Introdução:
Este curso trata das relações entre judaísmo e cristianismo do primeiro século da era cristã até nossos dias, com objetivo de mostrar como as duas religiões vão se distanciando aos poucos e o que conservaram entre si.
Conceituando, o judaísmo é a primeira religião monoteísta e acredita em um Deus único e soberano, criador e governador, Deus entreve além da ação do homem. É um Deus que interfere na historia do homem e o homem precisa descobrir qual a vontade de Deus, saber o que Deus quer.
Deus se revela na TORAH, e a partir dela o homem descobre o que Deus almeja dele, a TORAH é complementada pela TANAR = Bíblia. O judeu acredita que Deus escolheu seu povo e fez aliança com ele, protegendo-o, a TORAH é a forma de Deus se relacionar com o homem.
O livro do Gêneses, capitulo 17 é o texto de fundação do judaísmo, onde vemos o primeiro momento em que Deus se revela ao povo no chamado a Abraão, Abraão que era pagão, conhece a Deus que se apresenta a ele fazendo aliança e intervindo nas situações precárias da vida de Abraão, transformando a precariedade em algo organizado. (Gen 17,1-8)
“Sendo, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda em minha presença e sê perfeito; E porei o meu concerto entre mim e ti, e te multiplicarei grandissimamente. Então caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou Deus com ele, dizendo: Quanto a mim, eis o meu concerto contigo é, e serás o pai de uma multidão de nações; E não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai da multidão de nações te tenho posto; E te farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti; E estabelecerei o meu concerto entre mim e ti, e a tua semente depois de ti, nas suas gerações, por concerto perpétuo, para te ser a ti por Deus, e à tua semente, depois de ti. E te darei a ti, e à tua semente depois de ti, a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em perpétua possessão, e ser-lhes-ei o seu Deus”.
O segundo momento do chamamento é quando Deus convoca Moises a libertar o povo no Egito. (Êx 3,1-10)
“E APASCENTAVA Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em Midian; e levou o rebanho atrás do deserto, e veio ao monte de Deus, a Horeb.
E apareceu-lhe o anjo do Senhor, em uma chama de fogo do meio de uma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
E Moisés disse: Agora me virarei para lá, e verei esta grande visão, porque a sarça se não queima.
E vendo o Senhor que se virava para lá a ver, bradou Deus a ele, do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. E ele disse: Eis-me aqui.
E disse: Não te chegues para cá; tira os teus sapatos dos teus pés; porque o lugar em que tu estás é terra santa.
Disse mais: Eu sou o Deus do teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e o Deus de Jacob. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus.
E disse o Senhor: Tenho visto, atentamente, a aflição do meu povo, que está no Egipto, e tenho ouvido o seu clamor, por causa dos seus exactores, porque conheci as suas dores.
Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel; ao lugar do cananeu, e do heteu, e do amorreu, e do fereseu, e do heveu, e do jebuseu.
E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou a mim, e também tenho visto a opressão com que os egípcios os oprimem.
Vem agora, pois, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo (os filhos de Israel) do Egito”.
O terceiro momento é a entrega da TÀBOA da Lei a Moises que teria atuado como líder do povo em 1250 a.C. (Êx 31, 18)
“E deu a Moisés (quando acabou de falar com ele, no monte de Sinai) as duas tábuas do testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus.”
Quando o cristianismo aparece, o judaísmo já tem aproximadamente 1800 anos de existência, já estava maduro, estruturado, com a concepção de um Deus único e com um culto definido.
O cristianismo se aproveita desta estrutura adotando-a para si, (a Dei Verbo vai dizer que o primeiro testamento é a palavra de Deus revelada). A palavra de Deus do judeu. Ao ler o texto Bíblico, portanto, se vê toda estrutura judaica.
As figuras fundadoras do judaísmo também são adotadas pelos cristãos. ( Nostra Aetate, diz que no chamamento de Abraão já estava contida a Igreja).
A história do cristianismo depende da historia do judaísmo, (Abraão e Moises são figuras judaicas assim como Jesus).
A noção de um Deus único, a idéia de templo de Deus que lá desce para se encontrar com o homem; (Deus esta no templo e em todo lugar), a doutrina da ressurreição, tudo isso é adotado pelos cristãos a partir do judaísmo.
O primeiro relacionamento entre as duas religiões é de proximidade, o cristianismo nasce como uma seita no judaísmo; Raymond BROWN, diz o contrário, e que as comunidades cristãs já nascem separadas do judaísmo. Na verdade ainda não há um consenso a respeito do que é histórico, precisamos estudar a partir do desenvolvimento evolutivo das comunidades da época.
I – Jesus Cristo, Judeu segundo a carne e a fé
Paulo em Col 1,18 diz que Cristo é a cabeça da Igreja; antropologicamente dizer isto é falar que Jesus é o fundador da Igreja. Para saber se a afirmação é antropológica ou cristológica, devemos recorrer ao texto, definindo o que é histórico e o que não é, ( Escola de Bultmann).
Não é possível negar a existência de Jesus Histórico, seus milagres e ressurreição, pois só temos os Evangelhos para recorremos em nosso estudo, ( Escola de Oxford)
1. Jesus, judeu do ponto de vista da origem
Flavio Josefo é a única fonte histórica que temos de Jesus e este confirma a existência de Jesus, (ano 60 d.C., pág 232, numero 762)
Podemos afirmar que Jesus é Judeu, humano e que nasceu no período de Erodes o grande, 34 – 4 a.C.. Jesus nasceu, portanto entre o ano 7 a 4 a.C.. Sua residência era em Nazaré, o nascimento é uma incógnita, se em Nazaré ou Belém. Lc diz Mora em Nazaré e nasce em Belém, Mt diz nasceu em Belém, João desconhece, Marcos não fala nada, João 7 na pregação das tendas mostra Jesus de Nazaré. Historicamente nasceu em Israel, talvez Nazaré, teologicamente Belém, para cumprir profecias.
Mateus diz ser da descendência de DAVI, Paulo descendência da carne (Rm 9, 3-6; Hb 7, 14 da tribo de Judá; Ap 5,5 origem judaica.
2. Jesus, um judeu religioso
a) Toda sua vida decorre de acordo com a tradição religiosa judaica. (Lc 2,22-24).
“E, cumprindo-se os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor); E para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: um par de rolas ou dois pombinhos”.
Jesus nasce e é apresentado ao templo para a purificação, Jesus é circuncidado no oitavo dia como manda a Lei judaica (Gn 17,11-14).
“E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal do concerto entre mim e vós.
O filho de oito dias, pois, será circuncidado, todo o macho nas vossas gerações; o nascido na casa, e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua semente.
Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; e estará o meu concerto na vossa carne por concerto perpétuo.
E o macho com prepúcio, cuja carne do prepúcio não estiver circuncidada, aquela alma será extirpada dos seus povos; quebrantou o meu concerto”.
Lucas 2,41 diz que seus pais iam todos os anos para a festa da páscoa em Jerusalém.
“Ora, todos os anos, iam seus pais a Jerusalém, à festa da páscoa; E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa”.
Lc 2,46-47 mostra o BAR MITSVA de Jesus, a passagem para o universo adulto, isto é histórico, pois com 12 anos o jovem TALMUD já pode discutir política e religiosidade, Jesus esta acima dos outros por seu conhecimento.
“E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e interrogando-os. E, todos os que o ouviam, admiravam a sua inteligência e respostas”.
b) Inicio da vida publica de Jesus
O batismo ministrado por João Batista é o típico batismo dos essênios, com três elementos:
1- Arrependimento prévio
2 – Banho
3 – Intervenção do Espírito de Deus
O batismo de Jesus é tipicamente essênio, portanto judaico, não há elementos novos, até a fala de Deus já estava no livro do profeta Isaias. Jesus batizado é credenciado com a autoridade para falar em nome de Deus.
c) Ministério de Jesus
Mateus 4,23 nos apresenta: “E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o Evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo”.
Após a tentação Jesus vai para a Galiléia para as sinagogas, é lá que começa seu ministério. Em Marcos 1,21-22 vemos Jesus na sinagoga em dia de sábado. Na sinagoga quem ensina é rabi.
“Entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali ensinava. E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas”.
Lucas 4,15 - 21 Mostram Jesus no sábado em Nazaré na sinagoga ensinando a partir de Isaias. “E ensinava nas suas sinagogas, e por todos era louvado. E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.
E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:
O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração,
A apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor.
E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.
Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”.
O rabi é quem interpreta é ele que prega; este texto não tem nada de cristão, é judaico.
Mateus 21,12 - 13, no templo, casa de oração, Jesus expulsa os vendilhões.
“E entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas: E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração — mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”.
Segundo Lucas, Jesus pregava diariamente no templo com autoridade, Jesus reza a oração cotidiana do judeu “ SHEMA ISRAEL”
d) O ministério de Jesus e os gentios
Mateus 6,31-33, o judeu se preocupa com as coisas do alto, são os gentios que pensam em coisas banais, para Jesus os gentios são Banais.
“Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos?
(Porque, todas estas coisas os gentios procuram.) De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.
Mateus 10,5-6 não percam tempo com os gentios.
“Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho das gentes, nem entrareis em cidade de samaritanos;Mas ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel”;
Mateus 15,21- 24 não fui enviado senão a casa de Israel, gentios são cachorros.
“E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sídon. E eis que uma mulher cananeia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de David, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada. Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós. E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel”.
Mateus 8,5 - 8 não precisa entrar em minha casa, Jesus não entra em casa de pagão (gentil)
“E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe, E dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico e violentamente atormentado.
E Jesus lhe disse: Eu irei e lhe darei saúde. E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas, dize somente uma palavra, e o meu criado sarará”;
e) O papel da Lei (TORAH) no ministério de Jesus.
A lei de Moises não é restrita ao legalismo, a função da lei é dar prerrogativas para uma vida civilizada. Jesus não ignora a lei.
Mateus 8,1- 4 Jesus ao curar manda cumprir a lei de Moises. Só o sacerdote pode fazer isso.
“E DESCENDO ele do monte, seguiu-o uma grande multidão. E, eis que veio um leproso e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E logo ficou purificado da lepra.
Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas, vai, mostra-te ao sacerdote, e apresenta a oferta que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho”.
Lucas 16,17 não tirar uma só vírgula da Lei.
“E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei”.
Mateus 5,17-19 Jesus ensina seguir a Lei.
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir.
Porque, em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.
Qualquer, pois, que violar um destes mais pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar, será chamado grande no reino dos céus”.
Jesus operava nos sábados, o que é proibido, ele quebra a Lei do Sábado.
A ação de Jesus é criticada porque gera transformação que requer uma ação. A atitude de Jesus esta pautada pela escolha do sábado ou da vida. Não se trata de somente desrespeitar a Lei, mas sim de respeitar a vida que esta em primeiro plano, a vida sempre esta acima da Lei segundo a própria bíblia. A circuncisão, por exemplo, está acima do sábado, ela é permitida ser feita porque salva parte do corpo, salvar o corpo todo é muito maior, (tradição Oral, Berita de rabi Ismael, Talmud).
O serviço no templo aos sábados é feito pelo sacerdote, e é permitido este trabalho.
Yonah 85, a vida esta acima do sábado. A vida não pode esperar, (“O que é permitido fazer, o bem ou o mal no dia de sábado”), isto é tradição Oral. Lc 6,1-5, comer as espigas no sábado, ver Deuteronômio 23,25-26.
Quando entrares na vinha do teu próximo, comerás uvas conforme ao teu desejo, até te fartares, porém não as porás no teu vaso.
Quando entrares na seara do teu próximo, com a tua mão arrancarás as espigas; porém não meterás a foice na seara do teu próximo.
Saciar a fome é questão de vida. Os Atos de Jesus são baseados na TORAH. O sábado é para gerar vida, se está matando deve ser rejeitado.
Conclusão
Jesus filho de Judeu nasce e vive sobre a lei, tinha a missão de melhorar o judaísmo e não de criar outra religião. Jesus era um racidico religioso judeu.
Cristo sendo cabeça da igreja não é destruidor do judaísmo, Jesus é fruto do judaísmo, no começo não existia uma igreja cristã. Se Jesus não fundou o cristianismo, como surgiu a Igreja?
II Da Igreja primitiva até a separação do judaísmo
• O surgimento da Igreja
Jesus começa sua pregação ano 28, morre ano 30, as primeiras comunidades aparecem por volta do ano 33, após sua morte a uma decepção pelos que o seguiam, existe um tempo para digerir a ressurreição. Até o tempo da comunidade de Mateus acreditavam que os discípulos sumiram com o corpo de Jesus. Mt 28,1ss. Lc 24,13ss não reconhecem Jesus, duvidam da ressurreição. Mc 16,1ss duvidam da ressurreição.
João, portas fechadas por medo, Jesus aparece no meio deles, no 1° dia da semana, na mesa, depois disso Pedro ainda não acredita e volta a vida antiga, pescador. Jesus aparece de novo e lhe dá missão nova, ir para a decápole, lançar redes para o outro lado.
Os discípulos percebem que declarar a morte de Jesus é declarar a morte de uma ideologia dos direitos humanos. Finalizar Jesus na cruz prevaleceria a maldade, a ultima palavra não pode ser do mal. Com a ressurreição todo ideal de libertação esta de volta, ai nasce a igreja primitiva.
• Uma definição de Igreja primitiva
Eclésia = aglomeração de pessoas (cívica)
Hvhj lhq = Karral Adonai, Igreja de Deus.
A comunidade primitiva de Jerusalém já tinha noção de ser Karral Adonai, Igreja de Deus. O Israel “raça de Deus” escolhida, junto com os outros judeus.
1º período (período cristão, 30 a 50 d.C.)
Podemos dizer que este foi um movimento de renovação do judaísmo, e, Atos dos Apóstolos apontam para duas igrejas neste período: JERUSALEM e ANTIOQUIA.
1.1. A Igreja de Jerusalém
Atos 1,12-14.
“Então voltaram para Jerusalém, do monte chamado das Oliveiras, o qual está perto de Jerusalém, à distância do caminho de um sábado.
E, entrando, subiram ao cenáculo, onde habitavam Pedro e Tiago, João e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o zelador, e Judas, de Tiago.
Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas, com as mulheres, e Maria, mãe de Jesus, e com seus irmãos”.
Estes são os judeus cristãos, não rompem com as raízes judaicas.
O motivo de escolher Jerusalém para inicio da igreja era a volta de Cristo brevemente no templo de Jerusalém, que trará o templo consigo, por isso os apóstolos se fixam em Jerusalém. O templo que ainda estava em pé atraia grande numero de pessoas, lá é lugar estratégico para ensinar e disseminar as idéias do cristianismo.
Atos 2,42-47.
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.
E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.
E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum.
E vendiam as suas propriedades e fazendas, e repartiam com todos, segundo cada um necessitasse.
E, perseverando unânimes, todos os dias, no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,
Louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor, à igreja, aqueles que se haviam de salvar”.
Ser assíduo ao ensinamento dos apóstolos, a comunhão fraterna, a fração do pão. Todos vendiam seus bens e dividiam, estavam em oração no templo; três sacrifícios por dia, isto é ritual judaico.
Quem gerenciava a comunidade eram 12 apóstolos, em paralelo com os essênios eram 12 irmãos, tinham tudo em comum. As decisões eram tomadas por meio de sorteio em Jerusalém e também em Qumran. A diferença é que os essênios não aceitavam o templo e os judeus cristãos aceitavam, sendo mais judeus ainda.
A ceia cristã inicia-se como o KIDUSHI, realizado no sábado, a benção dos alimentos. Não havia Eucaristia (corpo e sangue) e sim (vinho e pão). Na igreja de Jerusalém não havia celebração da Eucaristia.
a) Primeira crise na igreja de Jerusalém
Não havia coesão nesta igreja e temos uma figura impositiva que é Tiago. Paulo chama Tiago de coluna da igreja, é ele que tem a ultima palavra, Tiago era que comandava a comunidade, por ser o irmão de Jesus. Tiago deveria ter um grupo de ancião por traz para ajudá-lo a comandar a comunidade.
Em At 6 os helenistas, judeus da diáspora, se queixam com os judeus cristãos tradicionais de não estarem sendo bem servidos (não concordam com pensamento da comunidade de Jerusalém), criticam o ritualismo e o rigorismo, Estevão, diácono, é a imagem desta crise dentro da igreja, que não era somente uma questão de mesa, mas também o templo. Estevão é morto por pregar contra a instituição do templo e a partir daí os helenistas se separam da igreja de Jerusalém, formando um outro modelo de igreja.
1.2. A igreja de Antioquia
A cidade de Antioquia da Síria foi fundada por volta de 300 a.C. Tornou-se um rico centro comercial e cultural, pois nela a influência grega estava presente. A população era composta por sírios, gregos e judeus. Os judeus exerciam uma boa influência na cidade, propagando a fé judaica e fazendo prosélitos para a religião judaica. Nesta cidade foi fundada uma igreja cristã composta por judeus e gentios, que veio a ser o ponto de partida para a expansão missionária no império romano. Antioquia, entre o ano 30 – 50 d.C. foi considerada a 3ª metrópole do império romano, vindo depois de Roma (Itália) e Alexandria (Egito).
A Fundação da igreja deu-se através dos dispersos por causa da perseguição e morte de Estevão em Jerusalém (Atos 7.54 a 8.2). Eles foram até a Fenícia, Ilha de Chipre e Antioquia, evangelizando especialmente os judeus.
Alguns convertidos em Fenícia e Chipre se dirigiram para Antioquia e lá anunciaram o evangelho em grego. Estes missionários gregos de Chipre e Fenícia eram comerciantes e artesãos que viajavam muito pelo mundo da época. Nesta ocasião foram até Antioquia, que era um importante centro comercial, para vender seus produtos e, enquanto faziam isto, anunciavam as maravilhas que haviam presenciado em Jerusalém, Barnabé pode ter sido o fundador desta comunidade, é ele que legitima a atuação desta comunidade a partir de Jerusalém. Barnabé se une a Paulo para realizar esta empreitada de fundar o cristianismo em Antioquia.
Eventos importantes:
• Anuncio da Boa Nova aos Gregos pela primeira vez
• Os discípulos de Jesus passam a ser chamados de cristãos
• A abertura da Aliança de Israel dava o nome de cristãos a todos a partir de Cristo (deposito da fé de Israel), aquele que receberam a fé a partir de Cristo.
a) Primeiro conflito na Igreja de Antioquia
A primeira crise neste período é entre judeus que acreditam em Jesus sendo o Cristo e os cristãos advindos do paganismo que estão entrando na comunidade. O cap. 15 de At e cap. 2 de Gal. descreve a crise interna por causa da adesão dos pagãos ao cristianismo.
“ENTÃO alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos. Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns de entre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, sobre aquela questão.
E eles, sendo acompanhados pela igreja, passavam pela Fenícia e por Samaria, contando a conversão dos gentios, e davam grande alegria a todos os irmãos.
E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles.
Alguns, porém, da seita dos fariseus, que tinham crido, se levantaram, dizendo que era necessário circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés”. (Atos 15,1-5).
“DEPOIS, passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém, com Barnabé, levando, também, comigo Tito. E subi por uma revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios, e particularmente aos que estavam em estima, para que, de maneira alguma, não corresse ou não tivesse corrido em vão (Mas nem ainda Tito, que estava comigo, sendo grego, foi constrangido a circuncidar-se); E isto por causa dos falsos irmãos que se tinham entremetido, e secretamente entraram a espiar a nossa liberdade, que temos em Cristo Jesus, para nos porem em servidão; Aos quais, nem ainda por uma hora cedemos com sujeição, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós. E, quanto àqueles que pareciam ser alguma coisa (quais tenham sido noutro tempo, não se me dá; Deus não aceita a aparência do homem), esses, digo, que pareciam ser alguma coisa, nada me comunicaram; Antes, pelo contrário, quando viram que o evangelho da incircuncisão me estava confiado, como a Pedro o da circuncisão (Porque aquele que operou eficazmente em Pedro, para o apostolado da circuncisão, esse operou, também, em mim, com eficácia, para com os gentios)”, (Gálatas 2, 1-8).
Surge a necessidade de um primeiro concilio para decidir a questão (Concilio de Jerusalém), a questão de fundo é se para ser cristão deve-se ser circuncidado ou não.
Tiago – Pedro – Anciãos (representando Jerusalém), contra Barnabé – Paulo – Tito (representando Antioquia).
Pedro vai dizer que não é preciso a circuncisão alegando que o espírito Santo também desceu sobre os pagãos. Tiago diz que Pedro esta certo, mas que eles têm que se abster da carne ofertada aos ídolos e das uniões ilegítimas, das promiscuidades, das carnes sufocadas e do sangue. Tiago tira a necessidade da circuncisão e deixa a Lei de Moises. Paulo e Barnabé não dizem nada, aceitam o que é decidido e retornam para Antioquia sem fazer o que foi ordenado.
b) Segundo conflito na Igreja de Antioquia
O segundo conflito em Antioquia é narrado em Gálatas 2,11- 13 estando ligado ao primeiro conflito, as decisões tomadas em Jerusalém e a briga entre Pedro e Paulo.
“E, chegando Pedro a Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível”. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.
E os outros judeus, também, dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação”.
Paulo contesta Pedro por comer e beber com os incircuncisos quando não tem ninguém de Jerusalém e não se sentando a mesa quando tem alguém de lá. A comunidade de Antioquia não esta obedecendo às leis impostas por Tiago, desencadeando a querela, estão comendo carnes sufocadas e oferecidas aos deuses. Pedro se lembra das clausulas definidas em Jerusalém e se afasta dos de Antioquia. Paulo briga com Pedro por causa de seu comportamento, Ele não aceita que gentios se comportem como judeus, afirmando que é por meio de cristo que se entra no reino, pela graça de Cristo e não pela Lei.
Até aqui vimos que a Igreja ainda esta dentro do judaísmo, mas existem tensões, brigas internas. O judaísmo ortodoxo não interfere nesta discussão. Ainda no quarto século os cristãos iam às sinagogas e participam das festas judaicas, como nos mostra são João Crisóstomo neste século.
II Da Igreja Primitiva até a separação do Judaísmo
2. O segundo período do cristianismo (50 – 70)
2.1. A Igreja Paulina
As igrejas paulinas são caracterizadas pelas missões e pela elaboração de uma nova teologia que às vezes vai entrar em conflito com o judaísmo.
• Paulo, o missionário, sua origem e seu trabalho
Quem é Paulo? (Atos 22, 1-3)
“VARÕES irmãos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós. (E, quando ouviram falar-lhes em língua hebraica, maior silêncio guardaram.) E disse: Quanto a mim, sou varão judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei dos nossos pais, zelador de Deus, como todos vós hoje sois”.
O livro de Atos nos mostra que, ele se diz judeu, chama os judeus de irmãos e pais, fala em hebraico com seu povo, nasce em Tarso, é educado na Lei por Gamaliel, é plenamente judeu. Segundo Filipenses 3,5 é fariseu, circuncidado, judeu zeloso.
“Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; Segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível”.
Jerônimo escreve (Deveres Ilustrilus), dizendo que Paulo teria nascido em Gisgala e foge para Tarso após a destruição de sua cidade pelos romanos durante sua infância.
Paulo pode ter nascido entre os anos 5 a 10 d.C., cidade de origem: “Tarso”, Cilicia, no ano 68 se torna capital da Cilicia, que depois esta ligada a Antioquia, no período dos Selêucidas, Tarso é ornamentada com caráter de importância, por ser irrigada e quente se destaca pela criação de cabras, vinho, azeite e produção de couro de cabra, chamado Cilicia.
A população é mista, Tarso e colocado ao lado de Atenas do ponto de vista cultural, tem muitos estudiosos, filósofos.
Paulo aprende muito neste vasto universo filosóficos e teológico, usa-se do conhecimento para convencer os gregos a aceitarem o cristo. Paulo tem o papel não de separar judaísmo do cristianismo, mas de unificar judeu e não judeus.
Paulo não é o responsável pela separação do judaísmo e cristianismo, ele se declara judeu, “E Paulo, sabendo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no conselho: Varões irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseu, no tocante à esperança e ressurreição dos mortos sou julgado”.(At 23,6).
No final de sua vida ainda se declara judeu. O objetivo de Paulo é fundar comunidades mistas, onde as diferenças sejam superadas por Cristo, Gal 3,27-28, o ponto de referencia é Cristo e não a Lei, pois todas são iguais. “Porque, todos quantos fostes batizados em Cristo, já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há masculino nem feminino; porque todos vós sois um, em Cristo Jesus”.
2.2. A Igreja da Galácia
Fazia parte da província romana da Ásia menor, Turquia central, seus habitantes eram os Ceutas que ocupavam a região. Eles eram vistos como grosseiros, impiedosos, Bárbaros.
Os Gálatas são acolhedores, hospitaleiros, quase ingênuos. Gál 4,13-14 mostra que Paulo passa pela região e é bem acolhido pelos Gálatas sem que saibam de inicio quem ele é.
“E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho, estando em fraqueza da carne; E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne; antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo”.
Paulo aproveita a acolhida para evangelizar. Paulo chega à região por volta do ano 50 e de lá vai para Éfeso.
2.2.1. A Crise na Igreja da Galácia:
Alguns estão anunciando um evangelho diferente aos gálatas, algo que não foi pregado por Paulo. (Gálatas 1,6-12)
“Maravilho-me de que, tão depressa, passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo, para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.
Mas, ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu, vos anuncie outro evangelho, além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.
Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo, também, vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho, além do que já recebestes, seja anátema.
Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.
Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho, que por mim foi anunciado, não é segundo os homens.
Porque não o recebi, nem aprendi, de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo”. (Gal 1,6-12).
“Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?
Eles têm zelo por vós, mas não como convém; antes querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles. É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco”. (Gal 4, 16-18).
ESTAI, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão.
Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.
E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.
Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído. Porque nós, pelo espírito da fé, aguardamos a esperança da justiça. Porque, em Jesus Cristo, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma; mas, sim, a fé que opera por amor. (Gal 5,1-6).
A comunidade de Tiago, Jerusalém, é que esta anunciando a necessidade da circuncisão aos Gálatas, destorcendo o que Paulo anunciava (6,11), Paulo ataca os de Jerusalém dizendo que eles que são circuncidados não obedecem a Lei e, querem forçar os outros a obedecerem. Paulo diz que o que importa é o Cristo e não a circuncisão, ele julga que os gentios não precisam da circuncisão, entretanto os judeus convertidos sim. A Lei não é para escravizar. A reação de Paulo em (3,1) é chamar os gálatas de insensatos, ataca-os por se deixar persuadir tão rápido, querendo voltar a Lei. Paulo é descredenciado pela comunidade de Jerusalém, o que fica claro quando esta envia pessoas anunciarem na Galácia, lugar pelo qual Paulo já havia passado anunciando.
No cap. 1,11-12, Paulo diz que foi o próprio Cristo que o credenciou e enviou e não Tiago. Paulo mostra que a sua autoridade vem do auto e não de homem, esta afirmação é um tanto perigosa, podendo legitimar qualquer um a falar em nome de Deus, alegando falar diretamente com ele, Paulo se coloca como o profeta Jeremias, que é gerado e destinado dês do ventre materno para anunciar.
“Assim, veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Antes que te formasse no ventre, te conheci, e, antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta”. (Jer 1,4-5).
Os notáveis, (Tiago – Pedro – João) não interessam o que são para a comunidade, Paulo diz que o mesmo Espírito que esta nos notáveis também reside nele, lhe dando autoridade para pregar, e por esta autoridade o afirma não haver necessidade de circuncisão para os gentios que aderiram à fé em Cristo.
A comunidade de Jerusalém, que tinha concordado não precisar circuncidar gentios, volta atrás na decisão tomada no concilio de Jerusalém e começa pregar o contrario.
Podemos dizer com certeza que, não fosse pela pessoa de Paulo, teria desaparecido o grupo dos cristãos, tal como desapareceram os essênios e outros grupos, não existindo a Igreja hoje.
No cap. 4,21- 28, Paulo explica porque não seguir a Lei:
“Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas o que era da livre, por promessa, O que se entende por alegoria; porque estes são os dois concertos; um, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar; Ora esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
Mas a Jerusalém que é de cima é livre, a qual é mãe de todos nós. Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; esforça-te e clama, tu que não estás de parto; porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido. Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa, como Isaac”.
Paulo faz referência a Gen 16-17, nascimento de Isaac, nascido segundo a promessa e Ismael segundo a carne. Ele afirma que os ensinamentos que são transmitidos por ele indicam que o grupo dos cristãos que não vêem necessidade da circuncisão, (pois cristo substituiu a lei) constituem o verdadeiro Israel, da descendência de Isaac, enquanto que os outros que pregam a Lei, constitui a descendência de Ismael, o filho da serva. O verdadeiro Israel não precisa da circuncisão. Vemos que a briga aqui, não é entre Judeus e cristãos, é entre judeus cristãos e cristãos gentios, os judeus não interferem neste momento.
2.3. O mesmo problema em Corinto e em Filipo
Priscila e Atila chegam a Corinto e começam a pregar juntos com Paulo por volta do ano 49, lá Paulo também é descredenciado, (2Cor 11,1-10).
“OXALÁ me suportásseis um pouco, na minha loucura! Suportai-me, porém, ainda.
Porque estou zeloso de vós, com zelo de Deus; porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a Cristo.
Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva, com a sua astúcia, assim, também, sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.
Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus, que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito, que não recebestes, ou outro evangelho, que não abraçastes, com razão o sofrereis.
Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos.
E, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência; mas já, em tudo, nos temos feito conhecer totalmente entre vós.
Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus?
Outras igrejas despojei eu, para vos servir, recebendo delas salário; e, quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado.
Porque os irmãos que vieram da Macedónia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei.
Como a verdade de Cristo está em mim, esta glória não me será impedida nas regiões da Acaia”.
Paulo esta com ciúmes do povo por haver alguns seduzindo o povo para se afastar do Jesus pregado por ele. Em (Fel 3,1-4) Paulo enfrenta o mesmo problema com os judeus cristão que pregam a circuncisão.
“RESTA, irmãos meus, que vos regozijeis no Senhor. Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós. Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão. Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne. Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu”.
2.4. O conflito Judeu – Cristão em Roma
Roma neste período é a capital do mundo, com uma população de um milhão de habitantes, tendo pessoas do mundo inteiro, muito luxo em contraste com a miséria local, com praças, templos luxuosos, fóruns e 13 sinagogas, totalizando aproximadamente oito mil judeus na época, segundo Flavio Josefo.
O fundador da comunidade de Roma não é Paulo, ele sabe que existe uma comunidade lá, (Rm 15,19-24).
“Pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que, desde Jerusalém e arredores, até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo. E, desta maneira, me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio;
Antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi anunciado o verão, e os que não ouviram o entenderão.
Pelo que, também, muitas vezes tenho sido impedido de ir ter convosco. Mas, agora, que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo, já há muitos anos, grande desejo de ir ter convosco, Quando partir para Espanha, irei ter convosco; pois espero que, de passagem, vos verei, e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia”.
Paulo queria passar por Roma para chegar a Espanha, os confins do mundo. Vários historiadores dizem que o cristianismo chega a Roma no ano 44 por meio de comerciantes que passam por lá e começam a pregar sem a necessidade de circuncisão, os fundadores seriam os dispersos após a morte de Estevão.
O problema ou crise nesta comunidade é oposto às crises das outras comunidades, Paulo lá defende os judeus cristãos de Jerusalém. No ano 49, Cláudios, imperador, expulsa todos os judeus de Roma por causa das brigas entre judeus cristão e cristãos gentios, ficando no local somente os gentios cristãos, algum tempo depois os judeus puderam voltar, mas os cristãos gentios não os deixavam pregar, Paulo vai defender os judeus cristãos, dizendo que eles são os herdeiros das promessas de Deus. (cap. 9-11), Paulo mostra que os judeus que aceitam cristo estão em situação privilegiada (11,15-23) mas a origem é Israel (judeus), eles são quem sustentam a fé dos que acreditam em Cristo.
“Porque, se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida de entre os mortos?
E, se as primícias são santas, também a massa o é; se a raiz é santa, também os ramos o são.
E, se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.
Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé; então não te ensoberbeças, mas teme.
Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti, também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado.
E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar”.
Paulo esperava que todo o Israel voltasse para a arvore até o fim dos tempos.
3. O terceiro período do cristianismo (70 – 90)
A situação muda em relação ao período passado, entra em sena agora a igreja ortodoxa (Judaica) e a igreja nascente (cristã).
O evento marcante é a destruição do templo no dia 20 de agosto de 70, a sua influencia é tal grande que afetou o judaísmo e o cristianismo.
A função do templo é política e religiosa. O templo estava nas mãos do rei. Pensado por Davi, para unificar o poder político e religioso e executado por Salomão, que soube se beneficiar desta unificação, todos os reis de Israel fazem uso desta unificação para manter a unidade do povo. Os sacerdotes do templo são como funcionários dos reis, escolhidos por eles. No templo aconteciam os ritos religiosos, onde se reabilitava os homens a Deus através da expiação dos pecados por meio do sacrifício. Com a destruição do templo, o judaísmo perde sua identidade, unidade, tanto política como religiosa, deixando várias interrogações como: onde fazer as festas? Como expiar pecados? Como celebrar? Para responder a estas e a outras perguntas é necessário tomar uma atitude e, isto é feito por intermédio do grupo dos Fariseus.
Deixando de existir as correntes políticas religiosas até o momento no judaísmo, como os Saduceus, essênios, zelotas, Judá Galileu e outros, sobrevivendo apenas dois grupos, sendo os Cristãos e Fariseus, são os fariseus os responsáveis pela continuidade da existência de Israel, sob a liderança de Yohanan Bem Zacai, que consegue sair de Jerusalém antes de sua total ruína, é ele que reorganiza juntamente com sábios fariseus o judaísmo, formando a escola judaica de Yavne, escrevem a MIXNA e começam a escrever o TalMud; tradição oral que é escrita para não se perder suas raízes, institui-se o rabinato e passam a se ocupar dos heréticos, quem não se comporta de acordo com o judaísmo farisaico.
Terminam a tolerância por parte dos judeus para com as seitas existentes, entre elas os cristãos. As conseqüências são enormes para os cristãos, que, começam a ser expulsos das sinagogas não sendo tolerados no meio dos judeus.
3.1. A comunidade de Mateus
O evangelho de Mateus, escrito por volta do ano 80, faz alusão a destruição do templo e da cidade de Jerusalém. Não se sabe a autoria deste evangelho, pode ter sido escrito na Fenícia (Raifa) ou mesmo na Palestina próximo a Jerusalém. O evangelho já inicia colocando Jesus dentro da tradição judaica, mostrando Jesus sendo filho de Davi, filho de Abraão, nascido em Belém, portanto, da descendência de Davi, conforme as profecias. Liga Jesus a Moises, desde seu nascimento, fuga para Egito, tentação no deserto. Jesus portanto, é o novo Moisés, dá pleno cumprimento à Lei, (Mt 5,17) vem para as ovelhas perdidas da casa de Israel.
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir”.
Podemos observar que no principio, a comunidade de Mateus era formada só por Judeus, sem possibilidade de entre eles cristãos oriundos do paganismo, mas o próprio evangelho nos mostra que há uma evolução neste quadro, e uma abertura posterior aos pagãos, (Mt 22) tornando visível no texto bíblico uma pequena critica ao judaísmo ortodoxo em (Mt 21, 33-44).
“Ouvi, ainda, outra parábola: Houve um homem, pai de família, que plantou uma vinha e circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe.
E, chegando o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber os seus frutos.
E os lavradores, apoderando-se dos servos, feriram um, mataram outro e apedrejaram outro.
Depois enviou outros servos, em maior número do que os primeiros; e eles fizeram-lhes o mesmo;
E, por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: Terão respeito a meu filho.
Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança.
E, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e o mataram.
Quando, pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?
Dizem-lhe eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe dêem os frutos.
Diz-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça do ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos?
Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos.
E quem cair sobre esta pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó”.
Em (Mt 22,1-10) vemos que o convite a ser vinha é feito aos judeus, sem aceitação da parte deles, o rei destrói Jerusalém e convida outros povos para se tornarem sua vinha, (cristãos de origem pagã).
“ENTÃO Jesus, tomando a palavra, tornou a falar-lhes em parábolas, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um certo rei, que celebrou as bodas de seu filho; E enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas, e estes não quiseram vir.
Depois, enviou outros servos, dizendo: Dizei aos convidados: Eis que tenho o meu jantar preparado, os meus bois e cevados já mortos, e tudo já pronto; vinde às bodas.
Porém eles, não fazendo caso, foram, um para o seu campo, outro para o seu tráfico; E os outros, apoderando-se dos servos, os ultrajaram e mataram.
E o rei, tendo notícia disto, encolerizou-se e, enviando os seus exércitos, destruiu aqueles homicidas e incendiou a sua cidade.
Então disse aos servos: As bodas, na verdade, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos.
Ide, pois, às saídas dos caminhos, e convidai para as bodas a todos os que encontrardes. E os servos, saindo pelos caminhos, ajuntaram todos quantos encontraram, tanto maus como bons; e a festa nupcial foi cheia de convidados”.
A briga que esta acontecendo agora, é entre Judeus ortodoxos e cristãos, levando a separação entre os dois grupos sobreviventes a destruição do templo.
Em (Mt 28,16-20), já no final do livro, é relatado o oposto do que acontece no inicio do evangelho, nos fazendo perceber que isto é acrescentado muito tempo depois da separação entre judeus e judeus cristãos, os que acreditam em cristo e os que não acreditam.
“E os onze discípulos partiram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes tinha designado.
E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.
E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder, no céu e na terra.
Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo;
Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco, todos os dias, até à consumação dos séculos”.
3.2. A epistola aos hebreus
Outro livro, que mostra esta briga entre os dois grupos é a carta aos hebreus, não sabemos quem é o autor, onde escreveu, sabemos que apresenta uma alta cristologia, Jesus é apresentado como sumo sacerdote, não da tribo de Levi, local de origem de todos os sacerdotes. A carta diz que Jesus é maior que Moisés, nos dá a impressão que esta carta é na verdade um tratado contra os hebreus, mostrando que cristo é a figura central da fé (sumo sacerdote), esta carta é fundamental para inspiração ao cristianismo que tem seu Canon fechado no séc IV. O capitulo 5 apresenta a justificativa da carta, Jesus é sacerdote segundo Melquisedec (Gen 14,17-20).
“E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir Chedorlaomer e os reis que estavam com ele) no vale de Schave, que é o vale do rei. E Melquisedec, rei de Salem, trouxe pão e vinho, e era este sacerdote do Deus altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão do Deus altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E deu-lhe o dízimo de tudo”.
Melquisedec é quem abençoa Abraão e recebe dele o dizimo. Segundo a tradição judaica, Abraão só esta abaixo do próprio Deus, Melquisedec é portanto uma grande figura, para que Abraão se dirija a ele pagando dizimo e sendo abençoado por ele. Melquisedec é o próprio Deus que, desce do céu e abençoa Abraão.
Em (heb 7,1-10), Melquisedec é Deus, é ele quem abençoa Abraão.
“PORQUE este Melquisedec, que era rei de Salem, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão, quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou, A quem, também, Abraão deu o dízimo de tudo; primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois, também, rei de Salem, que é, rei de paz; Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre.
Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos.
Pois os que, de entre os filhos de Levi, recebem o sacerdócio, têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, dos seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão.
Mas aquele, cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou o que tinha as promessas.
Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior. E aqui, certamente, tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive.
E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos. Porque, ainda ele estava nos lombos do seu pai, quando Melquisedec lhe saiu ao encontro”.
O sacerdócio de Jesus deriva deste sacerdócio, se Abraão, dono de todas as bênçãos é abençoado por alguém, este alguém é Deus.
A comunidade esta dizendo que não precisa mais dos levitas, sacerdotes, ou dos judeus, nem do templo, eles tem Jesus, ele supera a tradição judaica, ultrapassa o judaísmo.
Em (Heb 7,26-27), o sacerdócio de Jesus é imaculado, inocente, separado dos pecados, é perfeito, seu sacrifício é único e definitivo.
“Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus,
Que não necessitasse, como os sumos sacerdotes, de oferecer cada dia sacrifícios, primeiramente pelos seus próprios pecados e, depois, pelos do povo; porque isto fez ele, uma vez, oferecendo-se a si mesmo”.
4. Quarto período do cristianismo (90 – 135)
Fatores primordiais do período:
• Surgimento de benção contra os hereges: (BIRKAT HAMINIM)
• Grandes conquistas da Igreja heleno-cristã
• O conflito entre judeu-cristãos e a grande Igreja (Jerusalém)
4.1. A maldição contra os Cristãos
Bircat HA-MINIM (Heb. בִּרְכַּת הַמִּינִים "bênção sobre os hereges"), a bênção do décimo segundo dia da semana Amidá (o Shmoneh oração Esreh). A benção pertence à última parte das petições Amidá, que peço a redenção do povo de Israel. Redigido mais como uma imprecação (ver Tanhuma [Buber ed.], Vayikra 3), em sua invocação da ira divina contra os inimigos internos à integridade dos judeus e contra os inimigos externos do povo judeu, ele difere de outras petições.
Birkat ha-Minim também se distingue das outras bênçãos Amidah pelo fato de que foi anexada depois da formulação e fixação do texto Amidá. A tradição de sua adição secundária em Yavne é compartilhada pelo TJ (Ber. 04:03, 8) e TB, que atribui sua formulação a Samuel ha-Katan, a pedido explícito do Nasi, Raban Gamliel (Ber. 28b). Entre acadêmicos a opinião é dividida, no entanto, no que diz respeito à compreensão precisa desse processo. Uma opinião sustenta que a tradição reflete -TB (ibid.) deve ser aceito literalmente, em conformidade Birkat ha-Minim foi formulada em Yavne e, a somar as já dezoito bênçãos (ver Fleischer), elevando o número de dezenove anos. Aceito este formulário bênção de dezenove no rito babilônico cedo, foi posteriormente transmitidos a partir deste rito a todos os livros de orações até o presente. Outros sustentam (ver Heinemann) que Gamliel o pedido Rabban simplesmente em causa a actualização de uma bênção já existentes entre os dezoito anos - cujo conteúdo se pronunciou, em geral contra os separatistas (ver T. Ber 3:25.) - Para incorporar a menção explícita dos minim. Isto explica também porque as versões dos Amidah no número rito palestinos apenas dezoito bênçãos, inclusive de Birkat ha-Minim. Os defensores deste ponto de vista argumentam que a forma bênção de dezenove dos Amidah no rito babilônico reflete um costume babilônico de dividir a petição para a construção de Jerusalém e para a vinda do messias davídico em duas bênçãos separadas. Na Palestina, os dois indivíduos foram combinados em uma única bênção sobre Jerusalém.
Sua importância excepcional em relações judaico-cristãs do século I dC até o presente tem concentrado a atenção acadêmica intensa sobre esta bênção. A formulação relativamente cristalizada da bênção no início siddurim existentes (nono séculos XII), é provável que o texto preservado ali se assemelha a sua formulação original. Nós encontramos o seguinte texto em um sidur palestinos a partir da Genizah Cairo:
Para os apóstatas que não haja esperança. E deixar o governo arrogante ser rapidamente arrancados em nossos dias. Deixe o nozerim e o minim ser destruídos em um momento. E sejam riscados do livro da vida e não ser inscrito juntamente com os justos. Bem-aventurado és tu, ó Senhor, que o mais humilde arrogante "(Schechter).
Esta foi também a versão comumente usada no rito babilônico, em que a penúltima frase: "E deixe que eles sejam apagados", foi substituída por uma petição para cortar todos os inimigos ", podem todos os inimigos do seu povo e seus adversários se rapidamente cortada. " Outras variantes refletem um longo pedido, mais elaborada para a obliteração dos inimigos. A linguagem da bênção demonstra claramente que não era dirigida, em não-judeus em geral, mas especificamente dirigidas contra os perseguidores externos dos judeus e contra os separatistas judeu que se tornou um perigo para a coesão interna do judaísmo. No entanto, logo os primeiros séculos dC, encontramos pais da igreja expressando a alegação de que os judeus amaldiçoam os cristãos em suas orações. Tais alegações, juntamente com a censura da siddurim, causou mudanças significativas no texto da bênção durante a Idade Média. Também contribui para esse processo modificativas foram mudanças no ambiente social dos judeus e na sua cosmovisão. Sem exceção, os noẓerim palavra foi expurgada de todos os ritos de oração judaica, e em muitos, as substituições foram feitas para minim (hereges) e meshummadim (apóstatas), como na abertura aceite no rito ashkenazi: "que os caluniadores (malshinim) têm nenhuma esperança. " Alguns livros de oração Reforma omitir esta bênção inteiramente.
4.2. A grande conquistas heleno – cristã
Representa uma constelação de fieis cultuando a figura de Pedro e Paulo, esta igreja se organiza fazendo a canonização dos livros, acrescentando alguns outros como macabeus e provérbios que não estão no cânone judaico. Começa a se formar a hierarquia a partir do ano 90, os cristãos de origem pagam já não freqüentam mais as sinagogas.
4.3. O Conflito entre judeus – cristãos e a grande Igreja
Agora, a igreja de origem pagã não quer tolerar mais os judeus cristãos, que estão sendo rejeitados pelos judeus ortodoxos e pelos cristãos, tendo que decidir a quem seguir. Esta briga é relatada pelos padres da igreja.
Irineu (188), nos fala contra os considerados hereges da comunidade ebonita, que rejeitavam os ensinamentos de Paulo contra a circuncisão e continuavam com praticas judaicas.
Justino quis que os cristãos helênicos negassem a salvação a judeus cristãos no começo do 2º séc.
Conclusão: esta 1ª etapa a igreja que triunfou foi a heleno- cristã. No ano 135 eles se consideram igreja cristã e não mais judeus.
III O ensinamento dos padres da igreja
No final do 3º séc., a igreja esta totalmente separada. Há uma antipatia e intolerância contra os judeus ortodoxos. Neste período tenta-se mostrar a nulidade do judaísmo e a canonicidade das obras trazidas pelo cristianismo.
1. Epistola de Barnabé
Epistola de Barnabé, um apócrifo usado pelos cristãos dos 1ºs séculos, não se sabe a autoria, escrito em 138, reinado de Adriano, atribuída a Barnabé, para lhe dar autoridade, certamente não foi ele quem escreveu. Esta carta vai odiar tudo que esta na lei judaica, é bem elaborada, compondo um verdadeiro tratado teológico, trabalho o culto judaico desclassificando o culto com fundamento nas escrituras, dizendo que Deus rejeitou o culto dos judeus, (Is 1,11-13).
“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes.
Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto das vossas mãos, que viésseis pisar os meus átrios?
Não tragais mais ofertas debalde: o incenso é para mim abominação e as luas novas, e os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo o ajuntamento solene”.
Ele apresenta dois regimes:
Dos judeus = culto sacrifical
Da nova aliança = sem sacrifício
É a transição de um regime para outro, pois o primeiro está caduco, aqueles que não aceitam a transição estão fora da salvação.
Depois Barnabé ataca a aliança (Ex 32, 7-10; 15-20), diz para não se assemelharem aos judeus porque estes quebraram a aliança com Deus, a aliança nova e eterna é cristo.
“Então disse o Senhor a Moisés: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste subir do Egito, se tem corrompido.
E depressa se tem desviado do caminho que eu lhes tinha ordenado; fizeram para si um bezerro de fundição, e perante ele se inclinaram, e sacrificaram-lhe, e disseram: Estes são os teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito.
Disse mais o Senhor a Moisés: Tenho visto a este povo, e eis que é povo obstinado.
Agora, pois, deixa-me, que o meu furor se acenda contra eles, e os consuma: e eu farei de ti uma grande nação. (...)
(...)E voltou Moisés, e desceu do monte, com as duas tábuas do testemunho na sua mão, tábuas escritas de ambas as bandas; de uma e de outra banda estavam escritas.
E aquelas tábuas eram obra de Deus; também a escritura era a mesma escritura de Deus, esculpida nas tábuas.
E, ouvindo Josué a voz do povo que jubilava, disse a Moisés: Alarido de guerra há no arraial.
Porém ele disse: Não é alarido dos vitoriosos, nem alarido dos vencidos, mas o alarido dos que cantam, que eu ouço.
E aconteceu que, chegando ele ao arraial, e vendo o bezerro e as danças, acendeu-se o furor de Moisés, e arremessou as tábuas das suas mãos, e quebrou-as ao pé do monte;
E tomou o bezerro que tinham feito, e queimou-o no fogo, moendo-o, até que se tornou em pó; e o espargiu sobre as águas, e deu-o a beber aos filhos de Israel”.
A aliança com os judeus não existe mais. A relação entre cristãos e judeus é a de tomar posse do que era judeu.
2. Milton de Sardes (II séc.)
Bispo de sardes (Asia menor) piedoso, com forma de santo, em 170 escreve para o imperador Marco Aurélio defendendo a união igreja império, dois irmãos de leite.
Alega que o cristianismo é fonte de benção para o império, defende que só existe uma religião que é a cristã, desenvolve a teoria da relação que une prefiguração e realidade (Judaísmo – cristianismo). A salvação foi prefigurada em Israel, agora isso se tornou realidade na igreja cristã, por isso a prefiguração pode ser desprezada.
3. Justino de Roma (nascido Palestina de família pagã)
Escreve dialogo contra Trifão, apologia contra os judeus, narra uma discussão de 2 dias entre Justino e um rabino, pode ter sido algo imaginário, porque é sempre Justino que vence. Justino quer tomar posse das escrituras e de Israel para os cristãos.
4. Gregório de Nysse (4º séc. 327)
Anti semitismo elaborado por uma pseudo teologia, que ataca a integridade da pessoa judaica. Em 381 ocupa cadeira no concilio de Constantinopla, sua finura e docilidade termina quando o assunto é judeus. Ele imputa a responsabilidade da morte de Jesus aos judeus.
Gregório de Nissa nasceu por volta do ano 335, na Capadócia, centro da Turquia atual, na capital construída por Roma seguindo o modelo das grandes cidades, com termas, um teatro e festas, que levou o nome de César, Cesaréia (Kaiseri), região evangelizada muito cedo, uma vez que a carta de Pedro se dirige a esses cristãos. Durante a perseguição de Galério e Maximino Daia (303-313), a família de Gregório e Basílio mostra-nos o quadro de maus tratos que os cristãos ricos e influentes sofreram nessa época, os avós paternos tiveram de refugiar-se nas florestas do Ponto. A família, que tinha funções civis e militares e influência na corte imperial, teve os bens confiscados até o fim da perseguição. O avô materno morreu como mártir. O pai de Gregório e Basílio foi um homem rico que velava pela formação intelectual e espiritual da família, morreu prematuramente em 341.
Gregório foi o terceiro filho de Basílio e Emélia. Tinha nove irmãos, entre eles: Macrina que era a mais velha, com a qual ele mantinha laços profundos chamando-a de “mestra espiritual". Ele relata sua vida e morte num livreto que é considerada uma obra-prima de sensibilidade. Basílio bispo de Cesaréia, do qual ele se torna herdeiro monástico e teológico.
Pouco se fala sobre a juventude de Gregório, mas o que sabemos é que, ao contrário de seu irmão Basílio que fora estudar no estrangeiro, cursou filosofia e retórica, ali mesmo nas escolas de Cesaréia e mais tarde estudou na escola de seu irmão Basílio. Houve um momento em que ele se interessou pela cultura pagã de Libânio, quando esta teve seu momento de brilho. Também não podemos afirmar com exatidão a data de seu batismo, mas ao que parece ele não foi batizado quando criança, mas sim após a juventude. Após a sua conversão, sob influência de Basílio, decidiu-se pela carreira eclesiástica na qualidade de leitor, e começou a vida como professor de retórica, após a suspensão da lei escolar de Juliano, que proibia o ensino aos cristãos, o que mais tarde ele abandona. Na década de 360 voltou-se para os estudos religiosos e para a devoção cristã.
Apesar dos seus conceitos sobre o casamento expressos em seu Tratado Sobre a Virgindade, Gregório conseguiu conciliar a vida conjugal e episcopal, casou-se com Teosébia, mulher culta e de grandes qualidades, por quem ele foi apaixonado. A sua vida espiritual não foi atrapalhada pelo matrimônio, ao contrário, ele reconhece as alegrias do casamento e relata isso numa descrição comovente. As questões acerca do corpo e da vida sexual não parecem ser a respeito de sua vida, mas de sua filosofia platônica. Teosébia morreu aproximadamente em 385 e em uma carta de condolências Gregório de Nazianzo a qualifica de “verdadeira santa e de verdadeira esposa de padre”.
Em 372, a contragosto, Basílio de Cesaréia, seu irmão, apesar de não ter certeza de suas capacidades para o cargo, pois ele não era um homem de governo, consagrou-o bispo de Nissa, a oeste de Cesaréia, pequena localidade da Capadócia, Gregório surpreendeu por sua cultura teológica, sua fé irrepreensível e sua ciência reconhecida. Apesar da falta de entusiasmo pela indicação, Gregório foi um excelente bispo para aquela comunidade, como teólogo e místico encontrou uma língua direta para falar àquele povo e passar os ensinamentos às suas ovelhas, isto é claramente explicitado em um sermão de uma festa da Epifania, na clareza, no tato, no amor utilizado e adaptado àqueles ouvintes.
Em 376, aproximadamente, sofreu grande perseguição e foi deposto por ordem do imperador Valente, partidário do arianismo, doutrina que negava a divindade de Cristo. Em 378, após a morte de Valente, Gregório voltou para sua congregação, onde foi recebido de forma triunfal, ele relatou comovido, a recepção numa carta dizendo: “Eles só faltaram sufocar-me com as demonstrações excessivas de afeição”.
No ano de 379, morrem o seu irmão Basílio e sua irmã Macrina. Após a morte de Basílio, homem de oscilações no seu temperamento, Gregório sentiu-se mais seguro e pôde demonstrar seu valor fazendo tudo o que era capaz pela igreja, passou a desempenhar papel de destaque eclesiástico. No mesmo ano, Gregório participou do Sínodo em Antioquia, que queria maior aproximação com as igrejas do ocidente, no qual ele foi encarregado de inspecionar as igrejas do Ponto. Sebaste, na Armênia, queria-o como bispo, mas ele elege para o cargo seu irmão Pedro. Em 381, juntamente com o amigo Gregório de Nazianzo, participou do Concílio de Constantinopla, onde, no auge da sua atividade eclesiástica, desempenhou papel importante tornando-se homem de confiança da corte, sendo designado pelo imperador como guardião das igrejas do Ponto, encarregado de diversas missões na Arábia e em Jerusalém. Gregório proferiu muitas orações fúnebres, inclusive a de Pulquéria, filha do imperador e da imperatriz Flacila.
O desejo de Gregório de Nissa em fazer com que o cristianismo dialogasse com elementos da filosofia platônica fez dele um precursor do trabalho de síntese realizado por santo Agostinho. Inspirado nas idéias de Platão, em seus textos anti-heréticos formulou a doutrina da Santíssima Trindade. Também é notável sua concepção da existência humana como caminho para a salvação, com passagem pelas tentações materiais. Mas apesar de influenciado pelas idéias platônicas sabia libertar-se delas quando exprimia a mensagem cristã original, ele reconhecia que a verdade só podia vir da Bíblia, e sua inspiração, como a de Orígenes, vinha da Palavra de Deus.
Em 394, assistiu a um último concílio, e ao que parece morreu no mesmo ano. Gregório de Nissa foi um grande teólogo espiritual da Igreja, pai da teologia mística, sua grandeza está no poder do seu pensamento e na profundidade de sua elaboração teológica, baseada na mística. Gregório de Nissa e seu irmão Basílio, juntamente com o Capadócio e amigo Gregório de Nazianzo deram a igreja um brilho incomparável, sendo designados pela história como Os Três Capadócios.
Sua obra literária e teológica é baseada na teologia mística e na contemplação, é bastante extensa e uma das mais vigorosas, apesar de Gregório ser um autodidata não formado pelos métodos das universidades de sua época. Escreveu, a pedido de seu irmão Basílio, o Tratado sobre a Virgindade, onde ele relata a virgindade à luz da criação pela imagem e semelhança com Deus, “com efeito, ela é um matrimônio interior e espiritual com Deus” (Virgindade, 20.1). Baseado nas homilias de seu irmão Basílio sobre a criação, escreveu A criação do homem, onde narra o homem, imagem e semelhança de Deus “o homem não é uma maravilha qualquer do mundo subalterno, mas uma realidade que ultrapassa indubitavelmente em grandeza tudo o que conhecemos, porque ele é o único, entre todos os seres, que é semelhante a Deus” (De op. Hom. Car. Ord.). Entre seus discursos dogmáticos está a Catequese da Fé, também denominado Discurso Catequético, em que fornece a doutrina das principais verdades da fé. Escreveu Vida de Macrina, biografia de sua irmã onde tenta mostrar o exemplo dela como monja que “atingiu o mais alto cume da verdade humana”. A pedido do monge Cesário, escreveu Vida de Moisés, “tratado da perfeição em matéria de virtude”. Compôs também Homilias sobre o Cântico dos Cânticos, que foi pregada na comunidade de Olímpia, obra que descreve a ascensão espiritual da alma, embriagada do amor de Deus que “vai de começos em começos, por começos que nunca têm fim”. Destacam-se também seu livro De Instituto Christiano, seu Comentário sobre o Pai-nosso e o Tratado sobre as Bem-aventuranças, obras-prima da teologia mística. Sua última obra Hypotypose (modelo, exemplo), tratado da vida monástica, onde descreve a vida espiritual do monge e o bom uso da vida comum.
5. Crisótomo (344-355) boca de ouro.
Família rica, cristã, místico e piedoso, diácono em 381, padre em 386, se ocupa bem de seus fiéis por 12 anos, ganha fama de orador, 398 com a morte do bispo de Constantinopla ele é que assume o episcopado depois de dizer não querer.
Com relação aos judeus, ele não age com docilidade, ele escreve vários sermões onde 8 são contra os judeus, seus sermões eram feitos no outono, por ser o período das festas judaicas, Rocha Shaná – Ion kipur, neste período alguns cristãos iam participar das festas, (nasce a teoria do deicismo) morte de Deus pelos judeus.
IV A Igreja e o judaísmo na idade média
Introdução
Foi um período de dez séculos que favoreceu tanto a expansão do cristianismo como do judaísmo. O cristianismo se expande por toda Europa que, é uma região considerada pagã, no entanto havia várias religiões inacabadas, sem uma doutrina definida nesta região, já na África, as religiões existentes eram bem definidas em seu relacionamento com o transcendente, com rituais constituídos.
Em 1215, o 2ª Concilio de Latrão marca o triunfo do cristianismo na Europa e, fixa os dogmas cristãos, marcando o cristianismo como religião oficial da época.
Por outro lado, temos a presença judaica neste período organizando sua Literatura Talmudica, que, interfere e enriquece a religiosidade judaica, definindo as regras do ritual e da liturgia, elaborando um sistema de pensamento filosófico e teológico encarnado, palpado na vida. Apesar de toda turbulência vivida, defini-se a fé judaica, graças à experiência de tantos anos de existência, necessária para sua organização.
Neste período, averiguamos dois sistemas religiosos:
Sistema Judaico
Sistema Cristão
Entre varias divisões possíveis dividiremos a idade média em três parte:
• Alta idade média (600 a 1096)
• Idade média central (1096 a 1306)
• Fim idade média (1306 a 1480)
1. A alta idade média
A situação dos judeus na região da França, Espanha, Itália e Inglaterra são de boa articulação neste período, os judeus tomam conta do comércio, já que os cristãos se abstêm desta tarefa, por julgarem ser uma ocupação indigna e mundana, os judeus se destacam também na agricultura e no artesanato.
A presença dos judeus irritava aos cristãos por serem eles os que esperavam o Messias, mas quando ele veio não acreditaram ser Jesus o Messias. Os cristãos começam a fazer a conversão dos judeus à força, e, aqueles que se opusessem seriam mortos.
Os padres cristãos foram muito espertos ao começarem a evangelização pelos reis, pois uma vez convertidos ao cristianismo, todo o reino deveria se converter, gerando um grande problema aos judeus, que não se permitiam converter. No final deste período, as coisas ficaram mais difíceis, em 1096 começam as cruzadas, tendo objetivo de conquistarem os lugares santos; antes mesmo de chegarem a Terra Santa, os cruzados, tendo como aliados mercenários interessados em ficar com os despojos de guerra, começam a perseguir os judeus ainda na Europa. O combate torna-se físico, verbal e político.
2. A idade média central
A situação esta mais difícil, o judeu não pode mais andar pelas ruas sem uma identificação visível no corpo, pois teriam se tornado perigoso para os cristãos.
São acusados de matar crianças para usar seu sangue durante o ritual da páscoa, ao fazerem o pão sem fermento, são acusados de estarem entrando nas igrejas e profanarem o sacrário.
O Concílio de Latrão decide que, os judeus, a partir de então, deveriam andar pelas ruas usando uma identificação, que poderia ser uma pulseira ou um chapéu laranja, para que todos pudessem identificá-los ainda de longe.
3. O fim da idade média
Neste período acontece a grande Peste Negra e a guerra dos 100 anos, acompanhados de um excesso de mística, onde Deus estaria sempre a espreita para punir as pessoas por seus erros.
A culpa de todos os acontecimentos deste período é atribuída aos judeus, por estarem sendo castigados por Deus. A chacina contra este povo na época é tão grande que o papa interfere na questão defendendo os judeus. Para sobreviver, os judeus fingem converterem-se ao cristianismo ate mudando seus nomes, mas continuam exercendo seu culto às escondidas.
3.1. A doutrina oficial da Igreja com relação ao judaísmo
A posição da Igreja é declarar o judaísmo como uma religião caduca, superada pela mensagem cristã. (Gn 16,1-6)
Este texto é onde se fundamenta a afirmação da caduquice da religião judaica. Agar representaria os judeus desobedientes que são exilados.
Um outro texto, (Gn 21,8-11), nos mostra que Isaac é o herdeiro das promessas de Deus, e, os cristãos são estes herdeiros. Ismael era o primogênito (judeu), mas é o filho mais novo que recebe o direito de primogênitude.
A Igreja precisa justificar a presença dos judeus em meio a sociedade, continuando a existir sem serem exterminados por Deus, cria-se então a teologia da dispersão.
3.2. A teologia da dispersão
Esta teologia afirma que, os judeus, estão em todos os lugares que esta a igreja, porque deste modo, são obrigados a testemunhar seu erro, servindo de exemplo para ninguém mais fazer como eles, por isso continuam existindo. A conseqüência social disto refletiu no tipo simples de vida que foram obrigados a levar, sem luxo e não podendo exercer cargos públicos.
3.3. A disputatio do fim da Idade média
A disputatio é uma disputa entre judeus e cristãos, através do diálogo escrito e oral entre bispos e judeus, onde publicamente se defendia suas idéias, o vencedor levava outros a o seguirem. A disputatio poderia ser feita por Tratado (escrito) ou por predicação (púlpito – pregação).
Os objetivos da disputa eram:
• Defender o cristianismo e seus dogmas
• Mostrar aos judeus o seu erro
3.4. O Verus Israel (Gn 27; Dt 32,31; Jo 19,15)
Neste momento, a discussão volta-se a responde a pergunta, quem é o verdadeiro Israel? Santo Agostinho exerce papel central, afirmando que a igreja é o verdadeiro Israel.
3.5. A interpretação da Bíblia
Toda disputa entre judeus e cristãos, tem como fundamentação a Bíblia. Os cristãos acusam os judeus de não interpretarem bem a bíblia. Os judeus dizem que os cristãos fazem uma leitura muito solta, alegórica, e adéquam os textos de acordo com sua vontade. De um lado desta disputa, pelos judeus, temos Robert Deutz, de outro lado, pelos cristãos, temos a figura de Gilbert Crespin.
3.6. A vinda do messias (Is 66,7; Gn 49,10; Dt 18,15; Is 11,1-9; Dn 7,13-14; Zc 8)
Os judeus acreditam que o messias ainda não veio, os cristãos afirmam o contrário, a disputa tem que ser resolvida a partir dos textos Bíblicos. Tanto judeus como cristãos apóiam-se na Bíblia para fundamentarem sua crença.
V – Igreja e judaísmo na Idade moderna
1. Judaísmo e cristianismo na França moderna
Sobressai neste momento na França, a promulgação da declaração dos direitos do homem e do cidadão, isso conta muito para o judeu. Neste período, acontece a queda do absolutismo religioso, sendo possível ser ateu, temos o surgimento do Estado Laico, busca-se o paraíso ainda na terra, não precisando mais esperá-lo no céu.
O ateísmo de cunho filosófico cria a teoria do complô judaico, idéia da existência de uma ideologia judaica de conseguir dominar o mundo a partir da política e da economia.
O clima entre judeus e cristãos continua tenso.
1.1. A França judaica de Eduart Drumont
Ouve a emancipação judaica neste momento, apoiados pela promulgação da declaração dos direitos do homem e do cidadão, agora se tornam cidadãos franceses, legalizando a religião judaica na França. Os cristãos olham para esta decisão vendo nela a decadência da sociedade Francesa, afirmam ser os judeus os grandes culpados por ela. A Igreja reage criando um grupo chamado associonistas, para combater este suposto complô judaico e a maçonaria.
Em 1883 surge o jornal Francês La croix, que era para enfrentar os judeus na sociedade Francesa, aliado a ele também surge uma revista criada por Eduart Drumont (La Libre Parole).
As acusações contra os judeus são racionais e elaboradas em nível político. Eduart Drumont é um grande aliado cristão contra o judaísmo, que ameaçava tomar a França dos franceses. Ele se coloca com representante da religião católica francesa, tendo apoio dos padres.
2. Judaísmo e cristianismo na Alemanha
A priori, a situação não é muito diferente da França, mas destaca-se o cunho filosófico de pessoas como Nietzsche. Associa-se o homem com o ciclo animal, nascimento – morte – onde sobrevive o mais forte, nascendo a partir de então a figura do homem viril.
Na época, está acontecendo à crise do crescimento demográfico alemão, o país está em aparente caos, a culpa desta crise recai novamente sobre os judeus que supostamente teriam criado o protocolo de Sion; texto surgido, originalmente, em idioma russo, supostamente alega-se terem sido forjados em 1897 pela Okhrana (polícia secreta do Czar Nicolau II), que descrevia um projeto de conspiração para que os judeus atingissem a dominação mundial. Segundo os historiadores, o seu propósito era político: reforçar a posição do Czar Nicolau II, apresentando alguns de seus oponentes como aliados de uma gigantesca conspiração para a conquista do mundo.
O texto é no formato de uma ata que teria sido redigida por uma pessoa num Congresso realizado a portas fechadas, numa assembléia em Basiléia, no ano de 1807, onde um grupo de sábios judeus e maçons teriam-se reunido para estruturar um esquema de dominação mundial. Nesse evento, teriam sido formulados planos como os de usar uma nação européia como exemplo para as demais que ousassem se interpor no caminho dessa dominação, controlar o ouro e as pedras preciosas, criar uma moeda amplamente aceita que estivesse sob seu controle, confundir os "não-escolhidos" com números econômicos e físicos e, principalmente, criar caos e pânico tamanhos, que fossem capazes de fazer com que os países criassem uma organização supranacional capaz de interferir em países rebeldes.
Numerosas investigações repetidamente provaram tratar-se de uma falsificação. Segundo algumas dessas investigações, a base da história dos Protocolos, como circula desde então, foi criada por um novelista alemão anti-semita, chamado Hermann Goedsche que usou o pseudônimo de Sir John Retcliffe. A contribuição original de Goedsche consistiria na introdução dos judeus como os conspiradores para a conquista do mundo. Tudo isto, foi o estopim para o nazismo e o fenômeno Adolf Hitler.
Hitler tira proveito da antipatia dos cristãos pelos judeus para colocar toda sociedade alemã contra os judeus, utilizando-se desta antipatia para realizar sua ambição de chegar ao poder.
Em 1929, a crise industrial, a queda da bolsa de valores (Wall Street), é um barril de pólvora pronto para explodir. Hitler atribui a culpa desta calamidade aos judeus.
Após ter assegurado o poder político sem ter ganho o apoio da maioria dos alemães, Hitler tratou de o conseguir, e na verdade, permaneceu fortemente popular até ao fim do seu regime. Com a sua oratória e com todos os meios de comunicação alemães sob o controle do seu chefe de propaganda, o Dr. Joseph Goebbels, ele conseguiu convencer a maioria dos alemães de que ele era o salvador da Depressão, dos Comunistas, do tratado de Versalhes, e dos judeus. Ele foi o responsável pelo extermínio de seis milhões de judeus.
2.3. Luteranismo e catolicismo; neutralidade, cumplicidade ou apoio a teoria Nazista?
O discurso de Lutero não difere do discurso de Hitler a respeito dos judeus.
O catolicismo, historicamente anti-semita, esperava que Hitler controlasse a ascensão do judaísmo e seu poder econômico. A igreja, portanto, se manteve neutra. A esfera política da igreja se comportou de forma omissa, outras esferas ajudaram a salvar a vida de muitos judeus.
Parabéns pela iniciativa. Texto muito esclarecedor. Já fiz questão de divulgar o blog para meus amigos. Como diz uma grande amiga minha, Paz e Bem!
ResponderExcluirMuito bom trabalho, a história como poucos contam, detalhes que enriquecem a narrativa dando consistência ao aprendizado. Parabenizo o autor!
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