segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ser Coordenador de Pastoral


A palavra "PASTORAL" deriva de PASTOR. Seu significado está estreitamente ligado à alegoria do "Bom Pastor", Jesus intitulou-se pastor das ovelhas. A pastoral, portanto está diretamente ligada a ação do pastor no cuidado das ovelhas. No Quarto Evangelho ouvimos Jesus dizer: "Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância. Eu sou o Bom Pastor" (Jo 10,10).
Essa ação pastoral é assumida pela comunidade como um todo, onde todos são pastores uns dos outros.

Trabalho pastoral, portanto, é toda a tarefa vocacional específica de serviço desenvolvida pela comunidade local, a fim de contribuir no processo de evangelização, transformando os reinos deste mundo, no reino de nosso Senhor Jesus Cristo.


Nenhuma tarefa pastoral específica pode ser confundida com a totalidade da ação da Igreja, pois esta será sempre composta de um conjunto de pastorais sempre interligadas umas as outras. Assim teremos ações voltadas para dentro e para fora da comunidade já existente.

Sendo a Igreja como prolongamento de Cristo, no tempo e no espaço, pode-se dizer:

PASTORAL é toda atividade da Igreja como Igreja. É a própria vida da Igreja quando age e se manifesta em cada situação do mundo atual, edificando-se a si mesma.

Fazer pastoral é continuar a missão de Jesus. É serviço, é ação, trabalho desenvolvido a favor da vida.

É ação organizada da Igreja para atender uma determinada situação, uma realidade específica.

A pastoral é o agir da Igreja no mundo! Similar a ação dos pastores, tem como intenção coordenar, "animar", de "defender" e "alimentar" a evangelização.

O pastor nunca age sozinho, mas em unidade com a Igreja de Cristo; "na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo".
A pastoral é essencialmente comunitária. É toda a Igreja, hierarquia e leigos, que é responsável pela pastoral. Cada um, porém, conforme seus dons e carismas, isto é, na medida em que participa de Cristo-Pastor.

O objeto da PASTORAL é todo homem e mulher no seu todo (a), isto é, corpo, alma e espírito, que deve ser salvo. Quanto à mensagem a comunicar, refere-se ao Cristo vivo, real, concreto (não apenas uma noção abstrata), o Cristo que é, ao mesmo tempo, doutrina e vida da Igreja, o qual forma uma só unidade com a sua Igreja, o Cristo total, seu Corpo Místico. Portanto, não pode haver "dicotomia" entre doutrina e vida de Igreja.

Objetivos da pastoral
Evangelizar, proclamando o Evangelho de Jesus Cristo, por meio do serviço, do diálogo, do anúncio e do testemunho de comunhão, à luz da evangélica opção pelos pobres, promovendo a dignidade da pessoa, renovando a comunidade, formando o povo de Deus e participando da construção de uma sociedade justa e solidária.

Funções pastorais
A Igreja realiza a sua ação através de três funções pastorais:

Função profética: abrange as diversas formas do ministério da Palavra de Deus (evangelização, catequese e homilia), bem como a formação espiritual dos;

Função litúrgica: refere-se à celebração dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia, à oração e aos sacramentais;

Função real: diz respeito à promoção e orientação das comunidades, à organização da caridade e à animação cristã das realidades terrestres. Neste último aspecto, a ação da Igreja engloba campos da sociedade como a saúde, a juventude, a solidariedade social e a educação.

Os agentes de pastoral são servidores de Cristo e trabalham para que o projeto de Deus seja conhecido e vivido.

A COORDENAÇÂO
A coordenação de pastoral é um serviço importantíssimo nas comunidades. A boa coordenação, aberta a Deus e às pessoas, faz a comunidade prosperar e o Reino de Deus acontecer. É um serviço que deve proporcionar prazer e felicidade.
A coordenação deve ser mais alegria que sofrimento, porque a palavra “Evangelho”, em si, é “Boa Notícia”, e um coordenador estressado, desanimado ou acomodado, não consegue anunciá-lo bem à comunidade.

O COORDENADOR JESUS
Na bíblia, podemos analisar Jesus coordenador:

1) João 13, 1-9 (O lava-pés): Jesus amou seus coordenados ensinando que a coordenação é um serviço à comunidade; o serviço deve ser a marca da comunidade e não a dominação e a servidão. Ensinou que todo trabalho é importante.

2) Marcos 4, 35-41 (A tempestade acalmada): Jesus vê que na outra margem há gente que precisa dele. No barco, acalma os discípulos para depois ensinar que se ele está presente ninguém perece. Às vezes, parece que Jesus dorme nos dias de hoje... O coordenador acalma, transmite esperança e coragem; mantém o equilíbrio, sem apavorar-se diante das dificuldades.

O QUE FAZ UM COORDENADOR?
1) Ele inclui as pessoas. O coordenador cristão soma os dons que o grupo possui.
2) Ele anima e conduz o grupo, nas turbulências (acalmando) e na calmaria (provocando movimento).
3) Ele leva o grupo a atingir seu objetivo.
4) Ele se apresenta para ajudar a resolver os problemas, nunca para provocá-los.
5) Ele delega responsabilidades, tarefas e poderes de decisão.

DE QUE PRECISA PARA COORDENAR BEM?
1) Transitar pelo grupo todo – manter diálogo com todos.

2) Ter uma caminhada comum com o grupo – um bom tempo de participação, para saber o valor das conquistas e o sofrimento dos erros cometidos.

3) Conhecer bem o assunto que coordena e ter noções básicas de outros assuntos ligados ao que coordena.

4) Saber decidir: pessoas indecisas transmitem insegurança. Após examinar bem a realidade, ouvir os envolvidos e buscar o auxílio necessário; cabe ao coordenador a decisão sobre a maioria dos assuntos. Os mais importantes, é claro, são decididos pelo grupo.

5) Ser equilibrado: não estar excessivamente animado ou desanimado; hoje querendo tudo e amanhã nada, controlando seus impulsos para manter-se na linha do objetivo traçado pelo grupo. A abertura para o diálogo com o mundo começa pelo diálogo interior

6) Conhecer seus pontos fortes e fracos: ninguém é perfeito, mas o coordenador será chamado a falar em público, escrever, dialogar, negociar e organizar. Assim, ele deve desenvolver suas aptidões e buscar auxílio para suprir suas limitações.

7) Observar, ouvir e falar com seu grupo: cada pessoa é importante, cada fato deve ser trabalhado e estudado, como também a realidade (particular e coletiva) nunca deve ser esquecida.

8) Fazer partilha com outras pastorais: fomos acostumados a resolvermos apenas os problemas do nosso grupo imediato. O coordenador precisa articular-se com outros coordenadores para resolver problemas comuns, sendo verdadeiramente “Igreja de Cristo”. Colocando em pratica a Pastoral de Conjunto.

9) Fidelidade: afinal, o Reino que buscamos não é meu e nem seu, é de Deus.

COORDENAR EM EQUIPE
A melhor maneira de coordenar se realiza em comunidade, em equipe. Um coordenador que fica no cargo por anos seguidos tende a se desgastar por tanto trabalhar ou a acomodar-se.

O primeiro foge quando pode e o segundo tende a se perpetuar no poder. A solução é montar uma equipe partindo das necessidades do grupo, criando assessorias (e preparando novos líderes): secretário, assessor de comunicação, de liturgia, de formação, de eventos, etc...

É preciso dividir tarefas, responsabilidades e autonomia, formando uma “família” que promova reuniões regulares e divida alegrias e desafios.

Se o Reino dos Céus é semelhante a um grão de mostarda, pequenino, que se torna a maior das árvores, a coordenação deve ser simples, mas com solidez e competência, criando raízes em Jesus Cristo.

SOMBRAS PASTORAIS (texto extraido do Site da Diocese de Santo André)
1. Messianismo. É a mania de fazer planos pastorais, sem consultar a vontade de Deus. Daí vem o estrelismo das pessoas que se projetam a si mesmas. Deus fica em segundo lugar, serve de estepe para que nossos planos não falhem segundo nossa vontade, nossas ideologias e nossas óticas.

2. Ativismo. Pouca oração e muita agitação. Vale o que eu faço e não o que eu sou. A pastoral vira profissão, burocracia. O ativismo leva à impaciência apostólica. É fruto do vazio interior e da vaidade pessoal.

3. Perfeccionismo. Busca-se o êxito, o sucesso, o resultado. A confiança não está na graça de Deus mas nos planos e ações bem escritas nos livros pastorais e nas pessoas envolvidas. Tudo deve dar certo.

4. Mutismo. Consiste em calar verdades, omitir correções e falar só o que agrada. As grandes verdades silenciadas são: a castidade, o purgatório, o inferno, a infidelidade conjugal, a renuncia. O que importa é agradar. Por isso, há falta de profetismo.

5. Pessimismo: Prega-se problemas, incertezas, azedumes e queixas. A Palavra de Deus não é proclamada. No seu lugar estão as dúvidas, suspeitas e vazios do pregador, do catequista, do pastoralista. Joga-se sobre o povo, problemas pessoais não resolvidos.

6. Falta de esperança. É o pecado do reducionismo que consiste em reduzir a esperança, não crer na ressurreição, na eternidade, na vida futura. Tudo fica reduzido a este mundo, à matéria, à ciência experimental. Sem esperança não há consistência.

7. Burocracia. As pessoas são deixadas de lado e esquecidas. Cumprem-se as leis, marca-se o ponto, tudo vira pura burocracia eclesiástica e administração. O burocrata cumpre o dever, mas abandona as pessoas, os pobres, os sofredores. O que importa é o funcionamento da máquina eclesial.

8. Discriminação. Uns são privilegiados e outros descartados. Uns bem recebidos, outros rejeitados. Faz-se acepção de pessoas. Os ricos, os amigos, os privilegiados têm vez, os outros são discriminados.

9. Sectarismo. É a falta de abertura, de pluralismo e de ecumenismo. Sectário é que secciona, busca o que lhe interessa e agrada. É o grupismo. Só meu grupo, minha espiritualidade, meu movimento, minha pastoral, meu interesse é que vale. O sectário ignora o outro, o diferente e o despreza, critica e combate. Falta o espírito de comunhão e de unidade. É a pastoral de gavetas e sem articulação que acaba no paroquialismo.

10. Carreirismo. É quem busca promoção. Fecha-se na sua experiência e desfaz a experiência dos outros. Eu é que estou certo os outros estão errados. O carreirista acha-se insubstituível e infalível. Não solta os cargos. Perpetua-se no poder. É grudado na sua função. Mata a pastoral pelo apego ao poder. Não quer mudança nem transferência. Não dá lugar para os outros.

11. Individualismo. É quem espera gratificações, recompensas, aplausos e louvores. Precisa toda hora de elogios, pois do contrário cai em aflição ou na crítica azeda. O que vale é a sua imagem, sua fama, a projeção de si.

12. Perda da alegria. Faz tudo por obrigação, cai na rotina, vive na superficialidade. Não tem entusiasmo perdeu a alegria e o humor. Vem a amargura e a dramatização da vida.

13. A mesmice. É quem perdeu a criatividade, caiu na instalação, na mediocridade. Faz tudo sem amor, instala-se nos próprios defeitos e os justifica. Tem explicação para todos os seus erros e desleixos. Não muda e não se dispõe a mudar.

14. Vitimismo. É quem se acha injustiçado, rejeitado e por isso vive na apatia, arranja doenças, apega-se a defeitos psicológicos para justificar o vitimismo. Vive mais cuidando de si do que da pastoral do rebanho.

15. A inveja pastoral. Consiste em menosprezar o trabalho dos outros, aumentar seus defeitos, competir e tratar os outros com cinismo. O invejoso procura bloquear o sucesso alheio. Acontece aqui a “contradição dos bons”, ou seja, não recebemos apoio e incentivo dos nossos colegas, amigos, irmãos de caminhada, pelo contrário, somos invejados, incompreendidos e criticados.
Para uma sadia evangelização precisamos da “conversão pastoral” pela qual venceremos as sombras pastorais, como aponta o Documento de Aparecida.


Dom Orlando Brandes (Arcebispo de Londrina)



Coordenador (a): Reze, peça sabedoria, confesse, comungue, leia muito, informe-se, cresça! Entregue-se nas mãos de Deus e seja feliz!


Bibliografia:
Coordenador de pastoral – Um serviço à comunidade, Ed. Vozes

Missão da Pastoral Social


O que é a Pastoral Social?


Entendemos por Pastoral Social, no singular, a solicitude de toda a Igreja para com as questões sociais. Trata-se de uma sensibilidade que deve estar presente em cada diocese, paróquia comunidade; em cada dimensão, setor e pastoral; na catequese, na liturgia e nas iniciativas ecumênicas; enfim, deve estar presente nas comunidades eclesiais de base, nos movimentos... Em outras palavras, deve ser preocupação inerente a toda ação evangelizadora. Pastorais Sociais, no plural, são serviços específicos a categorias de pessoas e/ou situações também específicas da realidade social. Constituem ações voltadas concretamente para os diferentes grupos ou diferentes facetas da exclusão social, tais como, por exemplo, a realidade do campo, da rua, do mundo do trabalho, da mobilidade humana, e assim por diante.

“Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência” (Bento XVI, Papa. Deus Caritas Est, nº 25).
A pastoral social é expressão desta caridade e da solicitude da Igreja com as situações nas quais a vida está ameaçada.

“As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angustias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles e aquelas que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angustias dos discípulos e discípulas de Cristo” (Gaudium Et Spes)
Sua finalidade

A Pastoral Social tem como finalidade concretizar em ações sociais e específicas a solicitude da Igreja diante de situações reais de marginalização. Alertar para a tarefa de identificar, entre os filhos e filhas de Deus, os rostos mais sofridos, com vistas a dedicar-lhes uma solicitude pastoral específica.

A Pastoral social procura integrar em suas atividades a fé e o compromisso social, a oração e a ação, a religião e a prática do dia a dia, a ética e a política. Aqui é preciso superar as dicotomias entre “os que só rezam” e “os que só lutam”, “os que louvam e celebram” e “os que fazem política”. Na verdade, a verdadeira fé desdobra-se naturalmente em compromisso diante dos pobres. A ação social é condição indispensável da vivência cristã. O compromisso sócio-políttico não é um apêndice da fé. Ao contrário, faz parte inerente de suas exigências. A fé cristã tem, necessariamente, uma dimensão social.

Seguindo Jesus
Os diferentes serviços das pastorais Sociais colocam-se na dinâmica do seguimento de Jesus, para que nele os marginalizados, os excluídos – pobres, mulheres, crianças e adolescentes, sem terra, sem casa, os considerados “insignificantes” para o sistema, camponeses, indígenas, afro-descendentes, povos tradicionais, migrantes, itinerantes... – tenham vida e a tenham num ambiente preservado.


No Brasil
A identidade da Pastoral Social da Igreja no Brasil é resultado de uma caminhada de longos anos, durante os quais foi criado um “rosto” próprio, fruto das muitas ações que aqui e ali se articulavam para firmar o compromisso social das comunidades cristãs. Para moldar este rosto, a Igreja do Brasil teve que conhecer o seu próprio Deserto.

O Deserto
“O Deserto” é o lugar para onde Jesus dirigia-se para estar com o Pai. É a etapa do silencio, do contato íntimo com Deus, do discernimento, do enfrentamento das tentações. A missão que levamos adiante não nos pertence, ela é de Deus. O deserto é o lugar da escuta amorosa e obediente, do diálogo com Deus.

Não é qualquer “deus” que nos envia. É o Deus de Jesus Cristo quem nos interpela e nos convoca para a missão. É o Deus da Vida o Emanuel.

Dom Hélder Câmara dizia que “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar volta ao redor de nós mesmos, como se fôssemos o centro do mundo e da vida. É não se deixar bloquear pelos problemas do pequeno mundo a que pertencemos; a humanidade é maior. Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros. É abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se para encontrá-los e amá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então, missão é partir até os confins do mundo”

Incompreensões e conflitos
Cristãos e cristãs envolvidos com as Pastorais Sociais enfrentam, cotidianamente, a situação de miséria, opressão e violência nos âmbitos econômico, político, social, cultural e de gênero, ou seja, enfrentam uma realidade marcada pela injustiça institucionalizada.
Este enfrentamento supõe situações de conflito e embates políticos, pois em seu compromisso com o estabelecimento de uma sociedade justa e solidária, esses agentes de pastoral, associados a outros movimentos sociais, mexem em interesses de grupos privilegiados ou que não desejam que haja mudanças.

A luta das Pastorais Sociais é árdua. Muitas vezes o preço é a perseguição e a morte. Não raro surgem incompreensões por parte dos próprios irmãos das comunidades. Muitas vezes, ouvem-se acusações de que as Pastorais Sociais confundem-se com política, partidos ou movimentos sociais.


As pessoas envolvidas com a dimensão social da fé são, por vezes, acusadas de não cultivar a espiritualidade ou simplesmente de fecharem-se à dimensão transcendente e interessarem-se exclusivamente pela ação histórica.

Isto sem falar dos fracassos, das frustrações e da sensação de impotência frente aos poderes do mal e do sistema de morte. Outras vezes, é o cansaço e o desânimo que nos abate, devido sobretudo à sobrecarga de atividades. Na verdade, são poucos os que se aventuram por esse caminho, embora o trabalho seja imenso.

O campo de ação das Pastorais Sociais é, pois, conflitivo, porque elas movem-se em situações de fronteira e de deserto. Agindo nestes campos, os cristãos são chamados a manifestar a presença, posicionando-se segundo os critérios da ação de Jesus. E isto não é fácil, pois a realidade, em si mesma, muitas vezes, não é clara ou é difícil de ser percebida em sua totalidade. A conflitividade exige permanentemente a capacidade de discernir os espíritos, pois sempre estamos sujeitos às tentações e aos atropelos.

O encontro com o pobre
No encontro com o mundo dos pobres, os agentes das Pastorais Sociais recebem a força e a coragem para seu engajamento, pois no rosto dos excluídos e marginalizados encontra-se a razão da ação solidária. Os Bispos, em Aparecida, recordaram que “o encontro com Jesus Cristo através dos pobres é uma dimensão constitutiva de nossa fé em Jesus Cristo. Da contemplação do rosto sofredor de Cristo neles e do encontro com ele nos aflitos e marginalizados, cuja imensa dignidade ele mesmo nos revela, surge nossa opção por eles. A mesma união a Jesus Cristo é a que nos faz amigos dos pobres e solidários com seu destino”. (DA, nº257).

Estar com os pobres é condição para reconhecer seus valores, suas lutas, seu modo próprio de expressar a fé e sua maneira de celebrá-la. Na religiosidade popular encontram-se também exemplos de resistência, criatividade, coragem, esperança.
A convivência e a amizade com as pessoas que vivem em situação de pobreza, marginalização e exclusão são capazes de estabelecer relações novas, que fazem dos excluídos sujeitos de sua libertação. O agente está junto, incentiva, colabora. Ao mesmo tempo, aprende, humaniza-se e experimenta a presença amorosa de Deus, que acompanha e sustenta o povo.

A Palavra de Deus dá os critérios e sustenta a ação dos cristãos, por isso, eles são convidados a ter grande intimidade com ela. A Palavra de Deus não é somente lida no livro. Ela é consultada no coração. É ali, guardada com afeto, tornada vida, que ela é capaz de orientar e ajudar na decisão. (DA, 249).

Se não mais existissem pessoas em situação de miséria, fome, abandono absoluto, não haveria mais necessidade de praticas de socorro. Porém existem tais pessoas e elas devem não apenas ser socorridas, mas o socorro deve ser realizado como reconhecimento de um direito social básico: o direito à vida.

Em todas as práticas das Pastorais Sociais, um elemento essencial é a implementação de ações que ajudem as pessoas a superarem limites que são fruto da marginalização e da exclusão que atingiram sua existência. Trata-se, por exemplo, de enfrentar o analfabetismo, a falta de capacitação profissional ou de organização de uma iniciativa. São práticas ligadas ao que se tem denominado “promoção humana”.

Identidade da Igreja
As Pastorais Sociais estão no coração da identidade e da missão da Igreja. Procuram continuar a missão de Cristo, expressa claramente no capítulo quatro do Evangelho de Lucas.(Lc 4,18-19. O Esp. Do Senhor está sobre mim...). Elas reagrupam discípulos de Cristo das classes populares que procuram traduzir sua mensagem de paz e justiça nas estruturas da sociedade. A vitalidade das Pastorais Sociais nas dioceses é sinal da fidelidade da Igreja à sua missão de amor aos pobres. Voz profética dos pobres, elas questionam a sociedade e a Igreja.

É bonita a fé profunda e madura de muitos membros das pastorais Sociais. Sentem-se próximos de Jesus de Nazaré: Sendo filho de Deus, se fez gente do povo, trabalhador, compassivo e solidário, que está ao lado dos pobres. Ele anuncia um Reino de justiça e paz, cura os doentes, confirma a fé de seus discípulos, é vítima do sistema político-religioso de seu tempo, enfrenta livremente a paixão e morte na cruz para libertar seu povo da escravidão. O povo das Pastorais Sociais ama a figura e a pessoa de Jesus que viveu pobre, lutou contra o poder opressor, foi condenado e entregue à morte violenta. O povo reconhece a semelhança entre a vida de Jesus e sua própria vida.

O agente de Pastoral Social
O agente de pastoral é o que dá vida ás Pastorais Sociais. É aquele que acolhe a pessoa em suas necessidades; sabe escutar a voz de Deus que se faz ouvir nas pessoas e nos acontecimentos da vida; sabe amar as outras pessoas sem preconceitos, acolhendo-as do modo como elas se apresentam; coloca-se a serviço da vida, assumindo efetivamente seu compromisso cristão, defendendo, promovendo, cultivando e celebrando os valores presentes na vida dos empobrecidos.

A crise
Frente ao dinamismo profético das décadas de 70 e 80, a Igreja de hoje passa por um sentimento generalizado. Este sentimento não é visível apenas nas CEB’s e nas Pastorais Sociais, mas também no Movimento Sindical e nos Movimentos Sociais.

Uma das causas está na impressionante penetração do atual modelo econômico neoliberal e a mentalidade pós-moderna em todas as esferas da vida humana que, acabou gerando:

A morte das utopias: parece não haver alternativa ao modelo existente. A descrença na tradição familiar, religiosa e política (e a idolatria do relativismo). Um consumismo desenfreado que o Planeta não suporta. A “privatização” da crença e das praticas religiosas, a idolatria do “eu” desprepara a pessoa para lutar por uma causa comum.

Como sair da crise
As Pastorais sociais estão por demais fragmentadas, desintegradas, desarticuladas e despolitizadas. Para enfrentar isso segue algumas sugestões:


· Diminuir o grande número das Pastorais Sociais.
A Igreja não precisa assumir tudo, e é preciso cobrar do poder público que cumpra seu papel. Não esquecer que a organização de cada Pastoral exige: destacar e formar novas lideranças, reservar tempo para reuniões e encontros, planejar e executar ações especificas, etc. na atual estrutura paroquial esta pratica fragmentada é insustentável.


· Criar em cada comunidade uma única coordenação das Pastorais Sociais.
Isto facilita a integração entre as diversas pastorais sociais existentes; cabe a ela fazer ligação também com as outras pastorais (integrar): liturgia, catequese, juventude, etc.


· Articular melhor os diversos níveis das Pastorais Sociais.
A coordenação da Comunidade se representa na Paróquia, da Paróquia na regional, da regional na Diocese, da Diocese nos níveis superiores. Esta articulação é viável apenas quando as ações concretas são decididas em comum, sem imposição.


· Cabe às Pastorais Sociais aprofundar o caráter político de sua intervenção.
O que a Igreja constrói em anos, a Política pode destruir em minutos. Exercer o controle sobre a política cabe a cada cidadão, mas a Igreja, em nome do Evangelho do Reino, tem aí seu objetivo máximo. Cabe às Pastorais Sociais priorizar a constituição de um grupo que dinamize a participação da Igreja neste importante campo da vida humana.


Compaixão
Nesse contexto social, o que significa a compaixão? Palavra composta de outras duas: com - paixão. Estar com na paixão do outro, na cruz do seu sofrimento. Sentir a dor do outro e, juntos, buscar soluções alternativas. Estar com, não significa dar coisas, mas dar-se. Dar o próprio tempo, colocar-se à disposição. Em síntese, significa caminhar junto com aquele que sofre. Assumir sua dor e tentar encontrar saídas para superar os momentos difíceis.
Diz um provérbio chinês que perguntaram a determinada mulher a qual dos filhos ela mais amava. Ela, como mãe, respondeu: ao mais triste até que sorria, ao mais doente até que sare, ao mais distante até que volte, ao mais pequeno até que cresça.

Aqui está o espírito de toda a ação social. Hoje, como no tempo de Jesus, as multidões dos pobres encontram-se “cansadas e abatidas”. Cansadas de tantas promessas não cumpridas, de tanta corrupção e de tanto lutar em vão; abatidas pelo peso da exclusão e da miséria, da fome e da doença, do abandono e do descaso. Hoje, como ontem, a injustiça e a desigualdade social gera milhares de empobrecidos que se tornam excluídos, quando não exterminados. Geram, ainda, desemprego, violência, dependência química, prostituição, racismo e destruição do meio ambiente. Esta situação atinge todo planeta, porém, de forma mais brutal os países subdesenvolvidos.


O Reino de Deus, como sabemos, ultrapassa as fronteiras da Igreja e exige fé e pé na caminhada. Que possamos também nós, nos fazer caminhantes.