de Jesus é uma figura de grande relevância teológica. Ela é a nova “mulher”, a mediadora da fé (em Caná), a Mãe da comunidade dos fiéis (aos pés da cruz) e a Mulher cósmica, figura da Igreja e da nova criação (Ap 12). Maria é mais que uma personagem e até mais que uma personalidade: ela é uma “personalidade corporativa”, cujo significado vai além da sua pessoa individual. Ela possui uma imensa irradiação simbólica, pois representa a Comunidade eclesial, a Humanidade salva e os Cosmo redimido.
Portanto, a Mariologia de João é bem mais profunda; é uma “Mariologia simbólica”, que transcende sobremaneira à Maria de Nazaré.
Os textos bíblicos garantem à Mariologia o seu espaço próprio de mistério.
Aprofundamento:
Mariologia de Marcos e de Paulo – texto de Clodovis Boff. Indrodição à Mariologia. Petrópolis: vozes, 2004, p. 33-40
Mariologia de Mateus – Idem, p. 40-45
Mariologia de Lucas – Idem, p. 45-71
Mariologia de João – Idem, p. 71-91
3. A EVOLUÇÃO DOS DOGMAS MARIANOS
A Igreja definiu alguns dogmas marianos, como verdades de fé. Primeiramente, aqueles dogmas sobre a maternidade pascal de Maria[34].
Entretanto, é preciso ter consciência de que, ao estudarmos o mistério de Maria na Igreja, no campo da Teologia Mariologia, estamos no campo da razão. Mas, o mistério de Maria pertence sobretudo ao campo do coração e da liberdade humana; portanto, não pode ser imposto sem uma “fineza” teológica. Os dogmas que a Igreja definiu como verdades de fé têm que ser visto mais como dons para se oferecer do que dogmas para se impor. Eles devem ser vistos como jóias preciosíssimas que valem por sua beleza e pelo encanto que produzem. São como presentes muito especiais[35].
Na Mariologia, é importante distinguir “o que a fé exige” do que “ a devoção permite”. O que está definido nos dogmas é o limite mínimo, exigido de todos os cristãos. A fé tem suas exigências dogmáticas, válidas para todos. Mas, a devoção é a amplidão aberta e livre para os vôos apaixonados do amor, e ela vale para a escolha de cada um. A devoção amorosa não pode ser imposta e também não pode ser impedida. Ela tem suas liberdades[36].
A devoção a Maria teve uma primeira elaboração no século III, mas está constantemente sendo elaborada. Ela encarna, de modo privilegiado, o tempo de Deus dentro do tempo das pessoas humanas. Ela é a Mulher que nasceu no Antigo Testamento, acompanhou o tempo de Cristo, esteve presente no inicio do tempo da Igreja e inaugura o tempo da humanidade totalmente redimida e divinizada em corpo e alma no céu[37].
O concilio de Éfeso (431) definiu-a como Theotokos, Mãe de Deus, pondo um ponto final nas discussões e combatendo o reducionismo nestoriano. Passou a fazer parte da fé da Igreja que Maria é mãe de Jesus Cristo, na unicidade do seu ser humano-histórico e divino. Desde o século IV ela é reconhecida como sempre virgem. A partir do Sínodo de Latrão (649), a Igreja diz que ela foi virgem antes do parto, no parto e depois do parto. No sentido da fé cristã pascal, a virgindade é uma exclusiva dedicação, de corpo e alma, às coisas do Senhor (1Cor 7,32-34), e a maternidade é uma resposta de fé. Lentamente, a Igreja tomou consciência da concepção imaculada de Maria. O dogma da Imaculada Conceição foi definido por Pio IX, em 1854, e Pio XII declarou como dogma, em 1950, que ela foi assunta ao céu em corpo e alma. Estes dois dogmas inserem-se no universo pascal do Cristo ressuscitado. Paulo VI proclamou-a Mãe da Igreja[38].
Codina diz que os dogmas marianos manifestam o Deus sempre maior, que esteve escondido no ventre de Maria. O dogma do Concilio de Éfeso, de que Maria é a Theotokos, mãe de Deus, estabelece uma vinculação clara de Maria não só com Jesus, mas com toda a Trindade. O Concilio Vaticano II diz que ela é a Mãe do Filho de Deus e, por isso, filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo que desceu sobre ela. Na tradição da Igreja do Oriente, a imagem de Maria está unida à de Jesus: a união física de Mãe e Filho expressa a comunhão entre Deus e a humanidade. A imaculada representa o triunfo da graça sobre o pecado, e a Assunção o triunfo da vida sobre a morte[39].
O dogma da Imaculada Conceição diz que Maria foi presenteada e isenta de toda mancha de pecado original. Pecado original é a perversão que está na raiz da vida, aquela situação originária que gera incapacidade de amar e fechamento da pessoa sobre si mesma. Daí vem toda injustiça pessoal e social. Prevendo a obra libertadora de Jesus Cristo, Deus de antemão preservou Maria de toda mancha do pecado original: concretizou nela a humanidade nova. Deus preparou uma mulher, toda santa e pura, para ser seu receptáculo. Maria foi preparada para ser assumida pelo Espírito Santo. Nela, o feminino repleto da divindade alcança sua plenitude. Ela era filha da terra, uma pessoa humana normal que sentia as diferentes paixões da vida, que enfrentou os problemas do seu meio, mas, por graça de Deus, tinha uma força interior que a fazia, santamente, dimensionar tudo a ponto de ser plenamente filha de Deus, irmã de todas as pessoas humanas e plenamente livre diante do mundo[40].
Entretanto, o que se realizou em Maria propõe-se a se realizar em todos nós. Também nós seremos purificados, viveremos totalmente para Deus, seremos totalmente irmãos uns dos outros e plenamente livres para o mundo. Maria concebida sem pecado é a culminância da humanidade, o coroamento de Israel, a humanidade reconciliada e harmoniosa, o que seremos afinal. Ela é o ponto de chegada, a plenitude da historia. Ela antecipa o que seremos[41].
Maria imaculada, no profetismo de sua vida e na sua assunção, é sinal e concretude da liberdade que Deus realiza com nossa participação. Na Imaculada identificamos o ideal de plenitude, de libertação plena de tudo o que é origem e fonte de opressão. Desde o pecado pessoal até as estruturas injustas; a dignidade da pessoa humana no sentido original da criação. Ela inaugura a experiência de salvação, e a vida humana em fraternidade[42].
A assunção ao céu de corpo e alma aponta a glória de Maria na perspectiva da plenitude do Reino. No seu corpo glorioso,a criação maternal começa a participar do corpo ressuscitado de Cristo (LG 69)[43]. “A mãe de Deus, já glorificada no céu em corpo e alma, é imagem e primícia da Igreja que há de atingir a sua própria perfeição no mundo futuro” (LG 68). “Se a vida é chamada para a vida e não para a morte, então a mãe do autor da vida, o templo no qual entrou o princípio de toda a geração, deveria mais do que qualquer outro, participar do mistério da vida”[44].
“A virgindade é o símbolo da fé que acolhe o dom gratuito de Deus: a vida e a salvação”[45].
A virgindade perpétua de Maria é o começo da humanidade divinizada. No Antigo Testamento, a virgindade não possuía nenhum valor particular;pelo contrário, provocava desprezo porque equivalia à esterilidade.é neste contexto que se situa a virgindade biológica de Maria: não é nenhum valor em si, mas sim empobrecimento desprezado pelos que a cercam, por isso ela canta: “Deus olhou a baixeza de sua serva” (Lc 1,48). É uma virgindade na estrutura da Kénosis de Jesus, sua humilhação e esvaziamento de si mesmo (Fil 2,5-11), pequenez, motivo de desprezo. Esta atitude de Maria permitiu a Deus nascer, primeiro em seu coração, depois em seu ventre. Não se trata de uma virtude moral, e sim teologal: ela vive na pura fé em Deus, despojada de toda auto-afirmação e de toda ambição, totalmente serva e dom de si a Deus, entregue aos desígnios do Mistério[46].
Tomamos a interpretação da grande Tradição da Igreja, desde os Santos Padres. A Igreja proclama que ela foi virgem antes do parto, aludindo ao novo começo do mundo, ao emergir do novo Adão: Deus toma a iniciativa e introduz o começo de uma nova humanidade, finalmente liberta do pecado e da morte. Proclama a virgindade no parto, aludindo ao nascimento de Jesus conforme sua natureza humano-divina. O nascimento de Jesus foi humanamente verdadeiro; Maria, plenamente mulher, teve dor e sentimentos de mãe, mas assumia e integrava tudo em Deus, perpassada pela graça de sua maternidade divina. Proclama a virgindade depois do parto, aludindo à sua dedicação total a Cristo e ao Espírito. O casal Maria e José encontravam-se num mistério maior que o mistério do encontro amoroso entre homem e mulher. A virgindade de Maria é total disponibilidade e acolhida da ação salvífica de Deus. Longe de diminuir sua feminilidade, eleva-a e a transfigura numa fecunda maternidade[47].
A teologia do Novo Testamento re-valoriza o feminino e a maternidade. A Eva, transmissora da vida, opõe-se Maria, que além de transmitir a vida também transmite a salvação. A mulher é colocada no centro da obra de Deus, e é por seu consentimento que o Messias chega à terra (Gal 4,4; Lc 1,38). À maternidade natural une-se a maternidade espiritual: ela é mãe de toda a humanidade, e mãe da Igreja[48].
Maria tem uma relação especial com a Igreja. A vocação fundamental da Igreja é, dentro de todas as contradições históricas, viver a graça divina, atualizando para si e para o mundo a libertação trazida por Jesus, e realizando o ser novo inaugurado por Jesus e por Maria. Esta vocação só foi cumprida plenamente por Maria: Na força do Espírito ela gerou Cristo e continua a gerar os cristãos, irmãos de Jesus Cristo; suscita vida nova, ajuda a construir a nova humanidade[49].
A mãe de Jesus e da Igreja, na sua vocação de mulher contemplativa, ativa e apostólica, “simboliza e realiza em plenitude a vocação de Israel. Ela personifica o povo, especialmente a comunidade dos pobres, e fala como a escolhida em beneficio de todos, dando graças em nome de todos em seu cântico, que é um florilégio dos profetas e dos salmos”[50]. Maria é a encarnação da Igreja: a comunhão entre o humano e o divino. Os Padres da Igreja meditaram longamente sobre a relação entre Eva e Maria, entre Maria e o batismo. Em Maria está a Igreja misteriosamente presente[51].
Maria é a aurora, o advento da evangelização (EN 81; Puebla 303).
Ela é missionária, porque foi a portadora da semente inicial do Reino, porque viveu os valores do Reino com maior intensidade e simplicidade, porque acompanhou de perto Jesus e acompanhou de perto a Igreja nascente. Identificou-se com seu filho e assumiu sua missão salvífica como centro de sua vida. Ela é caminho para Cristo, e nos convida a segui-lo através de uma nova comunhão, na vida em comunidade, no profetismo e na missão. Por isso, ela é o sinal missionário mais claro da presença do Reino no meio do povo[52].
A Igreja latino-americana, na fé do evangelho, busca conjugar uma libertação humana e evangelizada com uma evangelização libertadora[53].
Oração à Virgem da Libertação
D. Helder Câmara
Maria, mãe de Cristo e mãe da Igreja
Ao preparar-nos para a missão evangelizadora
Que nos cabe continuar, alargar e aprimorar,
Pensamos em ti.
Mas de modo especial pensamos em ti
Pelo modelo perfeito de ação de graças
Que é o hino que cantaste, quando tua prima,
Santa Isabel, mãe de João Batista,
Te proclamou a mais feliz dentre as mulheres.
Não parastes em tua felicidade,
Pensaste na humanidade inteira.
Pensaste em todos.
Mas assumiste uma clara opção pelos pobres,
Como teu Filho faria depois.
Que há em ti, em tuas palavras, em tua voz,
Que anunciais no Magnificat
A deposição dos poderosos e a elevação dos humildes,
O saciamento dos que tem fome
E o esvaziamento dos ricos,
E ninguém ousa julgar-te subversiva
Ou olhar-te com suspeição?;;;
Empresta-nos a tua voz, canta conosco!
Pede a teu Filho que em todos nós
Se realizem, plenamente, os planos do Pai!
Vale encenar esta parte considerando as orientações de Paulo VI, na Marialis Cultus:
É preciso corrigir certas imagens que temos de Maria, que não condizem com a sua imagem que está no Evangelho e nem com os dados doutrinais elaborados num sério e lento trabalho de explicitar a Palavra revelada. É normal que, ao longo da historia, Maria como mulher nova e perfeita cristã, como virgem, esposa e mãe, foi sendo vista com os sentimentos impregnados dos diversos marcos sócio-culturais, conforme as categorias e os modos de cada época. A Igreja se alegra por ver que a piedade mariana continua por tanto tempo, e sempre cresce. Mas, não fica presa aos esquemas representativos das diversas épocas nem às concepções de culto são perfeitamente válidas para todas as épocas e civilizações.
Paulo VI chega a dizer:
“Antes de tudo, a virgem Maria foi proposta sempre pela Igreja à imitação dos fiéis não precisamente pelo tipo de vida que ela levou e, muito menos, pelo ambiente sócio-cultural em que se desenvolveu, hoje em dia superado em quase toda parte, mas porque em suas condições concretas de vida ela aderiu total e responsavelmente à vontade de Deus; porque acolheu a palavra e a pôs em prática; porque sua ação esteve animada pela caridade e pelo espírito de serviço; porque foi a primeira e a mais perfeita discípula de Cristo: isto tem valor universal e permanente”[54].
III – A MARIA DA DEVOÇÃO DO POVO
“Na dogmática popular a intimidade maior é com Maria”, dizem as teólogas Ivone Gebara e Maria Clara Bingemer:
...os pobres, de uma maneira geral, reconhecem o valor de Jesus, o apreciam, têm presente os fatos mais importantes da sua vida, mas para eles Maria parece ter uma importância vital muito maior. Embora se conheçam poucos dados sobre sua vida, ela não deixa de ser a Mãe, a doçura, aquela a quem podemos sempre recorrer, aquela que entende as nossas aflições e sofrimentos, aquela que nos consola e protege[55].
1.A devoção mariana na historia da América Latina
Gonzalez Dorado lembra que inúmeros testemunhos nos mostram como os conquistadores eram devotos da Virgem Maria, e trouxeram aqui em nosso Continente a sua devoção. Cristovão Colombo era tão devoto que no seu estandarte estavam impressas as imagens de Jesus e de Maria. Ele carregava no peito uma corrente de ouro com a imagem de Nossa Senhora com seu Filho nos braços, e a tinha como sua advogada.
A Maria que os missionários conquistadores trouxeram aqui vinha da religiosidade popular luso-hispânica, expressa em imagens e devoções ocidentais, e tinha as características da Contra reforma. Ao chegar às novas praias, ela passou a ser caracterizada como a “Conquistadora”. Transformaram-na em uma Virgem Maria incorporada à empresa que conquistava e colonizava as terras “descobertas”, seguindo a tradição medieval de “reconquista”. Os missionários, tentando suavizar esse termo “reconquista”, que era das Cruzadas, chamavam de “conquista espiritual”. Sob o nome de “a Conquistadora”, surgiu uma outra Mariologia, uma ambígua teologia mariana, muito mais ambígua para os indígenas oprimidos e massacrados[56].
A fé mariana dos espanhóis e dos portugueses conquistadores, durante todo o período colonial, era confirmada a cada “milagre” de vitória dos grandes na dominação dos pequenos. Podemos ilustrar com um testemunho, entre tantos. Em 1517, o capitão Francisco de Cortés chefiava uma difícil batalha contra os indígenas:
O capitão mandou tirar os estandartes reais e os desfraldou, e além disso, mais outro de damasco branco e carmesim com uma cruz no verso e uma inscrição na orla que dizia assim: ‘Nesta venci e quem me carregar, com ela vencerá’. E do outro lado estava a imagem da Conceição Puríssima de Nossa Senhora e com outra inscrição que dizia: Maria, Mater Dei, ora pro nobis, e ao descobri-la e levantá-la alto, estando de joelhos, com lágrimas e devoção lhe suplicaram os aflitos espanhóis que fossem libertados de tantos inimigos, e no mesmo instante o estandarte se encheu de resplendores e infundiu no exercito valor e coragem, e foram marchando ao som das caixas e dos clarins e, chegando perto do povoado, os inimigos se dividiram ao meio em dois grupos, e um deles se colocou do lado da serra e o outro do mar que estava perto, e se dividiram ao meio... Sem dar importância às suas bravuras, os cristãos foram avançando com algum cuidado e quando chegaram bastante perto dos inimigos, puseram à mostra os estandartes que traziam, fazendo-os tremular diante da Cruz e da Virgem e... nesta ocasião o estandarte de Nossa Senhora se encheu de mais esplendores, e assim que os índios os viram se juntaram e, prostrados, trouxeram suas bandeirinhas e as puseram aos pés do Padre Frei Jaun de Villadiego, santíssimo sacerdote e ancião que tinha nas mãos o estandarte da cruz, em cuja mão esquerda ia o Capitão Francisco Cortés com toda sua cavalaria. Trinta capitães, caciques e senhores daquela província se renderam à cruz e imagem, por se terem enchido de resplendores sem nenhuma outra arma... Este sucesso foi no sábado do ano de 1517[57].
Qual a teologia que aparece neste fato? Maria é a Mãe de Deus e Imaculada Conceição, e é nomeada logo depois da Cruz. É apoio dos aflitos, no caso, os espanhóis conquistadores que recorrem a ela, rezando com lágrimas e devoção. Ela responde com um milagre que “infundiu no exercito coragem e valor” e fez os espanhóis derrotarem os índios sem necessidade de armas.
Maria Conquistadora, na fé dos colonizadores, é aquela que apóia todo o seu sistema de dominação, todas as suas ações. É invocada por eles como advogada e Rainha das vitórias, mas é uma Maria deteriorada, representante de uma postura ocidentalista-dominadora – racista – capitalista – escravista criminosa, denunciada pelos pregadores – profetas da época, como o Frei Antonio de Montesinos.
Como se explica tamanha devoção a Maria, a manifestação feminina de Deus, usada como legitimação de tanto massacre, de modo especial contra a mulher, neste Continente invadido e roubado?
É bom salientar que, nessa época de conquista empreendida pela Cristandade, estava ocorrendo uma explosão machista do culto à Virgem Maria em algumas parte do Ocidente. Maria era reduzida a um modelo de “feminilidade ideal”, exemplo de modéstia, aceitação, passividade, resignação, submissão, humildade, virtudes entendidas como “próprias da mulher”[58].
A primeira geração da Conquista foi marcada por uma extrema violência religiosa, que destruiu a cultura em nome da pureza e da verdade do cristianismo. Os conquistadores estavam convencidos de que Maria estava sempre do seu lado, contra os indígenas, os quais consideravam infiéis, por isso empreendiam o massacre dos nativos como uma guerra santa para atraí-los à fé cristã, sob a proteção da Virgem. A partir da segunda geração, depois de tento genocídio e etnocídio, o culto a Maria foi sendo integrado nos costumes da América espanhola e portuguesa. A imposição do cristianismo sempre esbarrou com problemas das diversas religiões aqui existentes, que eles consideravam idolatria; por isso insistiram em substituir a deusa mãe dos cultos antiqüíssimos por Nossa Senhora. Mas, surgiram diversas formas de integração sincrética das divindades com o cristianismo, da parte dos indígenas e dos negros. O santuário de Tepeyac (Guadalupe) é um exemplo dessa integração[59].
No período das guerras de emancipação, no século XIX, em repetidas ocasiões a Virgem Maria foi vinculada aos exércitos e chamada com os títulos de “Generala” ou de “Marechala”. A libertação e o triunfo eram simbolizados militarmente no poder das armas[60]. Principalmente na América espanhola, a devoção à virgem Maria foi uma das armas nas batalhas pela independência. Entretanto, ela teve um papel tão importante quanto na época colonial, e em toda a América Latina a devoção à virgem continuou tão popular como nos tempos da Colônia. Alem das muitas ermidas, capelas e oratórios erguidos em sua honra, Maria foi a protetora de muitas lutas populares de libertação, como a dos escravos. Muitos movimentos de camponeses no Brasil, na Bolívia e no Peru, tiveram como motor de luta a devoção à virgem que luta com eles pela sua libertação. Recentemente, a luta dos sandinistas contra o regime de Somoza, na Nicarágua, foi movida pela devoção à Puríssima[61].
É interessante olhar as imagens de Maria nas diferentes classes sociais, na história do Brasil[62].
A devoção Mariana dos conquistadores e colonizadores:
A milagrosa Medianeira: Esta imagem expressava gratidão pelo sucesso e admiração dos colonizadores pelas maravilhas da terra “descoberta”. Também Nossa Senhora das Maravilhas estava na Bahia, em 1550.
Nª Sra. da Esperança: era o nome de uma das caravelas de Cabral, em 1500.
Nª Sra. da Graça foi uma imagem “aparecida” de Caramuru, na Bahia em 1530.
Nª Sra. da Conceição e Nª Senhora da Ajuda estavam na frota de Tomé de Souza, em 1549.
Também tinham as imagens de Nossa Senhora guerreira, na colonização radical:
Nª Sra. da Vitória expressou a vitória sobre os índios, em 1555.
Nª Sra. da Vitoria no rio Paraguaçu expressou a vitória de Mem de Sá sobre o “gentio”, em 1559.
Nª Sra. dos Prazeres, no Recife, expressou a expulsão dos holandeses nos Montes Guararapes.
Nª Sra. do Rosário: os dominicanos levaram esta imagem ao Congo, na ocupação da África, introduzido a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário em 1570. Os capuchinos obtiveram licença para propagar esta devoção no Brasil. Era a imagem presente nos navios negreiros, símbolo da redução dos africanos à religião católica.
E tinham a Aristocrática:
Nª Sra. do Patrocínio é a branca senhora da casa grande, que está no mundo familiar junto com são José de Botas (símbolo do senhor de engenho) e Santa Ana que ensina o catecismo a Nossa Senhora. A Sagrada Família está nas palavras de Vieira:
Mais inveja devem ter vossos senhores às vossas penas, do que vós aos seus gostos, a que servis com tanto trabalho. Imitai o Filho e a Mãe de Deus e acompanhai-os com São José nos mistérios dolorosos, como próprios da vossa condição e da vossa fortuna, baixa e penosa nesta vida, mas alta e gloriosa na outra. No céu cantareis os mistérios gozosos e gloriosos com os anjos, e lá vos gloriareis de ter suprido com grande merecimento o que eles não podem, no contínuo exercício dos dolorosos[63].
A devoção mariana da instituição eclesiástica:
Nª. Senhora da Conceição representa o triunfo da restauração portuguesa após o domínio espanhol de 1580 a 1640. Portugal consagrou suas colônias a Nª. Sra. da Conceição a 25 de março de 1646. Ela é a senhora dos brancos e representa o mundo triunfal, no ciclo mineiro do Brasil, com a descoberta das minas de ouro, prata e diamantes.
Nª. Senhora do Rosário, cuja devoção foi propagada por Frei Antonio do Rosário em 1702, também se identifica com a instituição eclesiástica.
A devoção mariana dos pobres: a Virgem Morena
Nª Senhora Aparecida vem da tradição nascida em 1717. A pequena imagem “pescada” no rio Paraíba do Sul foi conservada pelos pobres de 1717 até 1745, quando o vigário de Guaratinguetá lhe construiu uma capela. Representa a mesma tradição latino-americana dos pobres em Tepeyac, com a imagem de Nª Senhora de Guadalupe, que foi largamente difundida no Brasil no período da união das coroas espanhola e portuguesa (1580 – 1640). Em Olinda e Salvador há igrejas dedicadas a Nª. Sra. de Guadalupe.
Após 1640, num movimento destinado a “descastelhanizar” Portugal e o Brasil, o nome “Guadalupe” foi substituído pelo de “Conceição”, mas a imagem e seu significado permaneceram. A estátua de Nossa Senhora Aparecida pode ser a cópia, em barro, do retrato miraculoso da aparição do Tepeyac[64]. GUADALUPE – APARECIDA significa a aliança de Maria com os pobres que vivem à margem do sistema.
Apesar de todas as contradições na implantação da devoção mariana neste Continente, Virgílio Elizondo diz:
“É um fato inegável que a devoção a Maria é uma característica do cristianismo latino-americano mais popular, persistente e original. Ela está presente nas próprias origens do cristianismo do Novo Mundo. Desde o inicio, a presença de Maria conferiu dignidade aos escravos, esperança aos explorados e motivação para todos os movimentos de libertação”[65].
Gonzalez Dorado mostra um processo que vai da Maria Conquistadora à Maria Libertadora. Na matriz religiosa e cultural da América Latina, os momentos de mudança evidenciam o novo rosto mestiço de Maria, expresso principalmente em três momentos: Guadalupe (México), Copacabana (Bolívia) e Aparecida (Brasil)[66].
São alguns dos muitos títulos na devoção mariana popular na América Latina[67]:
ARGENTINA: Nossa senhora de Luján (ou Nossa senhora de Itati)
BELIZE: Nossa senhora de Guadalupe
BOLÍVIA: Nossa senhora de Copacabana (ou de Socaván)
BRASIL: Nossa senhora Aparecida
COLOMBIA: Nossa senhora de Chinquiuira
COSTA RICA: Nossa senhora dos Anjos
CUBA: Nossa senhora da Caridade do Cobre
CHILE: Nossa senhora do Carmo de Maipu
EQUADOR: imaculado coração de Maria
EL SALVADOR: Nossa senhora da Paz
GUATEMALA: Nossa senhora do Rosário
HAITI: Nossa senhora do Perpétuo Socorro
HONDURAS: Nossa senhora de Suyapa
MÉXICO: Nossa senhora de Guadalupe
NICARÁGUA: Nossa senhora da Puríssima Conceição
PANAMÁ: Virgem da Assunção
PARAGUAI: Nossa senhora de Caacupé
PERU:Nossa senhora das Mercês
PORTO RICO: Nossa senhora da Providência
REPÚBLICA DOMINICANA: Nossa senhora de Altagraça
URUGUAI: Nossa senhora dos Trinta e Três Orientais
VENEVUELA: Nossa senhora de Coromoto.
O povo dominado deste Continente aderiu à Maria da História, guardando devotamente a tradição de nossa Mãe Maria. Aqui, a maternidade é sofrida, é dolorosa. Na fé do povo, Maria torna-se profundamente humanizada, enraizada no mundo real dos sofredores: é a mãe mais oprimida dos oprimidos. Sua própria historia é uma historia de pobreza e opressão, num cristianismo da Paixão na Semana Santa que tem dificuldade de chegar à Ressurreição. As duas cenas mais marcantes da historia de Maria são Belém e o Calvário, e sua representação mais significativa é a da Virgem das Dores[68].
Entretanto, o povo incorpora a dimensão histórica de Maria, com a maior naturalidade, na Maria pascal e gloriosa. É natural que uma imagem chore diante das atuais tragédias. No mais profundo da maternidade latino-americana está o mistério da dor. Na sua simplicidade, a fé dos pobres leva-nos ao mistério do Cristo ressuscitado que conserva em seu corpo as chagas[69].
É o que mostra este bendito:
Nossa senhora Santana/ na beira do rio
Lavando os paninhos/ do seu bento filho.
Nossa senhora lavava/ São José estendia,
Menino chorava/ do frio que fazia.
Não chores, menino/ não chores, meu amor
Da faca que corta/ do taio sem dor.
Se eu fosse bem nascido/ se eu fosse bem criado,
O filho da rosa/ de um cravo encarnado...
A relação afetiva com Maria, é fundamental na configuração da teologia mariana na América Latina. Ela é minha mãe e é nossa mãe. Dali se desdobram as diferentes expressões na devoção mariana, não isentas das ambigüidades e conflitos que marcam o chão das diferentes culturas, especialmente da cultura popular. O processo da historia, neste Continente, está marcado pelo machismo, pela opressão e pela predominância da experiência camponesa. O povo devoto, aqui, reconhece-a Virgem: a “nossa mãe” triunfa diante da agressão machista, e tem o privilégio de ter sido amorosamente fecunda por Deus de uma forma semelhante à da mãe-terra[70].
O mistério da Imaculada Conceição é o que, provavelmente, teve maior acolhida entre os oprimidos da América Latina. Embora sem entender muito as formulações dogmáticas, se expressa significativamente de várias maneiras: “a limpa e a Pura Conceição da Virgem Maria”; “a sem pecado”; “a sem mancha”; “a Pura”, “a Puríssima”. Em Cuzco ela é chamada “a Linda”, e em Lima “a Única”. Ela expressa o ideal de mãe e de lar que se opõe ao contexto violento, mentiroso, cheio de maldades e de dominação sexista. As mulheres e os homens oprimidos nela redescobrem sua profunda dimensão de filhas e filhos; nela está a ausência de pecado, de violência, de mentira, de tudo o que é “feio”; ela é a “única” na qual surge um mundo diferente. O imaginário que a representa tem predominante as cores azul a branco, e não o vermelho da agressividade nem o preto da tristeza[71].
A religião do povo também assimilou o dogma da Assunção: Ela não é reduzida à alma de alguém que morreu, mas está viva, na totalidade do seu ser humano, tem uma certa onipresença e com ela é perfeitamente possível falar e conviver em qualquer tempo e qualquer lugar. Mesmo não conseguindo explicar teologicamente o que seja a assunção, o povo sabe que ela está viva, é a Senhora ou Mãe do céu e mora de forma transparente no universo de Deus, de Jesus Cristo, dos anjos e dos santos[72].
“Nossa Senhora” é título supremo de autoridade: ela é a verdadeira senhora dos filhos no lar materno, dentro do universo machista. É a protetora dos seus filhos, auxilio dos pecadores e aflitos, consolo dos tristes, apoio dos inocentes, e, nas situações – limites da vida, ela é a última esperança, e pode-se esperar dela o milagre[73].
2.A DEVOÇÃO A MARIA NA PERSPECTIVA DAS CEBs
Vem, Maria Mulher,
Teu canto novo nos ensinar.
Um Deus com rosto de Mãe
Vem aos pobres anunciar!
É impressionante como mulheres e homens do meio do povo empobrecido e marginalizado, com sua fé vivida na simplicidade, estão ajudando a reformular a fé e a teologia da Igreja. O credo popular, como diz Victor Codina, não é uma degeneração do credo oficial, mas sim, muitas vezes, fonte de vida para toda a Igreja. Isto acontece na mesma dinâmica da historia de Maria: Deus renova o seu povo a partir das margens. É dos anawin (pobres de Javé) que nasce o messias e toda a espiritualidade do Novo Testamento. A partir dos anawin de hoje, nas margens das sociedades do mundo todo, está nascendo uma espiritualidade pobre, simples, evangélica, martirial e pascal[74].
Maria é modelo e protagonista de uma espiritualidade nova, nascida no “poço” da vida, das alegrias e sofrimentos do povo da América Latina[75].
Na Igreja dos Pobres, a mariologia vai se transformando. A partir das CEBs (comunidades eclesiais de base) a mulher, como Maria, tem acesso à Palavra, é protagonista e exerce papel profético. E a nova Mariologia dá ao credo popular um sentido mais libertador. Maria não é somente aurora da evangelização, mas aurora da plena libertação[76].
Maria carregou em seu ventre livre e deu à luz Jesus, o libertador dos pobres. Ela é a concretização do projeto libertador de Deus, ocorrido no meio dos pobres, e é figura da Igreja que nasce dos pobres pelo Espírito de Deus. Na família pobre de Nazaré, Jesus, José e Maria, em sua simplicidade e dignidade do trabalho na luta pelo pão de cada dia, fiéis à espiritualidade dos “pobres de Javé”, no meio de Israel, Deus plantou a semente da libertação de todo um povo[77].
Os membros das CEBs trazem a herança da devoção popular católica com suas inculturações, na matriz cultural tradicional. Acrescentam conteúdos sociais novos, como a luta pela justiça, a opção pelos pobres, a organização popular em vista da construção de uma nova sociedade. E criam uma nova cultura religiosa, que tem os traços do compromisso social, da participação democrática a partir da base e da reflexão na ação. As CEBS pertencem à base leiga popular católica de piedade tradicional, mas são “modernas” na racionalidade: desenvolvem a consciência critica das pessoas; fazem a interação da fé com a vida, da prática libertadora com a celebração do compromisso libertador. Nesta nova matriz cultural, inculturam a imagem de Maria. Mas, mantém-se firmemente na raiz da tradição cristã e na comunhão com toda a Igreja[78].
As canções marianas criadas por “artistas da caminhada” e cantadas nas CEBs trazem estes traços característicos de Maria: libertadora, companheira, mulher do povo, negra. O tema bíblico mais cantado é o do Magnificat.
Através do novo jeito de ler a Bíblia, o povo das CEBs vê a identidade de Maria no seu canto do Magnificat: Ela diz “sim” a Deus e a seu plano constantemente, ao mesmo tempo em que diz “não” às injustiças e às causas da opressão do povo. Ela é “figura e expressão perfeita do povo fiel, serva do Senhor, e também mulher profética que traz em si a Palavra de Deus e as aspirações do povo. E fala e vive a denuncia do pecado e o anuncio da Aliança”[79].
O título de “Companheira”, companheira de caminhada e companheira de luta, é novo. Ela também é chamada de “irmã”.
Na partilha do amor e do axé
Companheira, guerreira, mãe, mulher
Irmã negra na luta e na dor
Peregrina menina Yaô.
Ela é chamada a “entrar” na caminhada” do povo, para guiá-lo ao Reino da justiça e da libertação. A teologia clássica coloca Maria como companheira de Cristo; a mariologia popular, a partir das CEBs, acrescenta que ela é companheira do Povo a caminho. Ela está mais no meio do Povo de Deus, junto dele, do que acima dele. Não é tanto a mediadora que se coloca no lugar do Povo, mas inspiradora e guia, lado a lado com o Povo. Esta nova compreensão de Maria se dá porque os membros das comunidades assumem as suas responsabilidades históricas, e sentem a Virgem Maria atuando junto com eles, e não no lugar deles[80].
Os membros das CEBs vêem Maria muito presente no cotidiano de sua vida e de suas lutas. Ela é Mãe de Deus e mãe do povo; é mãe do céu, santa e misericordiosa, mas é também irmã da terra, companheira de caminho, mãe dos oprimidos e dos desprezados[81]. É libertadora, no sentido da coragem profética, mas também num sentido profundamente amoroso, cordial, afetivo[82]. No mundo guarani, ela é chamada Che Tupãzy, isto é, “minha mãe de Deus”. Aqui está o reconhecimento da dupla maternidade: mãe de Deus e nossa mãe[83].
Os acréscimos e reformulações se fazem na fidelidade à Maria da fé pascal, à Maria da tradição bíblica e da doutrina da Igreja, à Maria da historia: “Que Maria, presente em Pentecostes com os apóstolos, discípulos e discípulas, invocada entre nós como a Nossa Senhora Aparecida e, na América Latina, como a Virgem de Guadalupe, acompanhe e inspire, fortaleça e anime nossa caminhada”[84].
Paulo VI afirmou que Maria de Nazaré “foi absolutamente distinta de uma mulher passivamente remissa ou de religiosidade alienante, ao contrário, foi a mulher que não duvidou em proclamar que Deus é defensor dos humildes e dos oprimidos e derruba os poderosos de seus tronos”[85]. E João Paulo II diz:
O Deus da aliança, cantado pela Virgem de Nazaré, na elevação de seu Espírito, é quem derruba do trono os poderosos, enaltece os humildes, aos famintos lhes enche de bens e aos ricos despede vazios. (...). Portanto, a Igreja é consciente – de que não somente se pode separar estes dois elementos da mensagem contida no magnificat, mas que também se deve salvaguardar cuidadosamente a importância que os “pobres” e a “oração em favor dos pobres” tem na Palavra de Deus vivo. Trata-se de temas e problemas organicamente relacionados com o sentido cristão da liberdade e da libertação[86].
Toda a Igreja é chamada à conversão diariamente, com o olhar em Maria, para ser a serva do Senhor, e deixar que o Senhor opere maravilhas no mundo através de sua serva.
BIBLIOGRAFIA:
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BOFF, Clodovis. Maria na cultura brasileira. Aparecida, iemanjá, Nossa Senhora da Libertação. Petrópolis, vozes, 1995.
BOFF, Leonardo. O rosto materno de Deus: ensaio interdisciplinar sobre o feminino e suas formas religiosas. 8ª Ed., Petrópolis, vozes, 2000.
BROWN,R.E. (org.)Maria no Novo Testamento. São Paulo, Paulinas, 1985.
CODINA, Victor. O Credo dos Pobres. São Paulo, Paulinas, 1997.
CONCILIO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumem Gentium.
COYLE, K. Maria na Tradição Cristã. São Paulo, Paulus, 1999.
FIORE, S. de & MELO, S. Dicionário de Mariologia. São Paulo, Paulus, 1995.
GEBARA, Ivone & BINGEMER, Maria Clara. “Maria no povo de Deus”. In BEOZZO, José Oscar, ET al. Vida, Clamor e Esperança. São Paulo, Loyola, 1992.
MARINS, José, ET al. Maria Libertadora na caminhada da Igreja. São Paulo, Paulinas, 1986.
PAULO VI. Exortação Apostólica Marialis Cultus. Roma, 1974.
[1] CODINA, Victpor. O Credo dos Pobres. São Paulo, Paulinas, 1997, PP. 41-42.
[2] Documento assinado por cristãos de El Salvador, Coréia, Namíbia, Nicarágua, Filipinas e África do Sul. Apud CODINA, Victor. O Credo dos pobres, São Paulo, Paulinas, 1997, p. 39.
[3] CODINA, op. Cit., PP. 38-40.
[4] Idem, p. 41.
[5] GONZALEZ DORADO, Antonio. Mariologia Popular Latino-Americana. São Paulo, Loyola, 1992.
[6] BOFF,Leonardo. O rosto materno de Deus: Ensaio Knterdisciplinar sobre o feminino e suas formas religiosas. 8ª Ed., Petrópolis, Vozes, 2000, PP. 13-18.
[7] PEREIRA, Nancy Cardoso. Amantíssima e só: Evangelho de Maria & as outras. São Paulo, Olho D’Água 1999, p. 40.
[8] De fide orthodoxa, III, 12: pg 94, 1029.
[9] “Maria... une em si de certo modo e reflete as supremas normas da fé” (LG 65).
[10] CELAM. Igreja e religiosidade popular na América Latina, 1976.
[11] BOFF,Clodovis, Introdução à Mariologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004, p.13.
[12] É interessante ver a obra de MORIN, Émile. Jesus e as estruturas de seu tempo. São Paulo, Paulinas, 1981. Será oportuno para ver a condição das mulheres no contexto do judaísmo no tempo de Jesus.
[13] BOFF. O rosto materno de Deus, op. Cit., p. 133.
[14] GEBARA, Ivone e BINGEMER, Maria Clara. “Maria no povo de Deus”. In BEOZZO, José Oscar, ET AL. Vida, clamor e esperança. São Paulo, Loyola, 1992, PP. 196-197.
[15] BOFF. O rosto materno de Deus, op. Cit., p. 133.
[16] MARINS, José, ET AL. Maria Libertadora na caminhada da Igreja. São Paulo, Paulinas, 1986, p.31.
[17] Idem.
[18] GONZALEZ DORADO, op. Cit., PP. 25-26.
[19] Idem.
[20] Seguimos principalmente BOFF, Leonardo. O rosto materno de Deus, op. Cit., PP. 122-128.
[21] MARINS, op. Cit., p. 80.
[22] Ibidem, p. 124.
[23] GEBARA e BINGEMER, op. Cit., p. 197.
[24] Ibidem, p. 197-198.
[25] Ibidem, p. 198.
[26] Ibidem,p.199.
[27] Ibidem, p. 199.
[28] Ibidem, p. 199.
[29] MARINS, op. Cit. P. 81-82.
[30] GEBARA, Ivone e BINGEMER, Maria Clara. “Maria no Povo de Deus”. In BEOZZO, José Oscar, ET AL. Vida, Clamor e Esperança. Reflexão para os 500 anos de evangelização da América Latina. São Paulo, Loyola, 1992, PP. 195-196.
[31] Ibidem,p.196.
[32] BOFF. O rosto materno de Deus, op. Cit., PP. 138-139.
[33] Esta parte da evolução da Mariologia no Novo Testamento é desenvolvida por Clodovis Boff, em Introdução à Mariologia, op. Cit., cap. I.
[34] GONZALES DORADO, op. Cit., PP. 28-32
[35] Clodovis Boff, op. Cit., p.26.
[36] Ibidem.
[37] BOFF. O rosto materno de Deus, op. Cit., p.139.
[38] GONZALEZ DORADO,Op. Cit., p.28-32.
[39] CODINA. O Credo dos pobres, op. Cit., p.43.
[40] BOFF. O rosto materno de Deus, op. Cit., PP. 140-145.
[41] BOFF, idem.
[42] MARINS, ET AL. Maria Libertadora, op. Cit., p.18.
[43] Ibidem, cit. p. 20.
[44] BOFF. O rosto materno de Deus, op. Cit., p. 179.
[45] IDÍGORAS, J. L. Vocabulário teológico para a América Latina. São Paulo, Paulinas, 1983.
[46] BOFF. O rosto materno de Deus, op. Cit., PP. 149-151.
[47] BOFF. O rosto materno de Deus, op. Cit.,PP 151-164.
[48] IDÍGORAS, op. Cit., p.271.
[49] BOFF. O rosto materno de Deus, op.cit.,PP.175-176.
[50] JOSAPHAT, Frei Carlos. As santas doutoras. Espiritualidade e emancipação da mulher. São Paulo, paulinas, 1999,p.17.
[51] CODNA. O Credo dos pobres, op.cit.,p.43-44.
[52] MARINS, et al. Maria Libertadora, op.,cit.,PP.20-21.
[53] GONZALEZ DORADO. Mariologia popular latino-americana, op.cit.,p.98.
[54] PAULO VI. Exortação Apostólica Marialis Cultus, Roma, 1974, n 34-36.
[55] GEBARA, Ivone & BINGEMER, Maria Clara. Maria Mãe dos pobres. Petrópolis, Vozes, 1987,p.141.
[56] GONZALEZ DORADO, op. Cit., PP.33-41.
[57] Extraído da “Cronicas Miscelánea de Jalino”, escrita por Fr. Antonio de Tello. Apud GONZALEZ DORADO, op.cit.,p.37.
[58] MOREIRA DA SILVA, Vilma. “La mujer em La teologia. Reflexion bíblico teológica”. In AA.VV. mujer latinoamericana, Iglesia e teologia. México, 1981,p.155-156.
[59] GEBARA E BINGERMER. “Maria no Povo de Deus”,op.cit.,p.200.
[60] GONZALEZ DORADO. Mariologia popular latino-americana,op.,cit.,p.104.
[61] Ibidem,PP.200-201.
[62] Apresentamos uma síntese, a partir destes autores: HOORNAERT, Eduardo,ET al. Historia da Igreja no Brasil – primeira época. Tomo II/1,4ª.ed.,Paulinas e Vozes, 1992, PP.344-350; Idem. Formação do Catolicismo Brasileiro – 1550-1800. Petrópolis, Vozes, 1978; AZZI, Riolando. A Cristandade Colonial: Mito e ideologia. Petrópolis, vozes, 1987; BEOZZO ,José Oscar. “Irmandades, santuários e capelinhas de beira de estrada”. In REB, dezembro de 1977.
[63] Pe. Antonio Vieira. Sermões Pregados no Brasil. Lisboa, Agencia Geral das Colônias, 1940, PP.30-42.
[64] MACHADO, Pe. João Correa. Aparecida na história e na Literatura. Campinas, 1976,PP.104-105. Ver também HOORNAERT, Eduardo, “A Evangelização segundo a tradição Guadalupiana, in REB de 1974,PP.524-545.
[65] ELIZONDO, Virgílio. “Maria e os pobres: um modelo de ecumenismo evangelizador”. In AA. VV., a mulher pobre na historia da Igreja latino-americana. São Paulo, Paulinas, 1984,p.22.
[66] GONZALEZ DORADO. “Mariologia popular..., op. Cit., p.43.
[67] MARINS, ET al. Maria libertadora,op.cit.,PP.,92-93.
[68] DORADO. Mariologia popular latino-americana.pp.67-70.
[69] Ibidem.p.70.
[70] DORADO. Mariologia popular latino-americana.pp.57-64 e 66.
[71] Ibidem.p.66.
[72] Ibidem.pp.66-67.
[73] Ibidem.p.67.
[74] CODINA, Victor. O credo dos Pobres. São Paulo, Paulinas, 1997.pp. 46-47.
[75] GEBARA E BINGEMER. Maria no povo de Deus,p.203.
[76] CODINA. O credo dos pobres.
[77] GEBARA e BINGEMER. Maria no povo de Deus.pp.202-203.
[78] BOFF. Clodovis. Maria na cultura brasileira. Aparecida. Iemanjá, Nossa senhora da Libertação. Petrópolis, Vozes, 1995. P.75-77.
[79] GEBARA e BINGERMER. Maria do povo de Deus. PP. 202-204.
[80] Ibidem,PP.77-86.
[81] GEBARA e BINGEMER. Maria do povo de Deus,PP.202-204.
[82] BOFF. Clodovis. Maria na cultura brasileira, PP. 90-91.
[83] DORADO. Mariologia popular latino-americana,p.65.
[84] Carta dos bispos católicos do Brasil e da América Latina presentes ao X Intereclesial de CEBs, 11 a 15 de julho de 2000.
[85] Marialis Cultus, 37.
[86] RM 37,3-5.
muito obrigado pala sua capacidade de explicar que deus o ilumine e nossa sra te ilumine nas horas difíceis e lhe afague nas boas horas.
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