Diácono Luciano José Dias
HISTÓRIA DE ISRAEL
1. Introdução
“Israel” – este é o nome empregado no AT para a liga sacral, (união das doze tribos tendo em comum um único Deus), que se tornou sedentária (fixa na terra) na Palestina, no decorrer do século XIII a.C., e que se uniu em torno de um santuário comum para a veneração do Deus Javé. Essa liga passou por diversas transformações de cunho político, sociológico, cultural e religioso, ao longo de sua história. A tarefa de uma história de Israel é examinar tais transformações. De acordo com o testemunho do AT, a particularidade da historia de Israel consiste no fato de que Deus se revelou nesta história, e através desta história Deus falou e agiu. A única finalidade visada por Israel, ao narrar sua história, é precisamente esse testemunho do falar e do agir de Deus. Este testemunho, registrado nas diversas tradições de Israel é, por si só, um fato histórico digno de ser levado a sério e considerado num estudo da história de Israel.
No entanto, não poderá ser considerada tarefa da pesquisa histórica constatar ou demonstrar, com meios científicos, a realidade do falar e do agir de Deus. Numa tal tentativa, o historiador ultrapassaria os limites de suas possibilidades e competências. Contudo, faz parte da tarefa de uma história de Israel, mostrar como a ação e o falar de Deus se espelhavam no testemunho histórico de Israel, como se sedimentaram (consolidaram) nas tradições desse povo, e como Israel se entendia a si mesmo e às diversas fases de sua vida, a partir do chamado de Deus sucedido na história.
Segundo o testemunho do AT, Israel é o povo de Deus e se encontra sob a condução do seu Deus. No entanto, isso não significa que Israel esteja excluída do mundo que a cerca e que sua história transcorra à parte da história dos povos vizinhos. Pelo contrário, Israel sempre esteve consciente de que se encontrava colocada dentro dos acontecimentos políticos, culturais, geográficos e religiosos do mundo em que vivia e de que sua história estava profundamente entrelaçada com a história dos povos vizinhos. Assim sendo, também compete a uma história de Israel examinar as diversificadas relações entre Israel e o mundo que o cerca, bem como o entrelaçamento de sua história com a história dos povos vizinhos.
A história de Israel, é a história de um povo, que começa a existir numa determinada época como uma liga tribal, ou uma liga de tribos unidas em Aliança com javé.
2. Nômades em busca de terra
É toda uma onda de infiltrações de famílias, principalmente arameus, nômades em busca de terra que pouco a pouco (principalmente a partir do século XIII), foram modificando as regiões da mesopotâmia, Síria e Palestina. “Arameu errante foi meu pai, e desceu do Egito, e ali viveu como estrangeiro com pouca gente; e ali veio a ser nação grande, forte e numerosa”. (Dt.26,5). Na verdade todo esse processo de sedentarização (fixar-se na terra), começa por volta de 2500 anos antes de Cristo, incentivados pelo fenômeno natural da mudança regular de pasto: esses povos deixaram o deserto e as zonas da estepe e invadiam as terras cultivadas das regiões pouco habitadas e as aldeias em busca de melhores condições de vida, (nos fazendo lembrar o que aconteceu no Brasil com o povo nordestino). Para os povos estabelecidos, essas ondas migratórias permanentes inspiravam ameaça.
De fato, certos elementos arameus chegaram mesmo a constituir-se soberanos em regiões do norte da Síria.
Todavia, a grande maioria das famílias maiores, se estabeleceram em regiões montanhosas e pouco habitadas, mantendo a princípio, distância dos grandes centros cananeus e das regiões litorâneas, recentemente dominadas pelas invasões ameaçadoras (principalmente para os reis cananeus), dos “povos do mar” (Filisteus, Fenícios).
2.1.Os Patriarcas
Entre os pastores seminômades contam-se também os patriarcas, que segundo a tradição do AT, habitavam em tendas (Gn. 12,8). Há tempos atrás estávamos inclinados a encarar os patriarcas como personificações de tribos, (representar por meio duma pessoa). Entretanto, a pesquisa mais recente demonstrou que os patriarcas eram personalidades históricas próprias. Nas cartas de Mari (Séc. XVIII / XVII a.C.) aparecem Jacó, Isaque e, provavelmente, também Abraão como nomes próprios de indivíduos, e em nenhuma parte estão fundamentados como nomes que designassem tribos.
A história dos patriarcas nos fornece esclarecimento sobre o mundo religioso dos antepassados de Israel. Eles veneravam o “Deus dos Pais”. Esse tipo histórico-religioso de divindades dos pais pode ser constatado em época bem posterior entre os nabateus, nas margens da terra cultivada. A peculiaridade dessas divindades patriarcais consiste no fato de não serem caracterizadas, como, por exemplo, as divindades Cananéias, pelo local de culto, onde foram veneradas pela primeira vez (p. exemplo, El-Betel: Deus de Betel). Mas pela pessoa, à qual se revelaram pela primeira vez e que fundou o culto ao referido deus. Assim, a designação “Deus de Abraão”, por ex. quer dizer que este Deus apareceu pela primeira vez a Abraão e que Abraão foi o primeiro a lhe dar culto. A designação de Deus como “pachad jizchak” (temor de Isaque Gn 31,42-53) e “Abir já’ akob” (poderoso de Jacó Gn 49,24) deixam entrever algo do caráter extraordinário das aparições vividas pelos patriarcas. Com a revelação divina, os patriarcas recebiam a promissão de posse de terra e grande descendência. Nisso é que residia a importância dos patriarcas para os israelitas. Quando estes se tornaram adoradores de javé, reconheceram em Javé o mesmo Deus, que outrora se revelara aos patriarcas e lhes dera sua promissão. A posse da Terra Cultivada foi compreendida como cumprimento das promissões, outrora feita aos pais. Eles viam, na revelação do Deus dos Pais, um estágio primário da revelação de Javé (Ex. 6,3).
Estilo de vida
Economia: criação de gado miúdo (ovelhas, cabras, carneiros), de onde tiravam as vestes, roupas, etc... a vida era nômade, não tinham lugar fixo.
Social: lã, trigo, família ou a chamada “Casa” (estrutura social). O tipo de economia era comunal, (tudo em comum).
Propriedades: tendas, armas, animais, bichinhos de estimação, objetos caseiros.
Eles não dependiam do Estado e não cultuavam templo, por isso não havia necessidade de “padres” e de soldados, logo não pagavam tributos.
Ponto fraco da estrutura social: defesa frágil, fome, sede.
A religião dos patriarcas, passou por um processo de evolução, isso a gente percebe nos nomes dado por eles a Deus:
1o Deus de Abraão
2o Deus de Abraão teu pai
3o Deus de Isaac
4o Deus de meu, teu, vosso pai
5o Deus de meu senhor Abraão
6o O Deus de vossos pais é identificado com Javé (Ex. 3,13-15), na libertação do povo no Egito.
Historicamente, os patriarcas não conheciam o culto a Javé, deve-se deduzir que Javé é uma compreensão futura na história dos patriarcas, esse processo de identificação com Javé, chega ao resumo da seguinte forma: Javé é Deus de vossos pais, (Deus de Abraão, Isaac, Jacó), no final dessa identificação recebe um novo elemento: Javé Deus dos hebreus.
Características:
1o Eram divindades que tinham diversas características, ex: EL Shadai = Deus da montanha, EL Holam = Deus da antiguidade.
2o O Deus dos patriarcas é o Deus dos pais, são pessoas que fazem experiência, e não uma força cósmica, porque o Deus dos pais está ligado a vida do clã.
3o O Deus dos pais não está vinculado ao lugar fixo na natureza, é um Deus nômade, que acompanha, como divindade o clã, onde quer que este vá.
2.2. da Mesopotâmia à tomada da terra de Canaã
A história do povo de Israel começa lá na mesopotâmia, em Ur dos caldeus, por volta do séc. XIX ou XVIII a.C. quando tribos aramaicas penetram na terra cultivada; entre essas tribos, temos a tribo de Abraão, que era de pastores seminômades, que criavam gado de pequeno porte (carneiro,ovelhas, etc...), e como não se estabeleciam em um local fixo, não tinham a necessidade de pagar impostos. Essas tribos, na época de seca não conseguiam se manter na mesopotâmia, e se locomoviam para as terras cultivadas, onde seus rebanhos encontravam o alimento necessário nos campos já colhidos, isso provavelmente com o consentimento dos habitantes dessa terra, mas dês de que não mexessem nas plantações e não se desviassem da estrada.
Abraão e sua tribo fazem também esse movimento, mas o que distingue Abraão dos outros povos, é que a ele, este movimento se dá após a revelação de um Deus (EL) que quer fazer aliança com ele. Abraão toma consciência da desigualdade social em que sua tribo vivia e resolve lutar por uma vida plena, que se revela em “EL” seu Deus.
Após essa revelação, Abraão sai da mesopotâmia e parte para uma nova terra, na esperança de melhores dias, só que chegando lá, já havia um povo e seus costumes que eram donos da terra, esse povo era chamado de cananeus. Não é possível a Abraão se estabelecer nas terras cultivadas, pois lá a hierarquia real impunha seus interesses sobre o povo.
O poder na sociedade Cananéia estava centrado na mão do rei, e esse poder era sustentado por leis, e o rei é absoluto, porque era filho do deus “Baal”, também o poder sacerdotal estava a serviço do poder real. Sendo assim, Abraão se estabelece nas montanhas que ficam às margens de Canaã. Nas montanhas, já existia um povo vivendo, que são os Hapirus.
2.3.O fenômeno Hapiru na Palestina
Pelas cartas de Amarna (neste local foram encontradas em 1887, no centro governamental construído por Amenófis IV Icnaton, a 300Km ao sul do Cairo), podemos ver como se encontrava a Palestina na última metade do 2o milênio. Os reis e suas cidades-estados disputavam entre si e buscavam persuadir o Faraó do Egito através de bajulações para que sempre se mantivessem no poder. A segurança estava ameaçada por setores populares insatisfeitos e marginalizados conhecidos como “Hapiru”, não havendo mais domínio por parte dos reis cananeus e ameaçados pelos guerreiros do mar, reis como Abdiíba de Jerusalém refugiava-se nos pés do Faraó implorando-lhe ajuda militar o quanto antes.
É difícil dizer de onde vem os hapiru. Sabe-se que só podem se tratar de homens oprimidos, de várias partes, que podem ser tanto agricultores inconformados, como nômades arameus, dissidentes políticos nobres que lideram bandos contra o sistema dominante egípcio-cananeu, ou seja, o termo se refere a todo e qualquer indivíduo que não segue as leis e as determinações de uma sociedade organizada regularmente. Dentre estes se podia encontrar desertores das tropas militares Cananéias que, se forem como aparecem nas cartas do rei de Jerusalém, podem se referir a situação descrita pelas narrativas do livro de Josué sobre ações bélicas relacionadas com a conquista da terra. Atualmente em meio à efervescência político – econômica que ameaçava a região da Palestina, esses hapiru vinham causando transtorno aos reisetes das cidades-estados: saques e adesões a esses grupos eram cada vez mais freqüentes.
Não suportando o regime político empregado pelo rei cananeu que obedecia ao Egito, passam a viver então nas montanhas. Parte desse povo sente-se atraído pela forma de vida da tribo de Abraão, onde não existem divisões sociais, mas sim funções diferentes, este sistema de vida se fundamenta na prática do direito e da justiça, principalmente no espírito de solidariedade. O poder não esta mais centralizado na mão de um rei, mas dividido, socializado. Assim sendo, começa-se a fortalecer a tribo de Abraão, cuja força esta fundamentada em um único Deus, “EL”. O Deus “EL”, que é um Deus que acompanha como divindade o Clã, ele segue aonde o Clã vai, é um Deus nômade, portanto estamos sempre indo até Ele e Ele vindo até nós.
2.4. Partidas para o Egito
Mas as condições de vida nas montanhas não são fáceis, às vezes as tribos seminômades se vêem obrigadas a partir para o Egito em busca de alimentos por causa da seca, e com Abraão não é diferente, podemos ver isso em (Gn 12). Mais tarde,outro período de seca levou os irmãos de José, bisnetos de Abraão ao Egito para comprar cereais. Pouco depois, grande parte da família de “Israel” (Deus que age), se estabeleceu em Gessem, na parte oriental do Delta do Nilo. Mas com o passar do tempo, esse povo começa a ser convocado pelos egípcios contra a vontade, para determinados serviços braçais baratos, sendo convocados até para a construção das cidades de Pitom e Ramsés, vivendo assim como escravos.
É neste contexto que aparece a figura de um líder denominado Moisés.
Neste momento da história, o nome dado a Deus já não era mais “EL” (Eu sou quem eu sou, Ex 3,14) e sim o Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Moisés que teve contato com as tribos do Sinai, que denominava a Deus como “Javé”, que significa (aquele que cai, ou aquele que desce), porque originalmente era um Deus do relâmpago, da tempestade, e nessa forma verbal significa “Ele é”, no sentido de existência ativa e eficácia, Moisés passa a chamar ao Deus de seus Pais (Patriarcas) de “JAVE”, reconhecendo nesse Deus, a origem de todas as coisas.
3. Fuga do Egito e tomada de Canaã
Esse líder (Moisés), movido pela consciência da desigualdade em que seu povo se encontrava e pelo poder de Javé, começa a despertar nas pessoas o antigo espírito de igualdade e justiça no qual viviam seus antepassados, e após um longo trabalho de restabelecer na consciência do povo, este pensamento, Moisés e parte desse povo fogem do Egito em direção a Canaã. Mas este retorno não é fácil, o povo se vê perdido no deserto, e ainda tem que enfrentar a perseguição do faraó, e também atravessar o mar vermelho, tudo isso faz com que a consciência do povo vá amadurecendo, por fim, às portas de Canaã, este povo é chamado a fazer Aliança com Javé, seu Deus no monte Sinai, local onde se consolida este pacto. Chegando em Canaã, novamente eles se estabelecem na região montanhosa à margem da cidade, ali se encontram com parte da tribo de Abraão que permaneceu naquela região, e também com tribos que continuaram a vir da mesopotâmia, com tribos que vieram da região do Sinai, começando desta forma a ficarem mais numerosos. Essas tribos, num movimento lento, vão invadindo a terra cultivada de Canaã, mas esta invasão se dá aos poucos, e em alguns momentos foi necessário o confronto direto e armado para se conquistar a terra, mas isso não se deu em todos os casos.
A tomada da terra deve ter ocorrido no decorrer do Séc. XIII, pois as cartas de Amarna dão a entender que Belém, posteriormente a capital de Judá, pertencia à região da cidade – Estado Cananéia de Jerusalém, no Séc. XIV; e mais, que no Séc. XIV foram criadas na Baixa Galiléia as condições para a toma da terra da tribo de Issacar. Por outro lado, o processo deve ter terminado pelo menos 100 anos antes de Saul ter sido entronizado como rei (por volta de 1000 a.C.) pois, ao contrário, não haveria tempo suficiente para os eventos do período pré – estatal, narrados no livro dos Juízes, sobretudo para a sucessão dos chamados, Pequenos Juízes (Jz. 10, 1-5; 12, 7-15).
A tomada da terra dos israelitas não foi um acontecimento isolado. Ela se processou dentro de um grande movimento chamado de Migração Aramaica.
Aproximadamente na mesma época da tomada da terra dos israelitas e dos outros arameus, ocorreu também a invasão dos “povos dos mares”, no Oriente Próximo. No decorrer do Séc. XIII, esses povos dos mares vieram dos Bálcãs ou da região do Mar Egeu, como parte de uma migração maior. Parte da migração veio do mar, passando por Creta (que no AT tem o nome de Cáftor: Gn. 10, 14; Dt. 2, 23; Am. 9,7), e parte, por terra, através da Ásia Menor, destruindo a cultura cretense micênica, bem como o império hitita, percorrendo a costa sírio – palestinense para o sul, chegando a ameaçar o Egito, mas depois sendo destruído por ele.
Outro grupo, conhecido no AT como “filisteus”, radicou-se ao Oeste da Serra de Judá. Tornando-se assim, durante muito tempo, a mais perigosa ameaça para os israelitas.
É importante dizer, que até então, não existia uma liga de tribos onde já se encontravam as doze tribos formadas e juntas para dominarem a terra. Este movimento de tomada da terra, inicialmente se deu por tribos isoladas, que depois sim se uniram formando uma liga sólida, e constituindo assim o território de Israel, antigo território de Canaã.
O fato que marcou o compromisso dessas tribos numa vivência em comum aconteceu em um congresso na cidade de Siquém, ao norte de Canaã, onde Josué desempenha papel fundamental, pois Moisés já havia morrido. Ele formou um pacto com as tribos, e neste pacto, todos os participantes foram colocados sobre as promessas e os compromissos do pacto do Sinai, onde Josué teve a mesma função de mediador entre Deus e o povo, tal como aconteceu com Moisés no Sinai. Em Siquem foi constituída a liga das 12 tribos de Israel ligadas a uma mesma Fé, a constituição desse pacto, esta em torno da “LEI” (decálogo) onde o tema central está no mandamento de preservação da vida, “NÃO MATAR”.
A união das 12 tribos, faz com que o território de Israel seja forte e respeitado por povos vizinhos, pois mexer com uma das tribos, significa decretar guerra contra as 12 tribos.
3.1. A liga Sacral das Doze Tribos
Durante os dois primeiros séculos após a tomada da terra, as tribos israelitas estavam ligadas por uma ordem sacral, e não política. Não constituíam um estado, mas uma Liga Sacral, sob muitos aspectos semelhantes às ligas anfictiônicas de tribos gregas e veto-itálicas. Uma anfictionia é uma união voluntária e apolítica de 12 (ocasionalmente também de 6) tribos, numa comunhão cultural com um santuário central. Os membros da anfictionia prendiam-se a um direito sacral comum e reuniam-se para festas em conjunto. O número de doze (ou 6) deve-se ao fato de que as tribos se revezavam de um em um ou dois em dois meses na prestação de serviços no santuário central.
A relação entre as tribos e Javé e entre as tribos entre si é caracterizada no AT pelo conceito “Pacto”. Por “Pacto” entendia-se, no Antigo Oriente, um contrato solene entre dois parceiros, geralmente desigual, efetivado através de determinadas cerimônias.
O fato de que a relação entre uma divindade e uma comunidade tivesse sido regulamentada nas categorias de um pacto, de um contrato, como foi o caso em Israel, é um fenômeno único na história das religiões do Oriente Próximo. O conteúdo do Pacto entre Javé e Israel pode ser resumido nestas duas sentenças: “Eu serei o vosso Deus – vós sereis o meu povo” (Dt. 16,16-19; 29,11-12; Lv.26,12; Jr.31,33).
Assim como no ato salvífico da saída do Egito, Javé se colocou ao lado de Israel, elegendo Israel e fazendo-o sua propriedade, assim ele assegura ao povo, através do Pacto, que Israel será sua propriedade também no futuro e estará sob sua proteção. Israel assume o compromisso de servir unicamente a Javé e de observar as leis e disposições, pelas quais deve ser garantida a relação do Pacto entre Javé e Israel.
Com a tomada de Canaã pelos israelitas, eles (Israelitas e cananeus) passaram a viver lado a lado, e a estrutura política religiosa e econômica dos cananeus são adaptadas ao sistema israelita, onde todos participam do fruto do trabalho da terra, que difere do nível econômico Cananeu que tinha que usar o fruto do trabalho para sustentar o rei. O povo de Israel agora começa uma vida sedentária, e já não vivem como nômades, em tendas, mas em casas. O centro da organização social é a fraternidade, a união e a confederação das tribos.
Os membros dessa comunidade (sociedade) são chamados de (o próximo), neste sistema há uma defesa do mais pobre, do órfão e da viúva e também do estrangeiro.
3.2.Etapas da evolução do pensamento do povo Israelita
A origem do pensamento Israelita esta na história dos patriarcas que se resume na realidade de Deus e dos pais que entra na história dos Clãs.
A obra de Moisés teve a consciência do Deus vivo e libertador do seu povo, esse núcleo será à base da consciência do povo que acredita em Javé, o libertador. Essa fé mosaica entra na história das tribos de Israel e se confronta com outras idéias, essa consciência da fé na tomada de posições diante de outras consciências vai progredindo.
Esse progresso se dá da seguinte maneira:
Há um tipo de consciência conservadora entrando em Canaã, as tribos Israelitas encontraram um novo tipo de civilização, uma civilização agrícola, com cidade-estado, com seu rei e sobretudo, com seu deus “Baal”, e uma ideologia política e religiosa de culto a Baal.
A consciência conservadora procura viver a fé mosaica nos moldes da experiência do deserto, negando o fato novo do encontro com a cultura de Canaã. Um exemplo dessa consciência vai estar nos recabitas, (grupo que vivia no deserto e cultuavam Javé), são apresentados em Jeremias 35, e eles representam um tipo de consciência conservadora. Diante da civilização de Canaã, eles não plantam vinhas, não edificam casas, logo recusam todo sistema Cananeu. Esses recabitas são importantes, porque foi a consciência deles que permitiu grandes revoluções no antigo testamento. Graças a eles, Israel pode conservar sempre a fé viva em Javé e a sua fidelidade, passando de geração em geração o conteúdo dessa fé.
3.3. A consciência mágica
A divindade é uma força que pratica o bem, mas por outro lado, é implacável. Em torno dessa ambigüidade é que se criam ritos para demonstrar essa força da divindade.(Em Ex, 4,24-26 a circuncisão de Moisés), essa história reflete a consciência mágica que na forma atual é adaptada na história mosaica. A circuncisão era um rito de iniciação do casamento, aparece aí a mentalidade mágica, isto é, a divindade é perigosa, o demônio persegue o casamento, por isso é preciso afastar a divindade; a circuncisão é um rito para se defender da divindade maléfica, espantar os demônios. E aqui se dá o processo do significado da circuncisão, que é uma consciência mágica, que vai evoluindo, tornando-se a expressão da identidade do povo de Israel. Portanto, a circuncisão agora é ligada a pessoa de Moisés (Ex 4,24-26), e começa a ser a marca da identidade das tribos Israelitas.
3.4. Consciência Sacral
É a maneira de exprimir o relacionamento com a divindade, a partir de lugares, pessoas e instituições, deste ponto, para o povo israelita, OS LUGARES Sacros, eram os santuários, local onde o povo acreditava que Deus se manifestava, de maneira que estes locais eram fonte de salvação. O santuário era considerado a ponte entre o céu e a terra, era o centro do universo. Era a garantia absoluta da segurança do povo, que pensava que o santuário de Jerusalém era a grande fortaleza que nunca seria abalada.
4. Início e desenvolvimento da monarquia
A estrutura tribal durou + ou – 200 anos. A partir do ano 1000 a.C. Israel instituiu a monarquia, isto é, almeja um rei como em outras nações (I Sam 8,5-19) entre criticas e simpatias, a monarquia perdurará até + ou – 587 a.C.
Quais as causas que levaram Israel a monarquia?
1o O avanço dos Filisteus, que queriam alcançar a supremacia na Palestina.
2o A revolução tecnológica, sobretudo da aquisição do ferro para que o exército possa ser mais eficaz e constante. A revolução tecnológica na roça, onde o boi passa a trabalhar com o arado, aumentando a produção e gerando o excedente.
3o a ideologia acumulativa, onde há famílias que vão se tornando dominantes, ou seja, umas incham, e outras diminuem.
Como surgiu o estado israelita?
O Estado surge de dentro do clã e da tribo, porque o clã começa a concentrar poderes em 1o lugar na figura do chefe (ancião).
Os conflitos se concentram nas mãos do ancião, cabendo a ele dar soluções para os conflitos, os Juízes agora recebem tributos pelos seus serviços, dependendo do Juiz, recebia mais pelos seus serviços.
Quem tem controle e posse sobre o boi, que agora acelera a produção, também detem o poder, já nasce aqui uma questão da mão de obra escrava, (pessoas empobrecidas que se colocam a serviço de outras).
O Estado surge como imposição das invasões, guerras permanentes; agora é necessário um exercito permanente para combater os inimigos.
Além do contrato que garante a sobrevivência do exercito, o saque também é uma permanente obra na sociedade (pós – guerra). O general passa a ser o homem chave nesta sociedade, pois ele passa a ganhar muito para defender a sociedade, e quem pagar mais, é quem terá os seus serviços.
O templo é fonte de riquezas, o excedente da produção ia para o templo em forma de ofertas. Por ocasião das festas entrava muitos cereais e carnes no templo. Circula o excedente por meio do comércio e do mercadinho, daí é necessário construir uma rede de templos para estar ligado a esse comércio.
O Ser de Israel = formação
A formação de Israel é coletiva e democrática, com interesses voltados para coletividade e democracia. Isso foi possível porque Israel tinha uma relação especial com Javé, que é um Deus Rei, portanto, na concepção de Israel, eles dependem de Deus e nele confiam totalmente. Tudo isso é o que chamamos de sustentáculo da sociedade tribal, e assim permanece até 1000 anos a.C.
O não Ser de Israel
Formação Feudal e Aristocrata, relação dependente do rei com o povo (todas as relações dependem do poder central). A característica de relação com a divindade passa pela figura do rei, que é filho de Deus e representante dele aqui na terra. Com isso o povo passa a viver um paganismo Javista.
A figura do rei, nasce dentro dessa tensão e dessa ambigüidade, surgindo posições divergentes diante do rei. Essa tensão e ambigüidade aparecem quando o rei tem a tendência de se sobrepor à autoridade religiosa.
Posições diante do rei
1o Antimonárquica = idéias de manter a velha estrutura das tribos. (podemos perceber isso nas Escrituras)
· A figura do rei é ambígua e perigosa. (1Sm 8).
· A única autoridade é a de Javé (o ideal das tribos).
Narrativas da Bíblia menos favorável a monarquia (I Sm 8,10. 17-27. cap. 12)
Dês de o início havia uma oposição à monarquia. Foi um passo drástico e um rompimento violento, que Samuel teve que decidir diante do pedido do povo, por meio dos representantes, os anciãos das tribos (I Sm 8,4ss).
2o Pró – monárquico
· O rei é o salvador
· O rei dá identidade e assegura a salvação do povo
· É o enviado de Deus para salvar seu povo.
Narrativas da Bíblia favorável a monarquia (I Sm 3,1-10 + 16; 13,3b. 4b-15)
4.1. Características da eleição de Saul
1o a sua escolha é uma designação profética, Saul foi ungido, o setor profético designa Saul nos moldes tribais, ele é escolhido por aclamação popular. (1 Sm 10,1ss).
2o esta escolha foi também influenciada pelo fato de Saul pertencer a uma tribo que ficava no ponto central do território israelita, e era constantemente ameaçada, que era a tribo de Benjamim. Dês de o inicio, Saul foi aceito por causa de seus bens característicos.
3o a escolha foi determinada pela classe dos proprietários, (I Sm 11,6-7), que o aclamaram rei no templo de Uigar, e quando Saul ouviu tais coisas, o espírito de Javé caiu sobre ele.
Qual a natureza do reinado de Saul
Ele foi um herói carismático a maneira antiga (como nos Juízes) com Gideão 8,22ss. Logo, não manifestou nenhum rompimento violento com o passado.
Ele foi um rei, um líder ou comandante, isto significa, um rei ainda não definido.
Samuel e os anciãos não queriam Saul como rei no sentido convencional de rei (ditador), mas que fosse um líder carismático (I Sm 9,15 até 10,16 e 13,14b-15).
O povo porém, via Saul em sua dignidade de rei, porque os vizinhos também tinham o seu rei.
Seja o que for que Samuel pensa de Saul, os outros sacerdotes fecharam com ele e o acompanharam ao campo de batalha. (I Sm 14,3-18).
Em Saul a administração continuou como era, Saul não tinha corte, não tinha harém, e seu palácio era uma pequena fortaleza. A máquina burocrática ainda não existia, Saul era rodeado por soldados jovens para serviços permanentes. (1 Sm,14-52).
Apesar de tudo, ele foi muito popular, porque provisoriamente ele manteve afastado Israel dos inimigos filisteus, dando encorajamento ao “povo” (os donos do boi)
4.2. O declínio do reinado de Saul
As guerras de Saul apresentavam características típicas de uma guerra santa, no molde tribal: Preparação pelo sacrifício (I Sm 13,9) e consulta a Deus (I Sm 14,18s.36ss); abstinência (14,24ss); destruição da presa (15,3.8).
Tensões dentro dessas exigências.
· necessidade de se esperar para se cumprir essas exigências (13,8ss e 14,18ss)
· intervenção do rei em atos cultuais
· a não execução da exigência de eliminar a presa (15,9.20ss)
Tudo isso gera conflitos entre Saul e Samuel, o guardião das antigas tradições sacrais, o qual passou a anunciar que Javé rejeitara a Saul (I Sm. 15).
Em primeiro lugar, a partir destes conflitos, o reinado de Saul é um reinado de inveja e ciúmes e desconfiança, e em virtude das pressões Saul ficou com a mente perturbada.
Em segundo lugar, Saul vendo que Javé não lhe respondia nem mesmo por sonho, consulta a médium de En-Dor que para sua surpresa anuncia o seu fim. (1 Sm 28)
Em terceiro lugar, os filisteus avançam aniquilando a maior parte dos filhos de Saul, e ele próprio foi ferido, e se lançou sobre sua espada e morreu. Os filisteus levaram consigo a cabeça e as armas de Saul, como troféu, e afixaram seu corpo e o de seus filhos no muro de Betel-Sã.
5. O grande reinado de Davi (aproximadamente primeira metade do Séc. X a.C.)
Duas vertentes do reinado de Davi
1a é aquela que narra Davi como o comandante de Saul, ou seja, o soldado experimentado que devia muito de sua reputação a suas tropas que o ajudaram a conquistar o trono Israelita.
a-) Davi aparece na corte como tocador de Harpa, (salmista) mas ele faz carreira como valente de guerra.
b-) Davi vai a casa real como chefe de guarda pessoal, e é chegado de Saul, esta relacionado bem com a filha de Saul, que se apaixonou por Davi, e esse se torna genro do rei. Os sacerdotes se relacionam bem com Davi.
c-) Davi é um camponês bem situado e não um pobretão, ele vem do grupo dos baalins, que por sua vez é uma família muito tradicional da cidade de Belém, onde Davi nasceu.
d-) A base do conflito Davi, Saul parece que é porque Davi é pobre, mas na verdade é por causa do sucesso de Davi na guerra. Saul desconhece Davi como nobre.
O exército que é o sustentador do Estado, tem uma nova liderança, e ter poder no exército dá direito a uma nova sucessão.
2a vertente = Davi é um sujeito errante. Nesta versão Davi procura refugio com os filisteus (1 Sm 21,10-11ss), e se refugia na caverna onde encontra o seu futuro (1 Sm 22,1ss), portanto Davi se tornou chefe dos hebreus pobres, que vivem a margem da sociedade. Portanto, o Estado de Davi vai se formar a partir da caverna, porém Davi mantêm também legitimação religiosa (23,1ss).
Os ricos da cidade, os senhores baalins apóiam Davi e Davi sabia que para ser rei, era preciso o controle da cidade, e Davi sobretudo, é um soldado do exército, portanto, um soldado dos proprietários.
O Estado de Davi surge no confronto rico e pobre. No deserto Davi tenta sobreviver com 400 homens, e é necessário arrecadar tributos para o sustento (25,18-19), mas a riqueza maior de Davi vai se dando através do saque contra os filisteus.
Davi faz o reinado do controle da cidade com as necessidades básicas (gente pobre com fome e gente rica com medo), necessidade de defesa. Davi une estas duas contradições presentes na sociedade israelita, resolvendo da seguinte forma: Os saques atendem os pobres e a defesa atende os ricos com medo; o que não existia no reinado de Saul, mas houve uma contra posição em oposição do poder profético contra Davi (II Sm 12).
A importância histórica de Davi ultrapassou em muito sua época. Embora o Grande Reino de Davi já começasse a decair durante o reinado de seu neto, fato é que a sua dinastia permaneceu por 4 séculos no trono do Estado de Judá. Com isso ela conseguiu manter-se durante um período mais longo do que qualquer dinastia dos povos do Antigo Oriente. Apesar de toda a consideração e admiração dedicadas a Davi na tradição e na historiografia de Israel, nunca se chegou a uma apoteose. Seus erros, suas fraquezas e desvios não são omitidos (adultério com Bete-Seba, o assassínio traiçoeiro de seu marido (II Sm 11,12ss), a condescendência de Davi em relação aos seus filhos e sua desastrosa indecisão na regulamentação da sucessão). A tradição de Israel insiste muito em testemunhar que o sucessor de Davi só foi conseguido, porque “Javé estava com ele” (1 Sm 18,14; II Sm 5,10;8,6.14). A figura de Davi tornou-se o exemplo, o protótipo dos reis de Judá e, afinal, do rei messiânico dos últimos tempos (Jr 30,9;Ez 34,23 ss;37,24).
6. Salomão
Quando por volta da metade do Séc. X a.C., Salomão assumiu como herdeiro o Grande Reino de seu pai Davi, sua tarefa deveria ter sido fortalecer o reino para fora e tentar encontrar, no plano interno, uma fórmula de equilíbrio entre os diversificados elementos que compunham. Salomão não cumpriu com essa tarefa. Em lugar disso, aproveitou os frutos que seu pai tinha conquistado com tanto esforço. O período do seu governo caracterizou-se pela pompa, no estilo dos grandes reis orientais, por grande atividade em construções e no comércio, por um grande intercâmbio diplomático e pelos primeiros frutos de uma vida intelectual em Israel.
Após a morte de seu pai, Salomão livrou-se, inicialmente de seus inimigos políticos, cuja concorrência o ameaçava. Através de Benaia, o antigo comandante dos mercenários, que ele colocou como comandante do exército, mandou matar seu irmão mais velho Adonias, que reivindicara para si o trono, seu correligionário Joabe, bem como Simei, oponente de seu pai. O sacerdote Abiatar, que se colocara igualmente ao lado de Adonias, foi desterrado por Salomão (I Rs.2).
Salomão mandou construir um templo, separado por um muro do complexo palaciano que já havia construído, e ligado através de passagens. O templo de Salomão tinha três partes: a ante-sala, o Santuário e o Santo dos Santos. A construção do templo levou sete anos.
Apesar de toda a admiração pelo brilho do reinado de Salomão, apesar do orgulho com o qual se falava posteriormente da riqueza de Salomão, também não faltou a crítica ao seu reinado, provavelmente já durante sua própria época; com certeza porém, em tradições posteriores. O contraste entre a vida luxuosa na corte e a vida cotidiana da população tornava-se cada vez maior, e, com isso, já estava lançado o fundamento para uma evolução posterior negativa. Impostos mais elevados para a população, serviços para o rei, intervenções sensíveis na vida e na administração própria das tribos eram o outro lado da pompa de Salomão.
7. Cisma político e religioso
Quando Salomão faleceu, no ano de 926 a.C., foi sucedido pelo seu filho Roboão, aparentemente sem qualquer dificuldade tornou-se rei da cidade de Jerusalém e de Judá. No Estado do Sul se impusera, de modo inconteste, a sucessão real hereditária da Dinastia de Davi. No Estado de Israel, porém, a situação era outra. Roboão foi para siquém, no Norte onde as terras são mais férteis, onde tem a criação das vacas de Bazam, lá ele pede apoio para continuar no reinado de seu pai, no entanto, ele queria ser mais duro que seu pai, e o povo não queria aceitar isso, e se revoltou contra Roboão, colocando-o para correr de siquém. No seu lugar aclamaram como rei a Jeroboão, filho da empregada de Salomão, que havia fugido para o Egito após se rebelar contra Salomão. Temos assim, o grande cisma político e religioso do reinado do sucessor de Salomão, tendo 2 Estados de Israel, que às vezes lutam entre si por suas fronteiras, vindo a chamar a atenção de outros reinos que vêem a fraqueza na divisão do reino, e esperam tirar vantagens disso. O grande motivo deste cisma foi o fator econômico (tributos).
Embora o Norte tenha ficado com o melhor lugar, do ponto de vista econômico, Roboão no Sul, fica com o templo de Jerusalém, onde todos têm que ir para fazer suas ofertas, e sacrifícios, (poder religioso). Para resolver este problema, Jeroboão constrói uma Igreja em Siquém, no Norte, e copia o mesmo altar de Jerusalém, e pela primeira vez Javé é adorado em outro templo, desta forma, Jeroboão começa a ficar mau frente ao povo mais tradicional, que só adorava Javé em um único lugar. Jeroboão também começa a fazer aliança com outros povos que exerciam outra religião, e então começa a se afundar no seu conceito de rei e acaba caindo.
Depois disto, começa-se a ter vários reis no Norte, escolhidos pelos interesses políticos de alguns grupos, já no reino do Sul, a situação é mais tranqüila, pois todos respeitam a descendência da casa de Davi, com isso, outros reinos vendo a fraqueza do reino do Norte, começam a arquitetar sua invasão, pois dada sua posição estratégica entre outros reinos e o Egito, torna-se necessário ultrapassa-lo para poder dominar o Egito.
Uma vez dominado o reino do Norte, a Síria impõe autos tributos ao reinado, mas não destrói o reino existente, que por sua vez, se sujeita a esta imposição para não morrer e ser destruído. Elias vai contra esta sujeitação do reino e dominação do povo, mas é Eliseu que esta por traz da reforma do reinado (852 a.C.). Elias se aproveita da ausência do rei Jorão e através de Eliseu despachou um dos filhos dos profetas para os quartéis generais, com a ordem de ungir Jeú rei, e Ele é ungido rei.
A unção de Jeú é uma proclamação nos moldes tradicionais da designação profética. Quando Jorão retorna já é tarde, e ele é morto por Jeú, que mata também Jesebel, empurrando-a pela janela, e mata também toda a sua família de Acabe (dinastia de Onri), e todos os seguidores de baal. Desta forma ele se sustenta no trono.
Dinastia de Jeú:
Jeú, Joacaz, Joás, Jeroboão II, Zacarias.
Jeú assumindo o poder, o reino é enfraquecido, e com isso a Assíria invade o reino, e começa a cobrar tributos para não ter que destruir o reino, desta forma a dinastia de Jeú continua a eleger seus reis normalmente, e vive uma certa paz por algum tempo, pois só era necessário pagar os tributos para ficar livre da Assíria.
O profeta Amós critica esta aparente paz, pois somente a classe alta é quem desfruta dela, e os pobres sofrem com a injustiça social, opressão, corvéia, exploração impiedosa nas mãos de uma jurisdição corrupta. Daí nasce o apelo dos profetas mensageiros de Javé.
Nesta época, quem governa a Assíria é Salmanassar III.
Depois do reinado de Zacarias nós temos: Salur, Manaem, Pecaías, Peca, Oséias. Com estes novos reis no Norte, a Assíria também ganha um novo rei que é Tiglate Pileser III. Ele submete todo mundo ao Deus do seu império que é Assur, e este deveria ocupar lugar central no templo.
O rei Peca, querendo se revoltar, busca em Damasco e Judá, uma aliança contra a Assíria, o rei de Judá não ajudou Israel e ainda avisou o rei da Assíria sobre o que estavam fazendo.
Vendo isto, Tiglate Pileser pega as lideranças políticas, religiosas e populares de Israel e manda para a Assíria, e institui governantes seus para governarem Israel, e desta forma acaba o reino de Israel, sobrando ainda o reino do Sul.
8. A reforma de Josias (639/38/609/08)
Com a decadência do poder assírio, na segunda metade do Séc. VII a.C., um breve e transitório período de independência estaria novamente reservado ao Estado de Judá. Em 640/39 Amon, filho de Manasses, foi assassinado por um grupo de conspiradores. Para evitar que essa conspiração tivesse maiores conseqüências, houve uma intervenção da nobreza de Judá, que elevou a rei Josias, filho de Amon. O qual então contava com apenas oito anos de idade. Assim que alcançou sua maioridade, Josias aproveitou-se da fraqueza da Assíria para, aos poucos, se afastar de sua tutela e recuperar a independência de Judá. Nesse sentido, um passo decisivo foi dado com a expulsão do culto estatal assírio do santuário de Jerusalém, que os antecessores de Josias, na sua condição de vassalos da Assíria, foram obrigados a introduzir. Em conexão com essas medidas, Josias também afastou os cultos às divindades astrais, que entrementes haviam conseguido infiltrar-se no templo. A forma do culto empreendida por Josias estava em pleno andamento. Um dos argumentos que comprovam a efetivação dessa reforma é um livro de Leis, encontrado naquela época, durante trabalhos de restauração do templo de Jerusalém, onde havia sido depositado. Tudo leva a crer que o livro de Leis encontrado na época de Josias seja a assim chamada “Lei Deuteronômica”, que forma o conteúdo central do livro Deuteronômio, quinto livro de Moisés. Numa época em que Israel corria o risco de sucumbir ante o perigo do sincretismo, a Lei Deuteronômica acentua, sobretudo, o dever da adoração exclusiva a Javé (Dt.6,4), e que por seu lado, exige a centralização do culto e a adoração a Javé num só templo (Dt.12). Josias então, manda que se destruam todos os santuários, que outrora foram edificados por Salomão, para as divindades de suas mulheres estrangeiras, também destrói os santuários existentes na Samaria.
Pode-se deduzir de Jr.22,15ss, que Josias estava empenhado não somente em fazer com que as exigências culturais da Lei Deuteronômica fossem acatadas, mas também as reivindicações de âmbito social. Contudo essa tentativa não teve efeito duradouro.
Após a queda de Nínive, em 612, e a morte de Sin-ser-iskun, um certo Assur-uballit fez-se rei da Assíria. No entanto, em 610 ele foi expulso pelos babilônicos e citas, que haviam conquistado Harã. Na tentativa de reconquistar a cidade, Assur-uballit encontrou o apoio do Faraó Neco, um soberano da 26a dinastia, que temia a supremacia babilônica e, por isso, dispôs-se a correr em auxílio da Assíria. Com isso transformou-se num adversário de Josias. Em Megido Josias opôs-se às forças egípcias, que se aproximavam com a finalidade de obstruir-lhes o caminho para a Síria, onde Neco pretendia unir-se a Assur-uballit. Entretanto Josias fracassou na sua tentativa, o que lhe custou à vida. Por outro lado, também a tentativa de Neco, de reconquistar a cidade de Harã, redundou num completo fracasso, mas no entanto, se proclamou com o direito de suceder à soberania assíria sobre a Palestia-Síria, conseqüentemente o território de Judá.
9. A curta soberania do Egito sobre a Palestina – Síria
A soberania no Egito sobre a Palestina – Síria foi de curta duração. Após Assur – uballit ter fracassado na tentativa de reconquistar Harã. Os assírios deixaram em definitivo, de desempenhar um papel importante na política das grandes potências. Babilônios e Medos, que se haviam apossado da sucessão no reino assírio, conseguiram chegar a um comum acordo no que diz respeito às limitações de suas áreas de influencia. Aos medos coube a Ásia Menor Oriental e a região alta do Irã-Armênia. A Babilônia reteve em seu poder toda a Mesopotâmia e a soberania Palestina – Síria. Isso, por sua vez, levou a uma disputa decisiva entre babilônios e egípcios, uma vez que ambos reivindicavam para si a soberania sobre a Palestina – Síria. No ano 605 a.C. os egípcios foram batidos em Carquemis, no Eufrates por Nabucodonosor, e os egípcios foram totalmente varridos da província de Hamate. Desse modo a Palestina – Síria passava a ficar sob o domínio da Babilônia.
9.1. A invasão Babilônica
Com a invasão Babilônica a Judá, (605 aC.) o rei Jeoaquim tornou-se um vassalo de Nabucodonosor, príncipe herdeiro da Babilônia, e assim permaneceu por três anos, mas se demite da vassalagem, provavelmente depois de uma segunda batalha entre o Egito e a Babilônia no ano de 601 a.C. e que acabou sem vencedor. A principio, Nabucodonosor não tomou atitudes decisivas quanto a Judá. Somente em 598/ 97, após a morte de Jeoaquim, Nabucodonosor movimentou suas tropas contra Judá. Sua meta era derrubar do trono Joaquim, filho e sucessor de Jeoaquim, antes que ele conseguisse consolidar sua soberania, pois este estava inclinado a não aceitar o domínio babilônico. Após um breve período de sítio, Jerusalém é dominada sem oferecer uma resistência digna de nota.
Para evitar e impedir qualquer tentativa de resistência contra a Babilônia, Joaquim foi deposto e deportado para a Babilônia com toda sua família, corte, altos funcionários, nobreza, trabalhadores especializados como os construtores de fortificação e militares. Porém, Nabucodonosor não destrói Judá neste momento, Ele entronizou um outro filho de Josias, tio de Joaquim, chamado Matanias. Como sinal de seu direito de dispor sobre o recém entronizado rei, Nabucodonosor mudou o nome de Matanias para Zedequias. Tudo isso quer significar que, a principio, Nabucodonosor não anexou Judá como província do reino babilônico, mas deixou-a continuar como estado vassalo com seu próprio rei.
Por alguns anos Zedequias conseguiu manter a fidelidade de vassalo. Mas não demorou muito para que grupos do povo influenciassem Zedequias a se levantar contra Nabucodonosor.
Zedequias, confiando numa ajuda dos egípcios, rompe com a condição de vassalo. A resposta de Nabucodonosor é uma imediata guerra contra Judá, (589 a.C.). Como Judá já não tinha mais um exército, não ofereceu resistência. Nesta ocasião, as tropas ocuparam todo o território de Judá, destruíram numerosas habitações e arrasaram cidades fortificadas.
Nabucodonosor teve de interromper por pouco tempo o sítio de Jerusalém para repelir um exército egípcio que vinha em socorro de Zedequias (Jr. 37). Após um ano e meio de sítio, os babilônicos conseguiram entrar em Jerusalém. Zedequias foi capturado, seus filhos foram mortos em sua frente e logo após vazaram seus olhos. Aproximadamente um mês depois da conquista de Jerusalém, os babilônicos atearam fogo ao palácio real e a outras fortificações, a Arca da Aliança foi consumida pelo incêndio no templo. Com a destruição do templo, Nabucodonosor visava arrasar todas as esperanças que viriam a se basear no templo, o que levaria a novos levantes.
No ano de 582 a.C. foram exilados o restante da nobreza para a Babilônia, restando na terra somente classes inferiores, que eram constituídas de agricultores. Várias lideranças do povo foram executadas por ordem de Nabucodonosor. Todas essas medidas foram tomadas visando, no futuro, impossibilitar qualquer relampejo de resistência contra a Babilônia.
Toda esta situação em que se encontrava Judá, já havia sido previamente alertada pelos profetas Amós e Oséias.
9.2. O alerta dos profetas
Ao chegar ao século VIII a.C., a profecia israelita conta já com longa história e com nomes famosos: Samuel, Aias, Nata, Elias, Eliseu, entre os mais importantes. Entretanto, em meados deste século se produz fenômeno inteiramente novo e de grande transcendência: aparecem alguns profetas que nos transmitem a sua mensagem por escrito. O primeiro deles é Amós, iniciando esta lista que continua com homens como Oséias, Isaías, Jeremias e outros.
Não sabemos em que ano Amós nasceu nem em que ano faleceu. Mas sabemos que nasceu em Técua, cidade pequena, mas importante, a cerca de dezessete quilômetros ao Sul de Jerusalém. Portanto, ainda que pregasse no reino do Norte, ele era judaíta. Exercia a profissão de pastor e cultivador de sicômoros.
A este homem, sem nenhuma relação com a profecia ou com os grupos proféticos, o envia Deus a profetizar em Israel. Trata-se de ordem categórica, á qual ele não pode resistir: “Um leão ruge: quem não temerá? O Senhor Javé falou: quem não profetizará?” (3,8). Não sabemos com exatidão quando ocorreu a vocação de Amós; a maioria dos autores a situa entre os anos 760-750 a.C..
Amós não se limita a anunciar o castigo (o exílio do povo), deve explicar ao povo o que foi que o motivou. E para tanto, denuncia uma série de pecados concretos, entre os quais quatro se destacam: o luxo, a injustiça, o falso culto a Deus e a falsa segurança religiosa.
Uma das coisas mais criticadas por Amós é o luxo da classe alta, que se observa principalmente nos seus magníficos edifícios bem como na sua forma de vida. Ataca Amós, como nenhum outro profeta, os palácios dos ricos, construídos com silhares, cheios de objetos valiosos; como se isso fosse ainda pouco, esta gente se permite também ter casa de verão (3,15), e passam o dia de festa em festa, no meio de toda espécie de comodidades (6,4-6 a). Amós chama a atenção à compaixão solidária para com os acontecimentos do povo de Deus. Amós provavelmente pregou durante algumas semanas ou meses em diversos lugares: Betel, Samaria, Guilgal. Até que esbarra com a oposição dos dirigentes. O sacerdote Amasias, escandalizado de que Amós ataque o rei Jeroboão e anuncie o exílio do povo, o denuncia, ordena-lhe guardar silêncio e o expulsa de Israel (7,10-13).
A mensagem de Oséias coincide em parte com a de Amós. Por exemplo, na denúncia das injustiças e da corrupção preponderante, bem como na crítica ao culto, pelo que este tem de superficial e de falso (6,4-6; 5,6; 8, 11. 13). Há, no entanto, toda uma série de aspectos novos.
Em primeiro lugar, Oséias condena com grande energia a idolatria, a qual se manifesta em duas correntes: cultual e política. A idolatria cultual consiste na adoração de Baal, com os seus ritos da fertilidade (4,12b-13;7,14b;9,1), e na adoração do bezerro de ouro, instalado por Jeroboão I no ano de 931, quando o reino do norte se separou de Judá. Era o bezerro um símbolo da presença de Deus, e nos primeiros tempos não suscitou problemas (tanto Elias como também Eliseu jamais criticaram o seu culto); mais tarde, entretanto, foi causa de grandes confusões, já que o povo identificava Javé com o touro, incidindo assim num tipo de religião naturista (cf. 8,5-6). O culto a Baal supõe a transgressão do primeiro mandamento, uma vez que Deus não admite rivais; supõem ao mesmo tempo a confissão implícita de que Javé não é Senhor da natureza, não pode ajudar e salvar em todos os âmbitos da vida.O culto ao bezerro de ouro supõe a transgressão do segundo mandamento, que proíbe fabricar imagens da divindade; ao construí-las, o homem pretende dominar a Deus, manipula-lo, transformando Javé em ídolo.
A idolatria, porém, tem para Oséias outra corrente: a política. Numa época de grandes convulsões, quando está em jogo a sobrevivência da nação, os israelitas correm o risco de procurar a salvação fora de Deus, nas alianças com Egito e a Assíria, grandes potências militares do momento, as quais podem fornecer cavalos, carros e soldados. Então, tanto a Assíria como o Egito deixaram de ser realidades terrenas; aos olhos de Israel aparecem elas como novos deuses capazes de salvar. O povo vai atrás delas, esquecendo-se de Javé. Com isso Israel transgride novamente o primeiro mandamento.
Outro elemento típico na pregação de Oséias é sua visão crítica do pecado. Ele não vê o passado como “história de Salvação”. Quando muito, poderíamos dizer que Deus intenta salvar, mas deparando-se sempre com a oposição do povo. Para Oséias, a instituição da monarquia é fruto da ira de Deus. Portanto, contrariamente a Amós, Oséias não só amplia o campo de interesse na denúncia, mas também considera toda a história do povo como história de pecado e rebeldia. Que atitude Deus tomará diante disso?
10. O Exílio
Situação Política e Econômica
Os Judeus que foram exilados na Babilônia representam a nata política de sua terra, por isso é que eles foram escolhidos para a deportação. Esses judeus eram os que iriam formar o futuro de Israel. Transportados para o norte da Mesopotâmia, não longe da própria Babilônia, não ficaram dispersos entre a população local, mas certamente ficaram em colônias especiais (Ez. 3,15; Esd.2,59;8,a).
Esses exilados viveram a principio em condições de vida suportáveis e posteriormente até boas, tanto que boa parte dos deportados permaneceram na Babilônia mesmo após a autorização de retorno para Jerusalém dos persas. Alguns documentos mostram nomes de alguns judeus, que após alguns anos de exílio, tornaram–se comerciantes e banqueiros, mas a maioria dos exilados se sentiam em uma terra que não era a do seu povo. A situação não era tão severa para os judeus exilados, mas não podemos negar as dificuldades e as humilhações que sofreram.
Os exilados não eram livres, mas também não eram prisioneiros, permitiam-lhes construir casas, dedicar-se à agricultura (Jr.29,5ss) e naturalmente ganhar o seu sustento da maneira que pudessem.
Além desses Judeus levados a força para a Babilônia, outros deixaram voluntariamente a pátria para buscar segurança em outra parte. Muitos deles foram para o Egito.
Podemos supor que, à medida que a nação entrava em colapso, a onda de refugiados aumentava e eles migravam para outras terras além da Babilônia e do Egito. Com o passar do tempo muitos judeus que entraram no comércio e na criação de bancos enriqueceram.
Essa prosperidade econômica dava condições para que os exilados ficassem a par dos acontecimentos de Israel e a manter seu vínculo com a sua nação.
10.1. A consciência do Povo no Exílio
O futuro pelo qual os exilados esperavam era uma eventual restauração de sua pátria. Tal esperança nunca morreu. A comunidade exilada recusava-se a aceitar a situação como definitiva, pois estavam convencidos de que esta situação era provisória. E tinham esperança também porque seus profetas, apesar de todas as suas condenações contra a nação, continuavam a assegurar a todos que a intenção de Iahweh era a restauração final de seu povo e esta restauração se daria na Terra Prometida.
A maioria dos exilados desejava nada mais do que o restabelecimento da nação, de acordo com o padrão antigo. Outros, entretanto como indica a Civitas Dei de Ezequiel,estavam fazendo grandiosos planos para a reconstituição da nação,não de acordo com as linhas mestras do extinto Estado de Davi, mas seguindo uma adaptação idealizada do padrão mais antigo da liga tribal. Era um programa utópico, que pouco correspondia à realidade, mas influenciava poderosamente na formação do futuro.
Quando se consumaram os juízos anunciados pelos profetas, a quem antes não se dava atenção, eles adquiriram grande autoridade. Suas palavras contribuíram decisivamente para que se superasse a crise.
O caminho para a superação da crise estava traçado a partir do momento em que se reconheceu na desgraça um justo juízo de Javé. Além disso, os profetas se tornaram elementos orientadores para o futuro. O fundamento de uma nova esperança estava colocado nas suas predições de graça.
Oséias soube falar do inesgotável amor de Javé. Amós e Isaias falaram sobre a misericórdia de Javé com quem sobrevivesse e se dispusesse a voltar. Jeremias não somente anunciou o rompimento do antigo pacto, mas também prometeu uma nova aliança. Ezequiel desenvolveu a concepção do novo povo de Deus e do novo templo, no qual novamente Javé residiria com toda a sua glória. Um outro profeta, cujo nome desconhecemos, falou ao povo através do consolo e promessa de salvação.Este texto esta em forma de adendo ao Livro do Profeta Isaias chamado de Deuteroisaías.
Com isso os profetas, cada um em seu período, ajudou na conscientização do povo de Israel,fazendo com que eles aprendessem a viver com dignidade e com fé .
10.2. Situação religiosa
Com a deportação da classe alta de Judá para uma terra estrangeira, significou uma terrível crise para o javismo. Porque o exílio provou ao máximo a religião de Israel. Para entender melhor se faz necessário lembrar algumas profecias que afirmavam a duração eterna ao reino davídico na profecia de Natã. O templo de Jerusalém era a residência de Deus (IRs.8,13). Com isso havia uma certeza de que Jerusalém era inconquistável e o templo era indestrutível porque Javé era a proteção (Mq. 3,11;Jr.7.4.10). Protegida por estas profecias a nação ficou segura e esperava confiantemente a poderosa intervenção de Iahweh. Este era o destino da história que se devia aguardar com toda a certeza.
Os Aríetes de Nabucodonosor derrubou esta teologia. E os profetas que a tinham proclamado, mentiram (Lm.2,14). Nunca mais ela voltaria completamente na forma antiga. Com isto a veracidade do Deus de Israel foi posta em dúvida. O deus Marduk da Babilônia era mais poderoso do que Javé? E foi assim que muitos judeus pensaram no seu íntimo. Dessa maneira era forte a tentação de deixar a religião ancestral; pois o deus babilônico parecia ser mais poderoso que Iahweh. Sendo assim era mais vantajoso adorar o deus vitorioso e visto que os israelitas possivelmente podiam auferir vantagem dos seus senhores babilônicos e muitos dos deportados se tornaram infiéis ao javismo. Outros consideraram pelo menos o culto aos deuses babilônicos como acréscimo a Iahweh e erigiram imagens desses deuses em suas casas (Ez.14,1-11). Havia também feiticeiras que empregavam a magia babilônica,cosiam faixas para os pulsos e faziam véu para o povo que vinham consulta-las (Ez.13,18).
A explicação para esta tragédia coube aos profetas, todo esse desastre era de certo modo à vontade de Iahweh, pois o exílio era visto como castigo merecido. E os próprios profetas mergulhados no desespero acreditavam ter cometido um pecado grave e que Iahweh em sua ira houvesse se desligado de Israel e cancelado o seu destino com seu povo (Is,19;Ez.33,10;37,11). Com lágrimas nos olhos, eles clamavam por misericórdia, mas não viam o fim dos seus sofrimentos (Sl.74,9ss;Lm9,9).
Com todo esse sofrimento havia uma ameaça geral de perda da fé. Mas embora o teste tenha sido severo, a religião de Israel fez-lhe frente vitoriosamente, mostrando uma admirável tenacidade e vitalidade. Certos ritos e cerimônias recebiam mais ênfase durante o exílio do que anteriormente. Assim, a circuncisão constituiu-se num importante rito que distinguia os israelitas dos babilônios, os quais tinham conhecimento da prática; ela simbolizava a relação do povo com Iahweh. Além disso havia o culto em que se abstinham de comer e beber. Essa era à maneira de observância sobretudo dos dias de lamentação ritual, que também era regularmente observado no exílio. Também são muito compreensíveis a antiga dieta e regulamentações sobre a pureza, pois a terra onde estavam vivendo era impura.
Mesmo depois da catástrofe, ainda permaneciam válidos ali os mandamentos e proibições de Iahweh,suas regulamentações e ordenamentos. O desastre os tinha atingido porque os mandamentos não tinham sido observados, se finalmente eles fossem obedecidos agora haveria esperança de libertação.
Em 539 a.C. o império da Babilônia é derrotado por Ciro da Pérsia. Ciro lançou um edito no ano 538 a.C, ordenando a reconstrução do santuário de Jerusalém e a devolução do inventário do templo, que havia sido apreendido por Nabucodonosor. Os exilados então puderam voltar para sua pátria.
11. Bibliografia
Biblia de Jerusalém, paulus, 2002.
METZGER, Martin, Historia de Israel, ed. Sinodal, 1972, São Leopoldo. RS.
SCHOKEL, L. Alonso. DIAZ, J. L. Sicre, Profetas, ed. Paulinas, 1991.
FOHRER, Georg. História da religião de Israel, Ed. Paulinas. 1982.
Pe. CÉZAR, Instituto de Teologia da Diocese Santo André.
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