EXÍLIO BABILÔNICO - 587 - 538
A tomada de Jerusalém, a destruição do Templo e a morte de
Godolias, governador provisório da judéia em 587, marcam a divisão
da história de Israel de maneira irreversível, como antes e depois do exílio. A
partir do exílio da Babilonia o povo de Israel se apresentará sempre em duas
partes, dois grupos:
Ä o grupo que ficou na terra, e
Ä o grupo daqueles que estão em terra estrangeira = Diáspora
Tanto
um grupo quanto o outro não possuem mais um Estado e arriscam ser varridos da
história como uma nação particular. Esta ameaça é tão real que durante o
período do exílio babilônico, a história do povo de Israel, principalmente nos meios
cristãos,ficou quase totalmente desconhecida por falta de documentos, um
testemunho histórico desta época.
O POVO QUE FICOU NA TERRA
A morte
de Godolias foi seguida por um movimento de resistência dos Amonitas e Moabitas
aos exércitos babilônicos. Esta resistência foi extinta em 582 com a deportação
de numerosos anionitas e moabitas e alguns judeus que haviam se comprometido
com a revolta(cf. Jr. 52,30).
Por
outro lado, Nabucodonosor conseguiu conquistar Tiro após 13 anos de cerco em
572(cf Ez. 29,17-20; 25-28). Neste período a região de Judá ficou sem nenhuma
liderança política, uma região semi abandonada. O desaparecimento de uma
entidade política judaica permitiu aos edomitas ocuparem uma parte importante
do reino de Judá. Aliados dos caldeus, os edomitas aproveitaram rapidamente
esta oportunidade sobretudo porque estavam sendo pressionados pelos árabes do
norte, em particular a confederação de Quedar, em plena expansão. Assim os
edomitas se apossaram da maior parte do Neguev desde 597. A campanha de
Nabucodonosor em 588-587 com a tomada de Laquis, permitiu aos edomitas ocuparem
o sul da montanha de Judá e da Sefelá até a fronteira, incluindo Laquis, Hebron
e Em Gadi.Os combates mortais ali travados e a deportação massiva deixaram o
território de Judá reduzido a um grupo de canponeses ligados à terra da qual
tiravam sua sobrevivência.
Quase
todas as cidades haviam sido destruídas. Os citadinos que ficaram tiveram de
voltar ao trabalho da terra, por necessidade, atribuindo-se os campos dos que
haviam sido deportados ou desaparecido durante a guerra. É o que nos dá a entender Jr. 39,8-10.
Após a morte de Godolias, provavelmente os babilônios anexaram esta população
dispersa nas campanhas à província da Sarnaria. Paradoxalmente recriaram a
unidade do povo de Israel, mas num estado calamitoso: um povo humilhado,
desorganizado, em território ocupado e controlado pelos babilônios.
O livro
das Lamentações expressa admiravelmente a fraqueza do povo de Judá que tinha
somente as ruínas do Templo como ponto de referência e sobre as quais
continuavam a celebrar os sacrificios não sangrentos: oblação e incenso.(cf. Jr
41,4-5)
O GRUPO DOS EXILADOS
Os
judeus exilados em 597,587 e 582 representavam a elite da população, as classes
dirigentes - notáveis e altos funcionários, e os operários especializados -
artesãos. O número dos deportados de 597, parece ter atingido o número de
10.000 (cf. 2 Rs. 24,14.16). Este número não confere com o que nos diz Jr.
52,28-30. No entanto, podemos supor um total de 20.000 pessoas, incluindo
mulheres e crianças entre as 3 deportações. Na leva de 582 estavam também
incluídos os pobres da terra.
O estilo
de deportação dos babilônios foi diferente da dos assírios. Os assírios
misturavam os prisioneiros entre as populações estrangeiras a fim de evitar o
reagrupamento dos exilados da mesma nação. Os babilônios não dispersaram os
grupos de deportados, permitindo o reagrupamento em campos ou cidades da
Babilônia.
O
profeta Ezequiel menciona Tel Abib - “Colina da primavera” perto do rio Cobar
(Ez 3,15). Isto quer dizer o “Naru Kaburu” um dos grandes canais babílônicos.
Pode-se também mencionar Tel Mela, Tel Harsa, Querub, Adon Emer ( Esd. 2,59; Ne 7,61) situadas no
coração da Babilônia, não longe das cidades de Nipur e Babilônia.
O
reagrupamento dos exilados permitiu-lhes uma certa vida comunitária. Eles
podiam se reunir facilmente, se organizar ao redor dos “anciãos”, escutar os
profetas e continuar ligados pelo correio com o que se passava na terra, pelo
menos até 587. Sendo que o chefe legítimo, rei Joiaquin, estava prisioneiro,
foi Ezequiel, o profeta que se revelou como líder espiritual dos exilados, reanimando
sua coragem, denunciando as esperanças vãs de um rápido retorno, criticando as
faltas passadas e os exortando a voltar para YHWH, misteriosamente presente no
meio deles(cf. Ez. 1).
De
Jerusalém, Jeremias transmitia através de carta, uma mensagem semelhante.
Recomendava aos exilados de não prestar ouvidos a vãs esperanças e sim se
preparar para um exílio bastante longo(cf Jr. 29,4-7).
Estas
recomendações bastante realistas explicam porque desde a primeira deportação os
exilados se mostraram empreendedores. Alguns fizeram fortuna no comércio ou na
alta administração. Tendo recebido uma formação que os tornava aptos para
ocupar altas funções no comércio ou administração, possuindo mão de obra
especializada que era bastante procurada, a maior parte dos primeiros exilados
encontraram seu lugar numa sociedade e economia em plena expansão. No entanto
guardavam um forte sentimento de pertença nacional e esperavam voltar um dia ao
pais, esperança longínqua alimentada pelos profetas(cf. Ez. 37 - a visão dos ossos
secos que significa a ressurreição nacional).
O
sentimento nacional e a esperança de renovação eram reforçadas pelo
reagrupamento dos exilados em torno de seus líderes: o representante da
dinastia davídica, os “anciâos de Israel” e os sacerdotes.
Ä O representante da dinastia
davídica. O rei Joiaquin deportado em 597 era considerado um rei legítimo. Os exilados saudaram sua
libertação em 560 após a chegada de Evil Merodac (Amil Marduk) que o libertou,
como um sinal que anunciava a renovação nacional. Tanto mais que Joiaquin e sua
família tiveram lugar na corte babilônica ( cf 2 Rs. 25,27-30). Foi provavelmente em reconhecimento desta
libertação que Joiaquin deu nomes babilômcos a alguns de seus descendentes.
Ä Os “Anciãos de Israel”. Os
anciãos eram os chefes tradicionais dos exilados. Estes conservavam a
organização da família ampliada, clã e tribo, com referência particular ao
lugar de origem.
Ä Os sacerdotes de Jerusalém. Como
dissemos anteriormente, quase a totalidade dos sacerdotes foi deportada na
primeira leva. Eles se revelaram naturalmente como autoridades religiosas
depositárias das tradições israelitas. Não é por acaso que um deles, Ezequiel
seja “filho de Buzi”(Ez; 1,3) que ficou para sempre chefe espiritual dos
exilados. Não tendo mais que se ocupar do Templo e dos sacrifícios os
sacerdotes tornaram-se guardiões do ensino e da tradição israelita junto aos exilados. Com este objetivo
redigiram a história e a lei sacerdotal. Eles insistiram particularmente nos
ritos que diferenciavam os exilados daqueles que os cercavam: a clrcuncisão, os
tabus alimentares (puro- impuro) e as festas. O contato com os babilônios e sua
astrologia permitiu uma reforma do tradicional calendário lunar, com a proposta
de um novo calendário, o “calendário sacerdotal”, mais preciso que o anterior.
Talvez foi na ocasião desta reforma que transpuseram a data do “shabat”
tradicionalinente ligado à lua cheia, para uma festa de cessar o trabalho de 7
em 7 dias, inspirados no calendário mesopotânico dos “dias perigosos”.
Embora
a maior parte dos exilados tenha sido levada para a Babilônia, esta não foi a
única região a receber o povo de Israel disperso. Eles se refugiaram também nos
países limítrofes: Amon, Moab, Fenícia, Filistéia e Egito. O exemplo dos
oficiais que se salvaram da mão de Ismael (cf. Jr. 41,11-18) mostra bem como o
Egito, antigo aliado, tornou-se terra de asilo, especialmente para militares
que perderam o emprego. Muitos grupos de israelitas foram empregados como
mercenários nas diversas cidades de guarnição militar egípcia: Migdol, Tafnes,
Menfis e Elefantina(segundo Jr 44,1 “país do sul”). A colônia judaica de
Elefantina tornou-se conhecida recentemente pelas ostracas e papiros aramaicos
que foram descobertos na região.
O
contexto internacional dos exilados - diáspora - e daqueles que permaneceram na
terra mudou rapidamente. Depois de Evil Merodac ou Amil Marduk – 561-560, e Neriglissar -559 - 556,
Nabonide tomou o poder - 556 -539. Ele realizou uma política religiosa
original, favorável ao deus lunar Sîn. Isto suscitou reação dos sacerdotes de
Marduk. Nabonide se apossou do oásis Teima, na Arábia, one ficou por dez anos,
deixando seu filho Baltazar (Bel- shar- usur) governando a Babilônia. Durante
sua ausência o rei da Pérsia, Ciro, tomou Ecbatána em 550, após ter vencido o
rei da Líbia, Cresus, ele conquistou sua capital Sardes em 547/546. Voltando à
Babilônia, Nabonide não conseguiu uma resistência eficaz e o governador de
Gutium, Gobrias, passou para o lado de Ciro.
Junto
com Gobrias, uma parte da população sustentada pelos sacerdotes de Marduk
acolheram Ciro como libertador, celebrado pelos oráculos do Deutero Isaías -
Is. 40-55. Em 539, Baltazar foi assassinado e Nabonide feito prisioneiro. Ciro
entrou triunfante na Babilônia. Uma nova fase e um novo império se apossava de
todo o Oriente.
O
período da história do exílio da Babilônia e a continuidade da vida dos
israelitas na diáspora foi um momento de aprofundamento da fé javista e ao
mesmo tempo um momento de ampliar a revelação. O povo de Israel havia perdido o
Estado, o Templo, e todas as seguranças externasque poderiam fazê-lo pensar na
impossibilidade de que uma catástrofe pudesse se abater sobre o povo. No
exílio, sem terra, sem rei, sem Templo, foi o momento do confronto e da busca
do Deus verdadeiro. A descoberta de civilizações bem mais avançadas com a
multiplicidade de deuses fez com que o povo procurasse definir sua identidade a
partir do Deus UM. Os meios encontrados foram novos, dinamizados e sustentados
pela tradição israelita, pelo codigo da Aliança, pela Palavra de Deus no meio
do povo. A vida dos exilados passou a se organizar em torno da Palavra de Deus,
a Torá revelada no Sinal.
Assim
foi nascendo a identidade no modo de viver de Israel no meio das nações, a
partir dos sinais e símbolos visíveis que identificavam o fiel da Aliança
O sábado — “Shabat” -
tornou-se cada vez mais o sinal distintivo do judeu fiel. cf Jr. 17,19-27; Is. 56,
1-8; 58, l3-14. Um sinal perpétuo instituído na criação.(cf (Gn 2,2ss), dizendo
que Israel era Israel. Ez. 20,12-14. Na tradição judaica os mestres dirão: “Mais do
que Israel guardou o sábado, o sábado guardou Israel”
A circuncisão — sinal da Aliança, marca distintiva da pertença ao povo judeu cf.Gn
17,9-14
Leis rituais e alimentares - símbolos de uma religião que procurava ser vivida nos atos mais simples
do dia a dia, dando vida e lembrando a presença Shekiná de Deus no seio da comunidade .
A grande esperança - A volta à SION - JERUSALÉM - a restauração do país,
a volta e o ideal utópico de um estado no padrão tribal, uma teocracia
VOLTA DO EXILIO NO IMPÉRIO
PERSA - 538 - 332
Em 538
Ciro promulgou um edito permitindo a volta dos exilados ao seu país de origem.
Ordenou a reconstrução do Templo de Jerusalém às custas do tesouro real. Mais
do que isto, ele devolveu “os objetos de ouro e prata que Nabucodonosor havia tirado do Templo de
Jerusalém e levado para a Babilônia”. cf. Esd. 1,2-4; 6,5. O Edito de Ciro aparece como resultado da
prática política adotada pelos Aquimedes e seus sucessores em relação aos
exilados. A tolerância religiosa e cultural dava aos povos dominados uma certa
autonomia sob o controle centralizado e burocrático bastante complexo e
eficiente dos persas, através do seu sistema de comunicações.
Sassabasar,
corruptela de Sin-Ab-Assur, “príncipe de Judá”, recebeu a missão de reconstruir
o Templo e Ciro lhe confiou os vasos sagrados. Para desempenhar com eficácia
sua tarefa, parece ter recebido o título de “péa”, prefeito ou governador da
província de Judá que em aramaico se diz “yehud medînata” cf.Esd. 5,8-17.
A
identidade de Sasabassar não é muito segura, mas provavelmente trata-se do
filho caçula de Joiaquin chamado Senasser em 1 Cr. 3,18. Sua missão foi quase
um fracasso. Se ele recolheu contribuições importantes em dinheiro, o mesmo não
se deu com a iniciativa de reunir pessoal para voltar. O número de exilados que
voltaram foi pouco numeroso. Chegando a Jerusalém, ele colocou as fundações do
Templo (cf. Esd. 5,16) mas os trabalhos foram interrompidos rapidamente e
talvez totalmente abandonados com a morte de Ciro. O sucessor de Ciro,
Câmbises(530-522), concentrou todas as suas energias para conquistar o Egito em
525.
Após a
morte de Câmbises e uma guerra de sucessão, a chegada de Dario (521-486) parece
ter sido ocasião para uma nova volta de exilados para Jerusalém, sob a direção
de Zorobabel, filho de Salatiel, o primogênito de Joiaquin, nomeado “governador
de Judá” e de Josué, filho de Josedec, o sumo sacerdote(cf. Ag.1,1; Esd.2,2).
Zorobabel e Josué restabeleceram o altar sob as fundações e desenvolveram a
regularidade dos sacrificios e festas. Encorajados pelo profeta Ageu(520) e
Zacarias (520-518), testemunhos de agitação religiosa e do zelo do Templo,
animam os repatriados à reconstrução do Templo(cf. Esd.3). Como o tesouro
nacional participava nesta reconstrução, o governador da província
Transeufratena fez uma pesquisa e exigiu a confirmação da ordem de reconstrução
de Dario.
Conforme
sua política geral, Dario confirma o edito de Ciro(cf.Esd. 6,3-12). Os
trabalhos avançaram rapidamente utilizando cedros do Líbano e mão de obra
especializada fenícia. Bem mais modesto do que o Templo inaugurado por Salomão,
este “segundo Templo” foi terminado em 515 e inaugurado por ocasião da Páscoa
deste mesmo ano(cf.Esd. 6,13-22).
O
período que segue à inauguração do Templo é um pouco obscuro. Com a construção do
Templo havia se desenvolvido a esperança de uma restauração do reino de Judá,
tendo à frente os descendente davídico Zorobabel e o sumo sacerdote sadoquita
Josué(Zac. 3,1-7). Provavelmente as autoridades persas cuidaram para que esta
visão não se realizasse.
As
escavações arqueológicas trouxeram ao conhecimento estampilhas e selos desta
época. Parece que Hananias sucedeu seu pai Zorobabel na função de governador. Em
seguida, Elnatan casado com Salomit, genro de Zorobabel foi quem o sucedeu (cf.
1 Cr. 3,19). A partir deste momento o cargo de “governador de Judá” escapou da
linha davídica. As estampilhas aramaicas “yeud” indicam que dois outros
governadores (Yeózer e Alsay) haviam organizado muito bem os impostos para os
produtos em espécie: trigo, vinho e óleo, na primeira metada do século V(cf Ml.
3,8ss). As arrecadações tornaram-se cada vez mais pesadas pois o governador e
seus servidores guardavam uma parte chamada “pão do governador”, costume que
será denunciado por Neemias (cf. Ne. 5,15).
Em princípio,
estes impostos deveriam permitir a continuação dos trabalhos de renovação e
fortificação de Jerusalém, mas no início do reinado de Artaxerxes I (464-424),
os trabalhos foram suspensos pela intervenção dos altos funcionários da
província Transeufratena, o chanceler Rehoum e seu secretário Samsai, com o
pretexto de interditar uma rebelião(cf Esd. 4,6-22).
Para
tentar desbloquear a situação Neemias(445),
filho de Hacalias, funcionário do rei Artaxerxes, consegue ser enviado como
governador de Judá com plenos poderes para reconstruir as muralhas de Jerusalém
(cf. Ne 1-2). Com a ajuda do
sumo sacerdote Eliasib e apesar das ameaças ciumentas dos governadores
vizinhos, Neemias reconstruiu a muralha em 52 dias( cf. Ne. 6,15). Em seguida, Neemias organizou o repovoamento de
Jerusalém pedindo às cidades vizinhas que um homem em dez fosse designado como
voluntário para morar na capital (cf. Ne. 7,4-72). Assim foi possível realizar
a inauguração da nova muralha(Ne. 12,27-29).
Para
diminuir o pesado clima social que se criou pelas más colheitas e pelos
impostos, empréstimo a juros elevados que rapidamente levava as pessoas a serem
vendidas por dívidas, Neemias fez os credores aceitarem o perdão geral das dívidas
e diminuiu os impostos renunciando pedir o “pão do governador” (cf. Ne. 5).
Neemias
foi convocado a voltar para junto do rei Artaxerxes em 433. Voltando à
Jerusalém algum tempo depois, ele se esforçou para fazer o povo aceitar a lei
deuteronomista em todo o seu rigor. Ele denunciou as agitações promovidas pelo
sacerdote Eliasib em favor de seu parentes, o governador amonita, Tobias. Ele
será excluído da assembléia israelita a partir de Dt 23,4. Neemias reorganizou ainda
o serviço do dízimo em favor dos levitas(cf. Ne. 13). Ele se opôs aos
casamentos mistos, prática que vinha do exemplo da família do sumo sacerdote
Eliasib cujo neto havia casado com a filha de Sanbala, governador de Samaria. É nesta época que devemos localizar a
novela de Rute, a moabita, como sinal de recusa à política de Neemias. Ele
impôs também o respeito ao sábado, fechando as portas de a Jerusalém a fim de
impedir o comércio da cidade durante este dia(cf. Dt. 5,12-15). Também nesta
época podemos localizar o livro do Cântico dos Cânticos onde a protagonista é
uma mulher amada e amante, questionando as estruturas patriarcais da época ao
fazer da mulher a principal protagonista, mesmo se o livro é atribuido a
Salomão pode-se ver que a Sulamita tem a maior parte da fala em todo o livro.
O fim
do governo de Neemias e a história posterior continuam obscuras. Pelo papiro 30
de Elefantina chegou-se ao conhecimento de que o governador de Judá em 407 se
chamava Bagoas. A troca de correspondência ligadas à destruição do templo de
Elefantina nos revelam que o sumo sacerdote de Jerusalém se chamava Yohanan(cf.
Ne. 12,22) e que o governador da Samria era Dalaia, filho de Sanbala. A
correspondência civil e religiosa entre Judá e Samaria revelam os problemas
colocados pelos diferentes costumes judaicos divergentes no que se refere ao
culto, calendários e sacrificios. Neste contexto se situa a missão de Esdras. A
data de sua missão continua a ser discutida. Alguns a situam em 458, outros em
398 no tempo de Artaxerxes II. Esta última parece ser a mais provável. No
contexto geral parece que a missão de Esdras foi posterior ao governo de
Neemias.
Segundo
a terminologia oficial firmando a missão de Esdras por Artaxerxes, ele era “sacerdote Esdras, escriba
da Lei de Deus dos Céus” (cf. Esd. 7,12)
e é como sacerdote especializado nos textos da tradição judaica que Artaxerxes
lhe pediu para reunir, harmonizar e unificar as diversas tradições, e de um
modo particular o culto. A partir deste momento as autoridades persas disporiam
de uma referência escrita oficial em suas relações com a comunidade judaica, tanto
na terra de Judá como na Babilônia e em todo o império persa. Tal missão era de
acordo com a política geral das autoridades persas e paralela à atitude de
Dario em relação às tradições religiosas egípcias. A tarefa era tanto mais
urgente pois Artaxerxes desejava poder se apoiar em uma população estável,
fiel, na terra de Israel, pois o Egito tinha se tornado independente em 401 e o
império persa havia revelado sua fraqueza diante da marcha dos “dez mil”
gregos.
Qual
seria o conteúdo da “Lei do Deus dos Céus” que Esdras estava encarregado de promulgar como tendo valor também no
plano civil? (Esd. 7,26) Muitos indícios levam a pensar que se trata do atual
Pentateuco, a Torá unificada pela redação sacerdotal que harmonizou as tradições
mais antigas com o código de Santidade e sobretudo com o calendário sacerdotal.
Para
melhor desempenhar sua delicada missão de unificação jurídica, Esdras se fez
acompanhar por um número importante de repatriados, em particular de sacerdotes
e levitas. Trouxe consigo 650 talentos de prata e 100 talentos de ouro e
objetos preciosos(cf. Esd. 8). Graças aos presentes e aos acompanhantes ele foi
favoravelmente acolhido. Ele promulgou a nova Lei durante uma assembléia solene
no primeiro dia do sétimo mês, isto é na festa de “Rosh-ha-shana” - Cabeça do ano ou simplesmente início do ano, festa do ano novo. Em
seguida o povo celebrou a festa das cabanas(Ne. 8). Mas foi preciso passar à
aplicação concreta da Lei: após o jejum da confissão dos pecados, decidiu-se pelo
reenvio das “mulheres estrangeiras”, o que foi feito clã por clã, com a supervisão dos chefes
tradicionais(Esd. 9-10). Apesar de não termos mais informações nos textos
bíblicos sobre o sucesso de Esdras como “ministro de Estado
encarregado das questões judaicas” o que
sab emos é a que, de fato, a Torá foi aceita nas províncias da Judéia e a
importância dada à sua missão se faz perceber pelo lugar de honra que o
Pentateuco no desenvolvimento da história, tanto na tradição judaica como
samaritana.
O fim
do período persa na terra de Israel resta obscuro. O contexto internacional
evoluiu rapidametne e foi marcado pela revotla dos sátrapas do oeste com o
apoio do Egito em 367. Esta revotla foi severamente punida. Contudo, em 332
Alexadre oo grande será o novo dono de toda a região.
Para a
terra de Israel, a dominação persa pode ser considerada globalmente como um
período de paz que trouxe uma crescente prosperidade como testemunham as
descobertas arqueológicas. O território da Judéia obteve um crescimento demográfico
bastante importante. Além do crescimento normal da população que havia ficado,
as sucessivas vagas de volta dos exilados se juntaram à população local. Pelo
status social e riqueza dos que voltaram, provavelmente se instalaram nas
cidades e particularmente em Jerusalém e seus arredores. O recenseamento da
província da Judéia relatados em Esd. 2,1 e Ne. 7,6 podem corresponder a um
recenseamento real realizado no governo de Zorobabel. A partir dos nomes das
cidades que são citadas, a província da Judéia não representava nada mais do
que uma faixa de terra em volta de Jerusalém, depois de Jericó até Lod à oeste
e Belém e Netofa ao sul, até Betel e Ai ao norte, com uma população de 50 mil
habitantes.
Segundo
Ne. 3,9.12-18, a
província da Judéia era dividida em setores ou cantões que rebiam o nome de “pelek”e a
escala administrativa superior, após Dario, era ligada à quinta satrápia
Transeufratena ou Além Eufrates. As estampilhas aramaicas “yehud”,
seguidas ou não do nome próprio, indicam os impostos “in natura” ligados à arrecadação feita pela administração provincial. As estampilhas
com o nome do governador indicam a parte de imposto reservada ao governador, “pão do governador”. Se o governo
persa era tolerante quanto aos costumes e práticas religiosas, no caso dos
impostos era bastante inflexível. O governador de cada província devia enviar
anualmente uma soma fixa ao governo central. Em troca, o tesouro nacional devia
ajudar o financiamento de obras públicas, especialmente a reconstrução do
Templo. Esta proteção do culto nacional reforçava o prestígio do sumo sacerdote
de Jerusalém. Este, após o afastamento da dinastia davídica do cargo de
governador, aparece como o único representante legitimo das tradições nacionais
e seu papel político-religioso era reforçado pelas alianças matrimoniais com as
famílais dos governadores das províncias vizinhas.
O aramaico
era a língua oficial da administração persa nas províncias do Oeste, a escrita
e a língua aramaica progrediram rapidamente na província da Judéia porque a administração estava nas mãos dos exilados
vindos da Babilônia, para os quais o aramaico já era a língua usual. As
inscrições deste período encontrada pela arquologia são feitas em aramaico e
uma escritura paleo hebraica, tanto na Judéia como na Samaria. No entanto, o
hebraico continuava a ser falado nas aldeias pelo povo simples. E mais, o
hebraico continuou a ser utilizado para a cópia dos textos antigos. Foi somente
a partir da missão de Esdras em 398 e para facilitar a leitura da Lei aos
funcionários do Império Persa que se começou a utilizar a escritura aramaica
para copiar textos bíblicos, escritos que se chamarão mais tarde de “hebraico
quadrado”.
A
diferença linguística recobre em parte uma diferença de classe social. Os
repatriados, mais ou menos aramaizados, desprezavam e por vezes exploravam o
povo simples que havia ficado no
país(cf. Ne. 5,15) bem como a
população samaritana suspeita, por ser de origem mestiça. Estas
tensões sociais foram particularmente vivas durante o governo de Neemias. Entretanto
a oposição entre judeus e samaritanos nesta época não deve ser exagerada: tanto
quanto as cartas de Elefantina como a adoção do Pentateuco como lei na
província de Samaria mostram que as duas populações tinham o sentimento nítido
de fazer parte da mesma comunidade étnica religiosa, a obediência à mesma Lei,
ajuntava-se de agora em diante ao critério de pertença a um clã ou tribo
israelita.
Apesar
do grande número de exilados que voltou, sabemos que um importante número de
judeus permaneceu na Babilônia onde ocupavam cargos e funções administrativas e
econômicas. A missão de Esdras e Neemias mostra bem que certos judeus ocupavam
altas funções na corte persa sem conrtar as relações com aterra de origem. Não
é de admirar que a Babilônia será o local em que se realizará a fusão das
diversas tradições do Pentateuco numa só tradição, a Torá, que assegurou a
unidade e identidade do povo judeu na diáspora e na terra de Israel no decorrer
de toda a sua história.
Além da
Babilônia, o Egito foi uma das regiões que reuniu o maior número de exilados(Is.
19,16-25), em particulare no baixo Egito. Durante a dominação grega uma
importante comunidade judaica irá se desenvolver em Alexandria. Para
o alto Egito temos o testemunho da comunidade de mercenários judeus de elefantina
atestada pelos papiros e ostracas do V século(514-398), falando dos problemas
ocncretos do cotidiano: alimentação, compra, venda, casameno, divórcio,etc...
No “tempo dos reis do Egito”(VI século) esta comunidade cosntruiu um templo
dedic ado a Yahô no qual
eram celebrados sacrifícios. Em 410, este templo foi saqueado e destruído pelos
egípcios, foi então que a comunidade escreveu aos governadore da Judéia e da
Samaria para lhes pedir apoioe estes responderam favoravelmente. Eles
especificaram que doravane eles não ofereceriam mais incenso e sacrifícios
neste tremplo. Provavelmente por serem estes reservados ao Templo de Jersualém.
A
importância das comunidades judaicas na Babilônia e no Egito não nos devem
fazer esquecer os outros judeus dispersos um pouco em toda parte do Império
como faz ver Abdias 20 e provavelmente na Arábia do norte como atestam as
inscrições arqueológicas destes lugares.